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PEDIR MEU CARTÃO →Quando mudamos de país, qualquer simples ida a um restaurante torna-se um evento. Tudo é novidade, e apesar da língua ser a mesma, as diferenças do Português Europeu para o Português do Brasil ficam bastante evidentes quando o assunto é comida.
Vem comigo que eu vou te contar o que você precisa saber antes de ir a um restaurante em Portugal para entender o cardápio e saber como lidar com o serviço da melhor maneira.
Eu recebi um casal de amigos que se mudaram para Portugal essa semana, e como boas-vindas fomos dar um passeio na cidade e jantar na beira do Rio Douro.
Eu adoro a sensação de recepcionar pessoas que acabaram de chegar do Brasil para Portugal, o olhar fresquinho pelo novo e belo (afinal de contas, estamos no Porto, uma cidade belíssima) faz a gente ter novamente os olhos de turistas para aquela beleza tão única que se tornou corriqueira.
Pois bem, lá vamos nós a um restaurante gostosinho na beira do rio, naquele ventinho de fim de verão. E é aqui que começa a nossa saga:
Primeiramente o garçom não é chamado de garçom, mas atendente de mesa. Conosco não aconteceu – porque eu já tenho cá meus 8 anos de Portugal – mas é comum no Brasil nós chegarmos a um bar ou restaurante, encontrar uma mesa vazia, sentar e esperar pelo atendimento do garçom. Tudo certo.
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Cotar Agora →Aqui em Portugal, não. O esperado é que você chegue e fique à entrada esperando que um garçom o atenda e o indique onde pode se sentar. É considerado indelicado chegar sentando em qualquer mesa (e alguns restaurantes até colocam plaquinha – espere o atendimento para sentar).
– Já vou trazer a lista – disse o garçom.
– A lista? – perguntou meu amigo
– Sim, a ementa.
– Ementa?
Lista, ementa, menu, tudo isso é cardápio.
É claro que se nós pedirmos o cardápio ao garçom ele vai entender o que é, mas fica aqui a dica que não é muito usual dizer cardápio por aqui. O nome do objeto é apenas a introdução, o que está dentro é que nos reserva algumas surpresas:
– Ai tem que pagar couvert, são 2 euros por pessoa.
O couvert que vem no topo do cardápio não é o cover que a gente costuma ter no Brasil quando há música ao vivo no restaurante (aliás, saudades de música ao vivo por aqui).
Couvert é aquela entradinha pequenina que costuma-se pedir ou até encontrar na mesa aqui em Portugal. Pão, azeite, azeitonas, uma manteiguinha e às vezes uns rissóis ou bolinhos de bacalhau.
Em alguns restaurantes eles estão na ementa, em outros o garçom já traz para a mesa sem a gente nem pedir.
Atenção à pegadinha: não é de graça não, se comer tem que pagar. Se não comer, o garçom leva de volta e é proibido cobrar na conta. Se não tiver interesse, pode pedir ao garçom para retirar.
Aqui foi onde eu mais me diverti, vamos a um breve resumo do que encontramos na lista:
Meus amigos olhavam para mim e para o meu namorado com a cara de: o que é isso, minha nossa?
Explicações à parte, foi divertido degustar uma alheira e contar a história da origem judaica dessa comida, dizer que gambas é camarão, grelos é um legume, preguinho é bife, nata é creme de leite, fumado é defumado e gelado é sorvete.
Tem horas que nem parece a mesma língua.
O azeite nosso de cada dia: relatos de um expatriado sobre a importância do azeite na cultura portuguesa.
– Vamos beber uma sangria de maracujá?
Aqui a sangria não tem nada a ver com um vinho barato de sabor ruim. Sangria é uma bebida fresquinha e deliciosa combinando vinho ou espumante, frutas, açúcar – e há quem adicione seven up ou até uma água ardente. Algo parecido com um clericot. Enfim, é uma delícia.
Quem vive do lado de cá do Atlântico sabe que não se trata maracujá como banana. Maracujá é uma frutinha cara, e por isso já fiquei animada com sangria desse fruto.
E nada daquele maracujá amarelo e grandão que temos no Brasil, o maracujá aqui é pequenininho, com a casca roxa, mas o sabor (pelo menos para mim) é muito parecido. O precinho é que é salgado, costuma custar 10€ o quilo de maracujá, uma fortuna.
Pede-se umas três porçõezinhas para petiscar e de repente tem a mesa cheia (e parece que vamos sair rolando).
Por aqui as porções costumam ser fartas. Claro que há exceções, mas vale perguntar pro garçom o tamanho da porção que eles respondem na sinceridade. Assim evita-se o exagero ou sair com fome. Nesse dia, pecamos pelo excesso.
Aqui entra uma situação um tanto confusa para nós brasileiros. Também é considerado indelicado chamar o garçom à mesa. Aqueles clássicos: “ô garçom”, “ô amigão, depois passa aqui”, “ô chefe” não são bem vistos por aqui.
O ideal é esperar que o garçom venha até a sua mesa, e se precisar chamar a atenção dele, um braço levantado olhando para ele já dá o recado.
Em caso de dificuldade, um: “desculpe, pode vir aqui, por favor?” pode ajudar a ter atendimento em uma tasca cheia. Mas os pedidos acalorados e informais que costumamos ter nos nossos saudosos botecos podem ser vistos como grosseria.
Aquela tarifa extra que já vem acrescida na conta no Brasil não vem nas mesas portuguesas. Se você comeu um prato de 9€ e um fino (um chopp) de 1,5€ sua conta vai vir 10,5€ e pronto.
A gorjeta funciona como uma gentileza, normalmente quando somos bem-atendidos, é comum arrendondar a conta para a cima e deixar um pouco para o garçom, de acordo com o bolso de cada um.
Mas não é obrigatório e não se olha com cara feia se você não deixar, pelo menos na minha experiência aqui.
Nas esplanadas – que é a área externa, ao ar livre ou embaixo de um toldo nos restaurantes, bares e cafés – é comum que se peça o pronto pagamento – chegou sua cervejinha, o garçom vai te pedir o dinheiro.
Não são todos os lugares que fazem isso, mas é comum – para evitar que se saia sem pagar mesmo. Por isso, sem ofensas, é algo corriqueiro.
No início eu achava esquisito e hoje em dia até prefiro.
Ao trazer a conta, no Brasil nós esperamos que o garçom volte para recolher o pagamento. Aqui é muito comum que o garçom traga a conta e te diga: pode pagar no balcão, por favor.
Não é preguiça dele de receber nem nada, é só comum mesmo. E sinceramente, é mais rápido. Esperar que o garçom consiga vir à sua mesa, você dê o dinheiro (ou pague com multibanco – pagar com cartão) costuma ser um processo mais demorado.
Mas é claro que em muitos lugares você pode pagar confortavelmente na mesa, em outros, vai ter de levantar e ir lá dentro mesmo.
Hoje em dia é menos comum, mas alguns estabelecimentos – não somente restaurantes – só aceitam pagamento em dinheiro.
Por detrás de uma tentativa de fuga de impostos, há sempre um símbolozinho do MB(multibanco) riscado e o atendente vai te indicar o multibanco mais próximo para levantar o dinheiro (ou, em bom brasileiro, o garçom vai indicar o caixa eletrônico mais próximo para sacar).
No início eu achava estranho, mas também já me acostumei. É muito comum que o garçom venha te perguntar se a comida estava boa, às vezes até mais de uma vez: – Está tudo bem por aqui?
É comum que as pessoas digam que está (até porque a comida portuguesa é de comer ajoelhado), mas também vale a crítica se não estiver do seu agrado, eles prezam pela sinceridade e são muito diretos – portanto, vale a crítica construtiva ou até mandar o prato para trás em caso de desagrado.
Os portugueses são movidos a cafeína, já disse o meu colega Marcos Freire. E é comum tomar café no pequeno-almoço (café da manhã), depois do almoço, no meio da tarde… e depois do jantar!
Há quem peça um descafeinado pelo avançado da hora, mas é mais comum pedir um café normal mesmo, para todos da mesa – e não sei como eles fazem para dormir depois!
Há ainda uma infinidade de coisas que são peculiares nos restaurantes em Portugal e que diferem dos nossos hábitos no Brasil, mas esses deixo para o leitor que vem viajar para Portugal ou morar em Portugal, pois vale a experiência.
Eu e meus amigos tivemos uma noite super agradável e nos divertimos com as diferenças desse idioma estranhamente familiar.
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