Europa

Sair do Brasil não é a parte mais difícil (e vou te mostrar por quê)

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Amigo imigrante, tá difícil para você por ai? Força, desiste não, é complicado para (quase) todo mundo. Nesse artigo vou contar porque fazer as malas e sair do Brasil não é a parte mais difícil e acho que você vai concordar comigo.

Muita gente diz que sair do Brasil é a parte mais difícil

São 22h de uma quinta-feira quando recebo uma mensagem de um amigo recém-imigrado:

Amiga, se eu quiser desistir, não me deixa! Me sacode, me bate, mas eu não cheguei até aqui para desistir. Tem hora que parece que eu nunca vou me adaptar aqui!

Eu não sou expert nem nada, mas como emigrei há quase oito anos e já vivi todo esse processo, tive total compreensão do sentimento dele.

Faz pouco mais de 6 meses que ele chegou na Europa, e os meses anteriores à vinda pareciam uma loucura, o fim do mundo:

O visto que não chega, o preço da passagem tá só aumentando, o euro tá disparado, ainda tenho que apostilar um monte de documentos e ainda tô tomando coragem para ir na casa dos meus pais despedir! Tô ficando louco!

A ansiedade pré-mudança de país é real, todo mundo que já emigrou sabe como são os dias de véspera: dormir é um verdadeiro milagre! É um misto de vontade de ir logo, com medo da viagem de avião, com vontade de desistir de tudo (mas que a gente não conta pra ninguém), a gente só quer que tudo isso passe logo:

Assim que eu chegar lá, eu relaxo, vai tá tudo certo!

Bem, meus amigos, se você está vivendo esse momento aqui de cima nesse exato momento, força aí! Logo passa. E eu não quero te desanimar, mas o título desse artigo já te disse tudo: Sair do Brasil não é a parte mais difícil.

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Algum leitor pode (e deve) discordar de mim: que nada, lidar com a burocracia e ansiedade pré-imigração é sim a pior parte. Mas após tantos anos de Euro Dicas, ouvindo histórias de tantos brasileiros emigrados, acho que tenho alguma propriedade para dizer: a adaptação é a parte mais difícil.

Tudo é muito bonito até que…

1. Bate a saudade

Até o brasileiro menos apegado vai sentir saudades: seja da família, dos amigos, da comida, do sol, do cachorro, do churrasco do fim de semana, do idioma (ou do sotaque), da risada alta, do carnaval, do abraço apertado, daquilo que a gente não vai encontrar em lugar nenhum do mundo a não ser na nossa casa.

Sentir saudade do Brasil é normal a qualquer imigrante

2. A falta de pertencimento vem dizer Olá

Você está numa mesa, alguém conta uma piada ou uma história e todos caem na gargalhada, menos você. Você não entendeu, você não tem o contexto ou a cultura local para entender.

Com sorte você tem um amigo nativo que te contextualiza e você consegue entender, mas jamais terá a sensação de pertencimento que aquelas pessoas têm.

A falta de referências do Brasil também fazem falta

Assim como vai sentir falta das suas piadas e conversas locais. Ninguém no novo país (a não ser seus amigos brasileiros) vai entender quando você disser que “o programa da TV está nos reclames do plim plim” para dizer que está nos comerciais, afinal de contas, isso é coisa da Globo.

Ou quando você disser “Não contavam com a minha astúcia” ou qualquer outra referência de Chapolin ou Chaves (a não ser que você more no México ou outro país onde a série fez sucesso). Aqui na Europa, salvo erro meu, ninguém sabe nem o que é.

Ou se algum amigo tiver nervoso com um date e você quiser mandar um pagode “deixa acontecer naturalmente…” , seu amigo vai te olhar com cara de: que?

Essas podem não ser referências suas, mas acho que deu para entender o que eu estou querendo dizer, certo? Nossas referências de Brasil só farão sentido quando quem estiver ao nosso redor for brasileiro, e se nós queremos realmente nos integrar e estabelecer uma vida no exterior, estar dentro da comunidade local é essencial.

Costume não signfica pertencimento

Mas o pertencimento à cultura do exterior só deve vir com alguns anos. Muitos, eu diria.

Estou há quase 8 no país do exterior mais próximo do Brasil, que tem (quase) o mesmo idioma e ainda não sinto o pertencimento, apesar de já estar bem acostumada com a cultura. Mas costume não quer dizer pertencimento. Em muitas rodas de conversa, eu fico sempre por fora.

3. A rejeição aparece

Eu espero com todo o meu coração que você não sofra com xenofobia na sua estada fora do Brasil. É das partes mais difíceis de morar fora: sentir rejeição por ser quem você é.

Existe um mito que diz que o brasileiro é bem aceito em todo lugar no estrangeiro.

Bom, eu não quero ser estraga-prazeres mas isso não é inteiramente verdade. Também não é inteiramente mentira! Tenho a felicidade de dizer que em 90% das vezes que eu disse ser brasileira a reação foi muito positiva – especialmente enquanto turista.

Aqui entra um outro mito de que todo brasileiro é alegre, positivo, sabe sambar e vem de um país maravilhoso. Não vou entrar nesse mérito (que cabe um outro artigo completo) mas a impressão do brasileiro aqui é bastante positiva.

Ter apoio é essencial quando se vive casos de xenofobia

Mas infelizmente quando você está ali para morar – para estabelecer família, para concorrer no mercado de trabalho, para ser um vizinho um bocado um pouco mais barulhento que os demais ou simplesmente por existir em outro país estrangeiro – tem gente que se incomoda e não mede palavras xenófobas para te fazer sentir diminuído. Volta para o seu país é das mais leves. E tem hora que dá vontade de voltar mesmo.

Nessas horas um bom ombro amigo ajuda muito. Ter amigos brasileiros ajuda mais ainda. Se tiver uma terapia junto, ô, ajuda muito mais.

Tenha em mente que você merece sim estar ali, tem todo o direito de estar ali e preconceituoso nenhum vai tirar isso de você. Que não seja esse o motivo de você desistir – porque não tem problema nenhum desistir e voltar pro Brasil, diga-se de passagem, mas espero que não seja por esse motivo.

4. O nosso jeito social não é tão apreciado

“Amiga, eu sou social demais pro jeito do povo daqui” – disse o meu amigo.

Se eu ganhasse um euro para cada vez que eu ouvisse isso… já teria um cofrinho de viagens prontinho para o pós-pandemia!

Brincadeiras à parte: sim, nós brasileiros somos muito sociáveis, talvez mais sociáveis que qualquer nativo europeu. Os espanhóis e italianos também são muito sociáveis, vai. Mas quando eu digo que nenhum povo é tão sociável quanto o brasileiro, acho que muitos vão me dar razão.

Ser um ser social está na nossa identidade. Nem todo brasileiro se identifica com ela, é claro, mas de uma forma geral, crescemos numa cultura de muita intimidade, de pouca formalidade, de muito toque, muito abraço, muita risada e muito barulho.

E advinha: muita gente não gosta disso

Parece estranho? Se você pensa que sim, tchanan: você é um ser super sociável também. Quem não é tão sociável assim deve pensar: quem me dera, adoro uma privacidade. Esse segundo grupo irá adorar a maior formalidade do povo europeu (que para nós brasileiros é muitas vezes vista como frieza).

E não vá pensando que são só os alemães, que carregam toda essa fama de serem gelados, os europeus de forma geral crescem numa cultura com mais respeito às hierarquias, à privacidade e ao espaço do outro que nós brasileiros – os brasileiros na Suécia nesse momento balançam a cabeça afirmativamente.

5. A burocracia te põe louco

Que me atire o seu passaporte com visto o imigrante que nunca passou raiva com a burocracia da documentação para viver no exterior!

E digo isso sem medo algum de tomar uma “passaportada” na cabeça. Uma porque essa raiva todos nós passamos com toda a certeza. E outra porque se o seu passaporte tem um visto válido, você guarda ele como um filho, não anda a jogar na cabeça de jornalistas por aí.

Eu sei que a burocracia é muitas vezes necessária, afinal é a permissão de estada em um país. Mas as informações desencontradas, os atrasos nos pedidos feitos de forma impecável e o tratamento grosseiro e indigno a um imigrante (que entra nos órgãos de imigração com um medo como se tivesse fazendo algo de errado – mesmo nunca tendo feito xixi fora do penico) coloca qualquer um doido.

E olha que somos acostumados com burocracia no Brasil né? A diferença é que no Brasil não somos imigrantes, e ser imigrante é lidar com uma burocracia que coloca anualmente os nervos à prova.

6. Não poder ir ao Brasil vira um fardo

Nesse ponto, eu falo sem propriedade de experiência própria, mas com a propriedade de quem já ouviu muitas (mas muitas mesmo) histórias de brasileiros que não vão ao Brasil há muito tempo.

Tive a sorte e o privilégio de ficar sem ir ao Brasil num tempo máximo de 2 anos, devido à pandemia. Quando eu resolvi imigrar, prometi pra mim mesma que, apesar de estar muito feliz e decidida a ir embora do Brasil, eu iria voltar anualmente para visitar.

Não queria me afastar dos meus (apesar de assumidamente não ser tão presente virtualmente quanto deveria). Não queria ver meus pais envelhecendo só através do vídeo. Ou não estar na mesa de domingo jogando jogos de tabuleiro com os meus afilhados. Ou fazer compras com a minha irmã. Ou abraçar apertado as amigas do Brasil que jamais serão substituídas por amigas daqui. E com muita luta, tenho ido com uma frequência bastante regular.

Voltar pro Brasil para visitar ajuda na adaptação

Mas, como eu disse, é um privilégio. A viagem pro Brasil custa caro, muitos não vão porque não conseguem juntar o dinheiro necessário. Outros não vão porque não têm a documentação em dia para conseguir voltar. Outros não vão porque se parar de trabalhar aqui, ficam sem dinheiro para o mês seguinte, ou porque não conseguem abrir espaço na agenda para ter tempo suficiente para ir ao Brasil – convenhamos, não é uma viagem fácil para ir pro país ficar apenas uma semana.

Seja qual for o motivo: não ir pro Brasil não é fácil

Você pode nem gostar do Brasil, mas ouso dizer que ir ao Brasil faz muito bem. Para mim (que gosto do Brasil, aliás) é uma recarga de energia essencial para aguentar estar fora do meu país.

A viagem é desgastante, cara e desconfortável (classe econômica feelings), eu ando nas ruas do Brasil com muito medo (muito mais do que quando eu morava por lá) e mesmo assim, volto pra cá reenergizada com toda a sensação de que vale a pena.

Quem deixa de ir, normalmente tem dois caminhos: ou morre de saudade e vive num saudosismo danado só lembrando da parte boa do Brasil; ou deixa essa vontade de visitar o país ir embora, pensando que tem medo de ir ou já nem sente falta de lá.

Já ouvi os dois discursos milhares de vezes e quanto mais tempo a pessoa fica sem ir, mais um dos dois sentimentos se aprofunda.

Não é fácil estar longe das suas raízes, do seu povo, da sua cultura, mesmo para quem está disposto a nunca mais ali residir.

7. Você pode não se sentir tão valorizado profissionalmente quanto merecia

Aqui acredito que é um assunto mais recorrente e mais divulgado, por isso nem preciso entrar em tantos detalhes: quando você chega num país estrangeiro, você desce uns três degraus na escala de valorização do mercado de trabalho.

  • Que exagero – dirão alguns.
  • Só três degraus? Eu desci uns 10 – dirão outros.

O meu colega Marcos Freire já contou seu percurso profissional aqui no Euro Dicas, e orgulhosamente vem trabalhando em outras áreas que são completamente diferentes da sua de formação e experiência em São Paulo.

Eu trabalhei durante 4 anos como freelancer recebendo mal e trabalhando horas a mais para conseguir um bom ordenado tendo uma boa formação em jornalismo e um mestrado em Ciências da Comunicação.

E poderia ficar nessa lista para sempre. São muitas as histórias de pessoas com boa formação no Brasil que servem mesas por aqui, ou trabalham nas limpezas, nos shoppings, ou em outros trabalhos que não exigem formação profissional.

Não há absolutamente nada de errado nisso, pelo contrário, é muito digno e digo com convicção que aprendi muito com isso – e sei que muitos imigrantes como eu vão concordar.

Mas sei que tem hora que dá raiva e dói sentir que não estão te valorizando o suficiente mesmo que você seja muito mais capacitado do que aquele nativo que ficou com a vaga. Esse gosto amargo fica engasgado nas nossas gargantas por muito tempo.

Primeiro estranha-se, depois entranha-se

Por esses 7 e por outros muitos motivos: não, meus amigos, juntar dinheiro, juntar documentos, sair de apartamento, despedir da família e sair do Brasil não é a parte mais difícil.

Se adaptar é. Ser resistente é. Emigrar é para os fortes, e não é todo mundo que se adapta.

Se tá difícil para você aí, aguenta firme. Se precisar, pede ajuda, não tem nada de errado em sentir vontade de desistir.

Se quiser e puder, aguente. Se não der, voltar para casa também não é atestado de derrota. Muito gente volta e percebe que foi a melhor decisão, e a experiência de morar fora foi válida e enriquecedora de toda forma.

Siga seu destino onde você for mais feliz, mas saiba que você não está sozinho nessa, tem muito brasileiro sentindo exatamente o que você está nesse momento, estamos juntos, vai valer a pena.

Abraço grande.

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Ana Luiza Fernandes

Ana Luiza Fernandes é jornalista pela Universidade Federal de São João del-Rei e Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Porto. Mora em Portugal desde 2013 e é responsável editorial pelo Euro Dicas.

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