Itália

Falar italiano: a minha experiência com a língua morando na Itália

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Mudar de país requer uma boa dose de flexibilidade e paciência para enfrentar situações novas, adversas, incontroláveis. Além da burocracia, acredito que a língua seja o principal obstáculo para a integração e para uma vivência a 360 graus no novo lar. A minha experiência de falar italiano foi um pouquinho diferente, e aqui conto o porquê. Boa leitura!

Já falava italiano antes de me mudar para a Itália

Quando decidi morar na Itália, as dificuldades foram várias, mas a língua, pelo menos, não estava entre elas. A língua italiana faz parte do meu dia a dia desde 2011. Desde que pisei pela primeira vez na Itália, eu já sabia falar italiano. Claro, não era fluente como sou hoje, mas já tinha um bom nível da língua.

Eu estudei Letras Português e Italiano na Universidade de São Paulo (USP) e o estudo que fazemos no curso de Letras é bem diferente daquele que estamos acostumados a fazer em uma escola de línguas, por exemplo.

Na graduação, a língua é um instrumento que poderá virar seu objeto de trabalho, e como tal, precisa ser analisado, estudado, compreendido.

O estudo de línguas na universidade é diferente

Quem estuda línguas estrangeiras na faculdade pode trabalhar como pesquisador, professor de línguas ou tradutor. Então, percebe que o estudo precisa ser bem a fundo? Não só da língua, claro, mas também da literatura e da cultura (além da preparação de como ensiná-las, e ensiná-las bem).

Portanto, a velocidade do aprendizado e a evolução das competências linguísticas é muito rápida (eram mais de 6 horas por semana em contato com a língua!).

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Primeiro intercâmbio acadêmico

O que acontece é que quando ganhei a bolsa por mérito acadêmico para o intercâmbio na Itália (bons tempos!), eu já estava no terceiro ano da faculdade (Letras na USP são 5 anos). Quando viajei para a Itália, estava indo para o quarto.

Lembro que na Universidade de Parma, onde fiz meu intercâmbio, cursei o nível B2 de italiano e três matérias do mestrado sobre crítica literária e/ou literatura italiana (o que requer um nível um pouco alto para poder acompanhar as aulas).

Primeiro intercâmbio na Itália: Parma. Imagem de arquivo pessoal.

Segundo intercâmbio

Já no segundo intercâmbio, em 2016 na Università per stranieri di Perugia, também com bolsa, eu pulei direto para o nível C2.

Eu já dava aulas de italiano no Brasil, tinha acabado de passar no Mestrado em Língua e cultura italiana na USP, já tinha me formado na graduação e já tinha feito intercâmbio na Itália. Não é sorte nem predisposição, foram anos de estudo!

O italiano no meu dia a dia

Moro na Itália desde 2017, e sempre convivi com italianos ou estrangeiros com um alto nível de italiano. Portanto, a prática do italiano é diária desde então (bom, na verdade, desde a minha graduação, como disse acima).

Desde coisas pequenas até coisas importantes, como provas orais na faculdade ou entrevistas de emprego, tudo é em italiano. Cursar o mestrado aqui também ajudou e muito!

O lado bom de ter me mudado para cá já com um conhecimento alto do italiano é que eu nunca “não soube” o que dizer em uma situação (frequentemente, acontece de faltar palavras para uma situação de injustiça, não é mesmo?).

Falando em português durante um congresso na Itália. Imagem de arquivo pessoal.

Outra coisa interessante é que as vezes que falo em italiano superaram as que falo em português. Se não estou dando aulas na universidade ou falando com amigos e parentes, dificilmente falo português no meu dia a dia. Isso é realmente muito estranho – ainda bem que existe a música brasileira para nos consolar.

Hoje, eu escrevo para um jornal local em italiano, então posso dizer que – conscientemente do fato de nunca poder virar “nativa” – domino muito bem a língua. Acredito, inclusive, que a minha escrita é um mix, uma língua de contato entre ambos os códigos linguísticos, o que faz com que seja único e bem pessoal, ligado à minha identidade.

O tão temido sotaque…

A questão do sotaque é tão complexa. Acontece frequentemente de alguém, semanas ou até meses depois de ter me conhecido, virar e falar:

“Bruna, mas como assim você não é italiana?”

Sinceramente, acredito que a minha vontade de escondê-lo foi uma reação que tive morando na Itália.

Na maioria das vezes, quando uma mulher brasileira tem sotaque, a atenção passa de “que legal, você está aprendendo italiano” a “ah, então você é brasileira?”, com aquele tom que nós, mulheres brasileiras na Itália, conhecemos bem. Percebi que se eu quisesse trabalhar com as línguas, a escrita e a comunicação, não poderia fazer com que o meu sotaque se sobrepusesse as minhas qualidades e competências.

Ao mesmo tempo, claro, sou consciente do fato de que, desta forma, perco parte da minha identidade. Aconteceu, por exemplo, de eu ir para Lisboa com a minha amiga Samuela, e os garçons falarem comigo em inglês porque me ouviram falar em italiano com ela. Crise de identidade…

Também já falei sobre minha experiência no ano novo na Itália.

Diferentes sotaques italianos

Bom, eu fiz letras, então confesso ter uma (pequena) grande curiosidade por todo e qualquer tema que envolva assuntos linguísticos. E o sotaque não poderia ficar de fora disso, não é mesmo?

Os sotaques italianos são muitos, e a riqueza linguística da Itália, por ser um país pequeno, é gigante. Basta mudar de cidadezinha que os costumes, o dialeto e o sotaque mudam. Impressionante!

Grosso modo, consigo identificar os sotaques mais conhecidos ou enquadrá-los, geograficamente, de alguma forma. Os mais famosos são o romano, o milanês, o napolitano e o vêneto. Essa difusão tem a ver com os meios de comunicação de massa, como rádio e TV, que sempre deram mais espaço ao sotaque de Roma e de Milão. O mesmo acontece no Brasil, em que se privilegia os sotaques de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Tendencialmente, os sotaques do sul da Itália lembram um pouco a língua portuguesa. Por outro lado, o vêneto e o lígure, por exemplo, têm algo que soa familiar. Tem a ver com a fonética dessas línguas.

Dialetos italianos

Além do sotaque, tem a questão dos dialetos. Estima-se que o número de línguas minoritárias e dialetos falados na Itália seja em torno de trinta (mais do que as regiões italianas, que são vinte). Do ponto de vista da sociolinguística, os dialetos são línguas que não detêm o status quo de língua oficial de um país, já que o uso é ligado à produção oral em ambientes familiares ou informais.

Já o napolitano, o sardo e o friuliano, por exemplo, são considerados línguas, com produção escrita de grande prestígio. Até mesmo Pier Paolo Pasolini, grande diretor de cinema, escreveu poesias em friuliano. Sem falar na Corte de Federico II de Nápoles, cuja produção e tradição poética plasmou toda a literatura italiana e, porque não, ocidental.

“Bruna, mas e qual é o seu sotaque?”

Ah, essa é uma ótima pergunta! Os meus amigos italianos, quando conhecemos alguém, sempre brincam de “Indovina da dove viene Bruna” (“Adivinha de onde a Bruna é”, em tradução livre).

Tendencialmente pensam que eu seja italiana e do norte, mas não conseguem “adivinhar” de onde exatamente. As respostas são várias, de lígure a sarda, mas também umbra ou toscana. Eu me divirto!

Veja meu relato sobre dar aulas na Itália.

A fluência no italiano moldou a minha experiência na Itália?

Falar italiano, e principalmente ter fluência na língua, como disse acima, foi imprescindível para a minha integração nos vários contextos sociais, desde a universidade até ao trabalho.

E posso afirmar também que conhecer bem a língua me ajudou a lidar melhor com os choques culturais – e sobretudo, a aceitá-los, sem tentar julgar muito. Afinal, a estrangeira em terra alheia sou eu.

Um registro do dia em que tive uma “crise de identidade em Lisboa”. Imagem de arquivo pessoal.

É como eu sempre digo: a solução está no meio, nem lá, nem cá. O ideal é, na minha opinião, juntar o melhor das duas terras e tentar não reproduzir o pior de ambas. Dá um trabalho…

Brasileiros preservam o sotaque ao morar na Europa? Veja o relato de brasileiras pelo mundo.

Para brasileiros que não se viram tão bem, a experiência pode ser diferente

O lado interessante dessa coluna é que consigo contar um pouco sobre a minha experiência. Enquanto escrevo, faço uma reflexão sobre o que amigos e colegas brasileiros, estrangeiros como eu, viveram ou vivem em seu dia a dia.

Muitas pessoas que conheço que não têm um nível muito alto de italiano contam que é sempre mais difícil se adaptar à sociedade, porque sentem que não conseguem se expressar e se exprimir por completo. Faltam palavras, e isso gera um mal-estar, uma sensação de frustração.

A prática é diferente

Quando aprendemos uma língua estrangeira, não nos perguntamos como que vai ser quando acontecer isso ou aquilo. Nas aulas, vemos situações conversacionais “clássicas”, ligadas ao turismo, como ir a um restaurante ou cafeteria, o quê e como pedir, lidar com burocracia, contar coisas no passado, fazer hipóteses.

Mas ligar para a Umbra Acque (a empresa que detém a concessão dos serviços públicos de saneamento básico de Perúgia) reclamando que há algo errado com o contador da água é uma daquelas situações que só aprendemos quando precisamos vivenciá-las. Nesses casos, realmente, não saber explicar o que está acontecendo é um pouco frustrante.

Vivendo a aprendendo

O lado bom de falar bem a língua é que podemos responder quando algo não está bom ou não foi legal. Você consegue argumentar, e acredito que a argumentação, a formulação de uma tese e de uma antítese em uma língua estrangeira, seja uma das coisas mais difíceis que existe (percebo isso sendo estrangeira aqui, mas também ensinando português a italianos).

Esses dias, estava indo para uma cidadezinha no Lago de Garda, e ouvi uma conversa entre duas turistas brasileiras. Segundo elas, os italianos são mal-educados e ignoram as pessoas. Até pode ser verdade, mas elas falavam com os italianos em português. Bom, aí é difícil ser compreendido… A experiência delas, portanto, não foi muito positiva.

Leia também minha experiência viajando sozinha na Itália.

Pensar em italiano?

Penso em italiano, faço listas em italiano, xingo em italiano, fico feliz e irritada em italiano.

O meu dia a dia é em italiano porque a minha vida é todinha na Itália. Desde as coisas mais simples, como “conversar” com a Tarsila, a minha gatinha, até as mais complexas, como contar uma história que vivi para algum amigo.

O português continua sendo a minha língua, minha identidade, meu porto seguro, minhas memórias e quem sou. Porém, virou também a língua de trabalho (dou aula de português para alunos de Letras, graduação e mestrado, na Universidade de Perugia), escrevo e traduzo. Mas o italiano está sempre no meio. Assim como, quando escrevo em italiano, o português está sempre lá…

Acontece de não lembrar de uma palavra ou errar uma preposição – em ambas as línguas -, mas a autocorreção é tão importante quanto a consciência metalinguística (ou seja, você sabe que tem algo que não está certo e consegue, sozinho, corrigi-lo).

O mais triste é quando não me vem à cabeça termos ou palavras em português. Sinto parte de mim indo embora…

Italiano e português: limitações linguísticas?

Não vivo essa limitação em nenhuma das duas línguas, ainda bem! Mas se vivesse, não teria problema. Un passo alla volta, como diriam os italianos.

Eu acredito que exista uma Bruna para cada contexto. Há a Bruna que fala italiano e mora na Itália; a Bruna que fala italiano, que mora na Itália, mas se encontra em outro país; a Bruna falante nativa de português que mora na Itália, e ensina a língua portuguesa para italianos; a Bruna que fala português com os amigos brasileiros que, por sua vez, moram no Brasil, e percebem que algo está diferente…

Momento confissão: às vezes falo Portuliano

Às vezes, dá, sim! Principalmente quando estou cansada. Ou distraída. Já aconteceu enquanto eu dava aula de português… Imaginem a minha vergonha.

Viver uma vida em uma língua que não é a minha língua materna

É um desafio diário, porque a percepção de não saber tudo sobre aquela língua, sobre aquele país é constante. Por mais que você se sinta em casa ou esteja integrado, há momentos em que você ouve uma expressão nova, uma palavra diferente, ou não entende uma piada porque é ligada a algo que aconteceu em um contexto específico da história italiana.

Eu com meus irmãos no meu aniversário de 30 anos, em Perúgia, onde moro. Imagem de arquivo pessoal.

Eu e meu irmão Rodrigo, por exemplo, falamos uma língua só nossa. Quando contamos algo relacionado ao trabalho ou a um ambiente que conhecemos ligado à nossa vida aqui, falamos um português muito contaminado, cheio de italianizações e aportuguesamentos. Palavras, formas verbais, expressões… É o nosso idioleto em meio a duas línguas e dois mundos diferentes.

Ao mesmo tempo, sinto que pertenço a um mundo que, originariamente, não é “meu”, mas que, de certa forma, faz parte de mim. Esse duplo pertencimento é bom, e ajuda a aliviar aquela crise de identidade que os imigrantes sofrem quando já não fazem mais parte da terra natal, já que essa evoluiu, mudou sem você, mas, ao mesmo tempo, também a terra atual não dá aquela sensação completa de fazer parte de algo.

No fundo, essa sensação é estimulante, porque faz com que você se atualize, se informe e estude sempre. É sempre interessante não se sentir confiante, porque você fica aberto às novidades. E o novo sempre vem, como diria o poeta.

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Bruna A. Paroni

Bruna é bacharela em Letras pela Universidade de São Paulo-USP e mestra em Comunicação política e digital pela Università di Perugia (Itália). Atualmente, é doutoranda em Ciências da Comunicação na Università di Urbino (Itália). Está constantemente em contato com as palavras, seja pesquisando, escrevendo, traduzindo, lendo, revisando ou ensinando. Após dois intercâmbios e alguns anos entre Brasil e Itália, se mudou para o país da bota em 2017, onde também se sente em casa.

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