A manifestação da classe ocorre após um entregador boliviano ser esfaqueado enquanto trabalhava. Ataques e agressões têm sido recorrentes e revelam falta de segurança e de apoio aos imigrantes brasileiros e de outras nacionalidades que trabalham como entregadores de aplicativo na capital da Irlanda.

Manifestantes pedem medidas de apoio às autoridades

Nós queremos segurança, e queremos agora”.

Este foi o coro entoado pelos entregadores de aplicativo, os riders, como se autointitulam os entregadores, enquanto protestavam por mais segurança em Dublin, em 30 de julho de 2023.

Durante a manifestação, entregadores relataram diversas situações em que foram atacados física e verbalmente por grupos de adolescentes irlandeses enquanto trabalhavam. Além das agressões, é comum que os grupos tentem roubar os instrumentos de trabalho dos entregadores – suas bicicletas ou motos.

Quando reportado à Garda, a polícia irlandesa, os riders afirmam que nenhuma medida é tomada pelos oficiais e, muitas vezes, o próprio grupo de riders se reúne para tentar ir atrás dos itens roubados.

Como forma de evitar que mais trabalhadores sejam vítimas de violência, a Associação Riders na Irlanda criou um mapa interativo que mostra as áreas onde os ataques têm sido mais comuns.

O que os trabalhadores pedem

Diante de uma série de ataques, roubos de motos e bicicletas, que se agravaram e intensificaram durante a pandemia, os entregadores de aplicativo de diferentes nacionalidades, mas em sua maioria imigrantes, vão às ruas da capital irlandesa para protestar por mais segurança e melhor remuneração.

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Além dos obstáculos da rotina enfrentada pelos riders, tais como intensa ventania e garoa constante, típica de Dublin, os trabalhadores relatam que precisam dobrar os cuidados para não terem seus instrumentos de trabalho roubados por grupos de adolescentes irlandeses.

“Que a gente tenha o apoio da Garda quando solicitar a ajuda para localizar nossas bikes, que a gente consiga ir até o local fazer a apreensão dessa bike. É isso que a gente precisa, e menos violência” discursa Débora Santana, de 29 anos, durante a manifestação.

Riders pedem apoio da Garda e punição dos infratores

Em adição ao pedido por mais segurança, os riders pedem o apoio da Garda para quando esses incidentes forem reportados na delegacia. Segundo diversos relatos de entregadores, o que acontece hoje é a impunidade, ainda que a Garda esteja ciente do que está acontecendo aos trabalhadores.

“Não tem punição, não tem nada. A Garda não fez nada com esses adolescentes que estragaram a moto de um trabalhador que estava trabalhando”, afirma Gabriel, entregador e criador de conteúdo do canal Estrada Livre.

O comentário do rider, que participou da última manifestação, diz respeito ao ataque que o seu colega de quarto sofreu recentemente, em que um grupo de irlandeses danificaram a moto usada pelo trabalhador para fazer entregas. O incidente foi reportado à Garda, mas nada foi feito e o rider precisou arcar com os gastos de reparo.

Ataques como esses não são novidade em Dublin

Não é de hoje que imigrantes brasileiros relatam ataques, normalmente de cunho xenofóbico, de irlandeses – em sua maioria, vindos de grupos de adolescentes conhecidos como “knackers” ou “nanás”, termo pejorativo conferido aos jovens de camadas mais pobres.

Os ataques são recorrentes e ainda que a situação tenha piorado durante a pandemia, já em 2019 brasileiros relataram brasileiros relataram ataques e xingamentos com termos racistas como “macaco”.

Com o boom dos aplicativos de entrega durante a pandemia, e com a maioria dos entregadores sendo imigrantes, os riders têm sido alvo constante de ataques e roubos feitos por jovens irlandeses.

Caso de entregador boliviano foi o estopim para as manifestações

A primeira manifestação ocorreu no dia 22 de julho, sábado, como uma reação ao episódio em que um entregador boliviano fora esfaqueado após ser abordado por um grupo de adolescentes que exigiam que o rider desse a comida que estava prestes a entregar para um cliente.

O entregador se recusou a entregar e acabou sendo atacado pelos jovens. Ao tentar revidar para se defender, levou uma facada.

Entregador da Deliveroo
Após ataque a entregador boliviano, os trabalhadores se reuniram para reforçar os pedidos de segurança e apoio da polícia.

Dois dias após o ocorrido, os adolescentes, em número maior do que no primeiro incidente, agrediram um grupo de bolivianos que trabalhavam no Temple Bar, como retaliação por um de seus integrantes ter sido agredido pelo boliviano do primeiro ataque.

No episódio, as quatro bicicletas dos bolivianos que sofreram o ataque foram roubadas, sendo que uma delas tinha rastreador e, portanto, era possível saber sua localização exata.

No dia seguinte, os entregadores se reuniram para protestar em frente ao local onde a bicicleta estava, segundo o rastreador apontava. A manifestação iniciou na O’Connell Street, passou por algumas ruas do centro e terminou em frente ao prédio. A Garda acompanhou o protesto durante todo o trajeto.

Garda não prometeu uma resposta rápida

Na quarta-feira, 26 de julho, alguns representantes e defensores do movimento dos entregadores de aplicativo se reuniram com a Garda para cobrar mais auxílio das autoridades policiais para a recuperação de bicicletas e motos furtadas, em adição à garantia de segurança aos riders.

Segundo reportagem do Agora Europa, em entrevista concedida ao portal de notícias, Débora, que representou a classe dos entregadores durante a reunião, relatou:

“A Garda falou que, infelizmente, eles não prometem uma resposta rápida sobre as coisas que estão acontecendo porque eles têm coisas mais sérias pra resolver. Eu queria saber quais coisas sérias são essas porque se não é sério uma pessoa ser esfaqueada, não é sério uma pessoa ser atropelada, se não é sério uma pessoa ter o seu objeto de trabalho roubado, o que mais é sério?”

Há registros de episódios mais graves

Como já mencionado, não é de hoje que os casos de furto e agressões, e até homicídios, acontecem com entregadores de aplicativo que vão morar na Irlanda em busca de novas oportunidades e uma vida melhor.

Infelizmente, os riders carregam consigo marcas de tragédias que aconteceram com colegas – e que foram relembradas durante a manifestação do dia 30.

Em 2020, Thiago Cortes foi atropelado por um motorista menor de idade, que dirigia em alta velocidade e fugiu sem prestar socorros. Thiago trabalhava realizando entregas e morreu no dia 31 de agosto de 2020 em meio à pandemia.

Poucos meses depois, em janeiro de 2021, George Gonzaga Bento estava a caminho de uma coleta e se envolveu em uma briga tentando impedir que sua bicicleta fosse roubada. O entregador esfaqueou um adolescente irlandês que acabou morrendo.

Após ter passado quase 500 dias preso, George foi inocentado pela Justiça da Irlanda, que considerou o golpe como legítima defesa.