Um homem de 40 anos atacou e esfaqueou crianças e uma mulher de 30 anos em plena luz do dia, na região central de Dublin, na Irlanda, nesta quinta-feira, dia 22 de novembro. A violência contra as crianças acabou servindo como estopim para que grupos anti-imigração promovessem tumultos, saques e atos de violência durante a noite, sob a alegação de que o ataque durante o dia havia sido feito por um imigrante.

Informações sobre o autor dos ataques não são conhecidas

Até o fechamento desta notícia, a identidade do agressor ainda não tinha sido divulgada, mas as autoridades já disseram que não se trata de um imigrante. 

A imprensa local afirma que fontes internas da polícia confirmaram que o homem já havia sido abordado por agentes meses antes, também pelo uso de arma branca, mas sem gravidade. Desta vez, testemunhas dizem que ele ficou diante da escola por vários minutos, esperando as crianças saírem.

Uma menina de 5 anos e a mulher foram hospitalizadas em estado grave. Outras duas crianças tiveram ferimentos mais leves e também foram levadas ao hospital, mas já receberam alta.

Segundo testemunhas, um grupo de crianças fazia fila em frente a uma escola quando o homem começou o ataque com uma faca. A mulher que acompanhava os meninos e as meninas tentou defendê-los e acabou sendo gravemente ferida.

O autor do ataque foi imobilizado com ajuda de pessoas que estavam no local e, com a chegada da polícia, também foi socorrido com ferimentos graves.

Após o ataque, violência toma conta de Dublin

Ativistas de extrema-direita, instigados por mensagens nas redes sociais, saíram às ruas com mensagens de ordem, destruindo patrimônio público e enfrentando a polícia.

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Mais de 45 pessoas foram presas nos últimos três dias. Os manifestantes foram incitados por “hashtags” como “A Irlanda está cheia” e “Irlanda para os irlandeses”.

O presidente da Irlanda, Michael Higgins, condenou a manifestação violenta e todos os grupos cujas agendas atacam a inclusão social.

A mesma posição teve o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, que afirmou que irá fortalecer as leis contra o discurso de ódio. Ele declarou ter ficado horrorizado com o ataque em frente à escola e com o desdobramento ao longo da noite.

De acordo com matéria publicada pela Reuters, Leo Varadkar disse:

“Acho que agora é muito óbvio para qualquer pessoa […] que a nossa legislação sobre incitação ao ódio simplesmente não está atualizada para a era das redes sociais. E precisamos que essa legislação seja aprovada dentro de algumas semanas”.

Motivação do crime ainda é não é certa

As autoridades irlandesas continuam investigando as causas do ataque contra as crianças e afirmam que consideram várias possibilidades. “Não posso oferecer clareza neste momento sobre qual é a motivação. Neste momento, todas as linhas de investigação permanecem abertas”, comentou uma autoridade policial ao ser questionada sobre a possibilidade de um ataque terrorista.

“Não vou especular sobre um motivo terrorista. Nunca descartei qualquer possível motivo para este ataque. Até termos certeza, temos que manter a mente aberta”, finalizou.

Ainda conforme as autoridades policiais, os atos de violência dos ativistas de extrema-direita não possui justificativa:

“[…] os transportes públicos foram atacados, assim como os veículos da polícia. Alguns estabelecimentos comerciais também foram danificados e atacados, mas felizmente nenhum ferimento grave foi relatado pelo público como resultado da violência desta noite”.

ataque com fogo em Dublin
Os ataques causaram terror e prejuízo, transportes e carros de polícia foram incendiados. Foto: breakingnews.ie.

Entregador brasileiro ajuda a imobilizar criminoso

O entregador brasileiro Caio Benício passava pelo local do atentado, de moto, quando presenciou o homem atacando as crianças. Ele desceu do veículo rapidamente e atacou o criminoso com o seu capacete. Para a imprensa local, ele afirmou que:

“ […] não pensou, que foi automático e que tudo aconteceu muito rápido”. E completou: “ele caiu, eu não vi o que aconteceu com a faca, e outras pessoas intervieram”.

Tenho dois filhos. Fiz o que qualquer pessoa faria. As pessoas estavam lá, mas não podiam intervir por causa da arma, mas eu sabia que podia usar meu capacete como arma”, declarou Caio, que mora na Irlanda há cerca de um ano.

Um cidadão irlandês também criou uma petição online solicitando ao governo do país que Caio receba a nacionalidade irlandesa em retribuição ao seu ato de coragem.

Caio Benício em Dublin
A atitude de Caio evitou que o ataque fosse ainda pior. Em agradecimento, foi criada uma vaquinha para o brasileiro.

Manifestações contra imigrantes têm sido frequentes

No final de julho deste ano, entregadores brasileiros protestaram contra uma série de ataques e agressões recorrentes contra os imigrantes.

Na ocasião, a revolta se deu devido a um colega boliviano esfaqueado enquanto trabalhava com as entregas. Em muitos casos, além das agressões físicas e verbais, os imigrantes são assaltados e perdem seus equipamentos de trabalho, as motos ou bicicletas.

Anos antes, em 2019, a mesma cena se repetiu, com adolescentes jogando ovos, xingando, agredindo e destruindo os veículos dos entregadores.

Autoridades e grupos religiosos se manifestam contra o vandalismo e o preconceito

O Fórum Inter-religioso, grupo que representa todas as religiões em Dublin, se manifestou pedindo que os cidadãos locais “valorizem a diversidade de nossa cidade, uma diversidade que remonta à fundação do país”.

“Aquelas pessoas e grupos claramente se propõem a semear o ódio e a divisão na nossa comunidade. Imploramos por tolerância”, afirmou o grupo formado por muçulmanos, judeus, hindus, budistas e cristãos. “Apoiamos todos aqueles que defendem o Estado de direito e a democracia”.

Em declaração para a imprensa local, a ministra de justiça, Helen McEntee, também reforçou que “a violência que vimos na quinta-feira não será tolerada e a polícia tem todo o meu apoio para manter a ordem. Os responsáveis ​​serão levados à justiça”.

Dublin é uma cidade acolhedora, uma cidade de bondade. Mais do que nunca, precisamos apoiar nossas diversas comunidades”, disse o arcebispo de Dublin. E foi enfático ao defender os imigrantes:

“[…] podemos estender a mão com solidariedade e amizade àqueles que construíram a sua casa entre nós, mas que são alvo de palavras de ódio e gestos cheios de hostilidade e escárnio. Não esqueçamos o contributo inestimável que tantos dão à nossa economia e à nossa sociedade”.

As autoridades irlandesas implementaram um plano de policiamento ostensivo durante todo o final de semana, para garantir que não houvesse qualquer tentativa de repetição dos tumultos dos últimos dias.