A crise imobiliária na Irlanda, gerada pela baixa oferta de imóveis e pela máxima histórica dos preços de aluguéis, resultou em um número inédito de pessoas vivendo em acomodações de emergência.

Para gerir a crise, o Departamento de Habitação do país está reforçando as metas do programa “Housing for All”, acelerando a construção de mais de 30 mil casas por ano.

Irlanda tem enfrentado crise no setor imobiliário

Nos últimos anos, a escassez na oferta de imóveis no país gerou um aumento desenfreado dos valores de aluguel, embora haja sinais de que o aumento dos preços esteja diminuindo. Na prática, significa que não há casas suficientes para as pessoas comprarem ou alugarem e, as que estão no mercado, apresentam valor muito elevado.

Vale ressaltar que a Irlanda não tem uma forte tradição de grandes proprietários e incorporadoras. Em sua maioria, os proprietários são pequenos investidores imobiliários que foram, de certa forma, beneficiados com incentivos governamentais após o crash de 2008.

No entanto, segundo a reportagem do Euronews, a legislação instável e os impostos elevados tem levado cada vez mais os pequenos investidores a venderem seus imóveis e a saírem do mercado de aluguel de casas.

Ainda, com escassez, os imóveis nunca foram tão valorizados como agora, o que acaba por tornar mais difícil o sonho da casa própria de muitos jovens.

Como estão os valores dos aluguéis no país

Uma larga proporção da população irlandesa, incluindo imigrantes, agora depende do setor de aluguel privado, que vem aumentando os preços consideravelmente nos últimos anos.

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No gráfico abaixo, elaborado pelo Daft.ie, é possível observar o aumento do aluguel nos dois últimos anos (2022/2023).

Mapa do preço do aluguel na Irlanda
O valor dos imóveis subiu em todas as regiões irlandesas. Fonte: relatório 2023 Daft.ie

Quem tem sido mais afetado

Segundo dados obtidos pelo Irish Times em março de 2023 a crise imobiliária da Irlanda resultou em cerca de 11.500 pessoas vivendo em acomodações de emergência, um aumento de 30% em relação aos números do mesmo período do ano anterior.

Alguns setores culpam a inflação na Irlanda pelo aumento sem precedentes do número de pessoas em situação de rua, bem como o governo não ter congelado os aluguéis e não ter controle dos imóveis vazios que poderiam servir como abrigos de emergência.

Em 31 de março de 2023 também foi encerrado o “Eviction ban”, uma medida tomada pelo governo irlandês que impossibilitava que inquilinos fossem despejados. Ainda que controversa para alguns setores, após o fim da medida, o número de pessoas em situação de rua aumentou.

morador de rua na Irlanda em 2023
O que mais chama a atenção quando se fala na crise imobiliária da Irlanda é o número de pessoas em situação de rua.

Os últimos dados disponíveis são do relatório mensal de pessoas em situação de rua, conduzido pelo Department of Housing, Local Governmentand Heritage. Em maio de 2023, o número de pessoas que não têm casa e vive pelas ruas é de 8.742, sendo que 5.472 (63%) são homens e 3.270 (37%) são mulheres.

Do total de pessoas vivendo em situação de rua que moram em acomodações de emergência, 6.358 vivem na capital irlandesa, Dublin.

Os mais jovens são os mais afetados pela dificuldade em encontrar acomodação no país e isto tem empurrado muitos jovens irlandeses entre os 18 e 29 para outros países, como mostra esse vídeo da Euronews.

Cidades mais afetadas

A crise imobiliária na Irlanda afeta todas as regiões do país, segundo o relatório conduzido pelo Daft.ie. Mas Dublin está na liderança.

Veja, a seguir, as cinco cidades com maior variação no índice de aluguel. Os dados tiveram como base o valor de um apartamento de 1 quarto.

Cidade Variação ano a ano Preço médio do aluguel
Dublin 12,7% 2.302€
Galway 11,8% 1.772€
Limerick 10,8% 1.645€
Waterford 10,8% 1.399€
Cork 7,7% 1.731€

Como a Irlanda chegou a esse ponto?

Há uma série de fatores a serem considerados para responder à pergunta. Um deles é que, após o crash econômico de 2008, as famílias que pretendiam se mudar para imóveis maiores foram incentivadas pelos bancos irlandeses a manter as propriedades menores, alugá-las e colocá-las como garantia para a nova hipoteca.

Com a medida, o mercado foi inundado de novos proprietários e, consequentemente, a concorrência por inquilinos aumentou, mantendo o preço dos aluguéis mais baixo. No entanto, com os preços dos imóveis em seus máximos históricos, os pequenos proprietários que restam querem sair do mercado para obter um bom retorno de investimento.

Somado a isso, durante o período, a política habitacional irlandesa manteve a construção de novas habitações no mesmo nível de sempre, enquanto a população jovem do país crescia juntamente à onda de imigração gerada pela qualidade de vida e oportunidades de emprego no país.

O que o governo tem feito para apresentar soluções

O Estado possui poucas propriedades para alugar – são cerca de 250 mil – segundo o Taoiseach (como é chamado o Primeiro-ministro) Leo Varadkar anunciou em março.

Casas, apartamentos e duplex estão sendo construídos e o ritmo de construção é cada vez maior. Sob o programa “Housing for All”, o governo prometeu construir uma média de 33 mil novas casas por ano de 2021 a 2030.

Entrega e metas de habitações

O programa e as metas do “Housing for All” foram elaborados antes do grande número de refugiados e requerentes de asilo, o que significa que a necessidade agora pode ser significativamente maior, especialmente no curto e médio prazo.

Ao todo, foram concluídas 29.851 unidades habitacionais em 2022, das quais 9.148 foram construídas nos últimos três meses do ano, segundo dados divulgados pelo Gabinete Central de Estatística (CSO) em janeiro.

Embora o Governo tenha atingido a meta de novas construções no ano passado, não atingiu a meta de habitação social.

O Departamento de Habitação também não conseguiu usar todo o orçamento, transportando mais de 340 milhões de euros, de um total de 4 bilhões, para este ano. A falha foi atribuída a problemas de abastecimento e escassez de construtores.

O que é esperado para esse ano

Para 2023, a meta do Governo é a construção de 9.100 casas sociais, 5.500 habitações populares e rentáveis e 14.400 habitações particulares ou de aluguel. Ao todo, isso soma 29 mil novos imóveis.