Se a Itália hoje é um dos países mais populares do mundo, muito se deve à produção cinematográfica, que ajudou a difundir suas tradições, sua rica cultura e suas paisagens monumentais através das telas dos cinemas. E se você é fã da sétima arte, não pode deixar de assistir os filmes italianos que organizamos nesta criteriosa lista que elenca desde os clássicos aos contemporâneos e os mais belos longa-metragens já produzidos no país da bota.

Uma breve introdução ao cinema italiano neorrealista

O cinema italiano nasceu entre 1903 e 1908, pouco tempo depois de os Irmãos Lumière revolucionarem o mundo com suas primeiras exibições.

A Itália não demorou a deslanchar com suas produções nacionais e rapidamente conseguiu atingir um alto nível de qualidade nas suas películas, o que possibilitou a circulação e o reconhecimento das suas obras mundo afora.

Os cineastas italianos logo entenderam que uma forma de expor e lutar contra as desigualdades sociais que o país enfrentava era através da arte. E foi assim que nasceu o Neorrealismo, movimento que ganhou força entre os anos 1940 e 1950, com o objetivo de expor a realidade nua e crua que a Itália estava vivendo após 20 anos de guerra, na mais pura miséria.

Foi a partir do Neorrealismo que o cinema italiano conquistou definitivamente o cenário mundial e abriu espaço nas décadas seguintes para gêneros como o Western Spaghetti (ou Espaguete Macarrônico), o Musicarello e o Peplum.

Nomes como Roberto Rossellini, Federico Fellini e Dario Argento se tornaram referência no meio da sétima arte e influenciam as produções até os dias de hoje.

Do clássico ao contemporâneo

Nesta coluna, vamos fazer um tour no cinema italiano, começando pelos filmes clássicos, na década de 1940, passando pela Cinecittà, chegando ao século 21, até os filmes contemporâneos mais aclamados pela crítica, premiados e adorados pelo público.

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Roma, Cidade Aberta (Roma, Città Aperta), de Roberto Rossellini – 1945

Dirigido por Roberto Rossellini, o drama é considerado uma das melhores obras da fase neorrealista italiana. Ambientado durante a ocupação nazista em Roma, o filme retrata a resistência italiana de maneira comovente.

Giorgio Manfredi (Marcello Pagliero), um dos líderes da Resistência é procurado pelos nazistas. Ele planeja entregar uma alta quantia de dinheiro para seus compatriotas, se esconde no apartamento de Francesco (Francesco Grandjacquet) e pede ajuda à sua noiva, Pina (Anna Magnani), que está grávida. O líder planeja deixar um padre católico, Don Pietro (Aldo Fabrizi), fazer a entrega do dinheiro.

O plano, porém, foge do controle e o prédio é cercado pelos nazistas e Francesco é levado pelos alemães. A cena em que Pina corre em sua direção se tornou uma das mais famosas do cinema italiano.

Filme Roma cidade aberta
A famosa cena da corrida de Pina no filme Roma, Cidade Aberta.

O filme ganhou vários prêmios, incluindo o Grand Prix de Cannes, e foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado.

Ladrões de Bicicletas (Ladri di Biciclette), de Vittorio de Sica – 1948

Aclamado mundialmente como um dos maiores filmes já produzidos na história do cinema italiano, Ladrões de Bicicleta foi construído de forma profundamente humana através do roteiro e da direção cuidadosamente realizados por Vittorio De Sica (mais um grande nome do neorrealismo italiano).

O filme retrata uma Itália extremamente empobrecida no período pós-guerra e conta a história de um homem que consegue um emprego a duras penas, graças à bicicleta que possui.

Quando essa bicicleta é roubada, ele e seu filho saem pela cidade tentando recuperá-la. As situações que os dois enfrentam são tão dramáticas que é impossível o espectador não se transportar para a história e não se comover com o enredo.

Dentre diversos outros prêmios, o longa foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro e foi um dos primeiros a vencer o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro que, na época, ainda não era uma categoria própria.

Uma curiosidade sobre esse filme é que o elenco foi formado por atores não profissionais.

Ladrões de Bicicletas está disponível gratuitamente no Youtube:

A Doce Vida (La Dolce Vita), de Frederico Fellini – 1960

Neste filme vemos uma Itália boemia e fascinante. “La Dolce Vita”, que se traduz popularmente como “boa vida”, mostra justamente o lado doce da vida do jornalista Marcello Rubini, interpretado por Marcello Mastroianni, que escreve para tablóides sensacionalistas e circula nas festas da elite romana. Mastroianni vive relacionamentos fugazes, entre eles com a atriz hollywoodiana Sylvia Rank, vivida por Anita Ekberg.

Fellini fez – de um jeito magistral – uma crítica à sociedade da época, mas que se mantém atual até hoje.

O filme é um pouco longo porque a sua estrutura é intrincada, ou seja, ele não tem uma linha narrativa óbvia, mas ainda assim continua valendo muito a pena. Não por acaso, ele foi indicado ao Prêmio BAFTA de Melhor Filme e ao Oscar de Melhor Roteiro Original e foi o vencedor do Oscar de Melhor Figurino Preto e Branco, dentre outros prêmios.

Filme italiano La dolce vita
A cena em que os dois entram na famosa Fontana Di Trevi é uma das mais emblemáticas do cinema.

O longa foi também considerado um dos 1000 melhores filmes de todos os tempos pelo The New York Times em 2004.

8 ½, de Frederico Fellini – 1963

Olha essa dupla aqui de novo: Fellini e Mastroianni! Impossível deixar esse filmaço de fora!

Dessa vez, Marcello Mastroianni interpreta o papel do diretor de cinema Guido Anselmi – claramente um alter ego de Fellini – que está prestes a rodar seu próximo filme, porém ainda sem ideias. Pressionado por sua mulher, sua amante, seu produtor, seus amigos e pela imprensa, o diretor mergulha numa crise existencial a ponto de delirar, misturando ficção com realidade.

Nesse filme, Fellini fez algo inédito, transformando o temeroso bloqueio criativo no enredo da trama.

Com liberdade do estúdio italiano Cinecittà, sem uma narrativa completa e misturando ambientes fantásticos, oníricos e realistas, o diretor conseguiu fazer uma obra-prima, onde exerceu sua extrema técnica em todos os departamentos que compõem a produção de um filme.

Filme 8 e meio
A produção recebeu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Figurino na edição da premiação em 1963.

Outra coisa interessante de ser observada nesse longa é como Fellini era um admirador da psicanálise. Isso fica claro nas cenas em que os sonhos se confundem com a realidade e nas lembranças da infância do protagonista.

Além do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Figurino, a obra de Fellini também tecebeu o Prêmio Bodil de Melhor Filme Não-Americano e do National Board of Review de Melhor Filme Estrangeiro.

Suspiria, de Dario Argento – 1977

Quem disse que a Itália também não é referência em filmes de terror? E melhor: filmes de terror cult. Suspiria é um verdadeiro clássico e é considerado um dos filmes de terror mais interessantes de todos os tempos, justamente pela atmosfera estranha e curiosa.

Dirigido por Dario Argento, este filme é baseado no ensaio de Thomas de Quincey e é um dos melhores filmes de terror a emergir da cinematografia italiana. Também é considerado um dos melhores trabalhos de Argento e ganhou aclamação da crítica global pelo talento estilístico e por suas cores vibrantes.

A trama conta a história de Suzy, uma jovem americana que vai estudar ballet em uma prestigiada academia na Alemanha sem perceber que era uma fachada para algo sobrenatural e sinistro. A garota se vê envolvida na atmosfera sombria da cidade e precisa sobreviver aos assassinatos que acontecem na academia.

Filme italiano Suspiria
O filme ganhou também uma nova versão em 2018, dirigida por Luca Guadagnino, que está disponível no Prime Video.

Os elementos de terror – tratados com perfeição – estão presentes durante toda a trama. Pra quem gosta do gênero, é de arrancar suspiros (com o perdão do trocadilho)!

Assista o trailer de Suspiria no Youtube.

Cinema Paradiso (Nuovo Cinema Paradiso), de Giuseppe Tornatore – 1988

Esse filme não só é parte obrigatória da cinematografia italiana como é item essencial na lista de todo cinéfilo.

Dirigido por Giuseppe Tornatore e com a brilhante trilha do gênio Enio Morricone, Cinema Paradiso é uma verdadeira declaração de amor ao cinema.

O enredo segue um estilo de narrativa em flashback e conta a história do menino Totó (Salvatore Cascio/Marco Leonardi), que se encanta pelo cinema e inicia uma grande amizade com o projecionista de sua pequena cidade, Alfredo (Philippe Noiret). Já adulto e agora um cineasta bem-sucedido, uma notícia inesperada faz Totó relembrar de sua infância e da saudosa relação com seu mentor.

Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, do Globo de Ouro e do Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes, Cinema Paradiso foi aclamado pelo público e elogiado pela crítica e pelos espectadores e é considerado, até hoje, um filme essencial.

O trailer oficial de Cinema Paradiso está disponível no Youtube:

A Vida é Bela (La Vita è Bella), de Roberto Benigni e Grigori Chukhrai – 1997

De uma beleza sem igual, A Vida é Bela é uma verdadeira obra de arte e é merecidamente considerado um dos melhores filmes italianos que o mundo já viu.

Escrito, dirigido e protagonizado por Roberto Benigni, o filme conta a história de Guido, um homem judeu que é levado com o filho, Giosué, para um campo de concentração nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

Para proteger seu filho e mantê-lo alheio ao terror e a violência que estão vivendo, Guido faz o menino acreditar que eles estão participando de um jogo divertido e cheio de desafios.

Filme A vida é bela
O filme é uma homenagem a Luigi Benigni, pai do diretor, que inspirou o personagem Guido.

A emocionante trama concorreu com o filme nacional “Central do Brasil” no Oscar de 1999 e levou a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro, além das categorias de Melhor Ator, Melhor Trilha Sonora e mais de 20 outros prêmios.

A Vida é Bela está disponível para aluguel no Youtube. Assista o trailer

Gomorra, de Matteo Garrone – 2008

Dirigido por Matteo Garrone e baseado no livro de Roberto Saviano, Gomorra é um filme extremamente crível sobre a máfia italiana.

Diferente dos velhos clássicos, esse drama napolitano expõe o submundo criminoso da Itália com cinco histórias paralelas de pessoas que tentam viver suas vidas, mas são regidos pela Camorra, tradicional máfia da região da Campanha, que instiga a violência incessantemente.

O longa-metragem recebeu o prêmio de melhor filme pelo David di Donatello e os Satellite Awards. E deu origem a uma excelente série de cinco temporadas na HBO.

O trailer de Gomorra está disponível no Youtube:

A Grande Beleza (La Grande Bellezza), de Paolo Sorrentino – 2013

Eu preciso me conter para falar desse filme pois, confesso, me empolgo. Tanto o diretor e roteirista, Paolo Sorrentino, quanto o protagonista, Toni Servillo, fizeram um trabalho magistral aqui.

Já assisti esse filme algumas vezes e sempre descubro uma coisa nova para me encantar. A maneira como a trama é narrada, sob o ponto de vista do protagonista, que observa a vida de uma forma poética, enxergando a “grande beleza” nas pequenas coisas é que faz esse filme ser, na minha opinião, uma verdadeira obra de arte.

Durante o verão romano, o escritor, jornalista e crítico de teatro, Jep Gambardella (Toni Servillo), transita pela cidade refletindo sobre a sua vida. Ele está com 65 anos, e desde o grande sucesso do seu único romance, escrito décadas atrás, ele não concluiu nenhum outro livro.

Filme A grande beleza
O longa, além de ter sido indicado e vencido dezenas de prêmios, levou a estatueta do Oscar como Melhor Filme Estrangeiro e o Globo de Ouro.

A vida de Gambardella se passa entre as festas e os eventos da alta sociedade, onde vive escorado nos luxos e nos privilégios da sua antiga fama. Submerso na beleza da história de uma Roma sempre viva e vibrante, Jep se lembra de um amor da sua juventude. Apegado a essas lembranças, ele busca mudar de vida – sem fazer muito esforço – e tenta se livrar do bloqueio criativo, buscando inspiração para voltar a escrever.

Lazzaro Felice, de Alice Rohrwacher – 2018

Finalmente temos na nossa lista uma diretora italiana e, devo dizer, que diretora! Este não é um filme comum e linear! A escolha de Alice Rohrwacher de contar uma história utilizando elementos de realismo mágico traz uma atmosfera muito sensível e delicada para o longa.

O filme conta a história de Lazzaro (Adriano Tardiolo), um jovem camponês extremamente bondoso, explorado pela comunidade em que vive, no interior da Itália.

Obedecendo aos habitantes locais e acreditando piamente em tudo e todos, Lazzaro é movido pura e simplesmente para fazer o bem e ajudar o próximo. Essa abordagem aproxima o personagem de um caráter bíblico (na realidade, existe um Lázaro descrito na Bíblia como um homem que foi ressuscitado por Jesus).

Após uma tragédia, e num salto temporal, Lazzaro retorna à vida no século XXI. Ele não compreende mais a lógica deste mundo, mas pretende reencontrar a sua família e viver como antigamente. A trama apresenta uma bela crítica às relações de exploração de trabalho e é um filme considerado atemporal repleto de elementos do neorrealismo italiano.

Assista o trailer de Lazzaro Felice:

A Mão de Deus (La Mano di Dio), de Paolo Sorrentino – 2021

Mais um filme brilhante do diretor Paolo Sorrentino, pra fechar a nossa lista de filmes italianos magníficos! O título deste longa faz referência ao gol do jogador Maradona feito no ano de 1986, apelidado de “mão de Deus”. O gol foi irregular por ter sido feito com a mão, mas foi validado pela arbitragem.

É em meio à chegada do craque argentino, que se tornou um ídolo do futebol napolitano, é que a trajetória do protagonista da trama, o adolescente Fabietto Schisa, se desenrola. Além disso, toques de fantasia e personagens bizarros nos remetem às produções de Fellini, que são uma clara referência para Sorrentino.

O drama alternado com momentos cômicos, é inspirado na própria trajetória do cineasta, ambientado na década de 1980, em Nápoles, mostra as várias faces de uma grande família, que se ama e briga com a mesma intensidade.

Filme A mão de Deus
O filme A mão de Deus homenageia e conta a história de Maradona no futebol italiano.

Apesar de a história ser sobre uma família italiana com um ar intimista, o filme aborda temas difíceis e complexos como violência contra a mulher, traição, traumas e luto.

Você se pega rindo e chorando, profundamente comovido, em diversos momentos desse filme, é realmente uma experiência incrível.

O longa-metragem concorreu ao Leão de Ouro no 78º Festival Internacional de Cinema de Veneza, onde ganhou o Grande Prêmio do Júri, e Filippo Scotti recebeu o Prêmio Marcello Mastroianni.

A Mão de Deus está disponível para ser assistido na Netflix.