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Roberta Simoni

Colunista

Roberta é ítalo-brasileira. Escritora, roteirista e jornalista. Nascida no litoral do Rio de Janeiro, hoje experimenta as dores e as delícias da vida de imigrante na Itália. Trabalhou durante anos para a TV Globo, escreveu peças teatrais, é autora do livro “A vida é curta demais para tomar café em canecas ordinárias” (lançado em 2022, no Brasil) e compartilha seu olhar atento e sensível sobre o cotidiano della dolce vita italiana.

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Descobri que não estava preparada para visitar o Brasil
Brasileiros na Europa Itália

Eu não estava preparada para visitar o Brasil! Mas alguém está?

Não vou negar: dediquei algumas sessões de terapia para tentar me preparar psicologicamente para a minha primeira visita ao Brasil depois de dois anos e meio morando na Itália. Spoiler: eu não estava preparada para visitar o Brasil — nem para as coisas ruins, tampouco para as maravilhosas. O frio na barriga que antecede a viagem Não é exclusividade minha… todo mundo que mora fora e vai para o Brasil pela primeira vez, sobretudo se já faz algum tempo que se mudou e ainda não teve a oportunidade de visitar o país, relata a mesma coisa: é uma miscelânea de emoções com uma salada mista de sensações conflituosas e o prato de entrada é um tira gosto de crises de ansiedade para digerir. Ao mesmo tempo que você está feliz porque vai rever as pessoas que mais ama nesse mundo todinho, já começa a sentir uma angústia só de pensar em como vai fazer para encontrar todo mundo que você quer ver. E ainda conseguir administrar a agenda apertada que precisa encaixar consultas médicas, exames e mais um monte de compromissos burocráticos. Embarcando de volta para casa? Mesmo voando em direção à minha terra natal e, em tese, “voltando para casa”, a sensação era a de estar indo para um território completamente desconhecido. Eu ficava tentando imaginar como ia ser, como eu ia me sentir, mas eu não tinha a mais vaga ideia do que me esperava. "O que me consolava era que, apesar de o meu desembarque no Rio de Janeiro ser de madrugada — um horário para lá de inconveniente —, meu primo estaria me esperando para me receber e dar aquele primeiro abraço que me faria sentir de volta a um lugar familiar". Ter um rosto amigo para te receber pelos aeroportos do mundo é um dos maiores privilégios que eu conheço. Uma espécie de afeto vip que companhia aérea nenhuma consegue proporcionar nem mesmo para quem viaja de primeira classe. Um luxo para poucos! E por falar em privilégios… Uma das coisas mais interessantes que descobri nessa minha ida ao Brasil é que quando a gente vira “visita”, algumas vantagens vêm de brinde nesse combo. Explico: Se por um lado a vida de imigrante é permeada por momentos dolorosos de profunda saudade, longos períodos de solidão, limitações das mais variadas formas, cores e sabores e toda sorte de privações; quando a gente volta para casa e tem a sorte de ter uma família amorosa ou um círculo de amigos que entende (ou pelo menos imagina) as coisas que precisamos abrir mão para viver no exterior, eles fazem de tudo para tornar aquele curto período que estamos no Brasil o mais proveitoso possível. Isso inclui passar o máximo de tempo de qualidade juntos, fazendo coisas que antes, quando vivíamos perto, não fazíamos ou não nos esforçaríamos tanto assim para fazer porque sempre pensávamos que poderíamos deixar para depois. E agora, com a distância, tudo fica urgente. Tudo é para ontem. Inadiável. Porque a gente sabe que aproveitar o agora é o nosso maior compromisso. Os mimos da família nos fazem transbordar de amor Vi meus pais e minha irmã adiando compromissos num dia de semana para aproveitar um dia de sol comigo numa ilha que eu desejava voltar com eles desde criança. Vi todo mundo se movimentando para estar ali, junto, vivendo aquele momento que — só depois nos demos conta — não acontecia há décadas. E foi mágico. Um daqueles dias que vamos nos lembrar para sempre. Em um mês tivemos mais refeições juntos do que teríamos, talvez, ao longo de um ano. Isso é o que chamo de tempo de qualidade. [caption id="attachment_170011" align="alignnone" width="750"] Aproveitar cada momento com a família foi revigorante na minha passagem pelo Brasil. Foto: Roberta Simoni.[/caption] Papai, tão bonitinho, ia quase todos os dias à feira para comprar maracujás e preparar o meu suco preferido porque sabe que eu não tenho acesso a isso morando na Itália. E mamãe, a coisa mais linda do mundo, já me recebeu com meu prato favorito e, não satisfeita, quando me via manifestar um novo desejo, já tratava de preparar outra receita: milho cozido, cachorro-quente, canjica, purê de aipim, arroz-doce… foi o paraíso na terra. Chorei escondida mais de uma vez após viver momentos assim. Um choro de profunda gratidão. Sabe quando você se sente inundado de amor e transborda? Então. Acho que era por isso que eu preferia transbordar quando estava sozinha. Não era um choro que carecia de consolo. Eu só queria agradecer. E eu agradeci muito a eles. Ao universo. À vida. E sigo profundamente grata. Talvez eu esteja transbordando de novo agora, enquanto escrevo. Nesse caso, melhor continuar falando de comida, que me emociona, mas pelo menos não me faz chorar… A Itália que me perdoe, mas nada supera a comida brasileira Um dos desejos que eu estava guardando há meses era o de entrar num restaurante de comida a quilo e me esbaldar. Colocar macarrão com feijão no mesmo prato, ovo de codorna, batata, banana, farofa. Tudo junto. Com todo respeito ao “primo e secondo piatto” das refeições italianas, com carboidratos, proteínas e vegetais balanceados, mas o PF (Prato Feito) é fundamental. [caption id="attachment_170005" align="alignnone" width="750"] A comida brasileira tem os seus encantos e em boa companhia, fica melhor ainda. Foto: Roberta Simoni.[/caption] Seguindo na lista de desejos, vinha o pastel com caldo de cana de feira! Nessa missão, eu fui acompanhada do meu pai e do meu sobrinho, que se divertiram vendo minha alegria devorando um pastel enorme de carne com queijo, sem me importar com a gordura escorrendo pelo meu braço. Papai ficou incrédulo quando contei que não tinha isso na Itália e voltamos para a casa rindo, dizendo que não dava para levar a sério um país que não tem pastel com caldo de cana. Mas nem tudo são flores Se por um lado eu estava aproveitando para gozar de tudo que eu não vejo aqui na Itália, logo o contraste das coisas ruins também não escaparam do meu radar: Além da sujeira das ruas, do caos generalizado, do trânsito congestionado que eu já não precisava enfrentar há anos, o que mais me pegou (e doeu) foi ver cães e gatos abandonados nas ruas. Ficar horas parada no trânsito da Ponte Rio-Niterói? Moleza. Voltar a andar com os vidros da janela do carro do Uber fechado com medo na hora de atravessar a Linha Vermelha e Amarela. De boa. Já é instintivo. Mesma coisa o celular. Foram mais de vinte anos vivendo no Rio. [caption id="attachment_170006" align="alignnone" width="750"] Voltar a ver cães abandonados nas ruas do Brasil, me cortou o coração. Foto: Roberta Simoni.[/caption] Parece que o corpo guarda memórias. Eu simplesmente não pegava o celular na rua como já fazia antes. Não foi nenhum choque. Mas voltar a ver animais abandonados, desnutridos e maltratados nas ruas, isso, sim, foi dilacerante porque, na verdade, eu nunca me conformei com essa realidade. Viver num lugar onde há um controle maior e, consequentemente, não há tantos casos de animais em situação de abandono, traz um alívio para o meu coração, mas não significa que não continue acontecendo ao redor do mundo e ter de lidar com isso voltando para o Brasil foi doloroso. E o que mais incomodou? É engraçado… a gente pensa em tantas coisas nas vésperas de visitar o Brasil, mas não tem como imaginar quais serão as naturezas do incômodo da nossa nova versão, da pessoa que nos tornamos quando passamos a habitar um novo continente e nos adaptar com uma nova cultura. Eu, por exemplo, me vi profundamente incomodada com a falta de coleta de lixo. Logo nos primeiros dias, quando estava na casa das pessoas, perguntava onde podia descartar o lixo reciclável, pela força do hábito. Só então me dava conta de que não havia essa cultura na maioria dos lugares e ficava me sentindo péssima de não fazer a separação do lixo como me acostumei a fazer desde que mudei para cá. Não tinha o que fazer, porque mesmo que eu separasse, depois ia tudo para o mesmo lugar. Tive que fazer vista grossa, como tentei fazer para os cachorros de rua. Sem muito sucesso, diga-se de passagem. Qual é o significado da faixa de pedestre no Brasil? Mas os dois últimos dessa lista que, não por acaso, eu deixei para o final, foram os que, de longe, me saí pior: O penúltimo foi tentar desviar (do meu medo) de barata. Não é que eu tenha nojo, eu tenho horror à barata! E pode até parecer frescura, mas considero uma dádiva estar vivendo num lugar há quase três anos e só ter visto uma barata uma única vez (e ela estava morta — detalhe importante). Para mim, é um alívio saber que vou ao banheiro de madrugada e não vou dar de cara com aquele monstro. E, vale dizer, alívio é um sentimento que considero mais até do que amor. Por último, mas não menos importante, meu maior impacto foi lembrar que as faixas de pedestre no Brasil são de mero enfeite. Inclusive, no passado, eu já fui atropelada bem em cima de uma delas. Com meus hábitos italianos, eu fiquei (bem ou mal?) acostumada a pisar na faixa e os carros pararem quase que imediatamente para gente atravessar e, de repente… ué? Pifou? Tiveram que me puxar mais de uma vez, porque eu simplesmente ia para faixa e já fazia o movimento automático de atravessar a rua. Os carros tiraram fino de mim algumas vezes até eu ficar esperta de novo e lembrar que eu estava no Brasil. E o Brasil, meus amigos, não é para amadores. O Brasil não é para amadores, mas é lá que estão os meus amores E é aí que mora o dilema… Estar no Brasil por esses dias, apesar de ter sido uma grande maratona de médicos e exames, me renovou as energias pelos próximos meses. E essa foi mais uma lição que aprendi: não dá para negligenciar a saúde como andei fazendo porque fica muita coisa acumulada para tratar durante a curta estadia no Brasil, enquanto o tempo poderia estar sendo aproveitado de forma mais lúdica e tranquila. E não tem jeito: por mais que o sistema de saúde na Itália funcione razoavelmente bem, tem coisas que sempre vamos preferir fazer na nossa terrinha. Nessa minha primeira visita ao Brasil, eu priorizei cuidar da minha saúde e passar o máximo de tempo com a minha família e acabei não conseguindo ir a vários lugares e encontrar com muitas pessoas queridas. [caption id="attachment_170007" align="alignnone" width="750"] É impossível não voltar para a Itália com o coração transbordando felicidade. Foto: Amaro Lima.[/caption] Mas a emoção que senti cada vez que reencontrei um amigo, que tive a chance de dar um abraço apertado em alguém que eu estava morrendo de saudade… cada momento desse, por mais que tenha sido bem mais breve do que eu gostaria, teve um valor imensurável. Eu não me importo de ter que encarar horas de voo, fazer aquelas escalas desumanas, enfrentar aeroportos lotados e até baratas voadoras para estar com as pessoas que eu amo. E é no Brasil que grande parte delas está. É lá que um pedaço enorme do meu coração continua batendo. E eu preciso voltar lá sempre que possível para me lembrar que estou viva e o quanto sou amada. E falando nisso, será que existe uma hora certa para sair do Brasil? Confira o meu relato sobre o tema.

Banco da Itália
Itália

Economia da Itália: conheça o cenário econômico em 2024

A economia da Itália tem diversos desafios ao longo de 2024, entre eles: o crescimento que desacelerou no início no ano, um potencial aumento do desemprego e a taxas de juros que devem se manter em alta até o terceiro trimestre. Os serviços, no entanto, aumentaram moderadamente e a indústria atravessa um momento de estabilidade. Além disso, a inflação controlada abaixo da média europeia mostra sinais de uma economia resiliente, que consegue aguentar as crises melhor do que seus vizinhos europeus. Vamos entender melhor sobre a economia italiana? Economia na Itália: qual o cenário atual? A Itália é um país economicamente forte e diversificado que, não por acaso, ocupa a 8ª posição no ranking das maiores economias do mundo e é a 3ª maior economia europeia. Em 2023, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB italiano foi estimado em 2,12 trilhões de dólares, representando um crescimento de 2,8% em relação ao ano anterior. A longo prazo, a Itália também tem conseguido bons resultados: desde 2019, a economia cresceu 3,8%, o dobro da vizinha francesa e cinco vezes mais do que a alemã. A esse “fenômeno” vem se atribuindo ao país da bota a fama de “milagre econômico” que, no entanto, já demonstra fragilidade e curto prazo de validade com a recente desaceleração do crescimento no ano corrente e a dívida pública de proporções descomunais. Economia italiana ainda é forte Apesar de o atual cenário econômico ser marcado por grandes desafios e incertezas, a economia da Itália continua sendo uma das maiores e mais relevantes da atualidade e segue mostrando sinais de resiliência. São necessárias, no entanto, políticas e intervenções econômicas específicas para enfrentar os desafios atuais e estimular o crescimento sustentável a longo prazo. Para entendermos um pouco mais do cenário econômico da Itália em 2024, conversamos com o economista Álvaro Rossi, especialista em Mobilidade Social e Desenvolvimento Econômico. [caption id="attachment_167835" align="alignnone" width="750"] Álvaro aponta para uma desaceleração da economia da Itália em 2024. Foto: Álvaro Rossi[/caption] Segundo o especialista, embora o atual cenário não seja dos melhores, o crescimento está em linha com o restante dos países europeus. “A Itália reagiu razoavelmente bem às crises econômicas recentes, recuperando seu nível de atividade econômica pré-pandêmico na metade de 2021, alcançando um crescimento modesto desde então. Porém, em sua última previsão, o Banco da Itália estima que o produto interno bruto (PIB) desacelerará ainda mais em 2024”, ressalta Álvaro. Outro fator importante que o economista levanta é o das crises climáticas: em 2023, vimos enchentes catastróficas em algumas regiões da Itália. Há previsões de que a frequência de desastres climáticos persista em 2024, o que, infelizmente, possa gerar impactos negativos na situação socioeconômica do país. “Se estas previsões vierem a se concretizar, teremos uma pressão em setores-chave da economia italiana, como energia e o agro, o que aumentaria ainda mais a estagnação da economia italiana neste ano de 2024”, alerta o especialista. Principais indicadores da economia da Itália Os indicadores econômicos podem ser os nossos melhores aliados para a compreensão da situação da economia de um determinado país. Vamos conhecer mais sobre os principais e o que eles podem nos dizer sobre a economia da Itália? PIB O PIB (Produto Interno Bruto) é um dado produzido a partir da soma de todos os serviços e bens produzidos por um país, durante um período de tempo. O poder Executivo da União Europeia reduziu a projeção de crescimento da Itália em 2024 de 0,9% para 0,7%, segundo as previsões de inverno divulgadas por Bruxelas em fevereiro deste ano. Por outro lado, a Comissão Europeia manteve a perspectiva de uma alta de 1,2% no produto interno bruto (PIB) italiano em 2025. "A incerteza permanece excepcionalmente elevada, em um cenário de prolongadas tensões geopolíticas e de risco de a crise no Oriente Médio se ampliar", disse o comissário de Economia da UE, Paolo Gentiloni. Dívida pública A dívida pública altíssima é um problema crônico para a economia da Itália. Em 2020, com a crise da Covid-19, a dívida pública italiana atingiu os dos níveis mais altos já registrados pela história do país: 157,5% do PIB da Itália. Porém, com o crescimento da economia do país em 2023, a dívida pública também diminuiu. O Gabinete de Estatísticas da União Europeia (Eurostat) informou que a dívida pública da Itália encerrou o terceiro trimestre de 2023 em 140,6% do Produto Interno Bruto (PIB), representando uma redução de 1,8 ponto percentual na comparação com os três meses anteriores, passando de 142,5% para 140,6%. Esta foi a quinta maior diminuição de uma dívida pública na União Europeia no período em questão. Mesmo assim, a Itália ainda detém a segunda maior dívida pública entre os Estados-membros em termos proporcionais, atrás apenas da Grécia, com 165,5%. Apesar da melhora no índice, a dívida italiana ainda é extremamente elevada e precisará ser uma das urgências na agenda do governo de Giorgia Meloni. Inflação na Itália A inflação altíssima na Itália do começo de 2023 — consequência da crise energética no continente europeu e a guerra na Ucrânia — deu lugar a uma das menores inflações do continente. [caption id="attachment_167870" align="alignnone" width="750"] Apesar da inflação ter diminuído, os italianos sentiram o impacto da guerra quando viram o custo de vida aumentar.[/caption] “Em um ano, a inflação italiana diminuiu de 10,0 ponto percentual ano a ano em janeiro de 2023 para 0,84 ponto percentual ano a ano em dezembro de 2024, ficando abaixo da média europeia de 2,8”, alega Rossi e acrescenta: "Em 2024, porém, espera-se que a taxa aumente de novo acima do limite de 2%, com medidas implementadas para conter o impacto do aumento dos preços de energia, como a taxa de IVA de 22% sobre o gás estão sendo retiradas, isso levará a um pequeno impacto nos preços dos consumidores.” Taxa de juros de empréstimos A taxa de juros de empréstimos (tassa di interesse sui prestiti) italiana continua sofrendo um aumento significativo em 2024, principalmente quando comparada aos dados de anos anteriores. Em 2021, a taxa era de 2,20%. No ano seguinte, 2022, a taxa de juros foi de 2,5% e, em 2023, ela alcançou a casa dos 3%. E agora, no primeiro semestre de 2024, chegamos a 3,87%. “Em compensação ao controle inflacionário, e atrelada à desaceleração da economia italiana, provavelmente as famílias e empresas sigam sentindo um aperto orçamentário. Isso porque se prevê que o Banco Central Europeu (BCE) manterá sua taxa de juros em 4% até outubro, o que, para quem tem empréstimos com taxa variável (3/4 de todos os empréstimos na Itália) é desfavorável”, alega Rossi. Esta taxa de juros elevada mantém um alto custo de empréstimos para empresas e famílias que terão menos dinheiro para gastar em outras áreas, contribuindo para a desaceleração da economia da Itália. O economista acrescenta: “Se olharmos, por exemplo, para a taxa de hipoteca em agosto de 2023, estava em 4,3%, acima dos anteriores 3%. Isso inevitavelmente prejudica a renda disponível dos consumidores”. Taxa de desemprego na Itália Em relação à taxa de desemprego, a Itália detém um dos mais altos índices na Europa, ao lado de países como Espanha e Grécia. O aumento do desemprego foi uma das consequências mais visíveis durante o período de crise da Covid-19. A guerra da Ucrânia, felizmente, não afetou esse índice diretamente. A taxa de desemprego na Itália está em 7,6%, a menor desde a crise econômica de 2008. Porém, segundo especialistas, a taxa de desemprego deve aumentar em 2024, chegando até 8,5% no final do ano. “Se isso se concretizar, significaria, junto com uma estagnação no crescimento do valor de salários e a alta de juros atuais, uma maior pressão nos consumidores do país", ressalta Álvaro. Saiba como trabalhar na Itália e como garantir uma vaga no mercado. Onde acompanhar os indicadores da economia italiana? Os indicadores da economia italiana são publicados e constantemente atualizados em diversos portais online. As fontes mais confiáveis para acompanhar os indicadores da economia da Itália são os seguintes: Ministério da Economia e Finanças (Ministero dell’Economia e delle Finanze); Banca D’Italia; Istat (Istituto Nazionale di Statistica); Bolsa de valores italiana (Borsa Italiana). Esses quatro portais divulgam somente dados oficiais e atualizados. No site da Borsa Italiana, por exemplo, os dados são divulgados em tempo real. O impacto dos imigrantes na economia da Itália O impacto dos imigrantes na economia da Itália é positivo. Os imigrantes na Itália representam 8% da população, os trabalhadores estrangeiros são 2,4 milhões (10,3%) e geram 9% do PIB italiano. Ou seja, os imigrantes produziram 154,3 mil milhões de euros em 2022, com picos superiores a 14% na agricultura e na construção. Na Itália, vivem mais de 5 milhões de imigrantes, dos quais 78% estão empregados, um valor expressivo e que não pode ser desconsiderado. O maior impacto dos imigrantes na economia da Itália está, sem dúvidas, relacionado ao trabalho. Em 2020, em várias regiões, o trabalho de imigrantes ultrapassou os 10% do trabalho total: Lazio (13,6%), Emilia-Romagna (13,1%), Umbria (12,4%), Toscana (12,3%), Lombardia (12,2 %), Veneto (11,8%) e Ligúria (10,6%). [caption id="attachment_167867" align="alignnone" width="750"] A mão de obra imigrante é desejada e necessária para o andamento da economia italiana.[/caption] Além disso, cidadãos estrangeiros possuem 11% das empresas registradas na Itália, totalizando 659.709 de acordo com números oficiais divulgados pela ANSA. Segundo o relatório, 34% das firmas de propriedade de imigrantes pertencem a cidadãos romenos, chineses ou marroquinos, sobretudo nas províncias de Florença, Turim, Cremona, Fermo, Prato e Viterbo. "A contribuição dada à economia italiana pelos empreendedores estrangeiros é ainda mais apreciada e necessária diante do andamento demográfico do nosso país, um problema para o qual não há solução em curto prazo", afirmou Andrea Prete, presidente da Unioncamere, representante das câmaras de comércio na Itália. Confira como vivem e qual o perfil dos brasileiros na Itália. Previsões para a economia da Itália em 2024 As previsões para a economia da Itália em 2024 são realistas e embora o país tenha crescido 3,8% nos últimos quatro anos, as previsões para os próximos meses sugerem uma estagnação no crescimento. A economia italiana começou 2024 com um crescimento lento, destacando sinais contraditórios entre o setor dos serviços, que regista uma recuperação moderada, e a indústria, que começa a mostrar sinais de estabilidade. Apesar de alguns fatores positivos, como a inflação baixa, outros fatores críticos continuam influenciando o cenário econômico da Itália, entre eles: Os fluxos comerciais no Canal de Suez que continuam travados, dificultando os transportes marítimos; O aumento persistente dos preços do petróleo e o corte adiado das taxas de juro. Apesar dos desafios e incertezas presentes no cenário econômico italiano e internacional, a Itália se mostra otimista, dando sinais de recuperação e resiliência. Com o atual cenário da economia da Itália, vale a pena investir no país? Sim, vale a pena investir na Itália. Apesar da recente recuperação de duas crises muito importantes e do momento que o país atravessa de grandes desafios, a economia da Itália continua ocupando o posto da 8ª economia mais forte do mundo. Além disso, possui a 4ª maior reserva de ouro em escala global, o que lhe garante uma estabilidade em possíveis futuras emergências. Outra característica que torna a economia italiana muito forte é o euro, uma moeda historicamente estável e que, apesar de ter sofrido com a guerra da Ucrânia, continua sendo uma moeda poderosa. Porém, qual é o tipo de investimento ideal no contexto italiano de 2024? Devemos considerar que além da possibilidade de investir em ações, existem também diversas possibilidades com empresas e negócios em geral no país. Há como abrir empresa na Itália de dois tipos: Partiva IVA di regime forfettario e Partita IVA di regime ordinario, equivalentes, respectivamente, ao MEI e ao CNPJ. A primeira é considerada uma das melhores maneiras para incentivar a abertura de pequenas empresas, com uma taxação de impostos de somente 5% e um faturamento máximo de 85 mil euros/ano. É importante analisar antes de investir Mas, é claro que os investimentos devem ser feitos com cuidado. Apesar de ser muito difícil ver negócios e empresas fechando com frequência na Itália, o investimento em negócios físicos carrega um aspecto de resistência da população. A Itália é, assim, um bom país para investimentos, mas eles devem ser feitos após uma análise cuidadosa do público e do cenário geral. Quais os melhores setores para investimento? Em 2024, os melhores setores para investimento na Itália foram aqueles relacionados à produção de soluções aos problemas causados por um contexto de guerra e crises econômicas. Dentre as principais áreas, podemos citar: Tecnologia Como em muitos países, o setor de tecnologia continua sendo uma área de crescimento na Itália. Empresas de tecnologia em áreas como inteligência artificial, cibersegurança e tecnologias limpas representam oportunidades de investimento. Energias renováveis Com um aumento do foco na sustentabilidade e na redução das emissões de carbono, as energias renováveis, como solar e eólica, estão recebendo mais atenção. A Itália tem um grande potencial para energia solar, especialmente nas regiões do sul. Saúde e bem-estar O setor de saúde e bem-estar continua sendo uma área importante de investimento, especialmente com o envelhecimento da população. Isso inclui empresas que fornecem serviços de saúde, tecnologias médicas inovadoras e produtos relacionados ao bem-estar. Turismo e Hospitalidade Apesar dos desafios recentes devido à pandemia, o setor de turismo e hospitalidade seguem se reerguendo. A Itália é um destino turístico de renome mundial, com uma rica cultura e patrimônio histórico, o que pode oferecer oportunidades de investimento nesse setor. Indústria de alimentos e bebidas A Itália é famosa por sua gastronomia e produção de vinhos. Empresas que estão inovando na produção de alimentos de alta qualidade, bebidas e produtos gourmet podem atrair investidores. Indústria automobilística O país possui uma indústria automobilística significativa, com empresas como Fiat e fabricantes de carros de luxo como Ferrari e Lamborghini. Investimentos em tecnologias automotivas avançadas, como veículos elétricos e autônomos, podem ser áreas de interesse. As estratégias de investimento na Itália devem estar consoante o momento enfrentado pelo mercado no momento do investimento. Devem ser considerados os índices de crescimento econômico, inflação, deflação e recessão. O andamento das guerras entre Rússia e Ucrânia e do Oriente Médio devem ser acompanhadas de perto também. Quais os principais setores da economia da Itália? Como já mencionamos antes, além de ser um país com uma economia forte, a economia da Itália é também diversificada. Talvez seja justamente daí que venha a sua força, impulsionada por uma variedade de setores, incluindo: Indústria: a indústria italiana é uma das mais fortes da Europa, e é responsável por cerca de um quarto do PIB do país. Os principais setores industriais da Itália incluem manufatura, construção, energia e turismo; Serviços: os serviços são o setor econômico mais importante da Itália, e representam cerca de 70% do PIB do país. Os principais setores de serviços da Itália incluem turismo, comércio, finanças e transporte; Agricultura: a agricultura é um setor importante da economia italiana, e é responsável por cerca de 3% do PIB do país. Os principais produtos agrícolas da Itália incluem trigo, frutas, verduras e vinho. Produção e exportação italiana Os principais produtos agropecuários produzidos na Itália são: frutas, legumes, uva, batata, azeitonas, peixes, carnes, leite e derivados. Já os principais produtos industrializados, a Itália é produtora de: máquinas, equipamentos, aço, ferro, tecidos, automóveis, alimentos processados, cerâmica e calçados. Quanto à exportação italiana, entram na lista: produtos de engenharia, tecidos, calçados, roupas, automóveis, máquinas de produção, produtos químicos, alimentos processados, azeite, bebidas (principalmente vinho) e queijo. As exportações das empresas italianas representaram 32% do PIB do país. Em 2022, somaram 625 bilhões de euros, um aumento de 20% na comparação com 2021. No mesmo período, as importações foram de 656 bilhões de euros, alta de 36,5%, sobretudo por conta das maiores compras de bens energéticos. Histórico da economia da Itália O histórico da economia da Itália não é marcado somente por momentos positivos, mas também pela presença de diversas crises econômicas, dentre as quais podemos destacar algumas de maior relevância. Crise de 2008 na Itália Quando falamos do século XX, a crise de 2008 foi um dos maiores marcos na história econômica da Itália, provocando consequências que seriam visitáveis por mais de uma década no país. A crise de 2008, conhecida também como crise imobiliária, provocou consequências severas para o país. A partir do final de 2007, a economia da Itália entrou em um cenário incerto e instável que duraria mais de 12 anos. [caption id="attachment_167869" align="alignnone" width="750"] Durante anos, a Itália não conseguiu atrair investimentos e se recuperar da crise de 2008.[/caption] Com a eclosão da crise, não somente a economia interna foi afetada, uma vez que a Itália perdeu a capacidade de atrair investimentos estrangeiros para o país. Esse cenário seria um verdadeiro pesadelo para os italianos por mais de uma década, tanto é que quando a crise provocada pela pandemia do coronavírus chegou ao país, no começo de 2020, o país ainda não estava recuperado totalmente da crise anterior. Crise da Covid-19 na Itália A Itália foi um dos países mais atingidos pela pandemia do coronavírus que começou logo no início de 2020. Afinal, a doença provocou a morte de mais de 180 mil pessoas no país e motivou a tomada de medidas drásticas por parte do governo, que precisou ordenar o fechamento de comércio, obras, indústrias e investimentos por diversos meses. O impacto da crise da Covid-19 foi, dessa maneira, extremamente relevante para a economia italiana. O PIB do país em 2020 despencou de 1,797 trilhões de dólares para 1,661 trilhões de dólares, segundo dados do site Dados Mundiais. Também é importante ressaltar o impacto da pandemia no setor de turismo, um dos mais relevantes para a economia da Itália: o setor do turismo sofreu queda de 61%. A dívida bruta do país, por sua vez, aumentou quase 9%. Felizmente, com o avanço na aplicação da vacina contra a Covid-19, a economia italiana começou a dar sinais de recuperação em 2021. Com a campanha de vacinação, as atividades econômicas começaram a caminhar novamente. Assim, em 2021, o PIB italiano cresceu de novo e alcançou quase o mesmo valor que possuía antes do começo da pandemia em 2020: 1,782 trilhões de dólares. Guerra da Ucrânia e o impacto na Itália A Guerra na Ucrânia impactou diretamente a economia de toda a União Europeia, incluindo a da Itália, principalmente devido à dependência do gás russo. Com a eclosão da guerra em fevereiro de 2022, as consequências no valor do gás natural foram imediatamente sentidas, com um aumento de 30% no valor do mesmo. Outro grande problema foi a dependência do trigo da Ucrânia, que representava cerca de 20% das importações da Itália. Com isso, produtos como massas (muito importante para os italianos), pão, farinha e biscoitos sofreram aumentos significativos nos supermercados na Itália. A Guerra de Israel impacta a economia italiana? A guerra em curso entre Israel e o Hamas pode afetar a economia italiana através da redução do comércio regional, de condições financeiras mais restritivas, de uma menor confiança dos consumidores e, principalmente, de preços mais elevados da energia. E, de fato, a economia italiana já começou a sentir os reflexos dos impactos da guerra com a redução do fluxo de transporte de cargas marítimas no Canal de Suez, que segue bloqueado pelo risco de ataques piratas. “Caso o conflito venha a crescer e cause impactos na região, como uma possível crise energética, a economia italiana corre o risco de ser fortemente impactada”, alerta o economista Alvaro Rossi. Vale a pena morar na Itália na atual situação econômica? Sim, vale a pena. Os índices econômicos indicam que morar na Itália pode ser uma ideia, uma vez que o país é uma grande potência econômica, está se recuperando dos momentos de crise do passado e segue em crescimento contínuo, ainda que passe por períodos de desaceleração. E, sobretudo, acompanha o desenvolvimento econômico da União Europeia como um todo. Se você ainda têm dúvidas e quer encontrar outras inspirações para tomar a decisão de viver no continente europeu, confira o nosso E-book O sonho de viver na Europa. Nele você irá encontrar um conteúdo exclusivo com dicas e relatos de brasileiros que conseguiram realizar esse sonho.

Mulher que vive na Europa orgulhosa de seus direitos
Europa Notícias

Mudanças, conquistas e desafios: a vida das mulheres na Europa em números

Nesta matéria especial de Dia Internacional das Mulheres, nós preparamos um conteúdo inteiramente voltado às condições de vida das mulheres que vivem no continente europeu, independentemente de suas nacionalidades ou condições migratórias: Vamos explorar temas como: inclusão, segurança, equidade, igualdade salarial, maternidade e muito mais. Entenda quais são os direitos garantidos, os avanços na luta pela igualdade de gênero e os melhores países para se viver na Europa. Por que cada vez mais mulheres estão migrando para a Europa? A busca por uma vida mais segura e com mais qualidade é um dos fatores que têm motivado cada vez mais mulheres brasileiras a migrar para outros continentes, especialmente a Europa. As mulheres vão em busca de melhores condições de vida, sobretudo de segurança, uma vez que o Brasil ocupa atualmente o 115º lugar em um ranking que analisa 177 países nos quais as mulheres têm mais qualidade de vida, incluindo acesso à justiça e segurança. Índice avalia situação das mulheres na Europa A pesquisa “Women, Peace and Security Index” (Índice de Paz e Segurança das Mulheres) criada pelo Instituto para Mulheres da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos, aponta a situação da mulher em três categorias: Inclusão, com foco em economia, educação, emprego, social e política; Justiça, leis e discriminação; Segurança, nos âmbitos individual, comunitário e social, além de mais nove indicadores. Melhores países europeus para mulheres viverem Essa mesma pesquisa mostrou que nove entre os dez primeiros países que ocupam as melhores posições no ranking estão situados no continente europeu. Veja quais são eles: A Dinamarca é o melhor lugar não só da Europa, mas do mundo para ser mulher. Logo atrás no ranking vem Suíça, Suécia, Finlândia e Luxemburgo liderando a classificação dos principais países para as mulheres viverem. O Afeganistão, o Iémen e a República Centro-Africana ficaram entre os países com as pontuações mais baixas. “Os países onde as mulheres estão bem, são mais prósperos, pacíficos, democráticos e melhor preparados para responder aos impactos das alterações climáticas”, disse Elena Ortiz, principal autora da pesquisa. Ela acrescentou: “quando as mulheres estão bem, todos na sociedade estão bem, e o nosso índice mostra isso.” O índice de 2023 acrescentou um indicador que mede a violência política contra as mulheres e os dados revelaram que México, Brasil, Nigéria, República Democrática do Congo e Mianmar registraram as taxas mais elevadas de violência política contra as mulheres em 2022. Em contraponto, os países que lideram o ranking, como a Dinamarca, por exemplo, têm um desempenho elevado em todos os indicadores. O país possui um código legal totalmente equitativo de gênero e tem a pontuação mais elevada no acesso das mulheres à justiça. Além disso, é um dos 13 onde todas as mulheres têm acesso a uma conta bancária. Quando as mulheres se saem bem, o país também melhora Outra conclusão que o Índice WPS de 2023 chegou é que o bem-estar das mulheres está diretamente ligado ao bem-estar de um país. Os países onde as mulheres estão bem pontuadas em termos de paz, democracia e prosperidade, de acordo com os levantamentos feitos entre o Índice WPS e outros índices globais, estão mais fortemente correlacionados com o Estatuto das Mulheres do que com o PIB. Todos os 20 países com classificação mais baixa no último Índice viveram conflitos armados entre 2021 e 2022. De acordo com vários estudos incluídos na pesquisa, os conflitos armados aumentam as mortes maternas, aumentam os riscos de violência de gênero, levam a níveis desproporcionais de abandono escolar das meninas e adolescentes e criam barreiras às oportunidades de subsistência das mulheres. Igualdade de gênero na Europa Com o nível de equidade de gênero na média global de 68,3%, atualmente a Europa lidera os avanços, ficando em primeiro lugar entre oito regiões geográficas, com 76,3%. A seguir aparecem: Região Nível de igualdade de gênero América do Norte 75% América Latina/Caribe 74,3% Eurásia e a Ásia Central 69% Ásia Oriental e do Pacífico 68,8% África Subsaariana 68,2% Sul da Ásia 63,4% Médio Oriente e o Norte de África 62,6% O Global Gender Gap Report 2023 (Relatório Global sobre as Desigualdades de Gênero), do World Economic Forum, agora na sua 17ª edição, avalia a evolução das disparidades de gênero em quatro áreas: Participação econômica e oportunidades; Nível educacional; Saúde e sobrevivência; Empoderamento político. Este é o índice mais antigo que acompanha o progresso na eliminação destas disparidades desde a sua criação, em 2006. Ele também explora o impacto dos recentes choques globais na crise das disparidades de gênero no mercado de trabalho. Embora nenhum país tenha ainda alcançado a plena paridade de gênero, os países mais bem classificados eliminaram pelo menos 80% da sua disparidade. Em todos os subíndices, a Europa tem a paridade de gênero mais elevada de todas as regiões, com um terço dos países da região classificados entre os 20 primeiros e 20 dos 36 países com pelo menos 75% de paridade. A Islândia, a Noruega e a Finlândia são os países com melhor desempenho, tanto na região como no mundo, enquanto a Hungria, a República Checa e Chipre ocupam os últimos lugares da região. Seis entre os dez países com melhor classificação são do continente europeu São os seguintes países: Islândia, Noruega, Finlândia, Suécia, Alemanha e Bélgica. A Islândia é o país com maior igualdade de gênero no mundo pelo 14º ano consecutivo e o único país que eliminou mais de 90% da sua disparidade de gênero. O Brasil aparece no 57º lugar do ranking, com 72% das diferenças já superadas na comparação entre homens e mulheres. No atual ritmo de progresso, a previsão é que a Europa alcance a paridade de gênero em 67 anos, enquanto a previsão global geral é de 131 anos. O gráfico abaixo mostra o tempo que as regiões poderão acabar com a disparidade de gênero, considerado o ritmo atual das mudanças. [caption id="attachment_164238" align="alignnone" width="750"] Fonte da imagem: Wordl Economic Forum[/caption] Com 69,7% de paridade na Participação Econômica e de Oportunidades, a Europa está em terceiro lugar, atrás da América do Norte, da Ásia Oriental e do Pacífico. A igualdade de gênero diminuiu 0,5 pontos percentuais em relação ao ano anterior. Noruega, Islândia e Suécia têm a paridade mais elevada, enquanto a Itália, Macedônia do Norte, Bósnia e Herzegovina tem o mais baixo. Em termos de nível de escolaridade, a Europa está quase em igualdade e todos os países pontuam mais de 97%. Em Saúde e Sobrevivência, é alcançada uma paridade de 97%, mas a tendência, no entanto, é negativa. Houve 0,6% de declínio desde a edição de 2015. A paridade de gênero no Empoderamento Político foi aumentando consistentemente na última década até o ano passado. Atualmente, é de 39,1%. Globalmente, a Islândia, a Noruega e a Finlândia registaram a pontuação mais alta no Empoderamento Político, enquanto a Romênia, Chipre e a Hungria estão na outra extremidade. Como é a igualdade salarial na Europa? Bem como as desigualdades de gênero, as disparidades salariais na Europa são igualmente alarmantes. O Relatório Global sobre a Disparidade de Gênero também concluiu que serão necessários mais 169 anos para eliminar a disparidade econômica global entre homens e mulheres. Isso significa que, diante das atuais taxas de progresso, somente em 2192 as mulheres estarão ganhando o mesmo que os homens. Na Europa, embora a disparidade salarial tenha diminuído de 17,9% em 2010 para 13% em 2022, as mulheres continuam recebendo menos. Isso significa que, por cada euro que um homem ganha, uma mulher ganha apenas 0,87€. No Brasil, a diferença de remuneração entre homens e mulheres é de 22% segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022. Isso representa que uma brasileira recebe, em média, 78% do que ganha um homem. Embora menor, diferença também é realidade nos salários europeus Muito embora a disparidade salarial na Europa seja menor, ainda assim, é grande. Em números absolutos, representa uma diferença de 150,30€ e, à medida que os cargos de qualificações e responsabilidades aumentam, essas discrepâncias agravam-se. Mulheres em cargos hierarquicamente superiores, por exemplo, ganham 593,30€ a menos que os homens. Essas disparidades salariais equivalem a 48 dias de trabalho pagos aos homens, mas não remunerados às mulheres e a uma diferença de cerca de um mês e meio de salário por ano. Com o objetivo de combater essa situação, diversas iniciativas (que veremos detalhadamente mais adiante) vêm sendo implementadas e fortalecidas, além de estratégias e ações para estimular a equidade salarial entre homens e mulheres, entre elas as Leis de transparência salarial. Leis de transparência salarial podem trazer mais clareza Os detalhes variam em todo o mundo, mas, em essência, é uma legislação criada em abril de 2023, que exige que as empresas comuniquem as disparidades salariais entre homens e mulheres e incluam faixas salariais nos anúncios de emprego. Entre os 38 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), pouco mais da metade exige que os empregadores do setor privado analisem e comuniquem as disparidades salariais entre homens e mulheres, de acordo com uma investigação realizada por economistas da OCDE. A transparência salarial é considerada uma ferramenta fundamental para combater as disparidades salariais, mas será que funciona efetivamente? Como as leis de transparência salarial fazem a diferença? Ainda é cedo para confirmar sua eficácia, mas em partes da Europa já existem alguns casos de sucesso. Na Dinamarca e no Reino Unido, por exemplo, as economistas da OCDE Valerie Frey e Lyydia Alajääskö afirmam que: “[...] os requisitos de comunicação das disparidades salariais parecem ter levado a uma redução das disparidades salariais entre homens e mulheres nas empresas afetadas, provavelmente através de um abrandamento no crescimento do salário dos homens.” Maternidade: como é ter/criar filhos na Europa? Os países europeus têm apresentado diferentes estratégias para encorajar as mulheres a terem mais filhos na intenção de aumentar a taxa de natalidade. Uma das mais comuns é oferecer às famílias uma espécie de "bônus bebê", que é uma recompensa em dinheiro por cada filho que se têm. Já publicamos uma notícia com mais detalhes sobre os benefícios em cada país. Quem tem filhos e está planejando se mudar para a Europa com eles, encontrará outros benefícios que vão muito além dos financeiros. Os países europeus têm histórias e culturas milenares, o que significa que seus filhos terão a oportunidade de aprender praticamente “em 3D” sobre os tempos passados e ver de perto como era a arquitetura de centenas e até mil anos atrás. [caption id="attachment_164239" align="alignnone" width="750"] A segurança e a qualidade de vida na Europa pesam muito na hora de decidir ter um filho no continente.[/caption] Quando se trata de saúde, os europeus possuem hábitos bastante saudáveis. E a principal razão para isso é a alimentação. Naturalmente, cada país tem a sua comida típica, mas geralmente todos utilizam ingredientes frescos e saudáveis, cozinham em casa e costumam comer moderadamente. Dessa forma, as crianças podem ter maiores benefícios em termos de saúde, especialmente se forem criadas em países mediterrâneos, como França, Espanha, Itália, Grécia ou mesmo Croácia. Outros aspectos como segurança, educação e estabilidade no emprego também pesam a favor na escolha das mulheres que decidem ser mães na Europa. Confira a lista com os 10 melhores países da Europa para criar filhos. Direito ao aborto na Europa Interromper a gravidez legalmente é um direito em praticamente toda a União Europeia, e muitos países vêm tornando o procedimento mais acessível, mas há algumas exceções e casos de retrocesso. Na maioria dos países europeus o aborto é descriminalizado. Neste grupo, temos países distintos em matéria de tradições culturais, políticas e religiosas como Itália e Rússia, Irlanda e Suécia, Portugal e Hungria, França e Turquia, Espanha e Ucrânia, só para citar alguns exemplos. A França, inclusive, acaba de se tornar o primeiro país a garantir o direito ao aborto na Constituição do país. Regras variam entre os países A legalização do aborto, em alguns casos, aconteceu na extinta União Soviética e também em países que pertenciam ao finado Pacto de Varsóvia, do antigo Leste geopolítico da Europa. Em geral, o prazo da permissão é de 10 a 14 semanas de gravidez. Na maioria dos países o prazo é de 12 semanas. Mas há exceções: na Islândia o prazo é de 22 semanas, e na Holanda, 24. Finlândia e Reino Unido são considerados países onde há leves restrições ao aborto. Já a Polônia, Liechtenstein, Mônaco e San Marino são os países cujas restrições são as mais severas, como no Brasil, onde o aborto só é admitido em casos de estupro, risco de vida da mãe e anencefalia do feto. Em San Marino, um plebiscito recente aprovou a descriminalização, mas a matéria ainda deve ser regulamentada em lei. Malta e Andorra são os únicos países da Europa aonde o aborto é proibido O Parlamento Europeu aprovou uma resolução que pede que o direito ao aborto seja incluído na Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia. A proposta apela para que os Estados-membro do bloco eliminem obstáculos ao aborto seguro e garantam acesso ao serviço, cuidados pré-natais, serviços e suprimentos maternos. União Europeia entra em acordo para criar primeira lei que penaliza violência contra as mulheres Depois de uma longa negociação, em fevereiro de 2024, o Conselho e o Parlamento Europeu chegaram a um acordo sobre o primeiro ato legislativo da UE em matéria de combate à violência contra as mulheres e à violência doméstica. A legislação, que ainda está sujeita a aprovação dos representantes dos Estados-membros do Conselho, criminaliza os seguintes atos: Mutilação genital feminina; Casamento forçado; Partilha não consensual de imagens íntimas; Ciber perseguição; Ciber assédio; Incitamento à violência e ao ódio. A lei também inclui circunstâncias agravantes, como o exercício repetido de violência contra as mulheres, a prática de atos de violência contra uma pessoa vulnerável ou uma criança e ainda o uso de níveis extremos de violência. “Trata-se de um grande passo para proteger as mulheres e as meninas da violência, tanto em casa como no trabalho, e nas ruas. (...) Os Estados-membros estão enviando uma forte mensagem: já não aceitamos que as mulheres, pelo simples fato de o serem, corram mais riscos do que os homens”, declarou Marie-Colline Leroy, secretária de Estado belga da Igualdade de Gênero. Violência contra as mulheres é um problema sistemático A violência contra as mulheres é uma das violações dos direitos humanos mais graves e, infelizmente, mais comuns e sistemáticas em todo o mundo. A Europa não é exceção. Uma a cada três mulheres já foi vítima de violência física ou sexual na UE, cometido maioritariamente por parceiros íntimos. E uma a cada duas já foi vítima de assédio sexual e cerca de um terço das vítimas sofreu este assédio no local de trabalho. Por esse motivo, a UE e os seus Estados-membros estão trabalhando em várias frentes para pôr fim à violência de gênero, proteger as vítimas e punir os infratores. E isso inclui a criação da primeira lei que penaliza esse tipo de violência, já que, atualmente, não existe uma legislação específica da UE relativa à violência contra as mulheres nem à violência doméstica. Avanços e expectativas para as mulheres na Europa Os projetos que prometem proteger e promover as mulheres são promissores no continente europeu. Veja os que se destacam entre eles: Estratégia para a Igualdade de Gênero 2020-2025 Criada em 2020, a estratégia prevê um conjunto ambicioso de medidas e objetivos políticos para realizar progressos significativos até 2025, a fim de se tornar uma Europa que garanta a igualdade de gênero, e capaz de pôr fim à violência contra as mulheres e à violência doméstica, empenhada em: Prevenir e combater a violência de gênero; Apoiar e proteger as vítimas; Responsabilizar os autores Financiamento e investigação A União Europeia financia organizações para projetos de combate à violência de gênero, como o Programa Cidadãos, Igualdade, Direitos e Valores (CIDV), que facilita a procura de soluções comuns entre os países da UE através da organização de intercâmbios de boas práticas sobre temas relacionados com a igualdade de gênero. Da mesma forma que presta apoio à investigação sobre a violência baseada no gênero. A UE encomendou, por exemplo, estudos sobre: A criminalização da violência de gênero contra as mulheres nos países da UE; Os custos da violência de gênero na União Europeia. O CIDV foi lançado em 2021 e terá uma duração de sete anos, até 2027. Foi criado juntamente com o Programa Justiça 2021-2027 no âmbito do Fundo para a Justiça, os Direitos e os Valores. O programa procura apoiar e desenvolver sociedades abertas e baseadas em direitos, democráticas, igualitárias e inclusivas no Estado de direito. Normas aprovadas pelo Parlamento Europeu preveem redução na desigualdade salarial entre homens e mulheres Diante das novas regras, os trabalhadores têm o direito de exigir saber as médias salariais individuais e médias por gênero em seu local de trabalho. Além disso, se uma empresa tiver pelo menos 100 funcionários, ela deve publicar regularmente informações sobre disparidades salariais entre homens e mulheres. As empresas também devem negociar com os representantes dos funcionários se houver uma discrepância de 5%, e quem descumprir alguma das regras estará sujeito a multas. Além disso, as funcionárias que acreditarem ser vítimas de discriminação podem buscar uma indenização. “O mesmo trabalho merece o mesmo salário e para remuneração igual, é preciso transparência. As mulheres devem saber se seus empregadores estão tratando-as com justiça. E quando não estão, devem ter o poder de conseguir o que merecem”, declarou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Outro marco importante foi a diretiva relativa ao equilíbrio entre homens e mulheres nos conselhos de administração das empresas, que visa melhorar o equilíbrio entre homens e mulheres nos cargos de tomada de hierarquia das grandes empresas europeias. Após 10 anos de negociações, a diretiva foi finalmente adotada no final de 2022. Embora continuem existindo violências e desigualdades, a Europa vem realizando progressos significativos nas últimas décadas, graças à integração da perspectiva de gênero em diversas políticas, à adoção de legislação em matéria de tratamento e, sobretudo, da tomada de medidas específicas de promover e proteger a mulher. Infelizmente não existe um lugar inteiramente seguro e justo para habitar no planeta quando se ocupa o corpo de uma mulher, mas, sem dúvidas, viver na Europa é uma das melhores alternativas.

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