Os nomes das crianças nascidas em Portugal mudaram um pouco ao longo dos últimos anos. Nessa coluna, conto um pouco dos nomes portugueses mais escolhidos e quais são as regras para batizar um recém-nascido em Portugal.

Nomes que são velhos conhecidos

Durante muito tempo, principalmente na minha infância no Rio de Janeiro, até o final dos anos 1970, sempre que surgia alguma história sobre portugueses, os personagens eram Joaquim ou Manuel.

Nas piadas bem politicamente incorretas ou nas padarias, eles eram onipresentes. Era como se o critério para ser imigrante fosse ser chamado por um desses nomes. Dá até para imaginar o controle de passaporte na chegada do navio no Rio de Janeiro.

– Seu nome, por favor
– Manuel
– Seja bem-vindo
– E o do senhor?
– Joaquim
– Ok, pode seguir
-O senhor aí de trás, nome?
– Vicente
– Como assim? E esse passaporte português? Só pode ser falso… Português verdadeiro é Manuel ou Joaquim… Pode voltar para o navio, seu impostor…

Brincadeiras à parte, minha percepção sobre os “Manuel” e “Joaquim” não é de toda errada. Entre os anos 1900 e 1930, os indicadores apontam a chegada de mais de 700 mil portugueses ao Brasil. A imigração caiu um pouco durante o Estado Novo, mas retomou o fôlego entre 1950 e 1960, quando mais de 200 mil atravessaram o Atlântico.

Ao cruzar os dados de nascimentos com os nomes escolhidos para os “miúdos”, fica claro que a chance de termos milhares de “Manuel” e “Joaquim” era realmente muito grande: o primeiro foi o nome mais utilizado pelas famílias nos anos 1920 e 1930.

Seguiu no Top 4 em 1940, 1950 e 1960. Foi perdendo a preferência nos anos 1970 e 1980, quando deixou o Top 10, e passou a ser apenas o trigésimo quarto nome na lista dos mais usados pelos portugueses na década de 1990, posição que melhorou um pouco neste último ano (voltou à lista dos 20 preferidos).

“Joaquim”, por sua vez, ainda que menos badalado que “Manuel”, esteve entre os Top 5 em 1920, 1930 e 1940, mantendo firme entre os Top 10 nas duas décadas seguintes. Ou seja, aquele português da padaria, um “velhinho” com seus 50 anos no final dos anos 1970, é da geração dos anos 1920, 1930. Portanto, ganhou o nome da moda naquele distante início do século XX.

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As novas preferências

Mas se minha referência naqueles anos 1970 eram esses dois nomes, hoje posso dizer que me sinto cercado de “João” e “Francisco”, os campeões da última década. Vale dizer que em Portugal a escolha dos nomes não é “esculhambada” como no Brasil.

Aquelas nossas misturas de nome de jogador de futebol com parte do nome do avô querido, que juntos formam aberrações quase impronunciáveis, não são aceitas por aqui. Mesmo que já tenha sido mais rigoroso o sistema (é o que me disseram), ele é regulado pelo IRN (Instituto de Registos e Notariado) que disponibiliza uma relação dos mais de 7 mil nomes atualmente aceitos.

Se não estiver na lista, precisa aprovação formal. Aliás, alguns nomes acabaram sendo aceitos e entraram na lista porque passaram para o repertório português graças às novelas e músicas brasileiras. Reproduzo abaixo parte do trecho oficial do IRN sobre a escolha dos nomes:

O nome completo deve compor-se, no máximo, de seis vocábulos gramaticais, simples ou compostos, dos quais só dois podem corresponder ao nome próprio e quatro a apelidos. Os nomes próprios devem ser portugueses, de entre os constantes da onomástica portuguesa ou adaptados, gráfica e foneticamente, à língua portuguesa. A grafia dos nomes próprios deve obedecer à ortografia oficial à data do registo.

A regra do IRN também diz que:

O nome próprio não pode suscitar dúvidas sobre o sexo do registando. A concordância do nome com o sexo do registando limita-se ao primeiro vocábulo do mesmo. Assim, é aceitável um nome próprio masculino em cuja composição entre um elemento feminino e, inversamente, um nome próprio feminino em cuja composição entre um elemento masculino, desde que se verifique que o primeiro dos elementos do nome próprio se acha subordinado à concordância com o sexo do seu titular.

Além disso, é explicado que irmãos não podem ter o mesmo nome, exceto se um já for falecido.

Regras sobre os nomes estrangeiros

Sobre os nomes estrangeiros, a mesma regra do IRN define que:

São admitidos nomes próprios estrangeiros, sob a forma originária, se o registando for estrangeiro, se tiver nascido no estrangeiro, se tiver outra nacionalidade para além da portuguesa, se algum dos seus pais for estrangeiro ou, se algum dos seus pais tiver outra nacionalidade para além da portuguesa.

Em resumo, aqueles sobrenomes (apelidos) que não acabam, tipo os nossos “quatrocentões”, não são aceitos. Se quiser esnobar com um Almeida Prado Cerqueira César Camargo de Orleães e Bragança, fique pelos Jardins ou Higienópolis mesmo. Escolher “Ariel” também parece que não dá certo:

– Que bebezinho lindo. Qual o nome:
– Ariel
– Que linda, nome de sereia
– É menino…

Quanto a ter filhos com nomes iguais, nunca pensei que alguém faria isso. Mas não custa deixar lá registrado. O mais perto que imaginei seria quando adotamos o sobrenome como forma de chamamento, o que acaba nos obrigando a identificar os “fofuchos” como 01, 02, 03 e, quem sabe, 04.

Por fim, se pretende nomear seu herdeirinho de Romarisson Gabigol, melhor ter o filho no Brasil. Desconfio que mesmo puxando a sardinha para as celebridades portuguesas a escolha não ia passar. Nada de Cristianisson Ronaldson Oliveira Pereira…

Os líderes dos últimos anos

Voltando ao “Francisco” e ao “João”, eles têm sido as principais, ou uma das principais escolhas ao longo dos últimos anos, fazendo par com “Maria”, a líder isolada desde 2005. Um país tão católico como Portugal talvez explique a predileção pelas “Marias” (por outro lado, “Jesus” não é um nome comum aqui).

Pais pesquisando nomes para o seu bebê
Em Portugal, a variação na escolha dos nomes é menor, embora os preferidos tenham mudado nos últimos anos

Em 2019, “João”, ainda que entre os queridinhos, perdeu a liderança para “Francisco”, que em 2018 ocupava a segunda posição. E desde então, só dá “Francisco”.

De acordo com o último balanço, Portugal ganhou 1736 “Francisco” em 2022 e 5094 “Maria”, o que também indica – considerando uma divisão mais ou menos equilibrada entre os sexos – que o “mercado” de nomes femininos é bem mais concentrado do que o masculino.

Nomes de meninos

Entre os gajos, “Francisco” vem realmente mostrando uma liderança consistente: passou de 487 meninos em 2018 para os atuais 1736. “João”, que vinha em segundo, se mantém no Top 3, mas perde agora para “Afonso”, nome dado a 1265 portuguesinhos em 2022. Vale lembrar que Afonso é um nome forte por aqui, principalmente porque é facilmente associado ao primeiro rei de Portugal, Dom Afonso Henriques.

Nota-se também a queda de “Santiago”, que estava em sétimo lugar em 2018 (383), passou para terceiro em 2019 (1391), mas agora voltou para a sétima posição (1115). A lista dos dez preferidos ficou assim:

  1. Francisco (1736);
  2. Afonso (1265);
  3. João (1246);
  4. Tomás (1233);
  5. Duarte (1212);
  6. Lourenço (1123);
  7. Santiago (1115);
  8. Martim (1066);
  9. Miguel (1015);
  10. e Gabriel (985).

“Pedro”, nome que sempre aparecia entre os preferidos, já não é listado entre os 10 mais selecionados. O mesmo acontece com Rodrigo, um dos eleitos dos portugueses há 10 anos, mas que hoje está fora das primeiras dez posições. Também Gonçalo, que foi sétimo em 2012 (está agora quase no fim do Top 20), Tiago e Diogo, queridinhos no passado, mas longe dos menininhos nascidos no último ano.

Nomes de meninas

Quanto às meninas, “Maria” tem realmente reinado sozinha há muitos anos. Abaixo dela, aí sim, uma troca de posições: “Alice” ficou em segundo lugar (1284), uma subida forte, considerando que em 2019 estava na sexta posição (915).

“Leonor” acabou perdendo a vice-liderança, mas ocupa um nobre terceiro lugar no pódio (1206). Importante notar que “Leonor” já viveu períodos de pouca procura (290, em 2018) e de queridinha dos pais (1451, em 2019).

O “efeito Alice” também empurrou “Matilde” para uma posição abaixo, passando do terceiro para o quarto lugar (1164). Aliás, “Alice” acabou com o pódio “Maria – Leonor – Matilde”, que há alguns anos encabeçava a preferência dos pais de meninas. Após “Matilde”, 2022 fechou com Benedita (958), Carolina (933), Beatriz (771), Margarida (717), Francisca (680) e Camila (630).

Este último foi a surpresa do ano, aparecendo pela primeira vez entre os Top 10. Por outro lado, nomes como “Ana” (atualmente na 17ª posição, muito atrás da gloriosa liderança nas décadas de 1980 e 1990) e “Mariana” saíram das dez primeiras posições em 2022.

Me chamo Marcos

Meu nome “Marcos” é bem pouco comum por aqui, mas felizmente está na lista do IRN. Muitas vezes acaba é virando “Marco”, que parece não soar tão diferente para a turma de cá. Ou, quando reforço o “S” final, a dúvida fica para a outra letra. “É Marcos ou Marcus?…”

Ah, como comentei, “Manuel” voltou a ser lembrado e aparece na vigésima posição, junto com outros grandes clássicos, como José (21ª posição) e António (28ª posição). Uma curiosidade: entre os nomes menos comuns, há “Romeu”(42), “Fábio” (44) e “Álvaro”(46).

Para as meninas, os meigos “Princesa” e “Vida” foram escolhidos uma única vez nos nascimentos do ano passado.