Como é ser pai em Portugal? É mais fácil do que ser pai no Brasil? Quando recebi a proposta para escrever esse texto, essas foram as perguntas que inicialmente fiz a mim mesmo. E admito que nunca tinha parado para pensar, porque acho que vamos vivendo a paternidade de forma instintiva, acertando, errando, aprendendo ao longo do caminho, seja aqui em Portugal ou no Brasil.

E sendo muito honesto, aprendi, convivendo com pais portugueses, que apesar das diferenças culturais, pai é pai, com as mesmas preocupações, as mesmas dúvidas, as mesmas inquietações, o mesmo cuidado, o mesmo sentido de proteção e acolhimento. Claro que tem os mais afetuosos, os mais próximos e carinhosos, os mais frios e distantes, os mais presentes, os mais ausentes.

Então é tudo igual? Bom, vamos deixar de lado os sentimentos universais, aqueles que unem pais e filhos em todos os continentes, nas grandes metrópoles e nas pequenas tribos, e abrir espaço para o que pode, sim, ser um pouco diferente.

Dia dos pais em Portugal

Para começar, a data em nossa homenagem não é a mesma no Brasil e em Portugal. Por aqui já passou.

Portugal comemora o “Dia do Pai” (eis outra diferença: eles dizem no singular, repetindo o modelo para “Dia da Mãe”) em 19 de março, uma data fixa, escolhida por ser dia de São José, pai de Jesus.

No Brasil, segundo domingo de agosto, o dia parece ter tido uma origem mais comercial, sem qualquer vínculo com alguma outra efeméride. Há, porém, quem diga que a data inicialmente escolhida tenha sido 16 de agosto, dia de São Joaquim, pai de Maria, avô de Jesus, e que só depois foi mudada para cair sempre num domingo, permitindo que pais e filhos pudessem se reunir com mais facilidade.

Em outros países, a comemoração também é feita em datas diferentes destas duas. Para quem tem dois filhos – cada um deles morando em um país atualmente – posso me gabar de ter dois dias dos pais por ano, ainda que um deles eu agora passe longe da filha.

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E já ganhei, aqui em Portugal, cartõezinhos, gravatinhas de cartolina, desenhos de super-herói e tudo mais que já recebi quando era pai apenas no Brasil.

Cartinha do filho para o Marcos no Dia do Pai
Cartinha do filho para o Marcos no Dia do Pai

Os pais em Portugal são mais presentes?

Outra importante diferença aparece como resultado de um cenário cultural e econômico também, em linhas gerais, diferente do Brasil. Ou seja, todo mundo tem que se virar mais com os cuidados da casa e dos filhos, porque não é comum ter empregada doméstica, babás e profissionais semelhantes.

Claro que no Brasil esse tipo de apoio também vária muito de acordo com a classe social, mas, na média, o pai por aqui precisa estar mais presente no dia-a-dia dos filhos. Sim, precisa, mas nem sempre está, o que também sobrecarrega as mães.

Estudo recente mostra que Portugal precisaria de pelo menos cinco gerações para que os homens dividissem as tarefas domésticas em igualdade com as mulheres, nos casais em que ambos trabalham fora. Os dados mostram que a contribuição dos homens no cuidado e na educação dos filhos pouco variou desta geração para a anterior. Ou seja, as mães têm o triplo do trabalho com os filhos.

Senhores, vamos nos mexer?!

Ainda assim, e contrariando as estatísticas portuguesas, tenho a sensação de ver os pais mais atuantes aqui.

pais portugueses que ajudam em casa

O fato de viver em uma cidade pequena pode facilitar (em Lisboa ou Porto o ritmo se parece mais com as grandes cidades brasileiras e tanto pai quanto mãe se veem apertados pela vida mais acelerada), e é bastante comum ver o pai na frente da escola esperando o filho, muitas vezes aproveitando uma escapada rápida no horário do expediente. Ou então o avô, que no final é pai duas vezes, não?

Convivi com alguns casais separados em que cada dia um deles estava esperando o filho no fim das aulas.

Pais superprotetores

Aliás, uma pesquisa de alguns anos atrás colocou Portugal em uma das últimas posições no ranking de “mobilidade infantil”, entre mais de 16 países. O levantamento identificou aquelas sociedades onde os pais (aqui considerando pai e mãe) têm mais receio de deixar as crianças movimentarem-se sozinhas e apresentam os perigos relacionados com o trânsito como a principal preocupação, principalmente para os miúdos abaixo de 11 anos de idade.

Ou seja, apesar de ser um dos países mais seguros da Europa, os pais por aqui têm fama de superprotetores, em especial na saída do colégio.

E não é só na porta do colégio que o pai está mais presente. Nos parques, nas poucas vezes que, felizmente, estive num hospital, nos postos de vacinação, sempre tem um pai de mãos dadas com seus pequenos, principalmente os da nova geração.

E os mais velhos, de uma geração em que talvez o pai fosse ainda menos presente e sobrasse tudo mesmo para as mães, têm se mostrado avôs mais participativos, o que é um grande avanço (ok, sei que ainda há muita mãe sobrecarregada e pai que não lava uma xícara…).

Pai “grudado” no filho

Alias, no quesito “grude” com os filhos, um outro dado mais recente mostra que os filhos portugueses são os que saem mais tarde de casa.

Outra vez, a causa aqui não é apenas cultural, claro. Cada vez mais, por questões econômicas, os filhos não conseguem deixar o “ninho”. Ou ainda há aqueles que estão tendo que voltar para a casa dos pais, depois de mais velhos, por causa do dinheiro (a falta dele, claro).

Em média, os jovens portugueses saem da casa dos pais aos 30 anos, contra os cerca de 26 anos do restante da União Europeia. Como disse, nem sempre há escolhas. Mas mesmo quando há, já ouvi muito pai português não fazendo muita força para que os filhos saiam.

A instituição família tem um peso muito grande na sociedade portuguesa. Almoços com a casa cheia de filhos e netos, festas com muita gente, tudo isso reforça os laços do pai com os filhos. E vale lembrar que a taxa de natalidade em Portugal é baixíssima, ou seja, homens solteiros e sem filhos acabam tendo um estímulo a menos para sair de casa (ou será que são solteiros e sem filhos porque não conseguem sair de casa?).

pai tatuagem
Como pai coruja que é, Marcos tem as iniciais dos dois filhos tatuadas na perna

Por outro lado, o envelhecimento da população portuguesa é uma realidade, o que acaba gerando um outro movimento: os pais mais velhos que acabam indo morar na casa dos filhos.

Conheça as tradições e celebrações do Dia dos Pais na Itália.

Quer ser pai em Portugal?

Mas, ainda que a relação entre o número de nascimentos e o de mortes na população portuguesa não seja animadora, há homens encarando a paternidade.

Licença parental: para o pai e a mãe

E aqui vai a regra em relação ao que chamamos de licença paternidade. Em Portugal, como pai e mãe têm direito a uma licença quando o filho nasce, o termo mais utilizado é licença parental (e não licença maternidade ou licença paternidade).

A licença parental pode ser partilhada pelo pai e pela mãe, com o limite de 120 ou 150 dias (respeitando o período obrigatório da licença exclusiva da mãe, de 42 dias), de acordo com alguns critérios definidos por lei. Mas há também a chamada licença parental exclusiva do pai, conforme descrito na lei n.º 7/2009:

O pai tem direito a vinte dias úteis obrigatórios de licença após o nascimento do filho.

Os primeiros cinco dias são seguidos e gozados imediatamente a seguir ao nascimento e os outros quinze dias têm que ser gozados nas seis semanas (42 dias) após o nascimento, podendo ser seguidos ou não. O pai, se quiser, tem direito a mais cinco dias úteis, seguidos ou não, devendo gozá-los em simultâneo com a licença parental inicial da mãe.

Se forem gêmeos, os dias de licença aumentam

Ah, no caso de nascimento de gêmeos, o pai tem direito, por cada gêmeo além do primeiro, a mais dois dias que acrescem aos 20 dias obrigatórios e mais dois dias que acrescem aos 5 dias facultativos, os quais têm que ser gozados imediatamente após os referidos períodos.

Veja como é comemorado o Dia das Mães em Portugal.

Pai sozinho

Artigo publicado pelo jornal Público mostra também uma realidade interessante sobre o papel do pai em Portugal. Em resumo, quase metade dos portugueses acha que famílias monoparentais cuidam tão bem dos filhos quanto um casal heterossexual. Ou seja, um pai sozinho daria conta do serviço, sem problema.

Curiosamente, são justamente os homens, principalmente os mais velhos, que discordam dessa afirmação. E quando se considera um casal do mesmo sexo – duas mulheres ou dois homens – o índice já não é tão favorável para os homens.

O inquérito aponta que esta rejeição por dois homens está ligada a uma concepção tradicional dos papéis de gênero na família, em que cabe à mãe o papel de principal educadora e cuidadora dos filhos. O mesmo estudo que serviu como base do artigo mostra que mais de 80% dos entrevistados concordam que os homens deviam participar mais nas tarefas domésticas do que participam atualmente (e eu achando que via pais mais participativos…).

E mais de metade dos ouvidos reconhece que o pai é tão capaz como a mãe de tomar conta de um bebé com menos de um ano.

Saiba como se dão as comemorações do Dia dos Pais na Espanha e do Dia dos Pais na França.

Pai imigrante: a minha relação com os meus filhos

E o que dizer de um pai com dois filhos em outro país? Cada um deles numa etapa diferente da vida? Primeiro e mais importante: não sou um pai sozinho. Minha companheira é força, alavanca, suporte, parceira.

Mas acho que a diferença da paternidade quando mudamos de país é que há uma série de códigos da nova cultura que não conhecemos bem. E tudo o que um pai quer é que seu filho seja feliz, respeitado.

Medo de preconceito, de alguma xenofobia, de humilhação, de implicância. Muita coisa acaba sendo pura fantasia, felizmente. Mas dá um frio na barriga imaginar que alguém mexeria com a nossa “cria”.

pai brasileiro em Portugal
Marcos Freire com seus dois filhos.

Ainda bem que no quesito segurança Portugal nos deixa bem mais tranquilos do que no Brasil, principalmente para quem vive, como eu, numa cidade pequena.

A filha mais velha veio antes, sozinha, já encarar a universidade. E eu diria, pai babão que sou, que foi aprovada com louvor nessa etapa da vida.

Nunca aquela máxima “filho a gente cria para o mundo” fez tanto sentido.

De Coimbra rodou pelo mundo, estudou um semestre em Bolonha, fez estágio na Geórgia, chegou uma menina que pouco arrumava a cama e lavava a louça e virou uma mulher que briga, defende seus trabalhos e teses em inglês, em italiano, escolhe apartamento, cuida de documentação, assume as tarefas de casa, namora.

Algum preconceito nessa jornada? Sim, alguns poucos e leves, na verdade. Eu estava sempre por perto, mas mérito total dela ir passando por cima desses obstáculos.

O outro, miúdo ainda, chegou e em poucos dias pude baixar a guarda. Foi acolhido na escola, voltava feliz das aulas. Tem grandes amigos portugueses, grandes amigos brasileiros. Fico totalmente tranquilo? Claro que não. Como também não ficaria se ainda estivesse no Brasil. É recomendação daqui, dali, briga, olho no celular.

E o mais difícil é que a família está longe

Além da falta do carinho, do aconchego, há pontos muito práticos:

Cadê a vó que pode tomar conta do filho pro casal pegar um cineminha? E a casa dos primos? Onde está a madrinha que leva o filho pra passear no final de semana e nos dá alguma folga? E aquela emergência que sempre surge quando o pai e mãe estão presos no trabalho, quem pode socorrer?

Mas a paternidade é um aprendizado sem fim, com perguntas para as quais nem sempre temos respostas. Vamos avançando. Ser pai de duas crianças tão maravilhosas (ops, uma já não é mais criança… ou será sempre para mim?) é um privilégio.

-> Se você gostou dessa coluna, leia também Mudar para Portugal é começar a vida do zero, a coluna de estreia do Marcos Freire no Euro Dicas.