Há pouco mais de três anos chegamos por aqui. Era dia 1 de janeiro de 2018. Ano novo, vida nova, dissemos nós. Hoje eu vou mostrar para você porque mudar para Portugal é começar a vida do zero.

Olá, eu sou o Marcos

Meu nome é Marcos, sou jornalista formado pela PUC de São Paulo, com pós-graduação na FGV (CEAG) e MBA pela Fundação Dom Cabral, casado, dois filhos, uma mulher que teve o papel fundamental de atiçar o desejo da mudança.
Junto com ela e com meu filho de sete anos, iniciamos uma nova vida realmente, com a emoção e a excitação das novidades e alguns percalços de todo recomeço.

Vida e carreira no Brasil

Viemos de São Paulo, deixando para trás uma estrutura já estabelecida, bons empregos, boa escola dos filhos, bom apartamento.

Se era tudo tão bom, por que viemos?

Pois é, não há almoço grátis. Ou, em outras palavras, todo esse pacote de coisas boas tem um custo – e não digo apenas financeiro – que já não queríamos pagar. Agenda lotada de trabalho, horas dentro de um carro para percorrer poucos quilômetros, celular da empresa tocando sábados e domingos, email corporativo pipocando sete dias por semana, uma certa insegurança nas ruas, custo de vida alto e a sensação de que estávamos cada vez mais “tendo” e menos “sendo”.
Muito trabalho no Brasil
A decisão da mudança havia começado meses antes. Portugal era um destino que já conhecíamos e que sempre nos encantou. E para ajudar, minha filha mais velha entrou na Universidade de Coimbra e se mudou de mala e cuia para a “Terrinha” já no meio de 2017, com o nosso incentivo, ainda que naquela época a nossa ideia de vir toda a família para cá estivesse numa fase muito embrionária.

Planejamento de mudança para Portugal

Não faltava mais nada! Ou melhor, faltava: o nosso visto. Sim, vir como turista e arriscar ficar mais de três meses ilegalmente nunca foi uma opção. E nem recomendo. Se mesmo com todo o planejamento as coisas nem sempre saem como esperamos, chegar sem a documentação necessária pode transformar o sonho em pesadelo.
Visto para Portugal obtido, partimos para os próximos passos. E eram muitos.
Abrimos conta em banco português ainda no Brasil. Pesquisamos cidades, preços de aluguel, escolas, custo gerais de água, luz, telefone, internet, supermercado. Compramos passagens de ida e de volta, só por garantia.

Desapego faz parte da mudança

Alugamos o apartamento onde morávamos, “acampamos” por algumas semanas na casa do irmão, vendemos muita coisa, doamos outras, deixamos aqueles objetos que mais amamos – e que não cabiam na mala – na casa dos pais.
O que mais doeu, reconheço, foi o desapego dos livros e dos discos, itens que ocupam grande espaço na vida de quem já passou dos 50 anos de idade. Ainda assim, trouxemos o equivalente a dez caixas de roupas pessoais, roupas de cama e de banho, alguns objetos, papeis importantes.
E aqui já surge uma escolha: vale mandar toda a mudança de avião ou navio? Nas nossas contas, não compensou. Por outro lado, chegar no aeroporto com dez grandes volumes, sem qualquer apoio ou suporte, pode ter saído mais barato, mas deu um trabalho…

A chegada em Portugal

O desembarque foi em Lisboa e o destino final seria Ovar, pequena cidade mais próxima do Porto, onde um casal de tios brasileiros, a única referência que tínhamos em Portugal até então, nos receberia até decidirmos onde montaríamos a nova casa.
O carro já estava alugado desde o Brasil. Na verdade, um pequeno furgão, ou “carrinha”, como falam por aqui. Entramos naquela carrinha com caixas, planos e, felizmente, uma dose grande de “seja o que Deus quiser”.

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Marcos Freire e família
Foto do arquivo pessoal de Marcos Freire, do dia que ele e a família chegaram em Portugal

Ter flexibilidade, cabeça aberta e um pouquinho de irresponsabilidade, dentro do limite, claro, de quem tinha, e tem, uma família e alguns princípios inegociáveis, nos ajudaram muito a aceitar o que a vida foi nos oferecendo e a por energia no que realmente valia a pena.
Passos para frente, poucos recuos, momentos de contemplação quando a gente simplesmente decidiu ficar boiando e se deixar levar pela maré. Fomos andando e o caminho se abrindo. E segue assim, como era de se esperar. As conquistas foram maiores do que podíamos pensar, mas também deram mais trabalho do que aquilo previsto no planejamento.

Praia em Ovar, Portugal
Praia em Ovar, Portugal

Colocar o miúdo na escola é prioridade em Portugal

Já no nosso segundo dia de Portugal, e segundo dia do ano de 2018, portugueses com quem cruzamos sempre perguntavam: “e o miúdo não vai para a escola?”. E foi aí que parte dos planos foi por água abaixo. Estávamos tranquilos em relação à escola, principalmente porque ele tinha acabado de entrar de férias no Brasil e achamos que dava para escolher onde ele iria estudar depois que decidíssemos onde morar. Mas acabou sendo justamente o oposto.
Educação é assunto muito sério por aqui. E deixar uma criança fora da escola em pleno período escolar é grave. As férias de Natal e Ano Novo são curtas e as aulas já recomeçam na primeira semana de janeiro. E lá fomos nós, guiados por portugueses queridos que havíamos acabado de conhecer, até o agrupamento escolar de Ovar, algo como a Delegacia de Ensino no Brasil, onde o nosso miúdo ganhou uma vaga numa pequena escola pública da cidade.

Adaptação do filho à escola em Portugal

Não tínhamos ainda nem desarrumado as malas, mas ele já estava dividindo a carteira escolar com um colega “tuguinha” no seu quarto dia de Portugal. E tudo correu perfeitamente. Mérito do jovenzinho de sete anos que encarou a mudança com muita maturidade, mas também da direção da escola, dos professores e dos funcionários que o acolheram com muito respeito e carinho.
Era o “brazuquinha” querido do colégio, que já chegou em casa depois do primeiro dia de aula com uma coroa de papel na cabeça, contando para nós que teve comemoração de Dia de Reis, data muito celebrada em Portugal. Olhar para o tema da escola no planejamento da viagem é muito importante para quem vem com crianças.

Ano letivo em Portugal e reunião de documentos escolares

Elas não deixarão de ter vagas, é certo, mas admito que pode ser mais tranquilo se algumas pesquisas começarem a ser feitas ainda no Brasil. Há alguns documentos, como histórico escolar e certificado de conclusão, que são fundamentais nessa mudança. E, claro, não esquecer do calendário escolar. Como o ano letivo de Portugal não bate com o do Brasil, o período de aulas pode ser um decisor para quem viaja com crianças.
Quando chegamos, ele tinha terminado o primeiro ano no Brasil. Aqui, em janeiro, as crianças já tinham feito alguns meses de segundo ano, uma vez que o início do ano letivo é sempre em setembro.
Criança na Escola em Portugal
O que fazer? Entrar no segundo ano já começado ou refazer parte do primeiro ano? Não existe resposta única. Para nós, repetir alguns meses do primeiro ano foi a opção, em decisão tomada junto com a escola. E mostrou-se a mais adequada. Ele se sentiu mais seguro, mais confiante e nada constrangido com o fato de ter que repetir alguns meses.

Burocracia é outro desafio que todo imigrante enfrenta em Portugal

Mas os desafios não estão apenas nos temas escolares. Os primeiros meses são sempre muito intensos. A grande emoção inicial é o agrupamento familiar, feito no SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras).
Depois que a família estava já com o primeiro título de residência válido por um ano, veio o resto. Troca da carteira de motorista brasileira pela portuguesa, NIF, NISS, número de Utente, cartões de fidelidade dos supermercados (sim, vale a pena ter cartão do Continente e do Pingo Doce, por exemplo, pois os descontos podem ser ótimos).
E não menos importante, a compra de um carro para a família. Portugal é um país pequeno e bem servido de trens, mas ter carro é importante. O bom aqui é que há para todos os bolsos. Carros com vinte anos de fabricação e muitos milhares de quilômetros rodados ainda circulam pelas ruas e em ótimo estado.
Burocracia em Portugal

A busca pelo apartamento

Missão seguinte foi buscar um apartamento para nós, já considerando que talvez fossemos ficar pela pequena Ovar por algum tempo, ao contrário das escolhas iniciais, que eram Lisboa ou Porto.
Ovar tem seus encantos, fica a pouco mais de 30 km do Porto, estação ferroviária, praia, e o melhor Carnaval de Portugal. Já há muitos conterrâneos por aqui, o que torna o nosso brasileiro uma língua que não causa tanta estranheza.
De qualquer forma, somos e seremos imigrantes. O custo de vida em Ovar é mais baixo do que nas grandes cidades, com diferença bem visível no valor dos aluguéis. A maioria das imobiliárias já está acostumada com os brasileiros e consegue facilitar bastante a busca pela casa ou apartamento, além de apoiar todo o processo de documentação.
Mas é importante vir com uma boa reserva porque há proprietários que chegam a pedir um ano de aluguel adiantado, nos casos mais extremos. Na média, porém, dá para fechar por algo em torno de seis meses, mais um valor de caução. Essas garantias são solicitadas porque dificilmente teremos um fiador local e, de modo geral, contrato de trabalho logo que chegamos. Mas no final dá certo. Vale notar, porém, que os preços subiram, ao longo destes mais de três anos, principalmente por causa da chegada de muitos brasileiros.
A ordem de algumas coisas não é aleatória. No caso da documentação, só se consegue avançar para um determinado documento já tiver obtido o outro. O título de residência, por exemplo, é fundamental para buscar o resto da papelada. E nessa sequência, chega o momento da busca do emprego.

A busca de emprego em Portugal

Se não tiver devidamente documentado, dificilmente conseguirá que alguma porta se abra. No Brasil, trabalhei em órgãos do governo, em já extintas empresas estatais, em agências de propaganda, em agências de relações públicas, em veículos de comunicação e, nas últimas décadas, principalmente em grandes multinacionais, sempre na área de comunicação e assuntos corporativos.
Muitas mudanças ao longo da carreira, sempre com algum stress e alguma angústia. Mudar significa começar praticamente do zero e sempre dá um pouco de medo.
Reconquistar espaço, estabelecer novos vínculos com as pessoas, entender cenários. E se é assim quando trocamos de emprego, imagine quando trocamos de país. Mas era justamente o que buscávamos: reescrever a nossa história, sem os modelos que conhecíamos até então.

De profissional experiente a estagiário

Tem um custo (praticamente viramos estagiários novamente ou tivemos que encarar mercados e setores desconhecidos para nós) e reconheço que não é uma alternativa que faça sentido para todo mundo. Para nós, funcionou, ainda que vez ou outra pensemos “e se a gente tivesse ficado por lá, tivesse aguentado um pouco mais a rotina estressante do trabalho numa multinacional”. Pensamos, mas logo passa.
Morar numa cidade pequena, com um mercado de trabalho reduzido, não facilita muito o processo. Apenas como referência, e sem qualquer juízo de valor, trocamos uma cidade que tem mais gente do que Portugal inteiro por uma outra cuja população não encheria o estádio do Maracanã.
Então, a ordem é colocar o currículo debaixo do braço e sair literalmente batendo de porta em porta, nos locais onde achávamos que nossa experiência poderia fazer sentido (para nós e para o empregador).

Experiências que adquiri ao procurar emprego em Portugal

Nesse processo, alguns aprendizados que compartilho com vocês, mesmo que eu saiba que as jornadas podem não ser exatamente iguais para todos e que a minha percepção foi moldada em um curto espaço de tempo e em um mercado bastante pequeno.
Para começar, não aposte tudo nas suas possíveis credenciais de alto executivo ou de liderança em grandes empresas. Não que seja desprezível, mas o peso do “status” passado ao focarmos no mercado de uma cidade pequena é menor.
Por outro lado, o que vi e vivi até agora mostram que qualquer trabalho por aqui é digno. Ninguém precisa ser diretor de multinacional para ser “importante”. Talvez porque as diferenças salariais sejam tão menores (comparado com o Brasil) entre os diversos “work level”, ninguém é tão mais rico do que ninguém.
Ninguém precisa ter o carro do ano, usar roupas de grife, etc. Então, o negócio é levantar a cabeça e partir em busca do trabalho, sem ligar muito para o título do cargo.

Precisa de flexibilidade?

Muita. Gera algum questionamento sobre o futuro, sobre desenvolvimento profissional, sobre estar ou não no lugar certo? Claro que sim.
Mas nada que não acontecesse se eu ainda fosse diretor numa grande empresa. E com a vantagem de eu não ter uma agenda do Outlook lotada de compromissos por dois ou mais meses, não ter email corporativo para responder de madrugada, não perder tempo em reuniões de trabalho diárias e por aí vai.
Trocar de país quando ainda é preciso trabalhar representa realmente uma grande mudança. E todos aqueles clichês que lemos por aí fazem muito sentido:

Precisa resiliência, precisa humildade, precisa muita flexibilidade, precisa muita energia, precisa estar aberto para o novo, precisa engolir alguns sapos. E precisa ter o coração leve, bom humor.

Procurar emprego batendo de porta em porta pode ser desanimador algumas vezes. Por outro lado, é uma chance de conhecer gente nova, de se apresentar, de mapear melhor os cenários, entender os humores e até mesmo descobrir a cidade em que escolheu viver. No final, tudo depende de como você prefere encarar a nova realidade.

A receptividade em Portugal

Portugal nos recebeu muito bem, conhecemos pessoas queridas que foram e seguem sendo fundamentais nessa nossa adaptação. Palavras de apoio, carinho e muitos braços e mãos estendidos para dar aquele impulso e viabilizar, muitas vezes, a permanência de um estrangeiro em terras novas.
Sou grato a cada um deles, mesmo aos que nunca imaginaram que simples palavras de acolhimento podem fazer toda a diferença no nosso ânimo para seguir adiante. Convivo com outros brasileiros e sei que muitos já tiveram trajetórias mais difíceis.
Receptividade em Portugal

Nunca é fácil ser um imigrante

Somos imigrantes e reconheço que esta condição muitas vezes dificulta a vida. Ainda assim, meu balanço destes anos iniciais é muito positivo. Há portugueses que nos olharam com menos brilho nos olhos, do mesmo jeito que há muitos brasileiros aqui e no Brasil que fazem o tipo mais emburrado, fechado e menos receptivo.
Portugal não é um país para o qual as pessoas venham em busca de ganhar fortunas, acumular riquezas, ter mais e mais bens materiais. Ao contrário. Muito provavelmente, é possível que o viajante perca algumas regalias materiais da terra natal, tenha menos luxo e assuma uma série de papéis, em casa ou no trabalho, que talvez não desempenhasse antes da experiência como imigrante.
Falo com a tranquilidade de quem segue vivendo em uma cidade pequena e abriu mão de muita coisa na nova vida. Nosso modelo talvez não reflita o cotidiano daqueles que enfrentam os desafios no Porto ou em Lisboa, por exemplo, mas creio que represente bastante bem o perfil do imigrante médio.
Termino com um poema do brasileiro Mário Quintana, que de certa forma traduz um pouco a sensação de estar nessa nova etapa da vida:

“A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali…
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!”

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