Após um breve período de alívio, o preço do gás voltou a subir na Europa, atingindo um aumento de 52%. Apesar da relativa estabilidade nos valores registrada no final de 2022, o mercado está registrando nova alta em 2023, com um aumento expressivo desde o início de junho nos preços futuros de gás de referência.

Preço aumentou no fim do primeiro semestre

Em junho de 2023, a Europa registrou o aumento de 52% nos valores do gás natural liquefeito (GNL) para o próximo inverno e para 2024. No dia 2 de junho, o valor do gás era de 22€ (US$ 24) por megawatt-hora (MWh). Semana passada, porém, o preço chegou à 35€ (US$ 38) por MWh.

Diante do anúncio do aumento registrado pela Title Transfer Facility, principal bolsa de valores europeia de gás natural, fica claro que situação não é mais a mesma do início de 2023, quando os preços do gás natural na Europa atingiram valores anteriores ao início da Guerra na Ucrânia.

Observe o aumento no gráfico abaixo:

Gráfico com preços do gás natural na Europa
O mês de junho de 2023 registrou um grande aumento no preço do gás. Fonte: Investing.com

Subida de preços mostra fragilidade do setor

O aumento está revelando questões sobre a vulnerabilidade energética e os desafios econômicos enfrentados pelos países europeus desde o início da invasão russa à Ucrânia. Apesar da taxa de armazenamento excepcional para o verão europeu, herança da crise energética do passado, existe um temor geral de um novo período de crise no continente:

“O mercado começa a preocupar-se com o fornecimento de gás da União Europeia”, afirma Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa.

A preocupação do mercado não é somente uma especulação, mas uma ameaça concreta: a Europa pode estar prestes a perder um de seus maiores fornecedores de gás. Na o dia 22 de junho, os preços de referência do gás natural aumentaram 24% após o anúncio de que o campo de gás holandês de Groningen, o maior campo europeu, pode encerrar as suas atividades em outubro de 2023.

A reação negativa do mercado foi provocada também devido ao anúncio da Gassco, principal rede de gás da Noruega, feito no dia 21 de junho, sobre a prorrogação do período de desligamento de uma de suas usinas de processamento de gás até 15 de julho. A continuação da manutenção para além do que o planejado irá provocar a interrupção no fornecimento de um dos campos-chave da Europa.

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É importante lembrar que, com o início da Guerra na Ucrânia, a Noruega substituiu a Rússia como maior importador de gás natural da União Europeia, sendo responsável por mais de 24,4% do fornecimento. Assim, era de se esperar que as reações à notícia da Gaasco fossem negativas, especialmente quando somadas ao anúncio holandês.

Massimo Di Odoardo, pesquisador sênior de gás da Wood Mackenzie, explica que:

“Interrupções não planejadas ainda podem levar a picos de preços” e o prolongamento da manutenção das principais usinas de gás na Noruega “poderia facilmente eliminar outros [bilhões de metros cúbicos] de fornecimento nos próximos meses”.

O impacto dos dois anúncios no preço futuro do gás natural revelou a vulnerabilidade do continente europeu quanto ao fornecimento de gás desde a queda nas importações russas, mesmo que os valores ainda estejam abaixo dos níveis do verão passado:

“A recente alta dos preços mostra como o mercado europeu é sensível a perturbações”, afirma Bill Weatherburn, economista da Capital Economics.

Especialistas não acreditam que valor voltará a ser tão alto como em 2022

Mesmo com um cenário que está longe de ser promissor, os economistas não acreditam que os preços do gás natural voltarão aos patamares de 2022, quando os valores alcançaram um recorde de 340€ (US$ 372) por MWh no final de agosto.

O principal motivo que impede o alarme dos especialistas é o nível do armazenamento do gás em 2023, que está em 73%, muito mais alto do que a média de 56% da União Europeia nos últimos cinco anos.

Além disso, a fraca recuperação da economia chinesa e os níveis recordes de gás armazenado no Japão e na Coreia do Sul, também reduzem a chance de uma disputa forçada com a Ásia pelas importações de gás natural, como havia acontecido em 2022.

Kadri Simson, comissária europeia com a pasta da Energia, ressalta que é improvável que o período de pânico do verão passado se repita:

“Como terminamos com um armazenamento meio cheio, a primeira batalha desta guerra de energia com a Rússia ficou para trás com sucesso”, afirma Simson.

Dessa forma, mesmo com o episódio de variação dos preços deste mês, a retomada de um cenário de preços como o do verão passado é muito improvável. Apesar do alarme do mercado, um certo aumento no preço do gás já era esperado pelos especialistas, como afirma Paulo Rosa:

O aumento “é habitual em termos técnicos depois de uma queda à volta de 90% desde os máximos”, explica.

Como os países têm enfrentado a nova alta

A União Europeia está sendo a protagonista no combate à alta de preços do gás natural desde o início de 2022. Até o momento, mais de 650 milhões de euros foram destinados ao controle dos valores.

Além das estratégias do bloco econômico liderado por Ursula Von Der Lyen, cada país-membro está pensando em alternativas para continuar enfrentando a crise energética. Com o recente aumento dos valores futuros do gás, os países europeus devem anunciar a continuidade de medidas criadas no passado para amenizar as consequências da crise.

Na Itália, o governo de Giorgia Meloni pretende explorar o território nacional para identificar novos locais adequados para a extração do gás natural. A Alemanha, além do investimento de mais de 260 milhões de euros desde 2022, provavelmente irá anunciar a continuidade dos subsídios para famílias de baixa renda criado no início da Guerra na Ucrânia.

Controlando o preço do gás
Países europeus estão criando medidas para controlar o preço do gás na Europa

A Holanda, por sua vez, está investindo bilhões de euros desde 2022 para reduzir os impostos sobre a energia usada por empresas e residências. Além disso, o país anunciou que vai analisar os níveis de armazenamento na Europa e, caso necessário, reconsiderar o fechamento da instalação de Groningen.

Por fim, o governo norueguês governo estabeleceu um preço máximo para o preço da energia visando evitar o impacto no bolso dos cidadãos do país.

A crise energética na Europa já acabou?

O impacto imediato no valor do gás revela que a crise energética iniciada em 2022 ainda não acabou e que a decisão europeia de isolar a Rússia economicamente gerou consequências a longo prazo para todo o continente. Apesar dos esforços empreendidos, a crise energética na Europa ainda não foi superada.

Com a fragilidade na relação entre oferta e procura do produto e à suscetibilidade do mercado às mudanças repentinas, o retorno aos níveis pré-guerra na Ucrânia está cada vez mais distante.

O futuro do preço do gás na Europa

O retorno aos valores máximos de 2022, momento em que o continente enfrentava o auge da crise energética, é improvável, mas o futuro do preço do gás na Europa ainda é instável e dependente da volatilidade do mercado:

“A nossa perspectiva continua a ser a de um mercado extremamente volátil, no qual devemos aproveitar as descidas para tomar posições e reduzir o preço, tanto para o próximo inverno, como para o conjunto de 2024”, ressalta o analista Mário Martins.

Dessa forma, o controle da crise energética no continente europeu irá depender das medidas de apoio utilizadas por cada um dos Estados-membros da União Europeia para substituir o gás russo e enfrentar possíveis interrupções no fornecimento por parte dos outros parceiros europeus.

Veja o esforço do continente em diversificar a importação do gás de outros países:

Diversificação da importação de Gás na Europa
Fonte: Comissão Europeia

Mesmo com essa diversificação, Kadri Simson ressalta que o próximo inverno pode ser complicado:

“Este ano ainda será um desafio e o ano seguinte também. Continua a haver muitas incertezas. Apesar da boa situação em geral em matéria de energia, precisamos de continuar alerta e de trabalhar arduamente para nos prepararmos para o próximo inverno.” ressalta Kadri Simson.

É importante lembrar que o consumo de gás na União Europeia é essencial para o aquecimento no rígido inverno. 24% de todo o gás utilizado nos países do bloco europeu é destino aos agregados familiares, 31% à produção de energia elétrica e calorífica, 22% para a indústria, 10,6% para serviços e 11,4% para outras utilizações.