Há um ano começava a invasão Rússia à Ucrânia. De lá para cá, o conflito matou milhares de pessoas, destruiu cidades, avançou, recuou, sem demonstrar até agora, março de 2023, que a solução esteja próxima.

É o maior conflito na Europa, desde a Segunda Guerra Mundial, dizem os especialistas. E para quem vive no continente, mesmo que não esteja sofrendo diretamente as atrocidades na Ucrânia e na Rússia, a guerra também tem grande impacto.

O começo da guerra da Ucrânia

Era final de fevereiro de 2022 quando o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou o início de uma operação militar no leste da Ucrânia, na região de Donbass. Dias antes, a Rússia já havia declarado que iria reconhecer a independência de duas regiões separatistas em Donbass, as atuproclamadas República Popular de Donetsk e República Popular de Luhansk.

Do outro lado, o Conselho de Segurança da ONU, a Organização das Nações Unidas, se posicionava pedindo que o presidente russo não fosse adiante com esses movimentos.

Números oficiais da guerra até o momento

Os números oficiais sobre as mortes, de civis e militares, ainda causam discussões, pois nenhum dos dois lados assume categoricamente as suas perdas.

De acordo com o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), estima-se que já morreram mais de 8 mil civis na Ucrânia e pouco mais de 13 mil ficaram feridos. Mas a própria entidade reconhece que as estimativas são muito conservadoras, pois ainda há muito relatórios incompletos.

Refugiados mudam a dinâmica de muitos países da Europa

Mas quando se fala em refugiados, a ONU aponta números ainda mais elevados: quase 8 milhões de pessoas – pouco menos do que a população total de Portugal – já fugiram da Ucrânia, país com uma população em torno de 44 milhões de cidadãos.

Comprar euro mais barato?

A melhor forma de garantir a moeda europeia é através de um cartão de débito internacional. Recomendamos o Cartão da Wise, ele é multimoeda, tem o melhor câmbio e você pode utilizá-lo para compras e transferências pelo mundo. Não perca dinheiro com taxas, economize com a Wise.

Cotar Agora →

Sem contar com parcela igual que acabou tendo que se deslocar internamente no país. Os que saíram da Ucrânia foram principalmente para a própria Rússia, Polônia, Alemanha e República Tcheca.

E por mais que vários países tenham se aberto para receber os que fugiam – e ainda fogem – da guerra, alguns governos já se mostram bastante apreensivos e preocupados com o custo destes movimentos, principalmente com o aumento generalizado do custo de vida devido à guerra.

Não por acaso, o Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, pediu recentemente aos líderes da União Europeia que reafirmem a solidariedade e o apoio a todos os refugiados.

Dezenas de países europeus recebem os refugiados

Apesar de as deslocações dos refugiados aconteceram, inicialmente, para os países vizinhos de fronteira (por exemplo, a Polônia já recebeu mais de 1,5 milhão de refugiados), diversos outros países estão abrindo as portas para os fugitivos de guerra.

Alemanha recebeu pouco mais de 880 mil refugiados; para a Itália foram mais de 170 mil; na Espanha, o número quase chega aos 170 mil.

Ao longo dos últimos meses, o Parlamento Europeu tem feito uma série de pesquisas e cruzamentos de dados para ajudar na tomada de decisão e avaliar percepções. De acordo com alguns destes dados, 42% dos europeus aprovam na totalidade o acolhimento dos refugiados, e 40% tendem a aprovar. Mas este percentual aparece mais baixo em países como a República Tcheca e a Eslováquia.

Portugal

Em Portugal, o SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras) atribuiu quase 60 mil proteções temporárias aos fugitivos de guerra. A maior parte dos refugiados foi para as regiões de Lisboa, Cascais, Porto, Sintra e Albufeira.

Recente pesquisa feita no país, indica que os portugueses ainda veem a possibilidade de receber os refugiados como alternativa mais aceitável do que, por exemplo, uma ajuda financeira à Ucrânia.

Por outro lado, habitação em Portugal tem sido o principal problema enfrentado pelos que chegam fugindo do conflito. E a realidade de Portugal não difere muita da de outros países europeus na questão de habitação.

Após um ano da guerra na Ucrânia refugiados ainda deixam o país
De acordo com o SEF, em consequência da guerra, a comunidade ucraniana passou a ser a segunda maior em Portugal

Cidadãos europeus aprovam apoio à Ucrânia

Ainda com base nos inquéritos do Parlamento Europeu, 74% dos cidadãos europeus aprovam o apoio da União Europeia à Ucrânia, e 73% das pessoas concordam com as ações tomadas desde o início da guerra.

Por outro lado, cerca de dois terços da população (65%) já demonstram preocupação com a duração do conflito, acreditando que suas vidas não irão continuar inalteradas, principalmente por aspectos relacionados aos aumentos generalizados.

Na Hungria, por exemplo, a maior parte da população acredita que a Rússia, ao final, se sentirá encorajada a seguir com novas agressões na Europa e, considerando o aumento do custo de vida já evidente, o esforço da UE não valeria mais a pena.

Principais consequências da guerra na Europa

Aumento do custo de vida

De acordo com o recente levantamento Eurobarômetro (janeiro/2023) do Parlamento Europeu , o aumento do custo de vida é a principal preocupação de 93% dos europeus, taxa que chega aos 98% quando se foca apenas nos portugueses.

Na Grécia, o aumento do custo de vida pela guerra está tendo um impacto ainda maior: quase 90% dos gregos afirmaram ter alguma ou muita dificuldade com as contas.

Na França, mais de 75% da população já está reduzindo os gastos com aquecimento e faz poupança para a compra de produtos alimentares de primeira necessidade.

A subida dos preços, principalmente os relacionados à energia e alimentos, é sentida em todos os níveis sociais, sem também grandes diferenças nos sub-segmentos de gênero, idade e escolaridade.

A segunda maior preocupação dos europeus (82%) é a ameaça de pobreza e exclusão social, seguida pelas alterações climáticas e pela propagação da guerra na Ucrânia a outros países. Para muitos analistas, a crise econômica pode realmente se tornar uma crise social.

Avaliação e percepção do conflito

Diversos especialistas ouvidos pela imprensa nos últimos meses tendem a confirmar um ponto importante: as pessoas começam a avaliar o conflito sob a ótica do coração, da emoção, mas quando as dificuldades aumentam a racionalidade passa a tomar conta.

Ainda não há falta de alimentos nos supermercados, por exemplo, mas não há como negar o grande aumento do custo de vida. Ou seja, a opinião pública começa a deixar de se basear na emoção para se tornar mais pragmática.

Alimentos puxam a inflação

A taxa de inflação na zona euro chegou, em outubro, ao recorde de 10,6%.

Em Portugal, outubro foi também o pior mês, com registo de 10,2%, o valor mais elevado dos últimos 30 anos.

Em janeiro deste ano, o INE, Instituto Nacional de Estatística, registrou um aumento médio de 8,4% nos preços, principalmente puxado pelos bens alimentares. Ao longo dos últimos 12 meses, os grandes vilões da inflação foram os óleos e gorduras (+33,6%) e leite, queijo e ovos (+30,8%).

Mas muitos países ainda registram uma escalada de preços acima da média no mesmo período, como: Alemanha (9,2%) e Itália (10,7%). Espanha (5,9%) aparece abaixo da média.

Salários não acompanham a subida de preços

Com o aumento da inflação, os salários em Portugal, mesmo tendo registrado aumento na média bruta mensal na comparação do último trimestre de 2022 com o mesmo período de 2021, recuaram 5,2% em termos reais.

Ou seja, a inflação “comeu” o pequeno avanço. O valor da cesta básica em Portugal – aqui considerando carne, peixe, congelados, frutas e legumes, laticínios e produtos de mercearia como enlatados, cereais ou bolachas – pulou de 187€ para quase 225€.

E a mesma perda de poder de compra aconteceu em diversos outros países europeus, como apontou recente levantamento do instituto alemão de pesquisa GFK. Na Espanha, por mais que o poder de compra tenha subido 4% em 2022, na comparação com o ano anterior, a taxa ficou abaixo da inflação. Ou seja, o salário não acompanhou a subida dos preços.

Mesmo em outros países, como França (+6%) e Itália (+9%), a inflação corroeu a maior parte dos ganhos.

O peso da energia cara

Um outro recente estudo, este da revista “Nature Energy”, mostra que, em termos globais, a guerra causou um aumento nos custos da energia para as famílias de cerca de 63% a 112%.

Apesar de o levantamento ter sido focado principalmente nos países em desenvolvimento, foram consideradas populações com diferentes rendimentos e capacidades de consumo de 116 países (Portugal não foi incluído neste estudo).

A análise levou em conta o impacto direto, ou seja, os aumentos no petróleo, carvão e gás, e indireto, aquele que acaba atingindo toda a cadeia de produção e transporte.

Canos com gás natural
O preço do gás natural, assim como de outros combustíveis, foi diretamente afetado pela guerra na Ucrânia

O preço do gás natural atingiu recordes, assim como a eletricidade em alguns mercados. Os preços do petróleo atingiram o nível mais alto desde 2008. Em outubro, a Agência Internacional de Energia (AIE) considerou esta “a primeira crise de energia verdadeiramente global”, superando a dos anos 1970.

Diante desses cenários de escalada de preços de energia, países como a Espanha, por exemplo, tomaram medidas como a redução do imposto (IVA) pago sobre o valor do consumo. Em recente comunicado, o governo espanhol já decidiu manter em 5% o valor do IVA pelos próximos seis meses (o valor normal é de 10%), além de congelar o preço da botija de butano.

Consumo de energia mais controlado

Com os aumentos, as famílias ficam mais vulneráveis à pobreza energética, o que tem um peso bastante grande nas estações mais frias, como o nosso inverno europeu de agora.

No caso específico de Portugal, o país apresentou em setembro o seu Plano de Poupança de Energia, que propunha a promoção do teletrabalho, cortes nos horários de iluminação nas administrações públicas e privados, regulação das temperaturas dos equipamentos de climatização e limitações horárias para as iluminações de Natal.

Espanha também restringiu o consumo com uma série de iniciativas semelhantes às que foram definidas em Portugal, mais especificamente o controle da temperatura nos prédios públicos e no comércio, com resultados importantes: em novembro do ano passado, a demanda por energia no país caiu 9%, segundo a Red Eléctrica de España.

Esta redução foi a quinta consecutiva e é fruto não apenas das restrições impostas, mas também pela maior consciência coletiva e pelo valor mais alto das tarifas, que acabou obrigando o cidadão a economizar.

Preços começam a recuar

O setor dos combustíveis foi um dos mais afetados, com preços subindo semanalmente. O governo português foi obrigado a decretar a descida do Imposto sobre os Produtos Petrolíferos e Energéticos (ISP) para tentar amenizar as altas. Em março de 2022, menos de dois meses depois do início da guerra, os combustíveis em Portugal sofreram o maior aumento semanal de sempre até então.

Baixa dos combustíveis

Encher um tanque com 50 litros de gasolina passou a custar pouco mais de 96€, enquanto com diesel chegou a superar 91€. Mas foi em junho o pico no valor: gasolina a 2,13€ e diesel a 1,98€, podendo ficar acima disso em alguns postos.

A redução do ISP se mantém até hoje, não nos mesmos patamares, mas o suficiente para fazer com que o valor do combustível se mantenha próximo ao nível pré-guerra.

Na Espanha, onde o combustível também passou a barreira dos 2€ por litro, o governo decretou uma bonificação de 20 centavos por litro, iniciativa que entrou em vigor em abril de 2022 e que se estendeu até o fim do ano.

A partir de agora, tal desconto é concedido apenas para os condutores profissionais. De qualquer forma, o valor do combustível para veículos particulares também recuou e, em média, fecharam o ano em torno de 1,57€ para a gasolina e 1,64€ para o diesel.

Baixa da eletricidade

Uma outra conta que tem, felizmente, baixado um pouco é a de eletricidade e gás. E nem apenas por mecanismos criados pelo governo em tempos de guerra. O que ajudou – e muito – foi o inverno mais brando do que o esperado.

Na Europa, o fornecimento de gás era um tema bastante sensível devido à dependência da Rússia, o que indicava até mesmo uma possível escassez de aquecimento neste inverno.

Família em Portugal
O inverno mais brando em Portugal ajudou a amenizar os gastos com energia

No entanto, as temperaturas mais quentes do que se esperava reduziram as necessidades energéticas. Entre agosto de 2022 e janeiro deste ano, Portugal conseguiu até mesmo reduzir em cerca de 17% o consumo de gás natural, quando comparado com a média dos últimos cinco anos.

Segundo dados da Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), a redução foi ainda maior (27%) entre dezembro e janeiro, meses normalmente mais frios. Segundo o INE, de dezembro para janeiro os preços dos produtos energéticos caíram 8,9%. Nos lares, o valor da eletricidade recuou 22,7%, enquanto o gás baixou 5,6%. Tais indicadores foram os principais responsáveis pela queda da inflação no período.

Relatório da DGEG divulgado em fevereiro deste ano  confirma que:

O início de um inverno com temperaturas amenas também permitiu uma redução da necessidade de gás em todos os setores. E a redução geral alcançada pode também estar ligada à implementação do plano português de poupança de energia 2022/2023.

Na Europa, os 27 Estados-membros da UE conseguiram, em oito meses, substituir 80% do gás natural que vinha da Rússia. O mesmo resultado, porém, não foi conseguido com a eletricidade: enquanto a União Europeia colocou como meta reduzir em 10% o consumo de eletricidade neste inverno em comparação com a média dos últimos cinco anos, Portugal conseguiu apenas diminuir 0,5% de novembro a janeiro.

As medidas para combater a crise

Em março do ano passado, a Comissão Europeia flexibilizou as regras da concessão de ajudas de Estado, para permitir aos Estados-membros apoiarem a economia diante dos efeitos da guerra.

Até agora, Portugal concedeu 2,3 bilhões de euros em ajudas de Estado, segundo dados divulgados este mês pela Comissão Europeia. Foram criadas, por exemplo, linhas de crédito e financiamento, incentivos à aceleração da transição energética e apoio ao emprego.

Apoio ao rendimento das famílias

O governo também anunciou um pacote de medidas de apoio ao rendimento das famílias que previa o pagamento extraordinário de 125€ a cada cidadão não pensionista com rendimento até 2.700€ mensais, assim como o pagamento extraordinário de 50€ para cada filho de até 24 anos.

Alterações foram feitas ainda nas alíquotas dos impostos cobrados normalmente (o IVA) sobre a eletricidade, entre outras ações. Mais recentemente, o Banco Português de Fomento anunciou uma linha de crédito para às micro, pequenas e médias empresas no valor de 600 milhões de euros.

Fontes alternativas de energia

Em relação ao consumo de energia, o que tem se buscado, e não apenas em Portugal, é o investimento em fontes alternativas. No caso de projetos já aprovados e iniciados, a solução tem sido acelerar e reduzir prazos de implementação.

Em maio, a Comissão Europeia apresentou o Plano REPowerEU , com o objetivo de acabar com a dependência dos combustíveis russos e de atingir a neutralidade carbônica até 2050.

Em novembro, durante a realização da COP27, o primeiro-ministro português António Costa anunciou a antecipação dessa meta para 2045. Também garantiu que as últimas centrais a carvão em Portugal, que deixaram de funcionar em 2021, não serão reativadas. As energias renováveis já representam cerca de 60% da eletricidade consumida no país; e a meta é chegar aos 80% em 2026.

Apostas em outros tipos de combustíveis

Outra frente tem sido a aposta no hidrogênio verde e outros gases renováveis. Duas linhas de crédito no valor de 83 milhões de euros foram dedicadas a estes projetos. Num levantamento com líderes globais no último Fórum Econômico Mundial, em Davos, mais de 60% dos líderes se mostraram confiantes com esta rota e acreditam que a crise energética deve abrandar no final deste ano.

Na Espanha, a energia obtida a partir de geradores eólicos assumiu a liderança, com a fatia de 31% do total, a maior desde dezembro de 2020. As energias renováveis somadas (eólica, solar e biomassa) produziram em 2022 5,6% a mais do que em 2021, já representando quase 50% do mix.

Em linhas gerais, a IEA (Agência Internacional de Energia) prevê que a capacidade de eletricidade renovável na UE duplique no período 2022-2027, à medida que as preocupações com a segurança energética se somam às ambições climáticas.

Países europeus têm novos planos para agir

Muitos países europeus aprovaram ou propuseram planos de ação com metas ainda mais ambiciosas, aumentaram o apoio político às energias renováveis ​​e abordaram os desafios não financeiros relacionados.

A previsão da IEA para o crescimento na UE foi significativamente revisada para cima (mais de 30%) em relação à estimativa do ano passado, liderada pela Alemanha (55% maior) e Espanha (65% maior).

A Alemanha aumentou as metas de eletricidade renovável, introduziu volumes de leilão mais altos e melhorou a remuneração da energia solar fotovoltaica distribuída, reduzindo os prazos de permissão.

A Espanha simplificou o licenciamento de usinas solares fotovoltaicas e eólicas e aumentou a capacidade da rede para novos projetos de energia renovável.

Fim da guerra: existem previsões?

Apesar de o tema da guerra estar no foco das atenções dos principais líderes mundiais, não há, até o momento, qualquer indicação de fim do conflito. Grandes potencias estão totalmente envolvidas e em busca de uma solução pacífica, mas o que se vê são alguns avanços, seguidos de recuos. Ou seja, o que parece ser um sinal de melhora nos ânimos em um dia, acaba sendo a piora no dia seguinte.

Em um dos mais recentes movimentos globais, a China apresentou, no final de fevereiro, um plano de paz ao governo russo, com alguns pontos importantes. Em resposta, o porta-voz do Kremlin se limitou a dizer que o plano mereceu toda a atenção do governo russo, mas que as autoridades daquele país ainda não entendem que a questão da guerra possa tomar um caminho pacífico neste momento.

A operação militar especial na Ucrânia vai continuar, finalizou o porta-voz russo.