Os números oscilam e já chegaram a cair em alguns períodos ao longo dos últimos 20 anos, mas a tendência recente é realmente de alta: são pouco mais de 39 mil estudantes brasileiros da pré-escola ao ensino secundário e quase 19 mil no ensino superior. Os dados são da Direção-Geral da Educação (DGE).

Alunos brasileiros são maioria entre estudantes em Portugal
Índice Maior parte dos brasileiros cursa o ensino fundamental Mais de 34% dos alunos são lusodescendentes Os desafios da adaptação em Portugal Mais de dois milhões de estudantes em Portugal

Maior parte dos brasileiros cursa o ensino fundamental

A maioria dos estudantes brasileiros em Portugal está no ensino básico (pouco mais de 25 mil alunos), que equivale ao mesmo período do Brasil, do primeiro ao nono anos. Na pré-escola são cerca de 6500 crianças brasileiras e no secundário (equivalente ao ensino médio do Brasil), pouco mais de 7500.

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Os brasileiros no ensino superior representam quase um terço do total de estrangeiros nas universidades portuguesas. Atrás do Brasil, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Angola e Espanha. Vale notar que no ano letivo de 2016/2017, o número de brasileiros nas escolas públicas de Portugal ficou pouco acima dos 13 mil.

Mais de 34% dos alunos são lusodescendentes

Dados do mais recente estudo do Observatório das Desigualdades (ano letivo 2019/2020, publicado em 2023) mostra que, no período pesquisado, existiam quase 45 mil alunos filhos de brasileiros, cerca de 25 mil a mais do que no ano letivo de 2012/2013. Deste total, mais de 34% tinham ascendência portuguesa.

Ainda de acordo com o documento, a escolaridade familiar média dos alunos de origem brasileira era maior do que a dos estudantes locais: pouco mais de 45% dos pais brasileiros tinham ensino secundário e cerca de 34% deles possuíam ensino superior, contra índices de 30,4% e 34,2% dos portugueses, respectivamente.

As regiões com maior número de alunos de origem brasileira são Lisboa, Sintra e Cascais, aponta o estudo.

Os desafios da adaptação em Portugal

Laura e João Vitor são dois jovens brasileiros estudando em Portugal. Cada um em uma fase diferente da vida acadêmica, mas que representam bem o processo de adaptação nas escolas e universidades em solo português.

João Vitor veio pequeno, entrou no primeiro ano do ensino básico, quando o ano letivo já havia começado. O fato de ter ido para uma escola pequena, numa cidade igualmente pequena, pode ter ajudado muito: em poucos dias de aula, já transitava entre os colegas como se fosse um morador local.

João Vitor na escola em Portugal
No segundo dia de aula, ainda em adaptação, João Vitor participou da comemoração do Dia de Reis. Imagem: arquivo pessoal.

Agora, depois de quase seis anos nos bancos escolares de Portugal, conta que estranhou um pouco o ambiente levemente mais formal do que o que conhecia no Brasil, a rotina de passar o dia na escola e almoçar com os colegas, a sopa diária e, claro, um ou outro mal-entendido com o jeito de falar. Mas não tem qualquer queixa dos professores, da escola, dos funcionários.

Vale lembrar que ser brasileiro numa escola pública portuguesa já deixou de ser algo diferente. Não há turma sem brasileiros, com certeza. Na idade dos mais jovens, bombardeados pelos “influencers” brasileiros, o português falado no Brasil não causa nenhuma estranheza.

O contrário, porém, não é verdade. O brasileiro precisa mesmo se interessar, ser curioso e atento para aprender as novas palavras e mesmo as diferentes formações de frases e expressões. E aqui cabe o maior desafio, segundo João Vitor:

“escrevia usando palavras do português do Brasil, com frases formadas de acordo com a maneira que falamos no Brasil. Cheguei a perder notas em algumas provas”, lembra.

Experiência na universidade

Laura teve outra experiência, em um ambiente universitário, com público mais crítico, mais propenso a questionar e a confrontar hábitos e costumes diferentes. Há sempre muitos brasileiros nas faculdades, mas os professores podem, sim, nem sempre ser muito abertos e receptivos, aponta a estudante.

“Quando estamos na faculdade, é natural que os professores não nos acolham como crianças. Admito que tive dificuldade, em algumas aulas, para entender o que o professor falava, principalmente quando era um vocabulário mais técnico, mas não creio que tenha sido discriminada”.

Por outro lado, lembra, “sei de amigos que perderam pontos em provas porque não escreviam segundo as normas e os padrões do português de Portugal”.

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Laura e amigas em Portugal
Laura (no meio) veio para Portugal para estudar na Universidade de Coimbra. Imagem: arquivo pessoal

Mais de dois milhões de estudantes em Portugal

Portugal possui pouco mais de 2 milhões de estudantes, da pré-escola à universidade, incluindo o ensino técnico, total que já foi quase de 2,5 milhões (2009), conforme dados da Pordata (Base da Dados Portugal Contemporâneo).

A maioria está no ensino público, com 1,6 milhão de estudantes (em 1978, eram 1,67 milhão no ensino público). O ensino privado, atualmente com 418 mil alunos, praticamente quadruplicou desde 1978 (113 mil), e hoje representa cerca de 20% de todo o universo de estudantes em Portugal (eram cerca de 6% em 1978).