Quando decidimos mudar de país, muitas dúvidas e ansiedade rondam os dias pré-embarque. Mas fazer amizade com brasileiros no exterior pode tornar esse primeiro momento, longe da família e do nosso lar natal, bem menos complicado.
Muitos chegam no exterior sozinhos, sem falar a língua local, precisando encontrar uma casa ou quarto para alugar; aplicar para visto e documentação de escola ou trabalho; encontrar emprego; entre tantas outras burocracias. Saiba que geralmente a ajuda vem dos nossos conterrâneos, que vão se tornar também nossos amigos. Especialmente por enfrentar as mesmas dificuldades juntos.
Minha experiência ao chegar na Irlanda
Ainda lembro como se fosse hoje o dia em que decidi fazer um intercâmbio na Irlanda. Apesar de este ser um sonho antigo, que me acompanhava desde a infância, muitas eram as dúvidas e os medos. O principal deles? Estar sozinha em um país em que eu não era fluente na língua sem ninguém para ajudar.
E acredite: eu não podia estar mais errada! Desde o embarque no avião, ainda no Brasil, encontrei muitos brasileiros, alguns que inclusive já moravam na Europa; outros, assim como eu, chegando com uma mala de ansiedade no Velho Continente.
Na casa temporária em que fiquei todos eram brasileiros e já me ajudaram desde o meu primeiro minuto por lá. Minha mala foi perdida, cheguei do aeroporto depois das 22h, sem chip internacional no celular para procurar no Google Maps uma loja ou até um supermercado aberto para comprar comida.
Os meus flatmates me convidaram para jantar, me emprestaram toalha de banho, roupas e produtos de higiene. Depois de mais de sete anos desse dia de setembro, ainda somos todos amigos, cada um em um canto diferente da Irlanda ou do mundo, nesse momento.
Passamos por todos os perrengues juntos, sempre ajudando um ao outro: aplicação de visto, comprovação financeira, escola de inglês e emprego.
Também adorávamos sair juntos para curtir a noite de Dublin: os pubs, mas especialmente as festas brasileiras e a Diceys – uma casa noturna local que tem festa brasileira todos os domingos até hoje.
É naturalmente mais fácil fazer amizade com brasileiros no exterior
Aquilo que temos em comum nos aproxima dos outros brasileiros que migram para o mesmo lugar. Apesar de algumas diferenças regionais, falamos o mesmo idioma, compartilhamos a mesma cultura e, o que é ainda mais crucial para essa aproximação: os desafios, problemas e choque cultural são os mesmos.
Imagina chegar em um país onde você não fala a língua oficial, ou não tem os mesmos hábitos dos habitantes locais. Por isso, é naturalmente mais fácil fazer amizades com brasileiros no exterior. Talvez eles já morem nesse país há um tempo, e podem ajudar com conselhos e dicas.
Talvez tenham se mudado em uma data próxima da sua e os momentos de adaptação e aprendizado que vocês estão vivendo são os mesmos e isso acaba aproximando vocês. Afinal, é sempre bom ter com quem dividir experiências e ninguém melhor para entendê-las do que quem está na mesma situação.
Os caminhos que se cruzam graças a mudança
São quase 1,5 milhões de brasileiros morando na Europa. Em países com comunidade de brasileiros, há também diversidade regional. Pessoas de diferentes estados do Brasil – do Amapá ao Rio Grande do Sul –, moram agora na mesma cidade, podem dividir a mesma casa e até o quarto! Brasileiros que talvez não teríamos a chance de conhecer se ainda morássemos na nossa cidade natal.
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Cotar Agora →O fato de termos a mesma nacionalidade, em um local com tantas diferenças da nossa cultura, contribui para nos aproximarmos de brasileiros que talvez nem conheceríamos se não tivéssemos saído de lá.
O ciclo de amizades, o trabalho ou a faculdade, os locais que frequentávamos, tudo aqui é um começo do zero que pode tornar todos ou muitos desses fatores iguais para duas pessoas completamente diferentes em terras brasileiras.
Conexão Amazonas – Rio Grande do Sul
Antes de mudar para a Europa, nunca tinha viajado para além da região sul do Brasil. Uma das minhas primeiras amigas aqui na Irlanda é natural de Manaus, no Amazonas, e nunca tinha ido para o sul do país. Também não estudamos ou trabalhamos na mesma área em terras brasileiras. Dublin foi nosso ponto de encontro, que nos colocou em um lugar-comum, que talvez não tivesse acontecido se não tivéssemos mudado para cá.
É muito comum também saber de história de casais de brasileiros que se conheceram no exterior, e talvez os caminhos não teriam se cruzado no Brasil. Pessoas que moravam no mesmo estado ou em estados diferentes e tiveram que atravessar o oceano para se encontrarem.
Sentir-se em casa com um oceano de distância
Ter amigos brasileiros quando estamos tão longe da nossa terra natal traz muitos benefícios. São os brasileiros o nosso primeiro e mais fácil contato, mesmo no exterior. É dos nossos que nos aproximamos antes. Eles nos ajudam e auxiliam com informações e dicas dos primeiros passos em um novo país.
Geralmente fazer amizade com brasileiros no exterior possibilita que eles nos indiquem para empregos. É através dos grupos de brasileiros no Facebook e outras redes sociais que procuramos anúncio de vagas em casas para morar.
São também nessas comunidades que pesquisamos ou pedimos ajuda com assuntos que ainda não dominamos: aplicação de visto, atendimento médico e odontológico, restaurantes e comidas brasileiras, entre tantos outros assuntos.
Por chegarmos todos em situações muito parecidas, as experiências que partilhamos no exterior também são semelhantes. Quem já chegou há mais tempo, pode aconselhar; quem está vivendo isso com você, será seu ombro amigo com quem você vai dividir as novas vivências e acontecimentos.
Os amigos no exterior nos dão a sensação de pertencimento, viram nossos abrigos. É quase um estar em casa mesmo com um oceano de distância até a terra natal. São esses amigos que vão ser nossa família aqui.
Passamos a compartilhar o dia a dia, nos reunir para o almoço de domingo, são nossa família para a ceia de Natal. Dividimos histórias e situações difíceis. São esses amigos que entendem a dificuldade de encontrar uma vaga de quarto na crise de aluguéis na Irlanda, por exemplo. Também são eles que entendem que podemos sofrer com preconceito no trabalho ou na rua apenas por sermos imigrantes.
São esses amigos que encontramos aqui no exterior que sabem que mesmo com tamanha saudade da família que ficou, do conforto e até do emprego na área que deixamos para trás, ainda vamos escolher continuar aqui fora. Eles vão nos apoiar e também precisar de apoio para continuar buscando uma vida que não encontramos mais no Brasil.
Também é preciso ser local
Por outro lado, acaba sendo muito confortável estar apenas entre um círculo de brasileiros. Afinal, mudar de vida e de país significa sair de toda nossa zona de conforto e se fechar em uma comunidade que só tenha brasileiros pode significar um “retorno” a esse lugar confortável.
Ainda mais, a exclusividade de se relacionar com brasileiros pode frear o seu aprendizado da língua local, por exemplo, e também pode te impedir de viver e conhecer novas experiências locais.
Assim como quando viajamos planejamos conhecer pontos turísticos e provar da culinária da região, quando mudamos para outro país é importante nos inserirmos na cultura dessa terra. Conhecer habitantes locais, conversar com eles para aprender sobre a cultura e frequentar os locais que eles frequentam para sentir como é ser habitante desse novo país.
Isso tudo pode ser ainda mais prejudicado quando o círculo de amizades brasileiras em que nos inserimos não gosta do país em que está. Vulneráveis e, muitas vezes, sozinhos longe de casa, podemos considerar essa visão válida e corromper a imagem que temos da cultura, do povo e dos hábitos do país que escolhemos como lar.
Cuidado: nem todo brasileiro no exterior será abrigo
Infelizmente também precisamos reconhecer que nem todos os brasileiros estão dispostos a ajudar. Pelo contrário, alguns não têm a qualidade de ser uma amizade brasileira no exterior. Por isso, mesmo no exterior, é preciso, sim, ter cuidado com alguns brasileiros. Há muitos casos de golpes e pessoas agindo de má-fé.
Quer um exemplo? Brasileiros que contribuem para a superlotação de casas para superfaturamento de aluguéis.
A Irlanda passa por uma difícil crise imobiliária. Os valores dos aluguéis estão extremamente altos, pois não há vagas o suficiente para a demanda de Dublin, especialmente.
Acontece que alguns brasileiros, que já estão há anos na Ilha, alugam grandes casas e enchem de pessoas. Quartos de casal, que deveriam ser ocupados por no máximo duas pessoas, têm duas beliches para abrigar até quatro, por valores altíssimos. Muitas vezes, as casas são alugadas da imobiliária por menos da metade do valor total cobrado dos moradores.
Encontre amigos brasileiros no exterior…
Se você está vindo para o exterior para um intercâmbio ou para cursar faculdade, certamente vai esbarrar com algum brasileiro na escola ou até mesmo na sala de aula. No mercado de trabalho, em praticamente todas as áreas, é possível também se deparar com brasileiros trabalhando.
Todos os países europeus já têm sua própria comunidade de brasileiros, facilmente encontradas em grupos de redes sociais. Muitos países têm restaurantes com nossas comidas típicas e até pequenos mercados de venda exclusiva de produtos vindos do Brasil. Diversos eventos são promovidos durante o ano para celebrar nossa cultura: carnaval, Independência, festas juninas.
Muitos artistas brasileiros têm vindo fazer tour de shows pela Europa. Sandy, Whinderson Nunes, Wesley Safadão, Turma do Pagode: todos os anos a agenda cultural brasileira é repleta de grandes shows, capazes de reunir toda nossa comunidade em um evento como se estivéssemos no Brasil.
Essas são ótimas oportunidades para matar a saudade de casa e também de encontrar amigos ou fazer amizade com brasileiros no exterior.
…para fazer do exterior o lar que escolhemos
Provavelmente você já percebeu que o meu círculo de amizades mais próximas, mesmo há sete anos morando no exterior, é de brasileiros. Sempre que precisei, recebi ajuda. Também sempre procuro retribuir e ajudar como posso, especialmente quem está chegando.
Sei o quão difícil o início pode ser, e o quanto mais fácil é quando temos alguém para acolher e explicar como as coisas acontecem no país – e falando português! Alguém que nos aconselha, nos dá dicas e indicação. E acredito que é a sensação de pertencimento em uma comunidade assim que nos motiva a continuar em busca desse sonho de fazer do exterior o lar que escolhemos.
E é por isso que continuo cultivando e buscando fazer amizade com brasileiros no exterior. Eles serão nossa família aqui desse lado do oceano, quem nos aproxima das nossas raízes.