Estudos recentes realizados pela União Europeia mostram que o número de pessoas que se sentem sozinhas em países europeus cresce e pandemia da Covid-19 é apontada como fator agravante do aumento da solidão.

Dados mostram que solidão na Europa tem contornos de “epidemia”

Isolamento social voluntário ou solidão? Independente de como possa ser chamado, os dois casos trazem danos à saúde tanto física como mental, é o que mostra o relatório de Ciência para Políticas do Centro Comum de Investigação (JRC), o serviço de ciência e conhecimento da Comissão Europeia.

Dubravka Šuica, Vice-Presidente da Comissão Europeia de Democracia e Demografia, afirma que buscar meios para abordar o tema solidão é uma responsabilidade para as autoridades:

“Existe evidência científica de que a solidão afeta a saúde mental e física, e pode reduzir a coesão social, a confiança na comunidade e, em última análise, os resultados econômicos. A solidão deve ser considerada tanto por suas consequências individuais quanto sociais.

Dubravka também diz que é necessário abordar o tema da solidão como comunidade:

“Isso é fundamental para melhorar a resiliência de nossas sociedades e nosso desempenho econômico. Isso é uma responsabilidade de todos nós – em nível local, nacional e da UE, para as autoridades, a sociedade como um todo e cada indivíduo.”

O objetivo da pesquisa é mostrar como a solidão, isolamento ou solitude podem ter repercussões prejudiciais à saúde mental e física, também prejudicando na área social. O isolamento social pode ser avaliado como questão crítica de saúde pública e medidas estão sendo criadas pela Comissão Europeia para diminuir o impacto na sociedade.

Países mais e menos solitários

A taxa de solidão nos países pode variar de acordo com fatores como cultura ou diferenças demográficas. Segundo o resultado da pesquisa sobre Solidão na EU de 2022, a Irlanda apresentou a maior porcentagem de pessoas que afirmaram se sentirem sozinhas, um total de 20% dos entrevistados, seguida por Bulgária e Grécia.

O mapeamento demográfico mostrou que a solidão aumentou 15 pontos percentuais nos seguintes países: Irlanda, Bulgária, Estônia, França, Alemanha, Polônia, Portugal e Suécia.

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Em uma proporção menor, países que tiveram menos do que 10 pontos percentuais foram Bélgica, Croácia, República Tcheca, Grécia, Hungria, Romênia e Espanha.

Mapa da solidão na Europa
O mapa exibe os dados referentes às últimas quatro semanas anteriores à realização da pesquisa. / Fonte: EU-LS, 2022

Segundo a constatação do estudo, o número mais baixo de solidão nas regiões do sul da Europa se deve ao fato de que a pandemia da Covid-19 desenvolveu na população um sentimento de pertencimento e empatia em vários países.

Um exemplo disso foram os atos realizados por pessoas em países como Itália, Espanha ou França, que homenagearam os profissionais de saúde durante a pandemia com aplausos e cantos em suas varandas durante o isolamento.

Prejuízos para a saúde física e mental

Segundo dados divulgados na pesquisa, a solidão tem sido comparada à obesidade e ao tabagismo nos riscos de mortalidade, podendo estar associada a problemas de saúde física e psicológica.

Como foi avaliado, os adultos que vivem isolados tem maior possibilidade de produzir altos níveis de cortisol, conhecido como “hormônio do estresse”. Além disso, outros fatores de risco foram citados, como pressão arterial elevada, sono prejudicado e resistência cardiovascular.

As consequências a longo prazo também foram citadas, mostrando que, com o passar do tempo, podem ocorrer inflamações crônicas e taxas de morbidade e mortalidade mais altas.

Na saúde mental, a solidão está associada a casos de depressão ou hábitos não saudáveis, como tabagismo e o sedentarismo. Baixos níveis de empatia, elevado nível de desconfiança e intolerância em relação a opiniões alheias também são citados como possíveis consequências do isolamento social.

Quem se sente mais sozinho?

O relatório mostra que a pandemia da Covid-19 teve um impacto significativo em todas as idades, no entanto, ao contrário do que poderia e imaginar, a população mais jovem exibiu um maior índice de solidão que pessoas mais velhas.

Dados pré-pandemia

Antes da pandemia, o nível de solidão era mais alto entre a população de faixa etária mais alta. Enquanto 9% dos jovens adultos (com idade entre 18 e 25 anos) e 10% dos adultos de 26 a 45 anos sentiam-se frequentemente solitários, a prevalência da solidão aumentava para 12% entre os adultos de 46 a 64 anos e para 15% entre os entrevistados com 65 anos ou mais.

Dados pós-pandemia

Após a pandemia esse quadro foi invertido. Os jovens adultos mostraram ser os mais solitários. O grupo de pessoas que disseram se sentir solitárias entre os entrevistados com idade entre 18 e 25 anos aumentou de 9% para 35% nos primeiros meses da pandemia, número quatro vezes mais alto.

Em outras faixas etárias a mudança foi de em 15, 11 e 8 pontos percentuais, respectivamente, para os grupos etários de 26 a 45, 46 a 64 e 65 anos ou mais.

Iniciativas no combate à solidão na União Europeia

Com a solidão vista como um problema de saúde pública, a União Europeia busca desenvolver ferramentas no auxílio ao combate ao isolamento social. No último relatório publicado em junho de 2023, foi anunciada criação de métodos de mapeamento on-line recém desenvolvidos que permitirão e facilitarão a busca por  apoio e intervenções contra a solidão oferecidas em toda a UE.

A maioria das intervenções identificadas tem como alvo específico os adultos mais velhos (53%), enquanto apenas 8% têm como alvo os jovens. Diante do aumento no número de jovens que se consideram solitários, a comissão europeia vê a necessidade de desenvolver ferramentas de apoio à essa faixa etária, além de outros grupos de risco.

A princípio, umas das ideias principais é conectar as pessoas (41%) ou oferecer atividades sociais e/ou em grupo (26%) para os participantes, aumentando a rede de contatos. Esses trabalhos vêm sendo implementados por ONGs (36%), seguida por governos locais (18%) e iniciativas conjuntas com vários parceiros (13%).

Outra iniciativa é a criação do Livro Verde sobre o Envelhecimento, uma forma de apoiar e refletir sobre como construir juntos uma sociedade mais resiliente e coesa que não exclua seus cidadãos durante todo o ciclo de vida.