A cada 100 mortes no mundo, uma é através de suicídio. O número de casos tem causado preocupação e organizações como a OMS e a Associação Internacional para a prevenção do suicídio buscam conscientizar os governos sobre a importância de criar políticas que desmitifiquem e previnam novos casos. Conheça os números mais atuais do Brasil e da Europa relacionados a doenças mentais e suicídio e como a Comissão Europeia tem investido em políticas públicas de prevenção.
Dados sobre o suicídio na Europa
Na Europa, o número de mortes por suicídio caiu quase 14% em uma década, é o que conta em artigo publicado no último dia 8 de setembro no site oficial da Uniao Europeia.
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Cotar o meu e viajar seguro →Segundo os dados divulgados, no ano de 2020, o número de pessoas que tiraram a própria vida chegou a 47.252 em toda a União Europeia, equivalente a 0,9% das mortes registradas naquele ano. Também é notória a diferença no gênero das vítimas, sendo os homens 77,1% da porcentagem de suicídios, um número muito acima do que as mulheres.
Em comparação com o ano de 2011, esses números caíram. Até os registros de 2020, a média de mortes por suicídio é de 10,2 a cada 100.000 pessoas, em 2011, a taxa era de 12,4. Os números representam cerca de 7.371 mortes a menos registradas.
Josiane Peluccio é psicóloga clínica na Alemanha e atende em seu consultório muitos pacientes expatriados, trabalhando o tema da imigração e aspectos interculturais, assim como seus efeitos na saúde psíquica.
Ela acredita que, para os expatriados, a adaptação em um novo país pode acarretar, algumas vezes, sentimentos de depressão que devem ser tratados para evitar um fim drástico. Ela ressalta a questão da invalidação do sentimento de quem mora fora do Brasil:
“Muitas vezes, a pessoa está vivendo no país que ela idealizou, que ela escolheu, que ela sonhou, porém, algumas pessoas invalidam o sentimento dessa pessoa quando falam: ´Nossa, mas por que que você está triste? Isso é uma vida de sonhos!”.
Mas ela ressalta que:
“Só que quem está vivendo no país é aquela pessoa. Então, é muito importante a gente saber escutar, lembrando que tanto imigrantes quanto expatriados tendem, vamos dizer assim, a ter recaída, porque a demanda de novas habitações, ao mesmo tempo, ela é muito grande”.
A especialista lembra que a situação pode ocorrer em qualquer faixa etária:
“Nós, que estamos no exterior, sejamos adultos ou os nossos filhos, estamos muito mais propensos a vivenciar a depressão, e a depressão para imigrantes expatriados evolui muito mais rapidamente do que para um brasileiro que está no Brasil, devido a tantas mudanças e adaptações rápidas e necessárias”, afirma.
Países europeus com maior número de ocorrência
Dentro da União Europeia, o país com mais alto índice de casos de suicídio em 2020 é a Lituânia. O país chegou a registrar 21,3 mortes por suicídio a cada 100.000 habitantes. Mais dois países são citados no relatório da União Europeia, a Hungria, com a média de 17,1 a cada 100.000 habitantes e Eslovênia, com 16,3.
Em se tratando de regiões mais específicas, na Hungria, a região de South Great Plain registrou a maior taxa de mortalidade por suicídio, com 23,9 mortes a cada 100.000 habitantes. Em seguida, as regiões Central e Ocidental da Lituânia (22,9), Lower Normandy na França (22,3), Świętokrzyskie na Polônia central (21,2) e North Great Plain na Hungria (20,6).
Os países com menores taxas de mortalidade por suicídio foram Chipre, com a média de 3,5 mortes a cada 100.000 habitantes, Malta e Grécia, ambos com 4,0, e por último, Itália 5,6 e Eslováquia com uma média de 6,9.
As regiões que menos registraram casos foram Mayotte na França (1,4), North Aegean (2,3) e Central Macedônia com 2,9. Grécia e Campania, na Itália, com 2,9 ambas, e South-West region na Bulgária (3,0).
Pandemia aumentou índices de suicídio no Brasil
Enquanto o número de casos vem diminuindo na Uniao Europeia, no Brasil, a preocupação aumenta. Segundo especialistas da área de saúde, a pandemia foi um fator agravante para o aumento de casos de suicídios no país.
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Cotar Agora →Segundo matéria divulgada pela Agência Brasil, entre março de 2020 e fevereiro de 2022, o país registrou 30 mil casos, no entanto, entre março de 2021 a fevereiro de 2022, o número de suicídios entre mulheres com 60 anos ou mais aumentou 28%, especificamente na região sudeste do país. Nas regiões Norte e Nordeste, entre mulheres com faixa etária de 30 a 59 anos, o número subiu para 32% e 61%, respectivamente.
Ainda de acordo com a publicação, no Brasil, os transtornos na adolescência podem começar a surgir a partir dos 14 anos. Karin Knoener, psicóloga que atende adolescentes, adultos e casais expatriados em seu consultório, comenta que, nessa fase, o indivíduo ainda está em desenvolvimento e tem dificuldade de lidar com os conflitos:
“Ele(adolescente) está muito vulnerável, exposto aos ambientes e o ambiente tem a tendência a nos frustrar. Quando isso acontece, ele vai ter mais dificuldade de administrar essa frustração, de entender limites. Nessas situações, pode acontecer as más escolhas ou escolhas momentâneas que geram consequências futuras”, conclui a psicóloga.
Os dados são resultado do estudo “Excess Suicides in Brazil during the First Two Years of the Covid-19 Pandemic: Gender, Regional and Age Group Inequalities“(Excesso de Suicídios no Brasil nos Dois Primeiros Anos da Pandemia de Covid-19: Desigualdades de Gênero, Regionais e de Faixas Etárias).
De acordo com o estudo, países como Brasil, que foram bruscamente afetados com os efeitos diretos da pandemia, onde foram registrados os maiores números de mortes, também foram os mais atingidos com o aumento na taxa de mortalidade por suicídio.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgou dados do ano de 2022, mostrando que o país registrou 16,2 mil casos de suicídios. O número é equivalente a uma média de 44 por dia, um aumento de cerca de 12% em comparação ao ano de 2011, que foi de 14,4 mil.
10 de setembro é o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio
O mês de setembro é marcado pelo número de campanhas que buscam alertar sobre a importância da prevenção do suicídio. Em 2003, a Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio e a Organização Mundial de Saúde criaram o dia da Prevenção do Suicídio, dia 10 de setembro. A necessidade de criar a data se deu pelo crescente número de casos em todo mundo, afetando principalmente os mais jovens.
Os mais jovens são os mais afetados
De acordo com a OMS, o número de mortes por suicídio chega a 700 mil por ano, sendo uma das principais mortes no mundo. Ainda de acordo com a organização, a cada 100 mortes, uma é por suicídio, especialmente entre jovens de 15 a 29 anos.
Karin Knoener, comenta sobre a importância de observar os sinais de que algo errado possa estar acontecendo. Ela explica que é fundamental que os pais estejam atentos a mudanças nos comportamentos dos filhos:
“É claro que pra você perceber a mudança do comportamento do filho, é importante que você conheça o seu filho minimamente. As mudanças acabam sendo gradativas, às vezes, muito sutis, mas se existe uma conexão, isso vai ser percebido de uma forma muito mais clara”.
A profissional indica alguns pontos de atenção:
“Algumas mudanças importantes, no abandono do autocuidado, quando o adolescente começa a ficar desleixado, começa a não ter asseio, não ter preocupação com as roupas, não ter preocupação em cortar um cabelo, principalmente as meninas quando acabam se esquecendo que são mais vaidosas, que são mais preocupadas com o próprio corpo”, comenta.
Além dos sinais com o autocuidado, Karin aponta o baixo rendimento acadêmico, abandono de esporte ou práticas que o adolescente normalmente gostava e, de repente, abandona, como sinais de alerta.
O uso excessivo das redes sociais também é um fator crucial para ser bem observado:
“Passar muito tempo trancado dentro do quarto e muito acesso a conteúdo e telas hiper estimulantes, às vezes, até pornografia ou outros acessos que acabam sendo colocados nesse comportamento”.
Através do dia da Prevenção do Suicídio, as organizações buscam mobilizar os governos sobre a necessidade de políticas públicas que possam agir de forma eficaz para diminuir esses números. Ainda visto como um tema tabu, a intenção é que seja discutido de forma mais aberta para diminuir o estigma e conscientizar as pessoas sobre a prevenção através da ajuda e apoio.
Outras populações vulneráveis
Segundo Dra. Alexandra Fleischmann, cientista do Departamento de Saúde Mental da OMS, em uma coletiva de imprensa da ONU em Genebra, alguns grupos específicos são mais afetados:
“povos indígenas, membros de comunidades LGBTQI+, pessoas presas ou encarceradas, refugiados e migrantes”.
Comissão Europeia vai agir na prevenção ao suicídio
Em resposta aos apelos da população e organizações de prevenção ao suicídio, a Comissão Europeia tem criado medidas com relação à saúde mental. Em comunicado publicado pela Comissão Europeia no último dia 7 de junho, consta:
“Um dos principais objetivos das políticas públicas deve ser garantir que ninguém é deixado para trás, que os cidadãos gozam de igualdade de acesso aos serviços preventivos e de saúde mental em toda a UE e que a reintegração e a inclusão social orientam a ação coletiva em matéria de doenças mentais. São necessárias orientações, coordenação, apoio reforçado e ações específicas eficazes para aproximar a Europa desse objetivo”.
De acordo com o comunicado publicado, uma nova abordagem estratégica deve ser empregada, centrada no apoio às pessoas que sofrem de problemas de saúde mental e em políticas de prevenção ao suicídio. É baseada em três princípios aplicados a todos os cidadãos pertencentes à União Europeia:
“i) ter acesso a uma prevenção adequada e eficaz, ii) ter acesso a tratamentos e cuidados de saúde mental de elevada qualidade e a preços comportáveis, e iii) ser capaz de se reintegrar na sociedade após a recuperação”.
Também foi observada a necessidade de prevenção à saúde mental ligada às mídias sociais, abordando a preocupação sobre como os mais jovens estão propensos a sofrerem situações de estresse mental em consequência do uso indevido das mídias digitais.
Doenças mentais são fator de risco
As causas que podem levar um indivíduo a pensar em praticar o suicídio podem ser diversas, como os fatores biológicos, culturais e sociais, no entanto, os transtornos ou traumas mentais são os mais comuns. Pessoas com depressão, traumas de infância, abuso, violência ou discriminação estão mais propensas a cometerem suicídio, de acordo com especialistas da área de saúde mental.
Situações inesperadas também podem acarretar os riscos de suicídio, como a perda de alguém, fim de relacionamentos, conflitos e condições financeiras.
Sobre as possíveis causas que levam ao suicídio, Josiane Peluccio diz que, muitas vezes, as pessoas entendem que isso está relacionado a fatores da saúde mental, como depressão, ansiedade, esquizofrenia, entre outros.
“E sim, são alguns fatores de riscos que podem contribuir para essa caminhada, inclusive desenvolver uma depressão da genética. O histórico familiar, uma ansiedade crônica, estresse crônico, sedentarismo e dieta desregrada, as disfunções hormonais, tudo isso está correlacionado”, comenta.
Já com relação à iniciativa de pessoas que desejam tirar a própria vida, ela comenta:
“Nós precisamos olhar para esse momento de vida. Muitos fatores como a desesperança, a pessoa achar que ela está num beco sem saída, quando ela está em um momento de dor. A cena do desespero, de pensar que talvez a morte seja uma opção, essa pessoa, de fato, ela não quer morrer, e sim resolver o problema da dor”.
Se você precisar de ajuda, saiba que pode contar com apoio e suporte na prevenção ao suicídio. Em Portugal, fale com o SOS Voz Amiga através do telefone 213 544 545. No Brasil, você pode contar com o Centro de Valorização da Vida, que pode ser contactado pelo número 188.