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Cesar Barroso

Colunista

Jornalista, fotógrafo comercial e de arte, viajante, leitor ávido, autor de "Quatorze Dias em Portugal" e "South Beach on Foot", cozinheiro amador, praticante de ioga e meditação zazen, ficcionista. Pode ser encontrado no Instagram @cesar_barroso.

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Viagem de um aposentado brasileiro pela Europa: parte 2

O Erick Gutierrez, fundador do Euro Dicas, em seu simpático e inteligente e-mail de apresentação da primeira parte desta viagem, escreveu: “Deu bom! Mas também teve perrengue”. Sim, Erick, mas perrengue para valer só houve no dia em que eu saí de Alicante para Tallin, um dia que começou mal e terminou pior, a ponto de eu ter taxado 16 de junho de 2022 como “um dia como nenhum outro”. Deixarei para o final deste artigo o relato dos acontecimentos. Veja agora o relato da segunda parte da viagem de um aposentado no verão da Europa. Tallinn Acordei tarde da minha primeira noite de sono em Tallin. “Noite” é força de expressão, pois em junho não há noite em Tallinn, apenas um leve escurecimento. “Aqui estou eu, sobrevivente”, pensei, “em Tallin, uma cidade que até há poucos meses eu não pensava em visitar”. O plano inicial era vir sem marcar passagem de volta, pensando em passar uma semana em Tallinn e depois descer via terrestre pelos países bálticos, Latvia e Lituânia, até alcançar a Polônia, norte da Alemanha e Dinamarca. Imaginava que faria este tour em um mês e meio, talvez dois. [caption id="attachment_132830" align="alignnone" width="750"] Praça principal do Centro Histórico de Tallinn. Foto de Cesar Barroso.[/caption] Aconteceu, porém, que fui levado a mudar de ideia e marcar passagem para o norte da Itália para dez dias após a minha chegada a Tallinn. Então, dividi ao meio esses dias no norte da Europa: cinco dias para Tallinn e cinco para Helsinque, que eu alcançaria por ferry, através do Mar Báltico. Quem sabe no ano que vem farei o que havia planejado para este ano...pensei. A Estônia hoje em dia Nada como colocar o pé no chão para começar a mudar a opinião sobre um lugar. Eu pensava que, por ter feito parte da União Soviética, a Estônia cortara todas as relações com a Rússia após a queda do muro. A questão é que a vida das pessoas não segue a par e passo os acontecimentos políticos. Durante os anos comunistas, houve imigração intensa em ambas as direções, e hoje há muitas famílias russas que vivem na Estônia e vice-versa, as quais não querem voltar para os países de seus avós. Os jovens consideram sua terra o lugar onde nasceram e estão crescendo e criando vínculos de amizade. Conservam as línguas de origem dentro de suas casas, mas fora de casa, são cidadãos estonianos ou russos. No geral, porém, os estonianos mantêm reserva quanto à Rússia, o que, convenhamos, é compreensível. Quando perguntei ao Jakub (o estudante tcheco que dividia comigo o apartamento) onde havia um supermercado, ele respondeu; “tem uma feira diária e um supermercado russos logo ali adiante”. “Russos?”, eu perguntei admirado. “Sim, russos. As relações entre os dois países são seculares”. Eu fui lá. Acho que, por razão da guerra e de eu estar levando a minha câmara fotográfica pendurada ao pescoço, não fui bem recebido. Uma feirante deixou claro, levantando e abaixando os braços atabalhoadamente, falando alto em russo, que não queria fotos ali. [caption id="attachment_132831" align="alignnone" width="750"] Casa tradicional em Kadriorg, em Tallinn. Foto de Cesar Barroso.[/caption] Saí rápido, não sem antes tirar umas poucas fotos, inclusive a de um caixote de castanhas-do-Pará vendidas a 20€ o quilo, e anunciadas como provenientes dos Estados Unidos! Deixo claro que admiro o povo russo por sua resiliência, sua literatura, sua música clássica, seu balé, mas, fazer amigos, não é o forte deles. Tallinn é diferente Tallinn não é uma cidade do tipo a que estamos acostumados. O lindo centro histórico da cidade concentra bares e restaurantes. Fora dali, é difícil encontrar um bar ou restaurante, ou mesmo outros tipos de comércio. Há shopping centers, mas todos os que eu vi estavam ao redor do centro da cidade. Diga-se de passagem, nem mesmo é uma cidade grande: tem pouco mais de 400 mil habitantes (como Porto e Gaia juntas). Coincidentemente, os preços dos alimentos nos supermercados e dos aluguéis são parecidos com os de Portugal. Voltando ao centro da cidade: é lindo. As ruas são calçadas com pedras, os palácios, mansões e igrejas são majestosos alguns enquanto outros parecem bibelôs. Vale ressaltar que, além da Rússia, a Suécia também governou a Estônia, e a Alemanha manteve empórios comerciais no país, todas por longos períodos. [caption id="attachment_132846" align="alignnone" width="750"] Torres Medievais em Tallinn. Foto de Cesar Barroso.[/caption] Estes relacionamentos passados têm forte ingerência no presente da Estônia, o que ficou claro para mim na visita que fiz ao Museu de Arte KUMU, visita obrigatória para o turista que quer entender melhor a sociedade e as artes estonianas através dos tempos. Sim, no centro da cidade estão as maiores atrações de Tallinn, mas eu gostei muito também de um parque enorme que abriga residências suntuosas, palácios, os museus e a praia, o Kadriorg. No Kadriorg estão, além do KUMU, um palácio que lembra o prédio do Museu Hermitage de São Petersburgo. Ele foi construído por Pedro o Grande, czar da Rússia, há trezentos anos. O palácio abriga atualmente o Museu de Arte. Perto, está a casa de verão despretensiosa que Pedro o Grande construiu antes do palácio, o qual não habitou por ter morrido antes de sua conclusão. [caption id="attachment_132835" align="alignnone" width="750"] Jardins do Museu de Arte. Foto de Cesar Barroso.[/caption] A praia, no mar Báltico, é bonita, com areias brancas. Mulheres de bikini, algumas topless, se bronzeavam, à temperatura de 16ºC! Os jardins do Kadriorg estavam floridos, e mamães passeavam com seus bebês nos carrinhos. Acho que a Estônia não segue a tendência europeia de não ter filhos ou ter apenas um, pois nunca vi um lugar com tantos carrinhos de bebês pelas ruas. Em suma, gostei muito da cidade, lamentei não ter passado ali no mínimo uma semana, e recomendo aos leitores do Euro Dicas que a visitem. “Sou Tricolor de Coração...” Estava eu caminhando em direção ao centro de Tallinn, quando cruzou por mim um homem jovem com o escudo do Fluminense na camisa. Voltei e cumprimentei: -“Boa tarde, tricolor!”. Ele abriu um sorriso enorme: - “Também é tricolor?”. Tomei coragem e declarei-me vascaíno. Rimos juntos. O Fábio é dessas pessoas simpáticas que a gente tem logo vontade de travar conhecimento e continuar em contato. Dei-lhe o meu cartão, e em poucos dias recebi um e-mail com o assunto “Encontro Inusitado com Tricolor na Estônia”. Fábio é carioca, tem 41 anos e formou-se no Brasil. [caption id="attachment_132838" align="alignnone" width="750"] É verão e os ciclistas saem para passear em Tallinn. Foto de Cesar Barroso.[/caption] Eu não poderia perder a oportunidade de informar aos leitores do Euro Dicas as impressões do Fábio sobre como é morar em Tallinn. Mas antes ele fala da sua formação profissional e experiências: Fiz o segundo grau técnico em Processamento de Dados, e ainda com 17 anos fiz vestibular para Análise de Sistemas, iniciei uma relação mais forte com TI e nunca mais larguei. A partir dali fiz diversos cursos de especialização, pós-graduação e MBA para me consolidar na carreira de Engenharia de Software. Iniciei como estagiário de TI em 06/2000 em uma empresa de médio porte na área de comunicação. Aprendi um pouco sobre jornalismo, clipping e assessoria de imprensa, mas sempre aplicando tecnologia para dar suporte a essas áreas. Ele permaneceu por 6 anos nessa empresa, saiu para uma nova oportunidade em uma fábrica de software com intuito de imergir ainda mais na área de desenvolvimento de sistemas. Depois migrou para grandes empresas em diversos segmentos, mas já tem alguns anos que tá trabalhando com TI no mercado financeiro, área em que atua até hoje. A mulher de Fábio tinha um filho de quatro anos quando eles se conheceram. “Estabeleci com ele uma relação de pai/filho/amigo, a ponto de ele trocar o Flamengo pelo Fluminense. Agora, com 27 anos, ele nos fez avós. Nosso filho de 16 anos mora conosco aqui em Tallinn. Minha família é o meu suporte.” Sobre imigrar, ele diz: Sempre pensei um pouco, bem de leve, lá longe... mas, não era algo que tinha como meta, ou seja, eu não ficava procurando vaga fora do Brasil e, caso surgisse eu iria avaliar e tomar a decisão. Como principais motivos acredito que os problemas no Brasil começaram a ficar mais gritantes de um modo geral, principalmente violência, alta de preços e desigualdade. Quando a oportunidade surgiu, viram com bons olhos unir o útil ao agradável. Para o seu caçula tem sido uma ótima oportunidade para aprender novas culturas, estudar em escola europeia, ter essa vivência que é totalmente diferente do que ele estava acostumado. Eles acreditam que isso será um benefício muito grande para ele, principalmente para o seu futuro profissional. Por que a Estônia? Quando a oportunidade surgiu foi pra vir pra cá. Já havia recebido outras propostas como de Portugal, por exemplo, mas financeiramente não foram atraentes para valer a pena tamanha mudança. Por outro lado, a Estônia é considerada o "Vale do Silício" da Europa em termos de tecnologia. Tudo aqui funciona muito bem e de forma eletrônica (e-pais). Logo, para nós que trabalhamos com TI, faz todo sentido. A sensação de segurança e a boa qualidade de vida associada ao trabalho são pontos fortes do país. Eles não gostam do inverno rigoroso que toma quase metade do ano com muita neve e muito frio. E nestas horas é que a saudade do Brasil se torna enorme! Sentem falta de tudo e todos, principalmente dos familiares e amigos. Gostam da cidade e da Europa em geral, mas ainda assim acham que o Brasil é o seu lugar. "Temos os nossos problemas como aqui eles também possuem os deles. São distintos, mas cada país possui seus prós e contras, temos que saber equilibrar para viver da melhor forma possível, seja qual for a escolha". O depoimento do Fábio poderá servir de incentivo e apoio para muitos leitores do Euro Dicas, eu acredito. Um dia como nenhum outro Pois é... acontecem certos dias... as mulheres americanas têm uma forma cômica para designar dias maus - “bad hair day” – um dia em que nada dá certo, como aqueles em que, por mais que elas façam, o cabelo não se ajeita. Pois o dia 16 de junho de 2022 ficará na minha história como um “bad hair day”. As coisas incríveis que aconteceram nesse dia estão ligadas à viagem para Tallinn, com escala em Estocolmo, partindo de Alicante. Eu comprara a passagem com três semanas de antecedência numa agência online que utilizo há anos, a Cheapoair. Não me lembro se foi ou se não me foi oferecida a opção de adicionar no preço da passagem da Norwegian Air Shuttle a minha maleta (a mochila está incluída automaticamente no preço básico). O espanto com o custo da bagagem O certo é que, quando fui mais tarde verificar minha reserva no site da Norwegian, uma empresa de baixo custo, notei que eu teria que pagar 12€ extras pela maleta, por cada perna da viagem Alicante/Estocolmo/Tallin. Tentei pagar os 24€, mas não pude. A informação é que teria que fazê-lo através da Cheapoair. Telefonei para a Cheapoair e eles disseram que teriam que pedir autorização à Norwegian para fazê-lo. Eles me deixaram esperando longo tempo ao telefone e voltaram com a informação de que não tinham conseguido falar com a empresa aérea. Tentei no outro dia, e no outro dia também, até perceber que as duas empresas estavam me pondo na roda com o intuito de que eu pagasse 30€ por perna da viagem, que era o preço que a Norwegian cobrava no check-in no aeroporto. Fiz mais algumas tentativas mesmo sabendo que não conseguiria resultado. Este tipo de artimanha irrita a qualquer um. O voo (ou quase) Pois bem, o voo no dia 16, saía às 06:00h. Convenhamos que acordar às 02:40h não é um bom começo para o dia de ninguém. Um táxi previamente reservado me levou para o aeroporto. O salão de partidas estava na penumbra e algumas pessoas já esperavam sonolentas pela abertura do check-in. Na hora que a atendente me cobrou os 60€, esperneei, disse que era um roubo, mostrei um diálogo online com a empresa que imprimi, pedi desconto, mas não houve jeito: tive que pagar os 60€. Quando eu ia saindo com a maleta, a atendente disse que “maleta paga no aeroporto tem que ser despachada”. Esperneei mais uma vez, mas, de novo, não houve acordo. Lá foi a maleta na esteira. Comigo ficou apenas a mochila de fotografia. Outro susto: esse foi maior ainda Ao chegar no portão de embarque um estremecimento se apossou de mim. Tive que sentar para não cair: esquecera que na maleta estavam todos os meus cartões de crédito (menos um, que estava no bolso e com o qual eu pagara os malfadados 60€), cartão de saúde, carteira de motorista e 330€). Fiquei aterrorizado por alguns minutos com a possibilidade do extravio da maleta, que eu nem recolheria em Estocolmo, mas em Tallinn. [caption id="attachment_132849" align="alignnone" width="750"] Tallinn também tem prédios muito modernos. Foto de Cesar Barroso.[/caption] Apliquei então a regra de ouro para essas situações: tomar uns goles de água, respirar fundo e silenciar a mente à espera do aparecimento de uma solução. Como resolver? Atrás do balcão do portão de embarque, meio escondidas, estavam duas funcionárias da Norwegian. Fiz uma cara de sofrimento e falei baixinho para uma delas que havia me esquecido na maleta um remédio que eu precisava tomar sem falta durante o voo, caso contrário eu poderia ter um pico de pressão. Ela perguntou se eu realmente precisava tomar o remédio, e respondi que era imprescindível. Pelo rádio, ela entrou em contato com o chefe de pista e pediu minha maleta. Agradeci muito e minha ansiedade diminuiu. Mas, começou o embarque, e nada da maleta chegar. Finalmente fui chamado por um senhor sorridente de macacão que me levou à porta do avião, onde estava a maleta. Tirei a pochete e lhe disse que ali estava um remédio. Ele sorriu e levou a maleta de volta para o compartimento de carga. Resumo do dia O jogo estava um a um, mas a partida apenas começava, e o gol do adversário me deixara abalado. Sentei, fechei os olhos, e só acordei em Estocolmo, às 10:00h. O voo para Tallinn sairia dez horas depois. A chegada em Estocolmo não ajudou nada Me esperava na saída do avião um conhecido de outras paragens e que agora morava há uns dez anos em Estocolmo. Não darei detalhes, embora eu esteja seguro que estas linhas não chegarão até ele, que nem lê português. Levei da Espanha uma caixa de bombons para ele e família. Como havia uma espera de dez horas, eu contava que ele me desse dicas de como chegar até o centro da cidade para um tour, ou mesmo que me levasse em seu carro e eu lhe convidaria para o almoço. Mas não foi bem assim... Depois de deixar claro que tinha pouco tempo para mim, tudo o que ele fez foi me desencorajar. Levou-me para comprar um ticket de um tal de Arlanda Express, um trem que em 18 minutos me deixaria no centro da cidade, mas cuja passagem de ida e volta custava 55 dólares. Eu disse que não pagaria aquela quantia ridícula. Perguntei por uma alternativa, mas ele disse que seria melhor eu ficar no aeroporto, pois na volta poderia encontrar uma fila de “quatro horas e meia” para passar pela segurança. Assustei-me. E após este susto, ele me deu ciao e desapareceu na multidão. Resignei-me, então, a ficar no aeroporto. Teria a vantagem de eu não me cansar muito, pensei. Foi um erro. A espera infinita no aeroporto Aeroportos são lugares estressantes, e o de Estocolmo não é exceção. Milhares de pessoas entravam e saiam, nenhuma de máscara, eu usava a minha máscara. Deu fome, pois a bordo não se serviu nada, e eu não havia jantado no dia anterior por causa de uma pequena indisposição intestinal (segundo o motorista do táxi de Alicante, não se deve beber da água das torneiras de lá). Entrei numa pizzaria. Um breve papo com o pizzaiolo italiano Ângelo foi o suficiente para a preparação de uma Margherita caprichada, ao preço de 140 coroas suecas, cerca de 14€. Elogiei a pizza e fiz o Ângelo começar o dia feliz. A partir daí, foi um desgaste. Sentava aqui, sentava ali, o tempo não passava. Entrava a saía gente aos borbotões. Vi desfilarem diante de mim milhares de suecos, de todas as tribos vikings havidas e por haver. Gente nova, gente velha, quase todos louros. O meu voo para Tallinn estava no telão desde cedo, com saída prevista no Portão 16. Eu entrava nas mesmas lojas várias vezes, num processo neurotizante. Mas nem tudo é ruim... Por volta das 16:00h, tive uns momentos de alívio. Sentei-me ao lado de dois casais com complexão física do Oriente Médio, na faixa de idade de cinquenta e tantos, acompanhados de seis jovens na faixa de idade entre 17 e 23, eu imaginei. Falavam uma língua estranha, que ora parecia árabe, ora uma língua escandinava. Tomei coragem e me dirigi a uma das jovens, receoso de que fossem de alguma cultura em que estranhos não podem se dirigir a mulheres. Ela parecia esperar a minha aproximação. Perguntei-lhe que língua falavam. “Falamos uma mistura de sueco e aramaico.. Aramaico era a língua que Jesus falava.” E como vieram parar na Suécia, perguntei. Não temos país, e nossos pais ainda jovens foram recebidos na Suécia como refugiados. Vivemos numa cidadezinha onde formamos uma comunidade. Nós, jovens, criamos nossa língua misturando aramaico com sueco. Eu acabo de me formar em direito. Quero através do meu trabalho devolver a este país, à sociedade sueca, tudo de bom que nos tem dado. Eu admirava a mentalidade daquela morena que aliava à beleza física o sentido de responsabilidade social. Ia pedir para fotografá-la, mas poderia ser tomado como um abuso pelos seus pais. Perguntou-me para onde eu ia. Ela disse que conhecia Tallinn e que certamente eu gostaria de lá. Devolvi-lhe a pergunta, e me disse que iam passar férias na ilha grega de Corfu. Perguntei-lhe se tinha visto a série televisiva inglesa “The Durrells in Corfu” e me respondeu que sim. Estava na hora de seu voo. “Espero que tenham umas belas férias”, eu disse. Chegar a Tallinn foi uma odisséia A partir daí, eu não via mais a hora de entrar naquele avião da Norwegian e partir. Olhei de novo o telão: lá estava o Portão 16 confirmado. Duas horas antes da partida do voo, comi um sanduíche com café com leite, e me dirigi para as imediações do Portão 16. As pessoas foram chegando, formou-se uma aglomeração e depois uma fila. Foram chamados os grupos para embarque. O meu era o último. Coloquei o código de barras do cartão de embarque debaixo do leitor, e foi rejeitado. O que aconteceu? A atendente pediu para ver o cartão. “Este voo não é para Tallinn, é para Oslo. O portão de embarque do voo de Tallinn foi mudado”. Aflito, perguntei qual era o novo portão. “É o 14”, ela respondeu. Corri para o 14. O voo já havia partido. Um momento de desespero, sim Pela primeira vez em minha vida adulta eu tive vontade de sentar no assoalho, esmurrar o chão e chorar aos berros. Minha autoestima baixou a zero, e eu olhava ao redor para ver ser alguém tinha pena de mim. Algum tempo se passou, não sei quanto, até eu aplicar pela segunda vez num dia a regra de ouro. Sentei, fechei os olhos, tomei um gole de água e esperei uma solução, que veio aos poucos: eu não dormiria numa cadeira daquele aeroporto de jeito nenhum; eu não telefonaria para aquela pessoa pedindo ajuda de jeito nenhum; eu chegaria a Tallinn naquela noite de qualquer maneira, nem que fosse no ferry da meia-noite. Dirigi-me ao fatídico telão de partidas. Um último voo para Tallinn, da SAS, sairia dentro de quarenta minutos. E a maleta? O protocolo manda que sejam retiradas do avião as maletas de passageiros que não embarcaram. Corri para o local das esteiras das malas. Jogada num canto, lá estava a maleta. [caption id="attachment_132842" align="alignnone" width="750"] Foi o último voo da SAS que me levou de volta a Tallinn.[/caption] Corri à procura do balcão da SAS. Uma senhora idosa me atendeu: “Temos só um lugar no avião”, ela disse. Mandei emitir o ticket sem perguntar quando era. Eu pagaria qualquer dinheiro para ir embora, mas na hora em que eu vi a conta, doeu: US$330.00. Isto mesmo, US$330,00 para um voo de uma hora na última cadeira de um avião pequenininho. Saí correndo para o portão de embarque, com o coração saindo pela boca. A aeromoça adivinhou a minha odisseia e trouxe-me água e café, assim que sentei. “É por conta da casa”. Sorri e agradeci, achando que por conta dos 330 dólares eu mereceria também um cafuné que me fizesse dormir. Enfim... Tallinn O pequeno aeroporto de Tallinn estava vazio. Meus olhos liam no celular o número do bonde que eu teria que pegar até o apartamento Airbnb, mas meus neurônios negavam conexão. O bonde era o #4 mas os neurônios repetiam que era o #5. Perguntei em espanhol a uma senhora se para a Tartu Maantee era o bonde #4 ou #5. Para meu espanto, ela respondeu em espanhol (ou será que foi uma alucinação?). que era o #4. Jakub teve que me buscar na parada do bonde porque eu já não tinha forças para mais nada, muito menos para encontrar um número na entrada de um prédio. Tomei um banho, caí na cama, fechei os olhos e pensei: “Cesar, não se culpe pelo que aconteceu. Há dias e dias. Durma sossegado. Amanhã você acordará em Tallinn”. Veja a coluna em que relato a preparação e a primeira parte da minha viagem. *As opiniões dos colunistas não refletem necessariamente a opinião do site Euro Dicas.

Vista de Alicante
Brasileiros na Europa Europa

Viagem de um aposentado brasileiro pela Europa: leia o relato

O verão europeu é uma época muito esperada por quem gosta de viajar e comigo não é diferente. Veja como foi a minha preparação e o relato da viagem de um aposentado brasileiro pela Europa no meu primeiro destino: Alicante, na Espanha. A viagem de 2022 do aposentado: a preparação Todas as viagens exigem preparação, e esta, por ser longa e revestir-se de circunstâncias especiais, mais ainda. A um mês da partida eu já estava agindo, principalmente porque teria que entregar o apartamento alugado de Vila Nova de Gaia. Mesmo sendo adepto do minimalismo, ainda carrego coisas das quais, espero, me livrarei aos poucos, mas ainda não. Escolha do armazenamento de bens pessoais Procurei um local para guardar as quatro malas onde estoco tudo o que tenho. Parece fácil, mas não é, decidir o que jogar fora, o que levar na viagem, e o que deixar no guarda-malas. Poderia pedir a um amigo para guardar minhas coisas, mas seria um abuso entulhar com quatro malas grandes a casa de alguém. Falei pelo telefone com duas empresas guarda-móveis. Decidi-me pela Moovax por causa do preço: 21€ por mês. Fui antes lá fazer uma visita. Fechei o contrato com vinte dias de antecedência, a começar a primeiro de junho. A partida estava marcada para 8 de junho, de forma que tinha bastante tempo para entregar as malas e encontrar um meio de fazê-lo. Preocupava-me também em como distribuir o peso nas quatro malas porque teria eu mesmo que descê-las pelas escadas. Poucos dias antes do embarque, o senhor Guilherme e a senhora Lina gentilmente levaram comigo as malas para a Moovax em sua van. Uma maleta samsonite com documentos importantes e algumas lentes fotográficas, eu deixei guardada com o meu jovem amigo Izaías Mendes. A in(certeza) da decisão Às vezes eu acordava no meio da noite com a sensação de que esta viagem seria uma loucura, que eu deveria ficar quietinho em Gaia e assistir à famosa festa de São João, mas o meu espírito aventureiro dominou e eu procurei pensar como seria bom mudar de ares por quase dois meses e depois voltar para Gaia com outras perspectivas. Mas a premonição de que coisas desagradáveis aconteceriam era persistente. Sozinho. Viajo mais uma vez sozinho. Não é a forma ideal de viajar, na minha idade. Deveria ter encontrado companhia, mas nem tentei. Estou gostando da solidão, mas viajar acompanhado é mais seguro e confortável: ter com quem conversar, dar cobertura um ao outro no cuidado com a bagagem para ir ao banheiro num aeroporto, ou entrar na água numa praia deixando a mochilinha na areia. A grande vantagem de estar sozinho, repito sempre, é fazer os próprios horários, ou simplesmente não ter horários, o que é quase impossível quando acompanhado. [caption id="attachment_130730" align="alignnone" width="750"] Entrada do Museu Arqueológico de Alicante. Foto Cesar Barroso.[/caption] Haverá problemas, eu sei. Todas as viagens têm problemas. Quem sai para o desconhecido encontrará problemas, principalmente nestes tempos de pandemia e de guerra. Mas não encontramos problemas também no nosso dia-a-dia? E também, não é a viagem mais excitante e cheia de descobertas do que o dia-a-dia? Empresas aéreas de baixo custo Estas empresas exigem um certo cuidado ao comprar os bilhetes online. Uma desatenção pode resultar num custo maior. Explico: em geral, o preço básico admite uma mochila de tamanho médio como única bagagem. Qualquer outra bagagem é adicionada ao preço básico, e se você não o fizer online, pagará muito mais caro no aeroporto. Meus conselhos com relação a estas empresas são: Não compre as passagens através de uma agência de viagem online; compre diretamente no website da empresa aérea; Ao comprar, esteja seguro das dimensões e dos pesos de suas malas; caso contrário, terá que pagar mais no aeroporto: Faça o check-in online. Um conselho importante: atenção à bagagem incluída Baseio meus conselhos numa experiência ruim que tive com a Norwegian Airlines, no voo de Alicante para Tallinn, via Estocolmo. Comprei a passagem através de uma agência de viagens e esqueci-me de incluir a maleta que levo dentro da cabine. Era uma arapuca: quis fazê-lo posteriormente online, ao custo de 12€, mas a agência e a Norwegian fizeram um jogo de empurra (evidentemente já combinado) e não me permitiram comprar online, e no aeroporto tive que pagar 60€, 30€ por cada um dos voos. Esperneie, xinguei, mas não houve jeito. A passagem, que originalmente custara 90€ teve o custo final de 150€. Serviu-me de lição. Da próxima vez serei mais cuidadoso. Outro conselho: observe o portão de embarque Um outro cuidado importantíssimo, que diz respeito a voos em qualquer empresa aérea, é a atenção aos portões de embarque, que às vezes são trocados à última hora. Todos sabemos a dor de cabeça que é perder um voo. Airbnb Utilizo muito o Airbnb em minhas viagens. É uma boa opção de alojamento, contanto que se tome bastante cuidado na escolha do imóvel. Há que se ter paciência e gastar tempo para encontrar o lugar certo para se alojar. Leia as opiniões dos hóspedes anteriores, procure no mapa o lugar exato do imóvel e como chegar lá. Faça perguntas ao anfitrião sobre transporte público, supermercados, distância para o aeroporto ou estação de trem ou de ônibus, Wi-Fi, se terá acesso à cozinha, e tudo mais que precisará saber para evitar surpresas desagradáveis. A gente tem que procurar criar um relacionamento amigável com o anfitrião para tornar a nossa hospedagem o mais agradável possível. Evidentemente, o preço permitindo, prefiro ficar num imóvel todo para mim. Alicante Passei por Alicante no verão de 1970. Só passei, de carro, ao raiar do sol, indo de Torremolinos para Tarragona. O sol era uma bola de fogo colossal envolvido na bruma da manhã, que nunca mais esqueci. Volto agora, quase que por acaso, pois seu enorme aeroporto é de onde sai o voo da Norwegian - empresa aérea de baixo custo que o escolheu como base de operação na Espanha -, com destino a Tallin, Estônia, minha próxima parada. [caption id="attachment_130732" align="alignnone" width="750"] Catedral de Alicante. Foto: Cesar Barroso.[/caption] O acaso não poderia ser mais benigno, pois Alicante é uma bela cidade. Depois de dois dias, concluí que ela resume tudo de bom que tem a Espanha, país que conheço razoavelmente bem. Tem um pouco de Barcelona, de Madri, de Cádiz, de San Sebastián. O passeio marítimo – Paseo Gomiz - é um lugar mágico, com altas palmeiras, bancos, e a brisa fresca que vem do oceano. Há centenas de bares onde milhares de turistas de todos os países do norte da Europa consomem cerveja acompanhada de petiscos, as tapas de presunto cru e frutos do mar. Os preços desta área são... turísticos, mas perto encontrei o D’Tablas, na rua Rafael Altamiras, 8, um ambiente frequentado mais por espanhóis e, consequentemente, com melhores preços. Meus dias em Alicante Meu Airbnb era perto do terminal ferroviário, e, a pé, eu tinha acesso ao melhor de Alicante, inclusive à praia del Postiguet, onde fui me batizar no segundo dia. Antes de seguir para a praia, entrei numa loja chinesa para resolver um dos problemas de viajar sozinho: comprar um recipiente plástico fechado hermeticamente, para entrar na água com dinheiro, telefone celular e cartão de crédito. Custou apenas 2,5€. [caption id="attachment_130728" align="alignnone" width="750"] A praia em Alicante. Foto: Cesar Barroso.[/caption] Com ele no bolso do calção, saí procurando na areia quem pudesse ficar com a sacola onde eu levava outros apetrechos, como boné, bronzeador, caderninho de anotações, etc. Escolhi uma simpática senhora idosa e sua filha, que aceitaram com um sorriso o encargo. Confiei tanto que coloquei na sacola também o recipiente com o dinheiro, o celular e o cartão de crédito. Cair nas águas mornas do Mediterrâneo depois de um longo inverno foi como entrar no paraíso. Delícia total. Veio-me à mente todos os que lutaram, sobreviveram e morreram no Mare Nostrum, seja como pescadores, marinheiros, guerreiros ou passageiros, muitos deles meus antepassados. Museus e viagem de trem Fiquei emocionado com alguns quadros de um museu - Museo de Bellas Artes Gravina (MUBAG), à rua Gravina, 16. São proibidas fotos, e eu não consegui ler os nomes dos pintores, pois estava sem os óculos, razão pela qual apenas recomendo aos leitores do Euro Dicas que forem a Alicante que o visitem pessoalmente ou ao seu site para terem um vislumbre de seu acervo. Passando na Praça de Los Luceros, vi uma escada rolante que descia para o que parecia ser uma estação de metrô. Desci para curiosar. É uma estação do Tram, veículo de bitola estreita para ligar localidades na Comunidade Valenciana. Em três minutos partia um Tram para Benidorm. No guichê, recebi a grata notícia que é grátis aos domingos, e era domingo. A viagem de uma hora e vinte minutos até Benidorm é linda pelas vistas do oceano à direita e das montanhas à esquerda. Há que se observar também as casas de veraneio que vão das simples às mais sofisticadas. [caption id="attachment_130725" align="alignnone" width="750"] Plaza de Los Luceros, em Alicante. Foto: Cesar Barroso.[/caption] Benidorm tem uma arquitetura que não agrada aos olhos, mistura de anos 60 com alguns prédios modernosos. Salta aos olhos que perde muito em relação a Alicante, mas a praia é bonita. Eu não poderia deixar de visitar o famoso Museu de Arqueologia de Alicante (MARQ), que tem uma imensidão de peças que cobrem a história da região desde a pré-história, muito bem organizadas e belamente apresentadas. A entrada custou-me menos de 2€. Em seguida, caminhei até o Museu de Arte Contemporânea. Este tipo de arte não é a minha preferida pois não consigo alcançar o que a maioria desses artistas quer expressar, se é que querem expressar alguma coisa. O último dia em Alicante No último dia de minha estada visitei a principal atração turística da cidade, o Castelo de Santa Bárbara. De cima de seus 166 metros, têm-se vistas deslumbrantes de 360º de toda Alicante. [caption id="attachment_130719" align="alignnone" width="750"] A cidade de Alicante vista do Castelo de Santa Bárbara. Foto: Cesar Barroso.[/caption] O castelo foi parte importante da defesa de Alicante em diversas ocasiões de sua história de luta para sobreviver a ataques de toda a sorte. Depois de uma semana em Alicante, parti para Tallin, capital da Estônia de onde vou continuar o meu relato de viajante brasileiro aposentado pela Europa. Leia também o meu relato da segunda parte dessa viagem e sobre a vida no Porto para os aposentados.

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Brasileiros na Europa Portugal

Negócios com carros dos brasileiros em Portugal: veja histórias

É voz corrente que brasileiro não ajuda brasileiro no exterior. Eu diria que isto é parcialmente certo, principalmente se compararmos com algumas outras nacionalidades. Mas, entre os brasileiros que trabalham na compra e venda de automóveis, lanternagem e oficina mecânica, eu encontrei um ambiente de ajuda e camaradagem. Todos indicam pessoas de outras empresas para serem entrevistados, a tal ponto que sobrou assunto para este artigo sobre os negócios com carros dos brasileiros em Portugal. Família que vende unida Se a pandemia interrompeu e desarrumou a vida particular e negocial de muitas pessoas, também é verdade que ela incentivou a criação de novos negócios e associações. Pois foi este o caso dos irmãos Michel Bispo e Danielle Bispo, e seus respectivos esposos, Priscila Bispo e Marco Baldacci. O que faziam eles antes da pandemia? No Rio de Janeiro, Danielle, arquiteta, trabalhava em projetos portuários, e seu marido Marco, italiano de Rimini, cidade à beira do mar Adriático, terra natal de Federico Fellini, era controller da Alfaparf, uma empresa milanesa de produtos para o cabelo. Mas, antes de vir para o Porto, Danielle e Marco viveram em Bolonha, Itália, de 2016 a 2019, quando ela passava as suas experiências gastronômicas para os leitores do seu blog A bolonhesa, e Marco trabalhava na fábrica de tintas e vernizes Colorifício San Marinesi, em San Marino. Também no Rio de Janeiro, Priscila Bispo, que é nutricionista, trabalhava na Danone, e seu marido, Michel Bispo, que já negocia com carros há muitos anos, tinha e ainda mantém uma revendedora de veículos na Ilha do Governador, na Baía de Guanabara, chamada Classe A Veículos, negócio que herdou do pai, falecido em 2000. O começo do negócio em família Juntaram-se, pois, os quatro, e sob o comando experiente do Michel Bispo, abriram a Bispo Automóveis, em Matosinhos, Porto. Quando abriram? Justamente poucos dias antes da pandemia da Covid-19 estourar e parar o mundo. “Foi o pior começo possível”, declara Danielle. “Começamos do zero e não podíamos sair do zero com todas as restrições sanitárias da quarentena. Agora, está dando certo”, ela acrescenta, “com a tática da margem curta e preço baixo”. [caption id="attachment_129806" align="alignnone" width="750"] Marco, Danielle, Priscila e Michel, os fundadores da Bispo Automóveis. Imagem: Cesar Barroso[/caption] As funções na empresa estão divididas da seguinte forma: Michel: compra e venda de automóveis e relacionamento com os clientes; Marco: venda de automóveis e relacionamento com clientes; Danielle: financeiro e marketing; Priscila: administração e legalização dos automóveis. A Bispo Automóveis vende carros pequenos, novos e de pouco uso, de dois ou quatro lugares apenas, importados da Holanda, França, Bélgica e Alemanha, e carros portugueses. O carro mais vendido é o Smart de quatro lugares, que faz 22 quilômetros por litro de gasolina. A Bispo Automóveis fica na Estrada da Circunvalação, 7234, Porto. O processo de compra de veículos em Portugal Pedi à Danielle Bispo que explicasse para os leitores do Euro Dicas como é o processo de compra de um automóvel em Portugal e quais os impostos que incidem sobre a transação. Dou-lhe a palavra: O cliente pode comprar seu automóvel presencialmente ou via Internet. Presencialmente, à vista Após escolher a viatura de seu gosto, o cliente dá um sinal de reserva (a combinar), deixa a cópia do documento de identidade e comprovante de morada (endereço), para a preparação da documentação, que, quando pronta, é o bastante para o cliente fazer uma transferência bancária do restante do pagamento e buscar o seu automóvel. Financiado O cliente tem que disponibilizar cópias dos seguintes documentos: cartão de cidadão (carteira de identidade portuguesa) ou escritura de imóvel próprio. Se casado, precisa mandar o cartão de cidadão da esposa/marido, cópia dos três últimos recibos de salário, comprovante de residência, que pode ser conta de luz ou água ou de telefone, sem débitos ou dívidas. Ainda mais: comprovante do NIB (Número de Identificação Bancária) extraído do homebanking ou de uma máquina de multibanco (caixa eletrônico), último comprovante de entrega do imposto de renda e contato telefônico. Em muitos casos o financiamento é aprovado em menos de um dia. Aprovado o financiamento, o cliente precisa vir ao stand para assinar o contrato de financiamento e esperar a anuência final do banco, após o que assina os documentos do veículo e o leva. Opção de compra online No caso da compra online financiada o procedimento é o mesmo acima, com a diferença de que entregamos a viatura diretamente na residência do cliente. Se a compra online for à vista, o cliente faz um depósito dos custos da viagem (que será descontado do preço final do carro), envia os documentos pessoais para prepararmos a documentação, marcamos a data da entrega e levamos o veículo até ele. Fechado o negócio, basta o cliente fazer a transferência bancária do valor restante e assinar os documentos. Nós tratamos da transferência de propriedade. O cliente não precisa se preocupar. O único imposto a ser pago é o Imposto Único de Circulação (IUC) que, no caso de nossos veículos, custa 103.23€. Tratamos também da aquisição do seguro obrigatório, que custa entre 180€/200€ por ano, dependendo dos anos da carta de condução (carteira de motorista) da pessoa. Eu e certamente todos os leitores do Euro Dicas desejamos boa sorte e bons negócios à Bispo Automóveis. Conheça os prós e contras de comprar carro na França. O alto luxo O ônibus me leva por lugares desconhecidos. De repente, surge o meu destino, uma loja com os carros mais famosos, de Lamborghinis a Ferraris, de BMWs a Mercedes, todos impecáveis nos mínimos detalhes. Estou no bairro de Avintes, Vila Nova de Gaia. O responsável pelo estado esmerado de todas estas belezas chegou logo depois: Rafael Marques Cruz, de 40 anos, que dividiu a sua infância e juventude entre São Gonçalo, no RJ, e Cataguases, em Minas Gerais, onde cursou técnica mecânica, o que o preparou para ir para o polo petrolífero de Macaé trabalhar na limpeza de peças para a empresa perfuradora americana Weatherford. Após alguns anos, voltou para Cataguases, onde foi durante três anos gerente de uma loja de eletrodomésticos. Em seguida, abriu um lava jato. “Meu interesse por carros é antigo, desde menino”, ele declara. “Enquanto exercia essas outras atividades, eu fazia cursos online de estética automotiva e também cursos presenciais no Rio de Janeiro e em São Paulo.” [caption id="attachment_129807" align="alignnone" width="750"] Rafael demonstra a colocação da película protetora da pintura. Imagem: Cesar Barroso[/caption] Especialização na preparação de carros usados Eu confessei ao Rafael que, até àquele momento, eu desconhecia que havia pessoas especializadas em técnicas de detalhamento na preparação de carros usados para revenda ou não. Eu sabia que os carros revendidos por lojas são limpos, por dentro e por fora, para dar uma boa impressão, mas nunca imaginei que havia cursos especializados para tornar carros, principalmente os de luxo, exatamente como novos ou melhor. Até cotonetes se usa na limpeza. “Com os conhecimentos adquiridos”, continua Rafael: Comecei em Cataguases a preparar carros para a revenda e postar no Facebook. Gente da Índia, Estados Unidos, Portugal, e de outros países começou a me fazer perguntas sobre como eu conseguia resultados tão impressionantes como os que mostrava. Entusiasmado, criei o Estúdio Rafamarques, o primeiro estúdio de estética automotiva de Cataguases. Comecei sozinho e em pouco tempo tinha cinco funcionários. O começo do negócio em Portugal Um de seus admiradores portugueses convenceu-lhe que havia um grande mercado para os seus serviços em Portugal. Rafael resolveu vender tudo o que tinha, em 2018, e tentar a vida no Porto com 2.500€ no bolso. Aqui, ele faz um parêntese em nossa conversa para dar um conselho para o brasileiro que chega em Portugal: As coisas aqui são muito baratas e a gente é tentado a comprar supérfluos antes mesmo de começar a faturar. Recomendo que tenham cuidado e não caiam na tentação do consumismo, principalmente nos primeiros meses. Eu caí, e passei alguns apertos. Nos primeiros dias, saía a pé ou de trotinete à procura de lojas de automóveis, pegando informações e vendo onde poderia me encaixar. Numa dessas saídas, encontrei na loja da Ferrari, na Boavista, o sr. Nelson Maurício, mecânico ali há 25 anos. Mostrei-lhe fotos do meu trabalho. Ele passou a dar-me serviço, além de me recomendar ao sr. Eduardo e ao sr. Rodrigues, da Paint Box, e ao sr. Marcelo, da Detalhe Completo, que se tornaram também meus clientes. Havia aí uma simbiose de interesses, porque a Ferrari mandava veículos sinistrados para a Paint Box. Início no Martelinho de Ouro Em 2020, Rafael passou a trabalhar na Martelinho de Ouro (Perfect Hammer), dos srs. Elino e Juninho, empresa que emprega uma técnica simplificada de conserto de amassados em automóveis. Ali, o Rafael complementava o trabalho principal da casa com polimento da lataria, higienização e detalhamento dos interiores dos veículos. Foi nesta época que ele adquiriu uma nova especialização, desta vez num produto sul-coreano mágico chamado PPF “paint protecting film” (película protetora da pintura) que, como o seu nome diz, mantém a pintura do carro intacta no caso de arranhões e pequenas mossas. Ele adicionou o ensino da técnica de aplicação desse produto às de detalhamento e assim ajudou a criar a Perfect Hammer Car Detail School, na qual em dois anos formou 81 alunos, vindos de todo o Portugal, da Suíça e da Alemanha, ao custo de 600€ cada um. Parcerias melhoraram o negócio Em fevereiro de 2022, o Rafael começou uma parceria com a famosa casa de automóveis de luxo, a Altamontra, onde nos encontramos pessoalmente. No seu Citroen reluzente (como não poderia deixar de ser), levou-me às oficinas, que ficam perto, onde tudo é top de linha. Ali tem também um show room menor para clientes VIPs, como craques de futebol, uma área de armazenamento de carros para clientes que não querem manter os carros em suas residências, ao custo de 300€ mensais, uma área para ministrar aulas, e a oficina propriamente dita, onde ele fez uma demonstração num simulador com a PPF que me deixou boquiaberto. O negócio funciona de verdade. A película aplicada pode ser da cor que o cliente escolher. Se for de cor diferente da anterior, pagará ao governo uma pequena taxa para a atualização da documentação do veículo. Assisti à colocação irretocável da película numa Ferrari. Cursos de formação Rafael começará em breve a dar um curso de um dia, ao custo de 199€, para ensinar como se coloca a película protetora de pintura, e também um outro curso, de três dias, ao custo de 600€, de detalhamento de preparação de veículos usados, para o qual já tem alunos inscritos de Zurique, Luxemburgo e de diversas regiões de Portugal. Ele pediu que eu informasse de sua gratidão a outro Rafael, Rafael Saenz, do Instituto do Carro, no Brasil, que foi o seu mestre, que tem mais de 40 instrutores das técnicas de detalhamento espalhados pelo Brasil. Em Portugal, Rafael é o único desses técnicos. Ele tem ainda a certificação IDA, do Massachusetts International Detailing Association. Os alunos de seus cursos estarão aptos a fazer a prova online do IDA e depois a validação prática (skill validation). Rafael tem dois filhos no Brasil, do primeiro casamento, João Pedro, de 16 anos, e Maria Cecília, de 9 anos, e vive no Porto com Tamires, com a qual já está de casamento marcado. O Martelinho de Ouro Uma chuva de granizo é uma catástrofe. Culturas são destruídas, casas são destelhadas, árvores caem, ruas se alagam. Os prejuízos são enormes para todos. Para todos, digo eu, mas menos para os técnicos do Martelinho de Ouro, uma técnica para recuperar a lataria dos carros bombardeados pelo granizo. E esses carros se contam aos milhares quando o granizo cai em algumas regiões da Europa. O martelinho se torna então o martelinho de ouro e da sorte para os seus técnicos. E aqui estão dois brasileiros sortudos, os criadores e donos do Perfect Hammer, uma empresa aqui do Porto, com ramificações em muitas regiões europeias. Mas o granizo é apenas uma das causas do sucesso do Perfect Hammer. Tem também aquele arranhão que o carrinho do supermercado, no estacionamento, faz na lataria de seu carro; a batida da porta contra uma mureta, ao sair do carro; o choque contra um outro veículo na hora de estacionar; enfim, uma série grande de ocasiões em que a lataria do carro fica feia por causa das mossas. O martelinho de ouro só não funciona em amassados maiores, de batidas a alta velocidade. Os criadores do Perfect Hammer E quem são eles, os criadores do Perfect Hammer, que estão há anos faturando alto com o infortúnio dos outros? Vou começar pelo mais jovem, jovem de apenas 32 anos, há sete anos em Portugal, conhecido como Juninho, João Carlos da Silva Bertoncini, filho de caminhoneiro (sr. Mário) e de uma gerente comercial (sra. Neide), que declara ter começado a trabalhar em carros na tenra idade de 10 anos, numa oficina perto de sua casa, em Santo André, estado de São Paulo. [caption id="attachment_129808" align="alignnone" width="750"] Juninho no escritório da Perfect Hammer. Imagem: Cesar Barroso[/caption] Seu segundo emprego foi na Benigno Martelinho de Ouro, do sr. Benigno. Neste mesmo ano (tinha então 16 anos) casou-se com Gislaine, com quem tem três filhos, Guilherme, de 13 anos, Hadassa, de 8 anos, e Caleb, de 2 anos. Aos 19 anos abriu a sua primeira empresa de martelinho de ouro em São Bernardo do Campo. Muito empreendedor, Juninho, ao mesmo tempo que mantinha seu negócio no Brasil, saiu pela Europa exercendo o seu ofício, principalmente em épocas de chuva de granizo. Trabalhou na Alemanha, França, Suíça, Itália e Espanha. A vinda para Portugal Desfez-se do negócio no Brasil e veio para o Porto em 2015, onde fundou junto com o Elino, seu sócio atual, o Perfect Hammer. Eles se conheceram na igreja Videira, à qual ainda pertencem. Juninho tem ainda uma loja de venda de carros usados, a Hangar 747, e uma empresa de marketing, a Infinity Produções. Pedi para ele informar aos leitores do Euro Dicas quanto custa para tirar uma mossa pequena de um carro. “Custa 40€, e um amassado maior entre 120/140€”, ele respondeu. ”Na maioria dos casos, o cliente fica esperando numa sala confortável com cafezinho à disposição, enquanto fazemos o serviço”. Parceria com outro brasileiro: a história de Elino A outra metade da maçã comercial do Juninho é o Elino, que é tido na comunidade brasileira como um grande exemplo de superação de dificuldades através do trabalho árduo e criativo. Ele mesmo assumiu o papel de pregador das virtudes da superação baseado nas dificuldades que passou nos primeiros meses em Portugal; meses tão duros que levaram a sua esposa à depressão e, sem ele saber, procurar as autoridades e pedir para ser deportada. Felizmente acabou tudo bem. Elino Fernandes Pereira tem 52 anos e é natural de Anicuns, cidade perto de Goiânia, filho de lavradores e lavrador na infância. Aos 13 anos foi trabalhar numa oficina de lanternagem em sua terra, e aos 18 transferiu-se para uma concessionária Fiat em Goiânia, onde aprendeu a utilizar o martelinho de ouro, no qual tornou-se mestre. A mudança de Elino para Portugal Confiante em sua maestria, Elino juntou 3.500€ e veio para Portugal em 2009, trazendo a esposa, Cláudia Aparecida, e os filhos Elino e Larissa. Jéssica, a filha mais velha, não veio. Acontece que Portugal vivia uma grave crise econômica começada em 2008. Ele fez um cartão de visita com o anúncio de sua profissão, e o deixava em todas as oficinas que encontrava, mas nunca era chamado. As contas para pagar iam se amontoando, mais o aluguel, e nada de aparecer trabalho. Pelo salário mínimo de 490€, aceitou distribuir de casa em casa um panfleto com propaganda de ofertas de supermercados. Nesta altura, a igreja ajudou-o a sobreviver. Os membros que trabalhavam em açougue traziam-lhe carne, os padeiros pão, e assim por diante. [caption id="attachment_129809" align="alignnone" width="750"] Elino e o Martelinho de Ouro. Imagem: Cesar Barroso[/caption] Elino conta que restava apenas um cartão de visita, que jogou desencorajado na caixa de correio de uma oficina. Pois não é que funcionou e recebeu uma proposta de trabalho? Pagavam mal, “às vezes nem pagavam”, ele diz, mas ficou ali por três anos, até que pediu férias e foi à convite de um amigo a uma região da França onde caíra uma forte tempestade de granizo. “Ganhei 20 mil euros em um mês, voltei para o Porto e pedi demissão”. Novo negócio: o Espaço Automóvel “À esta altura, minha documentação já estava pronta”, ele diz, “e eu resolvi abrir o “Espaço Automóvel”, com o amigo Anderson Barbosa. Até que eu encontrei o Juninho, um empreendedor nato, que já tinha a Perfect Hammer, e tornei-me seu sócio, em 2017. De lá para cá, a empresa só faz crescer. Na semana passada abrimos uma filial em Valença do Minho, que veio a se juntar às nossas oficinas do Porto, Gaia e Maia. Em breve, abriremos filiais em Lisboa e Braga. Temos assistência móvel que se desloca por todo o Portugal e países europeus, principalmente França e Alemanha. Baseado na virada positiva em sua vida, o Elino pretende escrever um livro, com conselhos para todos, mas principalmente para os que imigram, conselhos baseados em quatro alicerces: “Fé, Determinação, Propósito e Visão”, ele concluiu.

Vista panorâmica do Porto
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A cordialidade portuguesa (e meus passeios a pé por Gaia e Porto)

Os artigos que escrevo para o Euro Dicas fazem a minha vida de aposentado em Portugal melhor, pois muita gente simpática e boa entra em contato comigo através do Instagram (@cesar_barroso). Foi desta forma que encontrei um companheiro de passeios. Meu amigo é um português viajado e culto, que viveu em diversas cidades do Brasil, inclusive em Belém, onde nasceu o seu único filho José, e onde nascera três anos antes minha filha Elisa. Gaiense de quatro costados, o Sr. Guilherme Vale tem se revelado uma pessoa generosa, alegre, bom contador de histórias e um companheiro de passeios inigualável. Conhece todo o município de Vila Nova de Gaia como a palma de sua mão porque, além de ter sido nascido e criado aqui, durante muitos anos foi distribuidor de bacalhau para os restaurantes da região, negócio que passou para o filho ao aposentar-se. A cordialidade portuguesa O nosso primeiro encontro foi no Veneza Café, em frente ao prédio da prefeitura de Gaia. Lá, Sr. Guilherme me contou sobre a sua vida no Brasil, principalmente em Belém, onde o cozido à portuguesa feito por sua mulher, a Sra. Lina, ficou famoso a ponto de atrair a visita do governador do Pará. [caption id="attachment_127010" align="alignnone" width="750"] Senhora Lina e Senhor Guilherme são exemplos da cordialidade portuguesa.[/caption] Sua verve é notável e deliciei-me com os episódios que viveu em Salvador, Rio de Janeiro, Campinas e Curitiba. Nesta última foi onde passou os últimos anos no Brasil, para adaptar o filho a um clima parecido ao de Vila Nova de Gaia. Na conversa, descobrimos que ambos precisamos e gostamos de caminhar, e que faríamos frequentemente passeios juntos. O primeiro, disse ele, seria ao Monte da Virgem. O Monte da Virgem Encontramo-nos num ponto de ônibus ao lado da estação do metrô de Santo Ovídio. Em quinze minutos o ônibus subiu até o monte, que fica em uma altitude de 216 metros. As paisagens desde o topo são muito variadas e bonitas. Vê-se Vila Nova de Gaia, Porto, Gondomar e o mar distante. [caption id="attachment_127015" align="alignnone" width="750"] O Monte da Virgem é um monumento em homenagem à Virgem Imaculada. Foto: Cesar Barroso.[/caption] O Sr. Guilherme contou-me histórias de alguns lugares que ele apontava com o dedo. Uma capela à Virgem Imaculada domina o local e há alguns pequenos monumentos comemorativos no terreno em frente. Ao lado da capela tem uma área de piquenique (aqui chama-se "parque de merendas") bem arborizada, com mesas e bancos de pedra, que estavam vazias devido ao frio de fevereiro, mas é muito frequentada quando a temperatura se eleva. Entramos no bar/restaurante do local, onde o Sr. Guilherme me apresentou ao seu aperitivo favorito de almoço, o "sujo", uma mistura de chope com uma dose de Martini, típico da área de Gaia/Porto. Gostei. Apesar do frio, o sol estava forte e voltei para casa com o rosto bastante vermelho. No próximo passeio usarei um boné, pensei. A Capela do Senhor da Pedra A Capela do Senhor da Pedra, uma joia arquitetônica construída no século XVII, é uns dos pontos turísticos mais bonitos do litoral português. As rochas onde a capela se assenta eram local de ritos pagãos antes da chegada do cristianismo. Tomamos no centro de Gaia um ônibus até à praia da Valadares. Começamos nosso percurso a pé em direção contrária à capela. [caption id="attachment_128591" align="alignnone" width="750"] Capela do Senhor da Pedra. Foto: Cesar Barroso[/caption] Há belas casas na avenida em frente ao mar, inclusive algumas delas construídas pelo sogro do meu amigo. Do mar soprava um vento frio que formava ondas fortes na arrebentação e remexia as dunas de areia. Voltamos e terminamos a caminhada a pé de uma hora e meia na capela. A maré estava baixando, mas algumas ondas ainda alcançavam e rodeavam as rochas sobre as quais se assenta. No verão, a praia é muito frequentada e a dona de um dos restaurantes em frente, que aluga barracas e cadeiras para os banhistas, é uma senhora de Campinas. Antes de tomar a condução de volta a Gaia, não deixamos de tomar o "sujo". Salgueiros, Lavadores e Afurada Esta nossa caminhada à beira-mar começou, digamos, a uns cinco quilômetros ao norte da capela do Senhor da Pedra. Seguimos em direção à desembocadura do rio Douro. É um passeio longo, acredito que de uns dez quilômetros, com belas praias, pedras, edifícios residenciais, além de uma reserva natural no estuário do rio com locais preparados para a observação dos pássaros que ali transitam em seus roteiros sazonais. As lindas vistas do Porto começaram a aparecer quando chegamos à confluência do Douro com o oceano, no bairro gaiense de Afurada, que faz frente ao bairro da Foz do Douro, no Porto. Poderíamos ter continuado até a Ponte Dom Luís I, que avistamos de longe, mas preferimos entrar num dos muitos bares de pescadores da Afurada para descansarmos e tomarmos uma Super Bock, a cerveja do Porto, que desceu bem como nunca. [caption id="attachment_127013" align="alignnone" width="750"] A vista para o Rio Douro é imperdível.[/caption] Na Afurada, há muitos restaurantes com braseiros na calçada para churrasquear os peixes, principalmente sardinhas e crustáceos. Tem um lavadouro de roupa comum para as mulheres dos pescadores. As roupas secam ao sol e ao vento em enormes varais. Um espetáculo de se ver. É português mesmo? Uma crônica das diferenças do idioma Passadiço do Córrego do Espírito Santo A esta altura, o leitor já percebeu que o Sr. Guilherme é o melhor guia turístico de Vila Nova de Gaia. O passeio pelo Passadiço do Córrego do Espírito Santo foi que me convenceu de que poucas pessoas conhecem tão bem como ele os locais bons para caminhar da região, alguns deles desconhecidos dos turistas e do público em geral. Este percurso do passadiço começa em Miramar, bem pertinho da capela do Senhor da Pedra, e acompanha o córrego do Espírito Santo em direção à sua nascente, por uns dois quilômetros até Arcozelo, um lugar bem simpático de peregrinação religiosa. As paisagens são lindas, com destaque para um enorme campo de flores silvestres amarelas. Espinho Espinho fica além das fronteiras de Gaia, no distrito de Aveiro. A viagem de "comboio" (trem) está coberta pelo nosso passe de transporte, pelo qual pagamos 30€ mensais para termos direito a todos os transportes públicos de Gaia, incluindo o comboio até Espinho. O trem estava cheio de crianças de escola primária, capitaneados por algumas professoras que os levavam para um passeio de quinta-feira santa. Em meia hora, partindo da estação de General Torres, chegamos ao nosso destino. Antigamente, disse-me o Sr. Guilherme, o trem passava no meio da cidade, dificultando o trânsito e provocando acidentes. Agora, percorre por um túnel. A cidade tem uma feira gigantesca, todas as segundas-feiras, que penso em visitar no futuro. Fomos para a beira-mar, onde há uma fileira de bares e restaurantes bonitos e cheios de turistas, principalmente espanhóis, pois o mar português para os moradores da região de Salamanca está mais perto do que o mar espanhol. A pesca é uma das atividades principais de Espinho. Ali estavam os barcos, as tralhas dos pescadores, seus bares e casas. Tudo muito pitoresco. O sol forte servia de compensação ao vento frio. Entramos num restaurante que já fora freguês do Sr. Guilherme, que lembrou dos velhos tempos com a dona e um funcionário, enquanto tomamos o nosso "sujo", à vista de enormes caranguejos, aqui chamados de sapateiras. O dia estava ótimo para fotos, com o sol fazendo longas sombras por toda parte. Angeiras No fim de semana passado, o Sr. Guilherme e a Sra. Lina me levaram de carro até Angeiras, outra vila de pescadores, famosa pela qualidade de sua amêijoas, pequeno molusco que no Brasil é conhecido por seu nome em italiano de "vôngole". Chovia, mas em cinco minutos fez sol e se revelou uma praia linda, pitoresca pelas casas dos pescadores e suas tralhas. [caption id="attachment_127011" align="alignnone" width="750"] Artefatos dos pescadores portugueses à beira-mar, no Espinho. Foto: Cesar Barroso[/caption] O mercado de peixe segue o estilo tradicional português, com o alto vozerio de vendedores e clientes. Levei um saco de amêijoas e um molho de coentro para casa e comprovei como são boas. A Sra. Lina me passou a receita das amêijoas a Bulhão Pato, que fiz e gostei muito, mas metade das amêijoas fiz com espaguete, para satisfazer a metade italiana do meu sangue: spaghetti vongole. São estas delicadezas da cordialidade portuguesa que me fazem gostar cada vez mais da minha vida de aposentado em Portugal, mais particularmente em Gaia e Porto. Preciso terminar dizendo que o Sr. Guilherme me convidou para o seu almoço de aniversário, com familiares e amigos, quando foi servido o famoso cozido à portuguesa da Sra. Lina. Estava absolutamente supimpa!

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