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Cesar Barroso

Colunista do Euro Dicas

Viagem de um aposentado brasileiro pela Europa: parte 2

Conteúdo criado por humano

O Erick Gutierrez, fundador do Euro Dicas, em seu simpático e inteligente e-mail de apresentação da primeira parte desta viagem, escreveu: “Deu bom! Mas também teve perrengue”. Sim, Erick, mas perrengue para valer só houve no dia em que eu saí de Alicante para Tallin, um dia que começou mal e terminou pior, a ponto de eu ter taxado 16 de junho de 2022 como “um dia como nenhum outro”.

Viagem de um aposentado a Tallinn
Índice Tallinn “Sou Tricolor de Coração...” Um dia como nenhum outro A chegada em Estocolmo não ajudou nada Chegar a Tallinn foi uma odisséia Enfim... Tallinn

Deixarei para o final deste artigo o relato dos acontecimentos. Veja agora o relato da segunda parte da viagem de um aposentado no verão da Europa.

Tallinn

Acordei tarde da minha primeira noite de sono em Tallin. “Noite” é força de expressão, pois em junho não há noite em Tallinn, apenas um leve escurecimento. “Aqui estou eu, sobrevivente”, pensei, “em Tallin, uma cidade que até há poucos meses eu não pensava em visitar”.

O plano inicial era vir sem marcar passagem de volta, pensando em passar uma semana em Tallinn e depois descer via terrestre pelos países bálticos, Latvia e Lituânia, até alcançar a Polônia, norte da Alemanha e Dinamarca. Imaginava que faria este tour em um mês e meio, talvez dois.

Centro da cidade de Tallinn
Praça principal do Centro Histórico de Tallinn. Foto de Cesar Barroso.

Aconteceu, porém, que fui levado a mudar de ideia e marcar passagem para o norte da Itália para dez dias após a minha chegada a Tallinn. Então, dividi ao meio esses dias no norte da Europa: cinco dias para Tallinn e cinco para Helsinque, que eu alcançaria por ferry, através do Mar Báltico. Quem sabe no ano que vem farei o que havia planejado para este ano…pensei.

A Estônia hoje em dia

Nada como colocar o pé no chão para começar a mudar a opinião sobre um lugar. Eu pensava que, por ter feito parte da União Soviética, a Estônia cortara todas as relações com a Rússia após a queda do muro.

A questão é que a vida das pessoas não segue a par e passo os acontecimentos políticos. Durante os anos comunistas, houve imigração intensa em ambas as direções, e hoje há muitas famílias russas que vivem na Estônia e vice-versa, as quais não querem voltar para os países de seus avós.

Os jovens consideram sua terra o lugar onde nasceram e estão crescendo e criando vínculos de amizade. Conservam as línguas de origem dentro de suas casas, mas fora de casa, são cidadãos estonianos ou russos. No geral, porém, os estonianos mantêm reserva quanto à Rússia, o que, convenhamos, é compreensível.

Quando perguntei ao Jakub (o estudante tcheco que dividia comigo o apartamento) onde havia um supermercado, ele respondeu; “tem uma feira diária e um supermercado russos logo ali adiante”. “Russos?”, eu perguntei admirado. “Sim, russos. As relações entre os dois países são seculares”.

Eu fui lá. Acho que, por razão da guerra e de eu estar levando a minha câmara fotográfica pendurada ao pescoço, não fui bem recebido. Uma feirante deixou claro, levantando e abaixando os braços atabalhoadamente, falando alto em russo, que não queria fotos ali.

casa em Tallinn
Casa tradicional em Kadriorg, em Tallinn. Foto de Cesar Barroso.

Saí rápido, não sem antes tirar umas poucas fotos, inclusive a de um caixote de castanhas-do-Pará vendidas a 20€ o quilo, e anunciadas como provenientes dos Estados Unidos! Deixo claro que admiro o povo russo por sua resiliência, sua literatura, sua música clássica, seu balé, mas, fazer amigos, não é o forte deles.

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Tallinn é diferente

Tallinn não é uma cidade do tipo a que estamos acostumados. O lindo centro histórico da cidade concentra bares e restaurantes. Fora dali, é difícil encontrar um bar ou restaurante, ou mesmo outros tipos de comércio.

Há shopping centers, mas todos os que eu vi estavam ao redor do centro da cidade. Diga-se de passagem, nem mesmo é uma cidade grande: tem pouco mais de 400 mil habitantes (como Porto e Gaia juntas). Coincidentemente, os preços dos alimentos nos supermercados e dos aluguéis são parecidos com os de Portugal.

Voltando ao centro da cidade: é lindo.

As ruas são calçadas com pedras, os palácios, mansões e igrejas são majestosos alguns enquanto outros parecem bibelôs. Vale ressaltar que, além da Rússia, a Suécia também governou a Estônia, e a Alemanha manteve empórios comerciais no país, todas por longos períodos.

Torres Medievais
Torres Medievais em Tallinn. Foto de Cesar Barroso.

Estes relacionamentos passados têm forte ingerência no presente da Estônia, o que ficou claro para mim na visita que fiz ao Museu de Arte KUMU, visita obrigatória para o turista que quer entender melhor a sociedade e as artes estonianas através dos tempos.

Sim, no centro da cidade estão as maiores atrações de Tallinn, mas eu gostei muito também de um parque enorme que abriga residências suntuosas, palácios, os museus e a praia, o Kadriorg. No Kadriorg estão, além do KUMU, um palácio que lembra o prédio do Museu Hermitage de São Petersburgo.

Ele foi construído por Pedro o Grande, czar da Rússia, há trezentos anos. O palácio abriga atualmente o Museu de Arte. Perto, está a casa de verão despretensiosa que Pedro o Grande construiu antes do palácio, o qual não habitou por ter morrido antes de sua conclusão.

Jardins do Museu de Arte
Jardins do Museu de Arte. Foto de Cesar Barroso.

A praia, no mar Báltico, é bonita, com areias brancas. Mulheres de bikini, algumas topless, se bronzeavam, à temperatura de 16ºC! Os jardins do Kadriorg estavam floridos, e mamães passeavam com seus bebês nos carrinhos. Acho que a Estônia não segue a tendência europeia de não ter filhos ou ter apenas um, pois nunca vi um lugar com tantos carrinhos de bebês pelas ruas.

Em suma, gostei muito da cidade, lamentei não ter passado ali no mínimo uma semana, e recomendo aos leitores do Euro Dicas que a visitem.

“Sou Tricolor de Coração…”

Estava eu caminhando em direção ao centro de Tallinn, quando cruzou por mim um homem jovem com o escudo do Fluminense na camisa. Voltei e cumprimentei:

-“Boa tarde, tricolor!”.

Ele abriu um sorriso enorme:

– “Também é tricolor?”.

Tomei coragem e declarei-me vascaíno. Rimos juntos.

O Fábio é dessas pessoas simpáticas que a gente tem logo vontade de travar conhecimento e continuar em contato. Dei-lhe o meu cartão, e em poucos dias recebi um e-mail com o assunto “Encontro Inusitado com Tricolor na Estônia”. Fábio é carioca, tem 41 anos e formou-se no Brasil.

Ciclistas em Tallinn
É verão e os ciclistas saem para passear em Tallinn. Foto de Cesar Barroso.

Eu não poderia perder a oportunidade de informar aos leitores do Euro Dicas as impressões do Fábio sobre como é morar em Tallinn. Mas antes ele fala da sua formação profissional e experiências:

Fiz o segundo grau técnico em Processamento de Dados, e ainda com 17 anos fiz vestibular para Análise de Sistemas, iniciei uma relação mais forte com TI e nunca mais larguei. A partir dali fiz diversos cursos de especialização, pós-graduação e MBA para me consolidar na carreira de Engenharia de Software.

Iniciei como estagiário de TI em 06/2000 em uma empresa de médio porte na área de comunicação. Aprendi um pouco sobre jornalismo, clipping e assessoria de imprensa, mas sempre aplicando tecnologia para dar suporte a essas áreas.

Ele permaneceu por 6 anos nessa empresa, saiu para uma nova oportunidade em uma fábrica de software com intuito de imergir ainda mais na área de desenvolvimento de sistemas. Depois migrou para grandes empresas em diversos segmentos, mas já tem alguns anos que tá trabalhando com TI no mercado financeiro, área em que atua até hoje.

A mulher de Fábio tinha um filho de quatro anos quando eles se conheceram. “Estabeleci com ele uma relação de pai/filho/amigo, a ponto de ele trocar o Flamengo pelo Fluminense. Agora, com 27 anos, ele nos fez avós. Nosso filho de 16 anos mora conosco aqui em Tallinn. Minha família é o meu suporte.”

Sobre imigrar, ele diz:

Sempre pensei um pouco, bem de leve, lá longe… mas, não era algo que tinha como meta, ou seja, eu não ficava procurando vaga fora do Brasil e, caso surgisse eu iria avaliar e tomar a decisão.

Como principais motivos acredito que os problemas no Brasil começaram a ficar mais gritantes de um modo geral, principalmente violência, alta de preços e desigualdade.

Quando a oportunidade surgiu, viram com bons olhos unir o útil ao agradável. Para o seu caçula tem sido uma ótima oportunidade para aprender novas culturas, estudar em escola europeia, ter essa vivência que é totalmente diferente do que ele estava acostumado. Eles acreditam que isso será um benefício muito grande para ele, principalmente para o seu futuro profissional.

Por que a Estônia?

Quando a oportunidade surgiu foi pra vir pra cá. Já havia recebido outras propostas como de Portugal, por exemplo, mas financeiramente não foram atraentes para valer a pena tamanha mudança. Por outro lado, a Estônia é considerada o “Vale do Silício” da Europa em termos de tecnologia.

Tudo aqui funciona muito bem e de forma eletrônica (e-pais). Logo, para nós que trabalhamos com TI, faz todo sentido. A sensação de segurança e a boa qualidade de vida associada ao trabalho são pontos fortes do país.

Eles não gostam do inverno rigoroso que toma quase metade do ano com muita neve e muito frio. E nestas horas é que a saudade do Brasil se torna enorme! Sentem falta de tudo e todos, principalmente dos familiares e amigos.

Gostam da cidade e da Europa em geral, mas ainda assim acham que o Brasil é o seu lugar. “Temos os nossos problemas como aqui eles também possuem os deles. São distintos, mas cada país possui seus prós e contras, temos que saber equilibrar para viver da melhor forma possível, seja qual for a escolha“.

O depoimento do Fábio poderá servir de incentivo e apoio para muitos leitores do Euro Dicas, eu acredito.

Um dia como nenhum outro

Pois é… acontecem certos dias… as mulheres americanas têm uma forma cômica para designar dias maus – “bad hair day” – um dia em que nada dá certo, como aqueles em que, por mais que elas façam, o cabelo não se ajeita. Pois o dia 16 de junho de 2022 ficará na minha história como um “bad hair day”.

As coisas incríveis que aconteceram nesse dia estão ligadas à viagem para Tallinn, com escala em Estocolmo, partindo de Alicante. Eu comprara a passagem com três semanas de antecedência numa agência online que utilizo há anos, a Cheapoair. Não me lembro se foi ou se não me foi oferecida a opção de adicionar no preço da passagem da Norwegian Air Shuttle a minha maleta (a mochila está incluída automaticamente no preço básico).

O espanto com o custo da bagagem

O certo é que, quando fui mais tarde verificar minha reserva no site da Norwegian, uma empresa de baixo custo, notei que eu teria que pagar 12€ extras pela maleta, por cada perna da viagem Alicante/Estocolmo/Tallin. Tentei pagar os 24€, mas não pude.

A informação é que teria que fazê-lo através da Cheapoair. Telefonei para a Cheapoair e eles disseram que teriam que pedir autorização à Norwegian para fazê-lo. Eles me deixaram esperando longo tempo ao telefone e voltaram com a informação de que não tinham conseguido falar com a empresa aérea.

Tentei no outro dia, e no outro dia também, até perceber que as duas empresas estavam me pondo na roda com o intuito de que eu pagasse 30€ por perna da viagem, que era o preço que a Norwegian cobrava no check-in no aeroporto. Fiz mais algumas tentativas mesmo sabendo que não conseguiria resultado. Este tipo de artimanha irrita a qualquer um.

O voo (ou quase)

Pois bem, o voo no dia 16, saía às 06:00h. Convenhamos que acordar às 02:40h não é um bom começo para o dia de ninguém. Um táxi previamente reservado me levou para o aeroporto. O salão de partidas estava na penumbra e algumas pessoas já esperavam sonolentas pela abertura do check-in.

Na hora que a atendente me cobrou os 60€, esperneei, disse que era um roubo, mostrei um diálogo online com a empresa que imprimi, pedi desconto, mas não houve jeito: tive que pagar os 60€.

Quando eu ia saindo com a maleta, a atendente disse que “maleta paga no aeroporto tem que ser despachada”. Esperneei mais uma vez, mas, de novo, não houve acordo. Lá foi a maleta na esteira. Comigo ficou apenas a mochila de fotografia.

Outro susto: esse foi maior ainda

Ao chegar no portão de embarque um estremecimento se apossou de mim. Tive que sentar para não cair: esquecera que na maleta estavam todos os meus cartões de crédito (menos um, que estava no bolso e com o qual eu pagara os malfadados 60€), cartão de saúde, carteira de motorista e 330€).

Fiquei aterrorizado por alguns minutos com a possibilidade do extravio da maleta, que eu nem recolheria em Estocolmo, mas em Tallinn.

Prédio em Tallinn
Tallinn também tem prédios muito modernos. Foto de Cesar Barroso.

Apliquei então a regra de ouro para essas situações: tomar uns goles de água, respirar fundo e silenciar a mente à espera do aparecimento de uma solução.

Como resolver?

Atrás do balcão do portão de embarque, meio escondidas, estavam duas funcionárias da Norwegian. Fiz uma cara de sofrimento e falei baixinho para uma delas que havia me esquecido na maleta um remédio que eu precisava tomar sem falta durante o voo, caso contrário eu poderia ter um pico de pressão.

Ela perguntou se eu realmente precisava tomar o remédio, e respondi que era imprescindível. Pelo rádio, ela entrou em contato com o chefe de pista e pediu minha maleta. Agradeci muito e minha ansiedade diminuiu.

Mas, começou o embarque, e nada da maleta chegar. Finalmente fui chamado por um senhor sorridente de macacão que me levou à porta do avião, onde estava a maleta. Tirei a pochete e lhe disse que ali estava um remédio. Ele sorriu e levou a maleta de volta para o compartimento de carga.

Resumo do dia

O jogo estava um a um, mas a partida apenas começava, e o gol do adversário me deixara abalado. Sentei, fechei os olhos, e só acordei em Estocolmo, às 10:00h. O voo para Tallinn sairia dez horas depois.

A chegada em Estocolmo não ajudou nada

Me esperava na saída do avião um conhecido de outras paragens e que agora morava há uns dez anos em Estocolmo. Não darei detalhes, embora eu esteja seguro que estas linhas não chegarão até ele, que nem lê português. Levei da Espanha uma caixa de bombons para ele e família.

Como havia uma espera de dez horas, eu contava que ele me desse dicas de como chegar até o centro da cidade para um tour, ou mesmo que me levasse em seu carro e eu lhe convidaria para o almoço.

Mas não foi bem assim…

Depois de deixar claro que tinha pouco tempo para mim, tudo o que ele fez foi me desencorajar. Levou-me para comprar um ticket de um tal de Arlanda Express, um trem que em 18 minutos me deixaria no centro da cidade, mas cuja passagem de ida e volta custava 55 dólares.

Eu disse que não pagaria aquela quantia ridícula. Perguntei por uma alternativa, mas ele disse que seria melhor eu ficar no aeroporto, pois na volta poderia encontrar uma fila de “quatro horas e meia” para passar pela segurança. Assustei-me. E após este susto, ele me deu ciao e desapareceu na multidão.

Resignei-me, então, a ficar no aeroporto. Teria a vantagem de eu não me cansar muito, pensei. Foi um erro.

A espera infinita no aeroporto

Aeroportos são lugares estressantes, e o de Estocolmo não é exceção. Milhares de pessoas entravam e saiam, nenhuma de máscara, eu usava a minha máscara. Deu fome, pois a bordo não se serviu nada, e eu não havia jantado no dia anterior por causa de uma pequena indisposição intestinal (segundo o motorista do táxi de Alicante, não se deve beber da água das torneiras de lá).

Entrei numa pizzaria. Um breve papo com o pizzaiolo italiano Ângelo foi o suficiente para a preparação de uma Margherita caprichada, ao preço de 140 coroas suecas, cerca de 14€. Elogiei a pizza e fiz o Ângelo começar o dia feliz.

Passageiros e bagagens

A partir daí, foi um desgaste. Sentava aqui, sentava ali, o tempo não passava. Entrava a saía gente aos borbotões. Vi desfilarem diante de mim milhares de suecos, de todas as tribos vikings havidas e por haver.

Gente nova, gente velha, quase todos louros. O meu voo para Tallinn estava no telão desde cedo, com saída prevista no Portão 16. Eu entrava nas mesmas lojas várias vezes, num processo neurotizante.

Mas nem tudo é ruim…

Por volta das 16:00h, tive uns momentos de alívio. Sentei-me ao lado de dois casais com complexão física do Oriente Médio, na faixa de idade de cinquenta e tantos, acompanhados de seis jovens na faixa de idade entre 17 e 23, eu imaginei. Falavam uma língua estranha, que ora parecia árabe, ora uma língua escandinava.

Tomei coragem e me dirigi a uma das jovens, receoso de que fossem de alguma cultura em que estranhos não podem se dirigir a mulheres. Ela parecia esperar a minha aproximação. Perguntei-lhe que língua falavam. “Falamos uma mistura de sueco e aramaico.. Aramaico era a língua que Jesus falava.”

E como vieram parar na Suécia, perguntei.

Não temos país, e nossos pais ainda jovens foram recebidos na Suécia como refugiados. Vivemos numa cidadezinha onde formamos uma comunidade. Nós, jovens, criamos nossa língua misturando aramaico com sueco. Eu acabo de me formar em direito. Quero através do meu trabalho devolver a este país, à sociedade sueca, tudo de bom que nos tem dado.

Eu admirava a mentalidade daquela morena que aliava à beleza física o sentido de responsabilidade social. Ia pedir para fotografá-la, mas poderia ser tomado como um abuso pelos seus pais.

Perguntou-me para onde eu ia. Ela disse que conhecia Tallinn e que certamente eu gostaria de lá. Devolvi-lhe a pergunta, e me disse que iam passar férias na ilha grega de Corfu. Perguntei-lhe se tinha visto a série televisiva inglesa “The Durrells in Corfu” e me respondeu que sim. Estava na hora de seu voo. “Espero que tenham umas belas férias”, eu disse.

Chegar a Tallinn foi uma odisséia

A partir daí, eu não via mais a hora de entrar naquele avião da Norwegian e partir. Olhei de novo o telão: lá estava o Portão 16 confirmado.

Duas horas antes da partida do voo, comi um sanduíche com café com leite, e me dirigi para as imediações do Portão 16. As pessoas foram chegando, formou-se uma aglomeração e depois uma fila. Foram chamados os grupos para embarque. O meu era o último. Coloquei o código de barras do cartão de embarque debaixo do leitor, e foi rejeitado.

O que aconteceu? A atendente pediu para ver o cartão. “Este voo não é para Tallinn, é para Oslo. O portão de embarque do voo de Tallinn foi mudado”. Aflito, perguntei qual era o novo portão. “É o 14”, ela respondeu. Corri para o 14. O voo já havia partido.

Um momento de desespero, sim

Pela primeira vez em minha vida adulta eu tive vontade de sentar no assoalho, esmurrar o chão e chorar aos berros. Minha autoestima baixou a zero, e eu olhava ao redor para ver ser alguém tinha pena de mim.

Algum tempo se passou, não sei quanto, até eu aplicar pela segunda vez num dia a regra de ouro. Sentei, fechei os olhos, tomei um gole de água e esperei uma solução, que veio aos poucos: eu não dormiria numa cadeira daquele aeroporto de jeito nenhum; eu não telefonaria para aquela pessoa pedindo ajuda de jeito nenhum; eu chegaria a Tallinn naquela noite de qualquer maneira, nem que fosse no ferry da meia-noite.

Dirigi-me ao fatídico telão de partidas. Um último voo para Tallinn, da SAS, sairia dentro de quarenta minutos. E a maleta? O protocolo manda que sejam retiradas do avião as maletas de passageiros que não embarcaram. Corri para o local das esteiras das malas. Jogada num canto, lá estava a maleta.

Avião da empresa SAS
Foi o último voo da SAS que me levou de volta a Tallinn.

Corri à procura do balcão da SAS. Uma senhora idosa me atendeu: “Temos só um lugar no avião”, ela disse. Mandei emitir o ticket sem perguntar quando era. Eu pagaria qualquer dinheiro para ir embora, mas na hora em que eu vi a conta, doeu: US$330.00.

Isto mesmo, US$330,00 para um voo de uma hora na última cadeira de um avião pequenininho. Saí correndo para o portão de embarque, com o coração saindo pela boca.

A aeromoça adivinhou a minha odisseia e trouxe-me água e café, assim que sentei. “É por conta da casa”. Sorri e agradeci, achando que por conta dos 330 dólares eu mereceria também um cafuné que me fizesse dormir.

Enfim… Tallinn

O pequeno aeroporto de Tallinn estava vazio. Meus olhos liam no celular o número do bonde que eu teria que pegar até o apartamento Airbnb, mas meus neurônios negavam conexão. O bonde era o #4 mas os neurônios repetiam que era o #5.

Perguntei em espanhol a uma senhora se para a Tartu Maantee era o bonde #4 ou #5. Para meu espanto, ela respondeu em espanhol (ou será que foi uma alucinação?). que era o #4. Jakub teve que me buscar na parada do bonde porque eu já não tinha forças para mais nada, muito menos para encontrar um número na entrada de um prédio.

Tomei um banho, caí na cama, fechei os olhos e pensei: “Cesar, não se culpe pelo que aconteceu. Há dias e dias. Durma sossegado. Amanhã você acordará em Tallinn”.

Veja a coluna em que relato a preparação e a primeira parte da minha viagem.

*As opiniões dos colunistas não refletem necessariamente a opinião do site Euro Dicas.

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Cesar Barroso

Jornalista, fotógrafo comercial e de arte, viajante, leitor ávido, autor de "Quatorze Dias em Portugal" e "South Beach on Foot", cozinheiro amador, praticante de ioga e meditação zazen, ficcionista. Pode ser encontrado no Instagram @cesar_barroso.

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Não poder ir ao Brasil vira um fardo Nesse ponto, eu falo sem propriedade de experiência própria, mas com a propriedade de quem já ouviu muitas (mas muitas mesmo) histórias de brasileiros que não vão ao Brasil há muito tempo. Tive a sorte e o privilégio de ficar sem ir ao Brasil num tempo máximo de 2 anos, devido à pandemia. Quando eu resolvi imigrar, prometi pra mim mesma que, apesar de estar muito feliz e decidida a ir embora do Brasil, eu iria voltar anualmente para visitar. Não queria me afastar dos meus (apesar de assumidamente não ser tão presente virtualmente quanto deveria). Não queria ver meus pais envelhecendo só através do vídeo. Ou não estar na mesa de domingo jogando jogos de tabuleiro com os meus afilhados. Ou fazer compras com a minha irmã. Ou abraçar apertado as amigas do Brasil que jamais serão substituídas por amigas daqui. E com muita luta, tenho ido com uma frequência bastante regular. [caption id="attachment_123554" align="alignnone" width="750"] Voltar pro Brasil para visitar ajuda na adaptação[/caption] Mas, como eu disse, é um privilégio. A viagem pro Brasil custa caro, muitos não vão porque não conseguem juntar o dinheiro necessário. Outros não vão porque não têm a documentação em dia para conseguir voltar. Outros não vão porque se parar de trabalhar aqui, ficam sem dinheiro para o mês seguinte, ou porque não conseguem abrir espaço na agenda para ter tempo suficiente para ir ao Brasil - convenhamos, não é uma viagem fácil para ir pro país ficar apenas uma semana. Seja qual for o motivo: não ir pro Brasil não é fácil Você pode nem gostar do Brasil, mas ouso dizer que ir ao Brasil faz muito bem. Para mim (que gosto do Brasil, aliás) é uma recarga de energia essencial para aguentar estar fora do meu país. A viagem é desgastante, cara e desconfortável (classe econômica feelings), eu ando nas ruas do Brasil com muito medo (muito mais do que quando eu morava por lá) e mesmo assim, volto pra cá reenergizada com toda a sensação de que vale a pena. Quem deixa de ir, normalmente tem dois caminhos: ou morre de saudade e vive num saudosismo danado só lembrando da parte boa do Brasil; ou deixa essa vontade de visitar o país ir embora, pensando que tem medo de ir ou já nem sente falta de lá. Já ouvi os dois discursos milhares de vezes e quanto mais tempo a pessoa fica sem ir, mais um dos dois sentimentos se aprofunda. Não é fácil estar longe das suas raízes, do seu povo, da sua cultura, mesmo para quem está disposto a nunca mais ali residir. 7. Você pode não se sentir tão valorizado profissionalmente quanto merecia Aqui acredito que é um assunto mais recorrente e mais divulgado, por isso nem preciso entrar em tantos detalhes: quando você chega num país estrangeiro, você desce uns três degraus na escala de valorização do mercado de trabalho. Que exagero - dirão alguns. Só três degraus? Eu desci uns 10 - dirão outros. O meu colega Marcos Freire já contou seu percurso profissional aqui no Euro Dicas, e orgulhosamente vem trabalhando em outras áreas que são completamente diferentes da sua de formação e experiência em São Paulo. Eu trabalhei durante 4 anos como freelancer recebendo mal e trabalhando horas a mais para conseguir um bom ordenado tendo uma boa formação em jornalismo e um mestrado em Ciências da Comunicação. E poderia ficar nessa lista para sempre. São muitas as histórias de pessoas com boa formação no Brasil que servem mesas por aqui, ou trabalham nas limpezas, nos shoppings, ou em outros trabalhos que não exigem formação profissional. Não há absolutamente nada de errado nisso, pelo contrário, é muito digno e digo com convicção que aprendi muito com isso - e sei que muitos imigrantes como eu vão concordar. Mas sei que tem hora que dá raiva e dói sentir que não estão te valorizando o suficiente mesmo que você seja muito mais capacitado do que aquele nativo que ficou com a vaga. Esse gosto amargo fica engasgado nas nossas gargantas por muito tempo. Primeiro estranha-se, depois entranha-se Por esses 7 e por outros muitos motivos: não, meus amigos, juntar dinheiro, juntar documentos, sair de apartamento, despedir da família e sair do Brasil não é a parte mais difícil. Se adaptar é. Ser resistente é. Emigrar é para os fortes, e não é todo mundo que se adapta. Se tá difícil para você aí, aguenta firme. Se precisar, pede ajuda, não tem nada de errado em sentir vontade de desistir. Se quiser e puder, aguente. Se não der, voltar para casa também não é atestado de derrota. Muito gente volta e percebe que foi a melhor decisão, e a experiência de morar fora foi válida e enriquecedora de toda forma. Siga seu destino onde você for mais feliz, mas saiba que você não está sozinho nessa, tem muito brasileiro sentindo exatamente o que você está nesse momento, estamos juntos, vai valer a pena. Abraço grande.

Vista de Alicante
Brasileiros na Europa Europa

Viagem de um aposentado brasileiro pela Europa: leia o relato

O verão europeu é uma época muito esperada por quem gosta de viajar e comigo não é diferente. Veja como foi a minha preparação e o relato da viagem de um aposentado brasileiro pela Europa no meu primeiro destino: Alicante, na Espanha. A viagem de 2022 do aposentado: a preparação Todas as viagens exigem preparação, e esta, por ser longa e revestir-se de circunstâncias especiais, mais ainda. A um mês da partida eu já estava agindo, principalmente porque teria que entregar o apartamento alugado de Vila Nova de Gaia. Mesmo sendo adepto do minimalismo, ainda carrego coisas das quais, espero, me livrarei aos poucos, mas ainda não. Escolha do armazenamento de bens pessoais Procurei um local para guardar as quatro malas onde estoco tudo o que tenho. Parece fácil, mas não é, decidir o que jogar fora, o que levar na viagem, e o que deixar no guarda-malas. Poderia pedir a um amigo para guardar minhas coisas, mas seria um abuso entulhar com quatro malas grandes a casa de alguém. Falei pelo telefone com duas empresas guarda-móveis. Decidi-me pela Moovax por causa do preço: 21€ por mês. Fui antes lá fazer uma visita. Fechei o contrato com vinte dias de antecedência, a começar a primeiro de junho. A partida estava marcada para 8 de junho, de forma que tinha bastante tempo para entregar as malas e encontrar um meio de fazê-lo. Preocupava-me também em como distribuir o peso nas quatro malas porque teria eu mesmo que descê-las pelas escadas. Poucos dias antes do embarque, o senhor Guilherme e a senhora Lina gentilmente levaram comigo as malas para a Moovax em sua van. Uma maleta samsonite com documentos importantes e algumas lentes fotográficas, eu deixei guardada com o meu jovem amigo Izaías Mendes. A in(certeza) da decisão Às vezes eu acordava no meio da noite com a sensação de que esta viagem seria uma loucura, que eu deveria ficar quietinho em Gaia e assistir à famosa festa de São João, mas o meu espírito aventureiro dominou e eu procurei pensar como seria bom mudar de ares por quase dois meses e depois voltar para Gaia com outras perspectivas. Mas a premonição de que coisas desagradáveis aconteceriam era persistente. Sozinho. Viajo mais uma vez sozinho. Não é a forma ideal de viajar, na minha idade. Deveria ter encontrado companhia, mas nem tentei. Estou gostando da solidão, mas viajar acompanhado é mais seguro e confortável: ter com quem conversar, dar cobertura um ao outro no cuidado com a bagagem para ir ao banheiro num aeroporto, ou entrar na água numa praia deixando a mochilinha na areia. A grande vantagem de estar sozinho, repito sempre, é fazer os próprios horários, ou simplesmente não ter horários, o que é quase impossível quando acompanhado. [caption id="attachment_130730" align="alignnone" width="750"] Entrada do Museu Arqueológico de Alicante. Foto Cesar Barroso.[/caption] Haverá problemas, eu sei. Todas as viagens têm problemas. Quem sai para o desconhecido encontrará problemas, principalmente nestes tempos de pandemia e de guerra. Mas não encontramos problemas também no nosso dia-a-dia? E também, não é a viagem mais excitante e cheia de descobertas do que o dia-a-dia? Empresas aéreas de baixo custo Estas empresas exigem um certo cuidado ao comprar os bilhetes online. Uma desatenção pode resultar num custo maior. Explico: em geral, o preço básico admite uma mochila de tamanho médio como única bagagem. Qualquer outra bagagem é adicionada ao preço básico, e se você não o fizer online, pagará muito mais caro no aeroporto. Meus conselhos com relação a estas empresas são: Não compre as passagens através de uma agência de viagem online; compre diretamente no website da empresa aérea; Ao comprar, esteja seguro das dimensões e dos pesos de suas malas; caso contrário, terá que pagar mais no aeroporto: Faça o check-in online. Um conselho importante: atenção à bagagem incluída Baseio meus conselhos numa experiência ruim que tive com a Norwegian Airlines, no voo de Alicante para Tallinn, via Estocolmo. Comprei a passagem através de uma agência de viagens e esqueci-me de incluir a maleta que levo dentro da cabine. Era uma arapuca: quis fazê-lo posteriormente online, ao custo de 12€, mas a agência e a Norwegian fizeram um jogo de empurra (evidentemente já combinado) e não me permitiram comprar online, e no aeroporto tive que pagar 60€, 30€ por cada um dos voos. Esperneie, xinguei, mas não houve jeito. A passagem, que originalmente custara 90€ teve o custo final de 150€. Serviu-me de lição. Da próxima vez serei mais cuidadoso. Outro conselho: observe o portão de embarque Um outro cuidado importantíssimo, que diz respeito a voos em qualquer empresa aérea, é a atenção aos portões de embarque, que às vezes são trocados à última hora. Todos sabemos a dor de cabeça que é perder um voo. Airbnb Utilizo muito o Airbnb em minhas viagens. É uma boa opção de alojamento, contanto que se tome bastante cuidado na escolha do imóvel. Há que se ter paciência e gastar tempo para encontrar o lugar certo para se alojar. Leia as opiniões dos hóspedes anteriores, procure no mapa o lugar exato do imóvel e como chegar lá. Faça perguntas ao anfitrião sobre transporte público, supermercados, distância para o aeroporto ou estação de trem ou de ônibus, Wi-Fi, se terá acesso à cozinha, e tudo mais que precisará saber para evitar surpresas desagradáveis. A gente tem que procurar criar um relacionamento amigável com o anfitrião para tornar a nossa hospedagem o mais agradável possível. Evidentemente, o preço permitindo, prefiro ficar num imóvel todo para mim. Alicante Passei por Alicante no verão de 1970. Só passei, de carro, ao raiar do sol, indo de Torremolinos para Tarragona. O sol era uma bola de fogo colossal envolvido na bruma da manhã, que nunca mais esqueci. Volto agora, quase que por acaso, pois seu enorme aeroporto é de onde sai o voo da Norwegian - empresa aérea de baixo custo que o escolheu como base de operação na Espanha -, com destino a Tallin, Estônia, minha próxima parada. [caption id="attachment_130732" align="alignnone" width="750"] Catedral de Alicante. Foto: Cesar Barroso.[/caption] O acaso não poderia ser mais benigno, pois Alicante é uma bela cidade. Depois de dois dias, concluí que ela resume tudo de bom que tem a Espanha, país que conheço razoavelmente bem. Tem um pouco de Barcelona, de Madri, de Cádiz, de San Sebastián. O passeio marítimo – Paseo Gomiz - é um lugar mágico, com altas palmeiras, bancos, e a brisa fresca que vem do oceano. Há centenas de bares onde milhares de turistas de todos os países do norte da Europa consomem cerveja acompanhada de petiscos, as tapas de presunto cru e frutos do mar. Os preços desta área são... turísticos, mas perto encontrei o D’Tablas, na rua Rafael Altamiras, 8, um ambiente frequentado mais por espanhóis e, consequentemente, com melhores preços. Meus dias em Alicante Meu Airbnb era perto do terminal ferroviário, e, a pé, eu tinha acesso ao melhor de Alicante, inclusive à praia del Postiguet, onde fui me batizar no segundo dia. Antes de seguir para a praia, entrei numa loja chinesa para resolver um dos problemas de viajar sozinho: comprar um recipiente plástico fechado hermeticamente, para entrar na água com dinheiro, telefone celular e cartão de crédito. Custou apenas 2,5€. [caption id="attachment_130728" align="alignnone" width="750"] A praia em Alicante. Foto: Cesar Barroso.[/caption] Com ele no bolso do calção, saí procurando na areia quem pudesse ficar com a sacola onde eu levava outros apetrechos, como boné, bronzeador, caderninho de anotações, etc. Escolhi uma simpática senhora idosa e sua filha, que aceitaram com um sorriso o encargo. Confiei tanto que coloquei na sacola também o recipiente com o dinheiro, o celular e o cartão de crédito. Cair nas águas mornas do Mediterrâneo depois de um longo inverno foi como entrar no paraíso. Delícia total. Veio-me à mente todos os que lutaram, sobreviveram e morreram no Mare Nostrum, seja como pescadores, marinheiros, guerreiros ou passageiros, muitos deles meus antepassados. Museus e viagem de trem Fiquei emocionado com alguns quadros de um museu - Museo de Bellas Artes Gravina (MUBAG), à rua Gravina, 16. São proibidas fotos, e eu não consegui ler os nomes dos pintores, pois estava sem os óculos, razão pela qual apenas recomendo aos leitores do Euro Dicas que forem a Alicante que o visitem pessoalmente ou ao seu site para terem um vislumbre de seu acervo. Passando na Praça de Los Luceros, vi uma escada rolante que descia para o que parecia ser uma estação de metrô. Desci para curiosar. É uma estação do Tram, veículo de bitola estreita para ligar localidades na Comunidade Valenciana. Em três minutos partia um Tram para Benidorm. No guichê, recebi a grata notícia que é grátis aos domingos, e era domingo. A viagem de uma hora e vinte minutos até Benidorm é linda pelas vistas do oceano à direita e das montanhas à esquerda. Há que se observar também as casas de veraneio que vão das simples às mais sofisticadas. [caption id="attachment_130725" align="alignnone" width="750"] Plaza de Los Luceros, em Alicante. Foto: Cesar Barroso.[/caption] Benidorm tem uma arquitetura que não agrada aos olhos, mistura de anos 60 com alguns prédios modernosos. Salta aos olhos que perde muito em relação a Alicante, mas a praia é bonita. Eu não poderia deixar de visitar o famoso Museu de Arqueologia de Alicante (MARQ), que tem uma imensidão de peças que cobrem a história da região desde a pré-história, muito bem organizadas e belamente apresentadas. A entrada custou-me menos de 2€. Em seguida, caminhei até o Museu de Arte Contemporânea. Este tipo de arte não é a minha preferida pois não consigo alcançar o que a maioria desses artistas quer expressar, se é que querem expressar alguma coisa. O último dia em Alicante No último dia de minha estada visitei a principal atração turística da cidade, o Castelo de Santa Bárbara. De cima de seus 166 metros, têm-se vistas deslumbrantes de 360º de toda Alicante. [caption id="attachment_130719" align="alignnone" width="750"] A cidade de Alicante vista do Castelo de Santa Bárbara. Foto: Cesar Barroso.[/caption] O castelo foi parte importante da defesa de Alicante em diversas ocasiões de sua história de luta para sobreviver a ataques de toda a sorte. Depois de uma semana em Alicante, parti para Tallin, capital da Estônia de onde vou continuar o meu relato de viajante brasileiro aposentado pela Europa. Leia também o meu relato da segunda parte dessa viagem e sobre a vida no Porto para os aposentados.

Viver na Grécia
Brasileiros na Europa Europa

Viver na Grécia: descubra como é a vida no país mediterrâneo

Lançaram-me o desafio de escrever sobre como será viver na Grécia como aposentado. Argumentaram que este é um país muito diferente do Brasil, seja pela língua, pelos costumes, pela gastronomia e até pela distância. Pensei no que faria para enfrentar a provocação e dar uma resposta convincente. Pesquisar no Google, os mapas, os guias de turismo, os grupos do Facebook de estrangeiros que vivem na Grécia não seria suficiente. Decidi que a solução seria colocar o pé no chão e experimentar a realidade grega. Foi o que fiz. Passei os trinta e um dias de julho de 2021 na Grécia, para dar uma resposta se um brasileiro aposentado como eu pode viver confortavelmente na Grécia sob os aspectos material e emocional. Conto abaixo o que descobri e dou as minhas opiniões. Para viver na Grécia precisa falar grego? A língua grega é tão difícil que, quando alguma coisa nos foge à compreensão, dizemos "isto para mim é grego", não é mesmo? No entanto, não precisa aprender grego para morar na Grécia. A principal indústria do país é o turismo, o que faz com que 51% dos gregos falem inglês. Portanto, se você quer viver na Grécia, mantenha o seu inglês sempre em forma. Nos dias em que estive lá, nunca faltou alguém que falasse inglês quando eu precisava me comunicar. Seja no supermercado, na farmácia, no correio, no restaurante, no Uber, no museu, na rua. Em suma, é possível se comunicar em inglês em qualquer lugar. Nas ocasiões em que utilizei o Uber, todos os motoristas falavam bem a língua. Inclusive, sem exceção, os albaneses (há muitos deles na Grécia). Os menus dos restaurantes são bilíngues, assim como os panfletos de interesse turístico. A barreira da língua para os brasileiros ao viver na Grécia O brasileiro que não consegue se comunicar em inglês poderá viver na Grécia, mas de forma muito limitada. Quem entende e fala inglês não terá problemas de comunicação. Os que têm queda para línguas poderão estudar o grego, seja pelo Zoom ou em aulas presenciais, que são baratas. Para todos recomendo pelo menos aprender o alfabeto. O YouTube tem vários vídeos que ensinam o "alfavito". Isto ajuda a ler as palavras. Acreditem, há muitas palavras no vocabulário moderno grego originárias do inglês, do italiano e do francês, que podemos reconhecer. Deixo aqui registradas as palavras que eles gostam que os estrangeiros usem, e das quais eu abusava: Kaliméra!: Bom dia! Eu saía de manhã distribuindo kaliméras. As pessoas respondiam dobrado: "Kaliméra, Kaliméra!". Este comprimento é usado até mais ou menos às duas da tarde. Menos usados são "Kalispéra!" (Boa tarde!) e "Kalinirrita!" (Boa noite!); Yassas! ou simplesmente Ya!: Olá! Este é, junto com Kaliméra, o cumprimento mais utilizado; Eferraristó: Obrigado; Parakaló: De nada. Usado também como "por favor". Essas palavrinhas são mágicas e abrem as portas para um relacionamento melhor. Ao invés de simplesmente perguntar a alguém: "do you speak english?", eu começava com uma saudação grega: "Kaliméra! Do you speak english?". Faz uma enorme diferença. As surpreendentes belezas naturais e artificiais gregas O que não falta na Grécia são belezas naturais, além das criadas pelo engenho humano. Montanhas nevadas, verdes vales, desertos, cavernas, florestas, lagos, cachoeiras e ilhas. Aliás, o país possui dois milhares de ilhas (das quais mais de duzentas são habitadas), com incontáveis praias de águas mornas durante boa parte do ano. Meteora alia formações rochosas misteriosas, como dedos que apontam para o céu, com criações humanas colocadas em seu topo, os mosteiros ortodoxos. Segundo amigos, é um lugar digno de visitar, embora eu não tenha ido desta vez. Seria um exagero dizer que cada uma das 220 ilhas gregas habitadas é um universo em si, mas a diversidade é um aspecto bastante positivo para o aposentado que vive na Grécia e gosta de fazer viagens curtas para quebrar a rotina. Por óbvia questão geográfica (afinal, são ilhas) e por circunstâncias históricas, as ilhas são diferentes entre si, pois desenvolveram alguns costumes e gastronomia distintos. [caption id="attachment_115421" align="alignnone" width="750"] Atenas vista da Acrópole. Ao longe, o porto de Piraeus. Foto: César Barroso[/caption] O que as une são a língua, a religião, o passado remoto e recente de lutas contra invasores de várias procedências. Boas praias e fartura de frutos-do-mar não faltam em nenhuma delas. São um paraíso para quem gosta de banho de mar, peixe, camarão e polvo. Portanto, se o aposentado mora em Atenas ou em alguma outra cidade do continente (ou até mesmo numa ilha), há uma tremenda abundância de locais para onde ir passar uma ou duas semanas fora do cotidiano. O transporte para as ilhas é feito em barcos e/ou aviões (algumas ilhas têm aeroportos). Os ferry-boats são muito modernos e seguros e quem dispor de carro poderá levá-lo no ferry, se quiser. Comida deliciosa e preços atraentes A Grécia sofreu uma crise econômica fortíssima há poucos anos e as sequelas ainda são visíveis. Fiquei hospedado num bairro de classe média chamado Kypseli. É notório que as pessoas que vivem ali estão apertadas de dinheiro. Em consequência, o custo de vida é menos dispendioso (mas não muito) do que em Portugal e na Espanha. A maneira mais barata de comer fora é nos fast-food souvlakis (que no Brasil são chamados de "churrasco grego") de frango e de porco. Por todas as partes se encontram souvlakis e estão sempre com fregueses, o que garante a renovação constante do produto. Uma refeição ali custa a partir de 3,5€. Um blogueiro inglês me recomendou um restaurante em Kypseli do qual fiquei fã. Ali há uma variedade grande dos pratos mais populares da Grécia. Chama-se "As Delícias de Maria"(Oi Nostimies tis Mairis) e fica na praça da igreja de São Jorge: Ydras 2 Kypseli Plateia Agiou Georgiou. Por 10€ come-se bem, acompanhado com uma jarra de vinho. Maria é uma senhora bonita que gosta que sua comida seja elogiada. Aconselho acompanhar qualquer prato com "horta vrasta" (ervas cozidas servidas com suco de limão) e "fava" (purê de ervilha), que são o suprassumo da dieta mediterrânea grega. Supermercado na Grécia Os preços nos supermercados são um pouco mais baratos do que em Portugal e na Espanha. As verduras e frutas estão sempre frescas e apetitosas. As azeitonas negras kalamata, famosas em todo o mundo, são ainda mais gostosas no seu país de origem. O mel é puro e as carnes de vaca, porco, cabrito e ovelha são de boa procedência. Para quem vem dos Estados Unidos, como eu, os preços são excelentes, porque custam o quilo quase o que lá custam a libra peso (1kg equivale a quase 2.2 lb). Os laticínios também são de qualidade, com especial destaque para o iogurte grego e o queijo feta. O surpreendente custo do aluguel de imóveis para viver na Grécia Ainda em decorrência da crise econômica, comprar e alugar imóveis na Grécia é muito mais barato do que nos outros países mediterrâneos. Para se ter uma ideia, ofereceram-me para alugar uma casa de dois quartos na ilha de Aegina, para onde fui depois de Atenas, por 2.500€ por ano. Isto mesmo, 210€ por mês. Em Atenas, os aluguéis não estão nesse nível, mas também são acessíveis. É preciso, no entanto, muita atenção ao se assinar um contrato de aluguel. Deve-se usar o serviço de um advogado. Acredito que na embaixada do Brasil haja uma lista de advogados de confiança, o que não tive tempo de verificar. No Facebook, num grupo chamado "Foreigners Living in Greece", há ofertas frequentes de imóveis para venda e aluguel. Eu não aconselho dar seguimento a qualquer negócio através do grupo, mas usá-lo como referência dos preços em diferentes partes do país, principalmente em Atenas. Ali também ofertam mobiliário e eletrodomésticos usados. Coloquei um post falando de como os gregos tratavam bem aos estrangeiros e recebi quase mil reações, a grande maioria positiva. Nos comentários, muitos participantes reclamavam das sogras gregas. Depois não digam que eu não avisei... O transporte público grego Atenas tem metrô e muitas linhas de ônibus. Aegina tem três linhas de ônibus que partem de um terminal em frente ao porto nas direções norte, sul e leste. Utilizei muito os ônibus por lá. São limpos e com ar-condicionado. O custo da passagem fica em torno de 1,60€. Não utilizei o transporte público em Atenas. A cidade estava vazia de turistas e o serviço Uber ficou barato e fácil de conseguir. Quando eu não ia a pé (o que prefiro, com a ajuda do GPS), pedia um Uber. [caption id="attachment_116141" align="alignnone" width="750"] Ferry-boat para as ilhas gregas. Foto: César Barroso[/caption] As corridas de aplicativo ficavam em torno de 6€. Apenas a de Kypseli até o porto de Piraeus custou mais, cerca de 16€. A passagem de ferry-boat, de ida e volta, de Piraeus à ilha de Aegina custou 19,5€, um preço razoável para a qualidade de serviço da Saronic Ferries. História e cultura Impossível visitar ou viver na Grécia sem se deixar enlevar por tanta beleza física e intelectual. É como um tsunami que não acaba mais de mitologias, filosofia, sociologia, tragédias, comédias, dramas, guerras, conquistas, arqueologia, esculturas, artefatos, vasos, museus, pintura, artesanato e muito mais. O visitante sente-se atordoado com a miríade de manifestações da cultura mãe do Ocidente. O clima grego A Grécia é o país europeu mais quente. E vai aqui um alerta: o fim de julho e o mês de agosto são quentíssimos. Pensei em esticar minha estadia por duas semanas, mas quando vi as previsões de temperatura desisti. Atenas teria uma máxima de 47ºC. Tem quem goste, mas eu não suporto. Tratei de voltar para Madrid na data marcada, onde as temperaturas também estavam altas, mas nem tanto. O inverno grego é agradável. Em Atenas não neva, apenas chove. Primavera e outono são deliciosos e bonitos, segundo todas as opiniões de gregos e de estrangeiros. O ar é seco. As surpresas de viver na Grécia Eu li bastante sobre a Grécia antes de viajar. Assisti todos os vídeos do australiano de ascendência grega Peter Maneas e da guru de gastronomia grega Diane Kochilas. Fui bastante preparado, mas, como todo viajante sabe, o que a gente imagina é diferente do que a gente encontra. Por exemplo, eu nunca esperava que ao pisar em solo grego faria uma amizade. O anfitrião do Airbnb onde fiquei hospedado, Panagiotis, me deu o cartão de visita em nome do povo grego: somos simpáticos e gostamos de receber bem os estrangeiros. Era domingo e ele deixou sua família para mostrar-me um pouco da cidade e o bairro de Kypseli: a farmácia, o açougue, o minimercado, os restaurantes principais e os cafés (acredito que nenhum povo do mundo toma mais café do que o grego). [caption id="attachment_116156" align="alignnone" width="750"] Cesar e Panagiotis, a amizade inesperada na Grécia. Foto: César Barroso[/caption] A partir daquele dia, nos comunicávamos diariamente. Ele me dava dicas sobre o que fazer. Passamos depois a discutir notícias do dia a dia e, até hoje, semanas após eu ter saído do país, Panagiotis e eu trocamos mensagens diariamente, nem que seja um simples "bom dia, como vai o amigo?". Passei os primeiros doze dias em Atenas, conhecendo bem a cidade. A Acrópole e o Partenon, assim como os museus da Acrópole e o Museu Nacional de Arqueologia, são formidáveis. [caption id="attachment_116299" align="alignnone" width="750"] Templo de Atena, Acropole. Foto: César Barroso[/caption] Meu plano era, depois de conhecer Atenas, visitar uma ilha e, por fim, alguma cidadezinha em área montanhosa do Peloponeso. Panagiotis e outros atenienses me convenceram de que eu deveria fazer uma visita à ilha de Aegina (eles pronunciam Éguina), que é o lugar de veraneio dos atenienses, e onde eles vão, eventualmente, dar um passeio durante o dia, porque o trajeto dura apenas 1h10 por ferry-boat. Mudanças de plano pelo caminho Como bem diz o ditado, Deus faz e o diabo desfaz. Eu fui para Aegina para ficar uma semana e acabei ficando 17 dias. Me enamorei pelas praias, os panoramas, o casario, a culinária, o templo de Aphaia, o Monastério, o porto com seus cafés e a gente amiga. E olha que Aegina não é nem famosa no exterior! Imagino como serão as ilhas renomadas tipo Santorini, Mikonos, Delos, Creta, Chios, Kefalonia, Corfu que pretendo visitar no futuro. [caption id="attachment_115422" align="alignnone" width="750"] Verão nas ilhas gregas. Foto: César Barroso[/caption] Em Aegina, conheci uma jovem família greco-francesa simpaticíssima que tem casa de veraneio lá e que me adotou como vovô. Julien tem carro e, junto com a esposa e sua filha, me levou para passear por lugares e praias menos frequentados no sudoeste da ilha. Tomamos banho de mar numa praia de água fria e noutra de água morna. Comemos peixe frito com salada e vinho branco, com os pés dentro d'água. Minha palavra final para os aposentados brasileiros é que, se querem viver alguma coisa diferente e excitante, tipo aventura, façam uma visita e deem uma chance ao país. Mas cuidado: pode ser que vão, se apaixonem e fiquem encantados com tanta beleza e hospitalidade ao viver na Grécia. *As opiniões dos colunistas não refletem necessariamente a opinião do site Euro Dicas.

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