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Tátylla Mendes

Tátylla Mendes

Colunista

Tátylla Mendes é jornalista e vive na Espanha desde 2018. Trabalhou mais de uma década como redatora publicitária em agências de Brasília e Floripa, mas hoje prefere escrever sobre arte, cultura, viagens e pessoas. É amante da natureza, apaixonada pelas letras e adora viajar. Vê sons em paisagens, sente cores em comidas e escreve sobre o sabor de tudo isso para que todos saibam que o mundo é uma delícia.

Localizações

Onde Nasceu?

Brasília, Brasil

Onde mora?

Valência, Espanha

Onde já morou?

Barcelona, Espanha

Florianópolis, Brasil

Brasília, Brasil

Parceiro Euro Dicas

Desde quando colabora com o Euro Dicas?

Formação

Universidade de Brasília

Comunicação Social

Universitat Autònoma de Barcelona

Jornalismo de Viagens

Especializada em jornalismo cultural e de viagens, comunicação estratégica e escritura criativa. Sua maior ambição é seguir aprendendo e descobrindo histórias, lugares e pessoas.

Curiosidades

Tem filhos?

0

Tem pet?

0

Tem Cidadania Europeia?

Não

Clima preferido

Primavera

Mão dominante

Destro

Sou curiosa e aventureira. Já nadei na cratera de um vulcão e fiz rapel em cachoeiras de até 90 metros. Mas também me fascina explorar o mundo através dos livros, da música, de obras de arte e de uma boa conversa.
Conteúdos recentes
Espanha Brasileiros na Europa

A Espanha e o resto da Europa: semelhanças e diferenças

Alemanha, Croácia, França, Holanda, Itália, República Checa e Suíça. Esses são alguns dos países europeus que visitei antes de vir morar na Espanha. Apesar de estarem todos no mesmo continente, é claro que cada um tem suas particularidades. Só que agora, depois de quase seis anos vivendo por aqui, acho que entendo melhor as semelhanças e diferenças entre a Espanha e o resto da Europa. Quer saber o que a Espanha tem de especial? O que a diferencia de outros países da Europa? Vem comigo neste passeio pelo velho continente! Europa, União Europeia e outros grupos Faz alguns dias, acompanhei meu marido quando ele foi votar nas Eleições da União Europeia. Fiquei pensando sobre o tema e descobri alguns dados bem esclarecedores. A Espanha faz parte da: Europa: continente formado por 49 países (segundo a definição do Conselho Europeu); Espaço Schengen: área de livre-circulação entre 29 países europeus; União Europeia (UE): comunidade política formada por 27 países; Zona do Euro: grupo de 20 países com política monetária comum. A partir daí já fica fácil perceber que a Espanha se assemelha em vários aspectos a outros países europeus que fazem parte desses grupos. Ao mesmo tempo que se diferencia dos não-integrantes. Semelhanças e diferenças na prática Quem tem passaporte europeu pode ir da Espanha à Suíça, por exemplo, sem necessidade de mais comprovações, já que ambas fazem parte do Espaço Schengen. Mas vai precisar trocar dinheiro, isso, sim, já que a Suíça não faz parte da eurozona (nem da UE). Por outro lado, se decidir ir até a Finlândia ou o Chipre, não precisa se preocupar nem com a documentação, nem com o câmbio. Só que, além dessa mobilidade facilitada, a Espanha e o resto da Europa — os demais países da União Europeia — têm outros pontos em comum. Neste caso, se trata sobretudo de políticas e normas: dos direitos do consumidor à privacidade de dados, das normas de mercado aos direitos humanos. Alguns exemplos cotidianos: em todos os países da UE, se trabalha no máximo 48h por semana e as férias mínimas são de quatro semanas ao ano. Em todos, os produtos têm pelo menos dois anos de garantia. E — como comentei na coluna compras nos supermercados espanhóis — em todos, há restrição no uso de sacolas plásticas finas. Isso só para ter noção de algumas semelhanças. A cultura mediterrânea Como o próprio nome diz, o mar mediterrâneo (Medi Terraneum) está em meio a várias terras. Através desse corpo de água salgada a Espanha e outros países da Europa (e também da África e da Ásia) se conectam. Antes eu pensava que essa conexão era apenas geográfica. Mas foi só chegar para morar na Espanha para perceber o valor que muita gente dá à cultura mediterrânea. Pelo que já reparei, os maiores reflexos disso estão no clima e na gastronomia. [caption id="attachment_174524" align="alignnone" width="750"] Original do Mediterrâneo, a alcachofra é muito consumida por aqui. Quase não sobrava para fotografar. Foto: Tátylla Mendes[/caption] Ou seja, países como Espanha, França, Grécia e Itália têm (pelo menos em partes) um clima parecido: o clima mediterrânico, temperado e de verão seco. Além disso, a gastronomia desses países também tem muitos ingredientes similares: as azeitonas, o azeite de oliva, os vinhos, os peixes e embutidos, as frutas e verduras, etc. Sol e calor Tem gente que acha que o sol e o calor são alguns dos fatores que diferenciam a Espanha do resto da Europa. Mas devido a esse clima mediterrânico, eu diria que depende dos pontos de referência. Por um lado, é verdade que na maior parte do território espanhol costuma fazer bem menos frio do que em países como Noruega, Suécia ou até Dinamarca e Alemanha. Só que, em Portugal, no sul da França, no centro e sul da Itália e na Grécia, faz sol e calor como aqui na Espanha. Por outra parte, o extremo-norte espanhol tem um clima mais parecido ao do norte da França, com temperaturas menores e maior volume de chuvas. Enquanto a fronteira leste da Espanha tem clima alpino. Rueiros e expressivos O céu azul e as temperaturas mais amenas são ótimos incentivos para sair de casa, passear ao ar livre, encontrar com amigos e conversar. Conversar, muitas vezes, falando alto. Não quero generalizar e dizer que os espanhóis são ruidosos. Mas comparo duas situações similares: no metrô de Amsterdam eu praticamente só ouvia cochichos. No metrô daqui, por outro lado, a trilha sonora é variada: uns com música, uns falando no telefone, uns conversando. Eu diria que os espanhóis são bastante expressivos (mais semelhantes aos italianos, talvez). São diretos e defendem suas opiniões com argumentos francos. Gostam da vida ao livre, gostam de conversar, são de fácil contato. O cumprimento com dois beijinhos na bochecha é bem comum. Mas se não for com amigos íntimos, o contato físico não costuma passar desse ponto. Os vários idiomas Na França se fala francês. Na Alemanha se fala alemão. Na República Tcheca se fala tcheco. Na Espanha se fala… castelhano, catalão, euskera, galego e valenciano (entre outras línguas). O castelhano (que teve origem em Castilha) é o que se conhece comumente como espanhol. É o idioma oficial de todo o país. Os demais são reconhecidos pela própria Constituição Espanhola como cooficiais em suas respectivas Comunidades Autônomas. Pesquisando um pouco, descobri que essa utilização de vários idiomas é outro fator que diferencia e, ao mesmo tempo, assemelha a Espanha e o resto da Europa. Diferente do caso espanhol, metade dos países que fazem parte da UE têm apenas um idioma oficial. Só que na outra metade, como aqui, se fala mais de um idioma. Em Portugal, por exemplo, além do português há o mirandês, ainda que, neste caso, seja uma língua minoritária falada apenas em uma cidade. [caption id="attachment_174525" align="alignnone" width="750"] Um aviso dentro do metrô em valenciano e em castelhano. Foto: Tátylla Mendes[/caption] O caso da Espanha é mais parecido, provavelmente, ao da Itália, onde são utilizados diferentes idiomas cooficiais em determinadas regiões. Aliás, aqui em Valência é bem comum ouvir o valenciano na rua, na TV, nas comunicações oficiais, etc. Não se trata de uma língua minoritária. Dos mais de 5 milhões de habitantes da Comunidade Valenciana, mais de 80% fala valenciano. Sobre o caso do catalão eu já tinha comentado na coluna morar em Barcelona é morar na Espanha? A siesta Depois de tantas discordâncias e coincidências, me pergunto se a siesta— aquela dormidinha depois do almoço — é o hábito que mais diferencia a Espanha e o resto da Europa. Pesquisando novamente, descubro que não é bem assim. Dizem que muitos alemães e italianos também têm o costume de fazer um pequeno “riposo” após comer. Além disso, como comentei na coluna Mitos sobre a Espanha, por aqui nem todos dormem e nem tudo fecha. Alguns estabelecimentos turísticos e lojas de grandes marcas em grandes centros urbanos costumam permanecer abertos o dia inteiro. Mas sim, muitas lojas e estabelecimentos públicos fecham para a siesta. Até mesmo nas grandes cidades da Espanha é comum encontrar boa parte do comércio fechado entre as 14h e as 16h30 ou 17h. Os horários espanhóis Não sei se é devido ao clima mediterrânico e do hábito de desfrutar da vida na rua. Não sei se a siesta também não acaba influenciando. O que sei é que o que realmente diferencia a Espanha e o resto da Europa são os horários. Não me refiro ao fuso ou ao horário oficial, mas sim aos horários de atividades tão banais como comer e dormir. Por aqui é bem normal ter uma reunião marcada para as 12h ou 12h30 porque a hora de almoçar mesmo é a partir das 14h. O jantar costuma ser só depois das 21h30. Um estudo publicado na revista Science ainda confirma que a Espanha é o país em que mais tarde se vai dormir, normalmente depois da meia-noite. Aliás, uma coisa que acho engraçada é quando dizem, por exemplo, “me fui a comer a las 2h del medio-día” (fui comer às 2h do meio-dia). Ou quando você marca de encontrar com alguém às 21h e a pessoa te diz “perfecto, nos vemos hoy por la tarde” (perfeito, nos vemos hoje de tarde). Me dá a impressão de que os espanhóis têm uma ideia meio fluida do tempo. Comparações à parte É claro que a culinária espanhola é diferente da italiana, da francesa e demais. É claro que a arquitetura de uma cidade como Barcelona é diferente da que encontramos em uma cidade como Amsterdam. É claro que há muitas diferenças entre cada um dos países da Europa. E é bem verdade que comecei esta coluna te convidando para descobrir o que a Espanha tem de diferente. Só que acabei percebendo que a Espanha e o resto da Europa tem, na realidade, muitas coisas em comum. Alguns aspectos se assemelham mais a um ou outro país, a uma ou outra região. Mas a questão é que existem muitas semelhanças, assim como existem (é claro) muitas diferenças. Então, o que a Espanha tem de especial?  Na minha opinião, é a mescla de cada uma das suas características (sejam semelhantes ou diferentes de outros países) que torna a Espanha um país único. É o fato de ser um país integrante da UE (da eurozona e de outros grupos), com cultura mediterrânea, bom clima, gente rueira e expressiva, com idiomas e horários próprios. É o fato de serem muitos países em um (como todos), mas com uma combinação que só se encontra aqui. Tem vontade de se mudar e sentir o que a Espanha e o resto da Europa tem em comum e suas diferenças? Deixo a indicação do ebook Como Morar na Espanha, escrito pela equipe do Euro Dicas. O ebook traz todos os detalhes e orientações atualizados para ajudar você a se planejar essa mudança e trilhar o seu caminho até o país.

Tram é um dos transportes utilizados na Espanha
Brasileiros na Europa Espanha

Histórias de transporte público na Espanha: micos e descobertas

Quem me acompanha por aqui sabe que não é a primeira vez que falo sobre transporte público. Já falei da qualidade; comparei brevemente Madri, Barcelona e Valência e até comentei que, para mim, ter um carro na Espanha é (quase sempre) um desperdício. Mas desta vez eu quero te contar minhas histórias de transporte público na Espanha. Só mesmo contando alguns casos reais é que dá para entender melhor alguns pontos. Casos reais que aconteceram comigo, aliás: dos micos às descobertas. Dá uma olhada! Correndo atrás do último metrô Quando me mudei para morar na Espanha, uma amiga veio junto comigo passar os primeiros dias. Além de procurar o cantinho onde eu ia viver, aproveitamos para explorar juntas Barcelona. Quem já esteve na cidade sabe: é fascinante. Entre tantas obras de Gaudí, museus, parques e monumentos, fica fácil perder a noção do tempo. Esse foi o problema. Após bater perna o dia inteiro, decidimos finalmente sentar em um bar para comer e tomar algo. Foi só depois de fazer o pedido que reparamos na hora. — Quando o garçom voltar com a comida, a gente engole tudo bem rápido e vai. — Mas nem a cerveja ele trouxe ainda. — Pois é. Mas o último metrô é meia-noite. E se perdemos, como vamos voltar para o Airbnb? A maratona e as descobertas Não, nós não pensamos em pegar um táxi. Bebemos a cerveja de um trago e quase nos entalamos com a comida. Pagamos antes de terminar de engolir. Saímos correndo como umas loucas até a estação do metrô e, por um triz, conseguimos. E por sorte, não vomitamos tudo. Só depois de muitos meses dessa maratona é que descobri que Barcelona tem um excelente serviço de ônibus noturnos, os NitBus. Além disso, o metrô funciona nas sextas-feiras até às 02h e das 05h do sábado até as 24h do domingo sem parar. Moral da primeira entre as histórias de transporte público na Espanha: a falta de informação pode levar à indigestão. Tram, um bonde moderno Eu não gosto de falar no telefone enquanto estou no transporte público na Espanha (e em nenhum outro lugar). Mas nesse caso, como era minha mãe, eu atendi: — Oi, filha. Tá no trem? — Não, mãe, to no tram. — O quê que é isso? — É tipo um trem, mas que funciona ligado em uma linha elétrica. — Ah tá, é um bonde, então. — Isso, isso. É como um bonde. — Tira umas fotos aí para eu ver. — Não posso. É proibido tirar fotos e filmar dentro do transporte público. — Ixi, por quê? — Pela proteção de dados das pessoas. — Hm, entendi. Mas como é? É que nem esses bondes abertos que vai gente pendurada do lado de fora? — Que nada, mãe! É um bonde moderno. [caption id="attachment_170565" align="alignnone" width="750"] Em abril de 2024 foram mais de 1,4 milhão de usuários no tranvía em Valência. Foto: Tátylla Mendes[/caption] Não podia deixar minha mãe preocupada e achei melhor satisfazer a curiosidade dela. Então, após chegar à minha parada, tirei algumas fotos do tranvía — como dizem aqui em Valência — ou tram — segundo a abreviação barcelonesa. Funiculì-funicular: o mico alla Pavarotti Voltemos a Barcelona, aos dias que minha amiga estava comigo explorando a capital catalã. Um dos lugares que queríamos visitar era a montanha de Montjuïc, onde estão localizados o MNAC, a Fundação Joan Miró, o Castelo de Montjuïc, etc. — Aqui no site diz que “o funicular de Montjuïc permite um acesso cômodo e rápido com transporte público até Montjuïc desde o centro de Barcelona em apenas 2 minutos” – traduzi para minha amiga fingindo uma voz de assistente pessoal — Vamos nessa? Ela estava um pouco estressada naquele dia com umas questões pessoais e eu queria animá-la. Minha imitação não fez muito efeito, mas decidi não desistir. [caption id="attachment_170563" align="alignnone" width="750"] O funicular de Vallvidrera carrega cerca de 1 milhão de passageiros ao ano. Foto: Tátylla Mendes[/caption] Quando chegamos à estação, como não havia muita gente por perto, resolvi fazer uma gracinha com o nome do transporte. Comecei a cantar no meu melhor estilo Pavarotti: Funiculì-funicular, funiculì-funicular, larara-rara-lara-lara-lararara. Vem, canta comigo. Funiculì-funicular, funiculì-funiculaaaaar… Ela finalmente deu uma risada. O pior é que não foi só ela. Quando percebi, já tinha um monte de gente me olhando estranho e uns quantos mais rindo da minha cara. Mas valeu a pena. O que a gente não faz pelos amigos? Muito além de Montjuïc Minha versão da música pode até não ter sido das melhores (risos), mas nem por isso deixa de ter fundamento. Sabia que a canção italiana “Funiculì, funiculà” foi criada para comemorar a abertura do primeiro funicular do Monte Vesúvio? Vale comentar também que, além do funicular de Montjuïc, em Barcelona há outros dois transportes do tipo: o funicular de Vallvidrera e o do Tibidabo. Dos 12 funiculares em funcionamento na Espanha, o do Tibidabo é o mais antigo, o que enfrenta o maior desnível e o segundo mais longo. Uma pintura abstrata no trem de alta velocidade Entre Sevilha e Córdoba, o caminho mais curto tem aproximadamente 130 km. De carro, o trajeto pode ser feito entre 1h30 e 2h. Mas se você decidir, como eu fiz, acumular histórias de transporte público na Espanha, pode chegar de uma cidade a outra em cerca de 40 minutos. Isso, é claro, se você optar pelo trem de alta velocidade. — Meu amor, o que você prefere: o trem de meia distância por 11€ ou o de alta velocidade por 18€? — perguntou meu marido. — Ah, vamos no de alta velocidade. Não é muito mais caro. E eu nunca fui. Será uma nova experiência. Dizer que a experiência foi rápida é quase uma redundância. Mas eu gostei. O trem era bastante cômodo e, enquanto viaja pela Espanha, você não sente que está a quase 300 km/h. O que mais muda é a vista. Do lado de fora, a paisagem vai se convertendo em uma pintura abstrata. As árvores, as construções e as estradas tomam a forma de pinceladas velozes. As cores se mesclam. É quase poético o contraste com o azul e branco de um céu igualmente fugaz. Até que você chega ao seu destino e tudo volta ao seu devido lugar. Um susto quando o ônibus se inclinou Esta é uma das histórias de transporte público na Espanha que, na verdade, é uma pequena confissão. Serei franca. Quando vi pela primeira vez um ônibus se inclinar, eu me assustei um pouco. Eu estava em pé dentro do veículo, mais ou menos perto da porta. Ou seja, senti na pele essa emoção. Quer dizer, me desequilibrei ligeiramente. Não cheguei a cair — sejamos sinceros — porque a inclinação não é absurda nem repentina. Mas me assustei um pouco. [caption id="attachment_170561" align="alignnone" width="750"] Em março de 2024, mais de 165 milhões de usuários usaram o ônibus na Espanha. Foto: Tátylla Mendes[/caption] O que acontece é que alguns ônibus contam com um sistema de inclinação para os passageiros com mobilidade reduzida poderem sair do veículo. Eu já tinha visto ônibus com rampas e elevadores para essa mesma finalidade. Me senti um pouco matuta por não conhecer o tal sistema de inclinação. Mas tudo tem uma primeira vez, não é mesmo? Outras modernidades do transporte espanhol Faixas exclusivas para ônibus (e táxis) não são nenhuma novidade. Mas facilitam a vida de quem usa o transporte público espanhol. O mesmo passa com o ar-condicionado nos veículos (durante o verão valenciano é imprescindível) e as entradas USB para carregar o celular. Outra coisa muito conveniente é poder descobrir quantos minutos faltam exatamente para o seu ônibus passar. Além do mostrador digital na parada, dá para consultar na internet ou aplicativo pelo número da parada, antes mesmo de sair de casa. As TVs e alta-vozes nos veículos que anunciam as paradas também auxiliam os mais distraídos. Para completar, se você não tem o cartão do ônibus nem dinheiro trocado para pagar o motorista, pode pagar com cartão de débito diretamente na maquininha. Lotação: a gente também vê por aqui Eu não estava atrasada, mas estava impaciente. Tinha um compromisso importante e precisava cruzar a cidade de ônibus. O mostrador digital dizia que o veículo estava “próximo”, ou seja, a menos de 1 minuto. Mas quando o ônibus apareceu, no visor dianteiro estava escrito “Complet” (completo, lotado). Ao ver que duas pessoas saíram do veículo, eu e outra mulher ignoramos o letreiro e subimos pela porta do meio. A prática é comum por aqui, já que não existe cobrador e dá para pagar nas maquininhas do meio ou de trás. O incomum foi a reação do motorista. [caption id="attachment_170562" align="alignnone" width="750"] As paradas de ônibus de Valência nem sempre estão assim tão vazias. Foto: Tátylla Mendes[/caption] Ele certamente devia estar tendo um mau dia porque se levantou e começou a gritar comigo e com a mulher. Dizia que tínhamos que descer. Que o ônibus estava completo. Que existem regras. Tentamos argumentar que duas pessoas haviam saído. Que havia espaço. Mas não teve jeito. Enquanto não saímos, ele não arrancou o ônibus e essa é mais uma das minhas histórias de transporte público na Espanha. Um contraponto necessário A verdade é que já estive em outros ônibus bem mais “completos” (no Brasil e aqui também). Um dia, durante as últimas Fallas de Valência, tivemos que deixar três metrôs passarem porque nem empurrando com todas as forças havia espaço para entrar. Digo isso para fazer um contraponto, porque acho que é sempre bom lembrar que nada na vida é perfeito. O transporte público espanhol tem suas vantagens e modernidades. Mas também lota algumas vezes. Também tem gente mal-educada (e gente bem-educada). Tem gente tocando no metrô em troca de algumas moedas (principalmente em Barcelona). Nunca vi ninguém vendendo nada dentro de metrôs ou ônibus. Aposto que deve ser proibido. O transporte público nosso de cada dia O número de pessoas que utilizam o transporte público na Espanha supera os 400 milhões de passageiros ao mês. Aliás, em cidades como Madrid, Barcelona e Bilbao, as pessoas preferem utilizar o transporte público do que o carro particular para ir trabalhar e/ou estudar. Aqui em Valência, somando ônibus, metrô e tranvía, foram mais de 18 milhões de passageiros somente em abril. Comento esses dados para demonstrar como é comum utilizar o transporte público por aqui. Pessoas de todas as idades e classes utilizam essa forma de transporte para se deslocar nas cidades e também entre uma cidade e outra. Apesar de fazer também muitos trajetos caminhando, eu sou uma das passageiras assíduas da rede pública de transportes espanhola. Deve ser por isso que falo tanto sobre o tema. São tantos quilômetros rodados quanto histórias para contar. Mas desta vez vou parando por aqui, porque já está quase na hora do meu ônibus passar. Quer se mudar para o país Ibérico e acumular as suas próprias histórias de transporte público na Espanha? Recomendo a leitura do ebook Como Morar na Espanha, que vai te ajudar com todo o planejamento de mudança.

Valência é a viver na Capital Verde Europeia 2024
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Como é viver na Capital Verde Europeia 2024? Confira!

Como é viver na Capital Verde Europeia 2024 — Valência? A cidade espanhola eleita pela Comissão European Green Capital Award em outubro de 2022 recebeu o prêmio que reconhece os esforços das cidades europeias para melhorar o meio ambiente e, assim, a economia e a qualidade de vida da população. O que avaliam para isso? Da qualidade do ar à mobilidade urbana, do uso sustentável do solo aos esforços de combate ao câmbio climático, entre outros fatores. Agora, quer saber como é, na prática, viver em uma cidade assim, mais verde e sustentável? Vem comigo que eu te conto! Turia, o parque que era um rio Era uma vez uma cidade atravessada por um rio que vivia transbordando e causando enchentes. Essa história parece conhecida, não é mesmo? Só que, no caso de Valência, onde eu moro, o drama acabou tendo um final feliz (ou quase). A situação começou a mudar nos anos 60, quando decidiram construir um novo leito (fora do centro urbano) e desviar o rio. A ideia inicial era construir sobre o antigo leito uma série de pistas para conectar a cidade de uma ponta a outra. Felizmente, após uma intensa manifestação popular, decidiram transformar o espaço em um grande parque urbano. Com quase 10 quilômetros de extensão e 200 metros de largura, o parque Jardins do Turia é, atualmente, o maior parque linear urbano da Europa. Um fator que, certamente, contou pontos na escolha de Valência como Capital Verde Europeia 2024. Um rio de vida Assim como muitos valencianos, estrangeiros e turistas, eu sou frequentadora assídua dos Jardins do Turia. Para mim, o parque é ideal para caminhar, seja como forma de exercício ou pelo simples prazer de passear em um espaço verde. Além de não ter que enfrentar nenhum carro ou semáforo, eu acho a trilha sonora dos pássaros muito estimulante. [caption id="attachment_169458" align="alignnone" width="750"] Curtir os Jardins do Turia é uma das alegrias de viver na Capital Verde Europeia 2024. Foto: Tátylla Mendes.[/caption] Mas além da caminhada, o parque é utilizado para as mais diversas atividades: correr, andar de bike, jogar futebol, rugby, beisebol, peteca ou pique-pega. Passear com o cachorro, com o carrinho de bebê, com o namorado, com a família, com os amigos ou sozinho. Fazer yoga, tai-chi, aula de dança ou piquenique, entre outras diversas possibilidades. Se ainda tem muita gente que segue chamando os Jardins do Turia de rio, é porque por aí segue fluindo uma torrente de vida. Algumas pendências Conversando com um geógrafo valenciano para uma reportagem que escrevi sobre os Jardins do Turia, ele me contou que Valência ainda tem algumas pendências para resolver. Segundo ele, ainda falta conectar o espaço verde ao Parque Natural do Turia por um lado e ao mar pelo outro. Além disso, com o crescimento da cidade, o novo leito do rio fica, agora, às margens da área urbana e precisa ser renaturalizado. Comento isso para dar uma visão mais realista e menos romantizada da cidade. Afinal, apesar dos esforços em prol da sustentabilidade, nenhuma cidade é perfeita e sempre haverá algo que pode ser melhorado. Outras (muitas) zonas verdes Como comentei, para fazer exercício, meu lugar preferido são os Jardins do Turia, especialmente dos tramos I ao VIII. Já para fazer um piquenique, o meu preferido é o parque de Viveros. E para me inspirar, os Jardins de Monforte. Para dar uma voltinha, o parque de Marxalenes ou o de Cabecera. Para ir ao teatro, o Parque Central ou o da Rambleta. Para ir ao museu, os Jardins do Antigo Hospital. Para levar os amigos que vem turistar, os tramos XIII e XIV do Turia. [caption id="attachment_169548" align="alignnone" width="750"] Uma parte do parque de Viveros, um dos locais que frequento. Foto: Tátylla Mendes[/caption] Valência, a Capital Verde Europeia 2024, faz jus à cor do seu título. Para a felicidade dos amantes da natureza (como eu), parque aqui é o que não falta. Segundo o Plano Verde e da Biodiversidade de Valência, a cidade tem 28 grandes parques e jardins, sem contar os parques de bairro, os boulevards, as avenidas ajardinadas. Resultado: 97% da população de Valência vive a menos de 300 metros de zonas verdes urbanas. Leia também o artigo sobre Barcelona ou Valência e descubra qual a melhor para se viver. A horta de Valência Além das zonas verdes urbanas, Valência está rodeada por L'Horta de València: um cinturão rural de 20 mil hectares, dedicado sobretudo à agricultura. Comparado ao Brasil, isso pode não parecer muito especial. Mas L'Horta de València é uma das poucas áreas rurais periurbanas que restam na Europa. E é claro que isso também somou pontos para eleger Valência como a Capital Verde do velho continente este ano. Mas que diferença isso faz na vida da gente? Na prática, ter um cinturão agrícola abraçando a cidade contribui para ter fácil acesso a hortifrutigranjeiros frescos de km zero (ou quase). A disponibilidade é alta e os preços, não tanto. Ou seja, dá para se alimentar melhor e de forma mais sustentável. A Albufera (e a origem da paella) Uma albufeira é um lago que se comunica com o mar quando a maré enche. A Albufera de Valência fica a uns 20 km do centro urbano. Apesar de fazer parte da cidade (acessível, inclusive, com transporte público), a mudança de cenário é total. De ônibus, o trajeto leva mais ou menos uma hora. Não é dos mais rápidos, mas é muito agradável ver o tumulto da cidade ir cedendo lugar aos arrozais e bosques que rodeiam o lago. Para mim, é uma das melhores opções de passeio para desconectar um pouco em um dia livre. [caption id="attachment_169551" align="alignnone" width="750"] Um pedacinho da Albufera de Valência. Foto: Tátylla Mendes[/caption] E nada melhor para fechar esse passeio com chave de ouro do que comer uma boa paella — uma das comidas típicas da Espanha. Afinal, como já contei na coluna Mitos sobre a Espanha, a Albufera de Valência é a verdadeira terra de origem da paella. Aliás, as plantações de arroz da região integram a área rural periurbana. De bike é melhor Valência é a melhor cidade da Espanha para circular com bicicleta. Quem diz isso não sou eu (que — confesso — já não sei mais andar de bike), é a Organização de Consumidores e Usuários. Mas é fácil de perceber os motivos. Primeiro porque Valência é absolutamente plana. Segundo porque existem mais de 160 km de vias exclusivas para se deslocar em duas rodas pela cidade com segurança. Para ter uma noção, é possível ir, inclusive, até a Albufera de bicicleta. Sem contar as bicicletas para alugar, os estacionamentos de bike, etc. Até o clima de Valência favorece os deslocamentos de bicicleta (ou, no meu caso, a pé). E tanto os habitantes da cidade quanto os turistas costumam aproveitar essas vantagens, contribuindo para que os deslocamentos pela Capital Verde da Europa 2024 sejam realmente mais sustentáveis. Ah, e já contei minhas histórias de transporte público na Espanha aqui! Recolhimento e separação do lixo Outro dia vi um vídeo em que várias pessoas, em Nova York, estavam gravando um caminhão fazendo o recolhimento mecânico dos contêineres de lixo. Imagino que talvez fossem turistas, porque esse sistema de recolhimento mecânico não é nenhuma novidade. Pelo menos, aqui na Espanha não é, principalmente nas grandes cidades como Madrid e Barcelona. O normal é ter a cada poucas esquinas um conjunto de contêineres, um para cada tipo de resíduo: orgânico, papel, plástico, vidro e restos. Assim, se as pessoas colaboram, já fica mais fácil reciclar. Depois, vem o caminhão, estira os braços mecânicos e esvazia o conteúdo do contêiner na caçamba do veículo. [caption id="attachment_169459" align="alignnone" width="750"] Um dos pontos de como é viver na Capital Verde Europeia 2024 é tornar a separação do lixo uma rotina. Foto: Tátylla Mendes[/caption] Aqui em Valência também tem contêineres próprios para óleo usado, para pilhas e para roupas e calçados. Além disso, a cidade ainda investiu em algumas plataformas móveis com contêineres de menor porte agrupados, especiais para ruas estreitas. Na prática, isso resulta, é claro, em uma cidade mais limpa e sustentável. A Capital Verde Europeia 2024 para além do verde Apesar de estar muito ligada ao meio ambiente, a sustentabilidade também está relacionada a fatores sociais, econômicos e até culturais. E como expliquei lá no início, a Comissão Europeia considera vários desses fatores. Por isso, eu acho que foi muito acertada a eleição de Valência, este ano, como Capital Verde da Europa. Porque além das suas dezenas de zonas verdes, Valência também investe em diversas outras iniciativas. Há várias ruas e praças exclusivas para pedestres. Há fontes de água filtrada grátis em alguns pontos da cidade. Há medidores de ruído em várias praças (para conscientizar sobre a poluição sonora). [caption id="attachment_169552" align="alignnone" width="750"] Plaza de la Reina, um dos espaços pedonais da Capital Verde Europeia 2024. Foto: Tátylla Mendes[/caption] E tem mais: boa parte da frota de ônibus públicos é de elétricos ou híbridos. A rede de água tem medição digital em tempo real, aumentando a eficiência hídrica. Além disso, a cidade fez até a verificação e certificação da pegada de carbono da sua atividade turística. Mais sustentável e agradável Como contraponto, acho que é importante mencionar as Fallas de Valência. Como comentei na coluna sobre a festa, é grande a poluição atmosférica e sonora causada pelos fogos de artifício e pela queima de esculturas. De todo modo, estamos falando de uma tradição e de algo (mais ou menos) pontual. Volto a dizer, aliás, que nenhuma cidade é perfeita e sempre há fatores que podem ser melhorados. Ainda assim, como já deve ter dado para perceber, são diversos os esforços da Capital Verde Europeia 2024 em prol da sustentabilidade. E viver em uma cidade assim não é apenas mais sustentável, é muito mais agradável. Agora que já sabe como é viver na Capital Verde Europeia 2024 e tem certeza de que é a cidade certa, recomendo a leitura do ebook Como morar na Espanha, elaborado pela equipe do Euro Dicas e pessoas que vivem no país Ibérico. Vale a pena conferir, pois ele vai te ajudar em todos os detalhes do planejamento.

Qualidade de vida na Espanha é um dos porquês não quero voltar para o Brasil.
Brasileiros na Europa Espanha

Por que eu não quero voltar para o Brasil? Entenda meus motivos!

Ao falar sobre minha mudança para a Europa, eu sempre penso naquela música do Milton Nascimento. “Tem gente que chega pra ficar / Tem gente que vai pra nunca mais / Tem gente que vem e quer voltar / Tem gente que veio só olhar / Tem gente a sorrir e a chorar”. Me identifico principalmente com a primeira frase. Eu vim para ficar e a cada dia tenho mais certeza do porquê não quero voltar para o Brasil. Nesta coluna eu te conto os motivos. Um parêntese: eu amo o Brasil Eu já não “moro num país tropical”, mas continuo achando que ele é “abençoado por Deus e bonito por natureza”, como diz o Jorge Ben Jor. Continuo me sentindo “brasileira, com muito orgulho, com muito amor”. Amo nossa culinária, nossa música (deu pra notar?), nossa língua, a resiliência do nosso povo e até nossos jeitinhos (com algumas exceções neste último caso). Ao mesmo tempo, tem coisas que eu não gosto no Brasil. E posso te dizer o mesmo sobre a Espanha, tem coisas que amo e outras que não gosto. Na minha opinião, todos os países (e tudo na vida) tem pontos positivos e negativos. E o que pode ser positivo para uma pessoa pode ser negativo para outra. Sabe como é isso das opiniões. A questão é considerar suas prioridades e o peso que têm no seu dia a dia e na sua vida cada um desses pontos. Colocar na balança e analisar racional e emocionalmente. No momento, ao fazer essa análise, minha conclusão é: eu não quero voltar para o Brasil. Por mais horas de vida Vou começar a te contar minhas razões para não querer mais morar no Brasil com um ponto que pode parecer banal: o transporte público. Mas aí eu te pergunto: quantas horas por dia você passa no transporte público? Ok, talvez você tenha carro e não tenha esse “problema”. Tive carro por um tempo, mas quando fiquei sem, em Floripa, passava umas 3h/dia no ônibus, sem contar os tempos de espera. E, na verdade, desde que me mudei para o país, eu acho que ter um carro na Espanha é (quase sempre) um desperdício. Uma das justificativas dessa opinião é a qualidade do transporte público espanhol. Em geral, os veículos são modernos e confortáveis. A disponibilidade e a frequência são grandes, sem longos períodos de espera. Há vários tipos de transportes e os preços são bem acessíveis. Não digo que seja perfeito, mas acho que é melhor do que o brasileiro. Outras alternativas de locomoção Devido a essa qualidade, depender do transporte público na Espanha, normalmente, não é um “problema”. Aliás, essa dependência, muitas vezes, é menor, já que há outras alternativas viáveis para se deslocar pela cidade. [caption id="attachment_166528" align="alignnone" width="750"] Os espanhóis não são tão dependentes de carro como no Brasil. O uso de bicicletas, por exemplo, é bem comum. Foto: Tátylla Mendes[/caption] Uma das razões para isso é o tamanho das cidades espanholas (e europeias, de forma geral), bem menor do que o das brasileiras. É possível chegar a vários pontos caminhando, pedalando ou com patinete. Além disso, essas alternativas também me parecem mais seguras por aqui. E esse é outro ponto que conta na minha decisão de não querer voltar para o Brasil. Ah, e já contei minhas histórias de transporte público na Espanha aqui! O que eu quero? Sossego Outro dia, conversando com minha irmã, ela me perguntou: “Mana, você sai à noite aí?” “Claro. Saio, sim. Por quê?”, perguntei de volta. “Quero saber se você sai sozinha, se não é perigoso”. Fiquei um pouco intrigada com a pergunta. Tem questões que a gente não pensa se não são um problema e fazia tempo que eu não pensava sobre a questão da segurança. Mesmo nas vezes que saí sozinha de noite, não pensei sobre isso. Resolvi dar uma olhada nas estatísticas. Segundo o Índice Global da Paz, do Instituto para Economia e Paz (IEP), a segurança na Espanha é muito boa! Em 2023, o país foi considerado o 32º país mais seguro do mundo. O Brasil, por sua vez, aparecia na posição 132 desse ranking. De toda forma, acho que isso é um pouco relativo. Acredito que, no Brasil (e em qualquer país), há alguns lugares mais seguros que outros. E para falar a verdade, eu nunca fui assaltada nem sofri nenhum tipo de violência em meus mais de 30 anos de terras tupiniquins. Ainda assim, também é verdade que eu me sinto mais segura por aqui, seja na rua ou no trânsito, de dia ou de noite. Um brinde à saúde Já faz alguns anos que eu não tenho plano de saúde e dependo dos serviços da saúde pública na Espanha. Resumidamente, o que posso dizer é que, assim como o transporte público, não é perfeito, mas me parece melhor do que no Brasil. Um exemplo: no ano passado tive que fazer uma cirurgia. Como não era um procedimento de emergência, tive que esperar uns bons meses por uma vaga. Em compensação, quando chegou a minha vez, eu pude comprovar a qualidade dos serviços. Um sinal disso é que, por ser uma cirurgia simples, não estava prevista minha internação. Mas como o procedimento acabou sendo tarde e acordei meio grogue, me deixaram internada até o dia seguinte em um quarto particular. Meu marido, inclusive, dormiu comigo, no sofá de visitas do quarto. Outro exemplo: DIU grátis Uma amiga de Floripa outro dia me disse: “Amiga, vou ter que colocar o DIU. Descobri que tenho um monte de miomas”. “Menina, que coincidência. Eu também.” No caso de quem tem miomas (como eu e minha amiga), a indicação médica é o DIU com hormônios (não o de cobre). A diferença é que, por aqui, tanto o procedimento como o próprio DIU foram gratuitos. E minha amiga me contou que precisou pagar porque no sistema público só colocavam o de cobre. Mais um ponto para a Espanha na minha análise para saber se compensa ou não voltar para o Brasil. De igual para igual Na coluna sobre o funcionamento das Eleições da Espanha, eu já comentei sobre a tentativa de igualdade de gênero nesse processo. O Congresso espanhol é um dos mais paritários da Europa, com mais de 40% de deputadas. E no Executivo nacional, atualmente, a paridade é total: são 11 ministras e 11 ministros. Essa imagem governamental é uma boa representação dos esforços feitos pela igualdade de gênero. Digo esforços porque a situação ainda não é perfeita. A brecha salarial entre homens e mulheres na Europa (e não só na Espanha), por exemplo, ainda persiste. De toda forma, os esforços continuam. Desde a Lei Integral contra a Violência de Gênero, de 2004, até a Lei para a Igualdade Efetiva entre Mulheres e Homens, de 2007. Vale citar também a Lei da saúde sexual e reprodutiva e da interrupção voluntária da gravidez, de 2010, reformada em 2023. Licença maternidade e paternidade Um colega de trabalho do meu marido acabou de ser pai. Em uma visita ao recém-nascido, me surpreendeu descobrir que, por aqui, a licença paternidade é igual a de maternidade. Desde 2021, tanto o pai quanto a mãe têm direito a 4 meses de licença. Um exemplo prático dos esforços para promover a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. E esse empenho pela igualdade que existe por aqui, é outro fator que me faz querer ficar e não voltar para o Brasil. Também já compartilhei por aqui como é viver em Valência, eleita a Capital Verde Europeia de 2024. A questão profissional Como comentei na coluna sobre como escolher um novo país, um dos motivos que me trouxe à Espanha foi a ideia de mudar de profissão. Eu queria deixar de ser redatora publicitária para me tornar jornalista e escritora. Por isso, um dos fatores que contam na minha decisão sobre voltar para o Brasil ou não é o hábito de leitura. Quer dizer, o público de potenciais leitores que posso ter em língua portuguesa e em língua espanhola. [caption id="attachment_166527" align="alignnone" width="750"] O primeiro livro que publiquei como co-autora depois de vir morar na Espanha. Foto: Tátylla Mendes[/caption] Então, vale mais uma estatística. Segundo a Lectupedia, os brasileiros leem, em média, 2,5 livros ao ano. Enquanto isso, os espanhóis leem 9,9 livros ao ano. E isso é visível no dia a dia. Tem gente lendo nos trens, nas praças, nos parques... Sem falar que o espanhol é o quarto idioma mais utilizado no mundo, o que amplia ainda mais esse público potencial. Voltar para o Brasil ou não: uma decisão bem pessoal Como deu para perceber, os principais fatores que me motivam a não querer voltar para o Brasil são referentes à qualidade de vida que tenho na Espanha. Mas é claro que a minha análise se aplica às minhas experiências e cada pessoa vive diferentes situações. Longe de mim fazer uma imagem desiludida do Brasil e uma imagem romantizada de morar na Espanha (ou de qualquer país europeu). Cada país tem seus prós e contras. Além disso, ao mudar de cidade, estado ou região, num mesmo país, muitos fatores podem variar. Voltando à música do Milton Nascimento que citei no início, eu acredito que todas as opções são legítimas. É válido vir e decidir voltar para o Brasil, vir só para olhar ou vir para ficar, como foi (e segue sendo) o meu caso. Aliás, acho que também é positivo reavaliar essa opção de vez em quando e, se for o caso, inclusive, mudar de ideia. De toda forma, escrever esta coluna me deu ainda mais certeza de que, ao menos de momento, eu não quero voltar para o Brasil.

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