Em meu texto anterior sobre preparo psicológico para expatriados, destaco a importância de não negligenciar a saúde mental durante o processo de migração.

Muitas vezes, os aspectos financeiros e burocráticos recebem maior atenção. Afinal, são vistos como precondições para que a mudança ocorra. No entanto, é fundamental se preparar emocionalmente para lidar com os desafios que surgem desde a fase de planejamento até a adaptação a um novo país.

Retomo agora alguns pontos importantes sobre o tema. Continue a leitura para refletirmos sobre o que deixamos para trás ao emigrar, o tempo que levamos até começarmos a nos adaptar e se vale a pena investir ou desistir de um sonho em busca de uma nova vida.

O que você deixa para trás?

Quando decidimos emigrar, é comum deixarmos para trás uma parte de nós mesmos, de nossas raízes, afetos, rotinas e costumes. Essas perdas podem desencadear uma série de emoções e sentimentos conflitantes, como a tristeza, a angústia, a saudade e a sensação de vazio.

Freud destacou a importância do processo de luto para a elaboração de perdas significativas em nossa vida. Para a psicanálise, esse processo é fundamental para criarmos espaço para novas experiências e relacionamentos.

É preciso dar tempo e espaço para que isso ocorra. Afinal, apenas com o reconhecimento e aceitação das perdas podemos nos reinventar e encontrar novos significados para nossa vida.

Quando enfrentamos dificuldades diárias, temos a tendência de (tentar) sufocar sentimentos que possam parecer inconvenientes. Isso é comum em um processo de adaptação a um novo país, quando o instinto de sobrevivência acaba sendo colocado muitas vezes em primeiro plano. Por exemplo: queremos nos dedicar a um trabalho novo ou a novas relações de amizade — e achamos que sentimentos ruins podem nos tirar o foco nesse contexto.

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No entanto, o nosso inconsciente costuma dar “notícias” dos sentimentos reprimidos. Isso pode aparecer de diferentes formas — por exemplo, quando nos tornamos incapazes de aceitar o novo.

O mais saudável é entender que algumas coisas simplesmente não podem ser deixadas para trás. Pelo menos, não antes de você encará-las de frente.

E isso pode ser fundamental para que você consiga seguir em frente.

Quanto tempo leva para se adaptar?

Como já vimos anteriormente, o processo de adaptação a um novo país pode ser desafiador e envolver uma série de dificuldades. Elas podem estar relacionadas a aspectos como:

  • Diferenças culturais;
  • Barreira do idioma;
  • Clima;
  • Estilo de vida;
  • Mudanças na rotina.

Esses desafios podem variar de acordo com sua personalidade, histórico de vida e experiências prévias. Cada pessoa tem um tempo e uma forma de lidar com isso. Ou, em outras palavras: é relativo. Ainda assim, alguns fatores tendem a acelerar sua adaptação.

Para se ambientar em uma nova cultura, é importante entender e aceitar sua própria cultura e identidade.

Isso ajudará a evitar conflitos internos que possam impedir sua adaptação. Será difícil compreender o outro sem entender como funciona o seu próprio sistema de valores e crenças.

Encontrar pessoas que compartilham seus interesses e valores também pode ajudar a reduzir a sensação de isolamento e ansiedade. Isso pode ser alcançado em comunidades de brasileiros, mas não necessariamente. Aliás, é importante não forçar relações pessoais e não basear expectativas em vínculos frágeis.

Por fim, é importante buscar ajuda quando necessário — por exemplo, por meio da terapia. Assim, você pode lidar melhor com as dificuldades e com a ansiedade que costuma surgir nesse processo.

Investir ou desistir de um sonho?

Ao decidir emigrar, é comum que tenhamos sonhos e expectativas para nossa nova vida. A escolha entre investir ou desistir desses sonhos pode ser um processo doloroso e complexo, que envolve uma reavaliação de fatores como:

A decisão deve levar em conta não apenas as suas necessidades e desejos, mas também a realidade e os limites do novo país. Afinal, muitas vezes, entendemos como fracasso um resultado que condiz perfeitamente com as condições oferecidas pelo lugar.

É preciso avaliar com cuidado as possibilidades e estar preparado(a) para lidar com as frustrações e desafios que podem surgir. Ok, você pode não ter atingido seus objetivos iniciais e, talvez, muito do que sonhou já pode parecer fora de questão. Mas isso significa que a sua vida é ruim? Quais são os parâmetros?

Também pode ocorrer o contrário: a meta inicial foi atingida, mas você se sente insatisfeito(a) ou até mesmo infeliz.

A verdade é que muitas vezes ficamos presos a valores e expectativas que não refletem mais a nossa realidade. Afinal, o tempo nos faz produzir novos desejos e questionamentos.

Podemos nos sentir bem mesmo que tudo tenha ocorrido diferente do que esperávamos — assim como podemos nos sentir infelizes com a vida que sonhamos um dia.

Abrindo caminhos

A adaptação ao novo ambiente requer uma reorganização da estrutura psíquica, uma mudança nas defesas e na forma de lidar com as emoções.

O mais importante é entender que as coisas têm um tempo para acontecer. Você pode fazer o seu melhor para tornar tudo mais rápido e fácil. No entanto, muitas vezes, terá que aceitar o ritmo do lugar e das pessoas à sua volta.

A mudança para um país exige certa agilidade para resolver burocracias e questões do dia a dia. Da mesma forma, você pode ter que dedicar boa parte do seu tempo ao trabalho.

Por isso, a condição de imigrante vai sempre exigir um esforço adicional de adaptação. E você dificilmente poderá parar para resolver todas as questões que passam pela sua mente enquanto o restante da sua vida acontece.

Ainda assim, é possível refletirmos sobre a nossa própria condição enquanto resolvemos o que vem pela frente. Isso exige alguma dose de serenidade e a prática crua de continuar caminhando.

É como andar por uma floresta. Quanto mais vezes você passar pelo caminho e repetir essa experiência, mais a terra irá se assentar.

Leia também a terceira parte da série Preparo psicológico para expatriados: preparação familiar.