Entre as datas importantes no país, 25 de abril em Portugal é certamente uma delas. Afinal, é nesse dia em que se comemora o sucesso da Revolução dos Cravos, que livrou o país da ditadura salazarista e instaurou uma democracia.

Parte de morar em outro país está em conhecer a história e a cultura desse novo lugar. Então por que não mergulhar nesse episódio tão importante da democracia portuguesa?

O que é o 25 de abril em Portugal?

25 de abril é o dia em que se comemora o fim da ditadura salazarista e o início do regime democrático em Portugal.

Em 25 de abril de 1974, um grupo de jovens capitães executou um golpe de Estado que derrubou uma ditadura de mais de quatro décadas.

O golpe, que aconteceu em menos de 24 horas, logo se converteu em uma Revolução. Os dois anos seguintes foram tomados por três tentativas de golpe de Estado, seis governos provisórios, dois Presidentes da República, a intervenção dos militares na política e muita turbulência.

História do 25 de abril em Portugal

Entender o 25 de abril é fundamental para quem deseja morar em Portugal. Para isso, é preciso compreender o contexto português daquela época e os objetivos dos militares.

Causas da Revolução dos Cravos

Para conhecer as causas da Revolução dos Cravos, é necessário entender as Guerras Coloniais, importante capítulo na história de Portugal, que se estendiam em algumas das principais colônias portuguesas na África: Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.

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As Guerras Coloniais

Em 25 de abril de 1974, elas já se estendiam há mais de 10 anos. O processo das Guerras Coloniais teve início em 1961, com a luta de três colônias portuguesas pela sua independência: Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.

Outros territórios africanos que à época estavam sob o comando português, como Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, mantiveram-se às margens desse movimento e não tiveram conflitos tão expressivos, mesmo que tivessem grupos separatistas, como o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), o CLSTP (Comitê de Libertação de São Tomé e Príncipe) e o MLSTP (Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe).

Não foram poucos os jovens a lutar nas colônias africanas, especialmente se considerarmos o tamanho da população do país, que na época não chegava a 9 milhões de habitantes.

Muitos lutaram nas Guerras Coloniais

No início, 5 mil militares foram escalados para atuar em solo angolano, 25 mil em Guiné-Bissau e 11 mil militares em Moçambique. Mas, ao longo dos anos, esses números foram aumentando, e chegou a 150 mil homens armados, metade deles sendo africanos recrutados localmente.

Os soldados viviam em situações precárias, especialmente em Guiné-Bissau, onde os grupos separatistas estavam em considerável vantagem. Ali, as guarnições eram isoladas e sujeitas aos ataques das guerrilhas, e a derrota era quase certa.

A realidade era bem diferente em Angola e em Moçambique, onde os grupos separatistas enfrentavam diferenças étnicas e ideológicas entre si. Mesmo assim, os soldados das três frentes de batalha sabiam que a guerra estava longe de ser ganha e queriam o seu fim.

Acontecimentos em Portugal

Em Portugal, o presidente da vez era Marcelo Caetano, sucessor de Salazar que compactuava com suas ideias e líder do regime autoritário do Estado Novo. Ele agia em prol da continuidade das guerras, mesmo que estivesse perdendo força.

Em 1973, aprovou os decretos-lei 353 e 409, que permitiam que oficiais com apenas um ano de treinamento ultrapassassem aqueles que haviam sido formados em quatro anos.

Logo desfez a medida, mas os decretos despertaram a ira dos militares, que decidiram por criar o Movimento dos Capitães, grupo clandestino que reunia-se para discutir questões relacionadas à Guerra Colonial.

Manifestantes pedem fim da ditadura em Lisboa, Portugal
Militares e civis colocaram-se em frente à GNR para destituir o governo de Marcelo Caetano | RTP Arquivos

Após diversas reuniões, o grupo aprovou, em 5 de março de 1974, o Manifesto dos Capitães, documento em que defendia o fim da guerra e uma solução negociada para a independência dos países, assim como o fim do Estado Novo e a implementação de uma democracia.

Onze dias depois, em 16 de março de 1974, houve uma tentativa de golpe militar em Caldas da Rainha, cidade a cerca de 90 quilômetros de Lisboa.

Esse movimento fracassado levou Caetano a subestimar o Movimento dos Capitães, mas serviu como importante aprendizado para os militares envolvidos. Avaliaram o que houve de errado e, em 25 de abril, incluíram uma poderosa ferramenta à revolução: a rádio.

Quais eram os objetivos dos revolucionários 25 de abril?

Segundos os comunicados emitidos pelos militares no dia 25 de abril de 1974, estes eram os objetivos da Revolução dos Cravos:

  • Instituição das liberdades;
  • Libertação de presos políticos;
  • Regresso de exilados;
  • Extinção dos organismos do Estado Novo;
  • Realização de eleições livres, por sufrágio direto, para uma Assembleia Nacional Constituinte;
  • Fim da guerra colonial.

O cravo é o símbolo do 25 de abril em Portugal

Até hoje, nas celebrações de 25 de abril, é comum ver pessoas distribuindo cravos nas ruas, flor que se tornou um símbolo dos ideais da revolução, como liberdade e democracia.

Isso acontece devido a uma história curiosa. Em 25 de abril de 1974, Celeste Caeiro saiu de casa em direção ao Franjinhas, restaurante em que trabalhava.

Era aniversário do estabelecimento. Quando chegou ao local, no entanto, a garçonete foi informada de que ele não abriria, pois havia uma revolução em curso no país.

Cravo do 25 de abril
Nas comemorações do 25 de abril é muito comum ver as pessoas carregando e distribuindo cravos pelas ruas.

Para que as flores que então celebrariam o restaurante não fossem desperdiçadas, levou-as até o Rossio, uma importante praça da capital. Era ali que alguns tanques esperavam novas ordens do capitão Salgueiro Maia, que comandava o movimento. Um militar pediu um cigarro e ela, em troca, deu-lhe uma flor, que foi colocada no cano da espingarda, ação repetida pelos colegas.

Enquanto os militares as colocavam nos canos das armas, os civis as dispunham no peito, e elas logo converteram-se no símbolo em uma revolução em que não houve derramamento de sangue, sem mortos e nem feridos.

O que aconteceu em Portugal em 25 de abril de 1974?

A Revolução dos Cravos.

Foi nessa data em que ocorreu um golpe militar, conduzido pelo Movimento das Forças Armadas (MFA), para dar fim ao Estado Novo português e instaurar a democracia no país.

Tudo começou na noite do dia anterior, em 24 de abril, quando os militares ocuparam os estúdios do Rádio Clube Português e anunciaram a revolução à população. Às 22h55, colocaram para tocar a canção “E depois do Adeus“, de Paulo Carvalho. Era a primeira senha para os demais militares que participavam das ações.

Vinte minutos depois, tocaram então “Grândola Vila Morena”, de Zeca Afonso, como forma de confirmar o início das operações.

E depois do Adeus, de Paulo Carvalho

Apesar de ser essencialmente uma canção de amor, a letra começou a ser escrita por José Niza em Angola, quando ele participou da Guerra Colonial. Após 25 de abril de 1974, devido ao seu papel nas ações militares, passou a representar também os ideais da revolução.

Grândola, Vila Morena, de Zeca Afonso

Com uma letra mais enfática, como o verso “o povo é quem mais te ordena”, a canção havia sido considerada de teor comunista pelo Estado Novo e, portanto, censurada.

Mesmo assim, ganhou o concurso de música português Festival da Canção, e representou Portugal no Eurovisão, evento anual que funciona como uma competição de música entre os países europeus. Na época, perdeu para Waterloo, do grupo sueco ABBA.

Enquanto os militares tocavam os sinais na rádio, tanques partiram da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, em direção a Lisboa. Sob o comando do capitão Salgueiro Maia, cercaram o quartel da Guarda Nacional Republicana (GNR) do Carmo, onde estava refugiado o presidente Marcelo Caetano, sucessor de Salazar.

Aos poucos, a população de Lisboa, que ouvia as mensagens emitidas na rádio, foi se juntando aos militares. Ao fim da tarde, Marcelo Caetano entregou o poder ao general Spínola, que tinha sido governador de Guiné-Bissau e que tinha abandonado o cargo pouco antes, em agosto de 1973.

Participação do general Spínola e exílio de Marcelo Caetano

O general Spínola não era capitão e nem pertencia à MFA, movimento que conduziu o golpe. Ele compartilhava, entretanto, daqueles ideais, principalmente em relação à descolonização dos territórios africanos.

Ele foi essencial nas ações de mediação com o então presidente. Segundo o biógrafo de Caetano, Francisco Martinho, o líder do Estado Novo fez questão de entregar o poder ao Spínola, não aos capitães. Era uma questão hierárquica: acreditava que meros capitães não teriam capacitação suficiente para representar o Estado português.

Após a revolução, Marcelo Caetano foi exilado no Brasil. Tornou-se professor na Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, e faleceu no país, aos 74 anos, vítima de um ataque cardíaco, sem nunca ter sido julgado ou punido.

É possível assistir à edição do jornal da RTP, canal de televisão pública português, daquela data, em que são narrados os acontecimentos do dia. Confira:


Como é comemorado o 25 de abril em Portugal?

Até hoje, o 25 de abril é considerado um feriado nacional, em que há uma série de celebrações e eventos relacionados à democracia e à liberdade.

Entre os anos de 2022 e 2026, haverá comemorações especiais, em homenagem aos 50 anos da Revolução dos Cravos.

Por isso, cada ano tem um tema prioritário dentro dos acontecimentos do 25 de abril:

  • Em 2022, foi homenageado o movimento associativo estudantil na luta contra a ditadura;
  • Em 2023, será celebrado o mundo do trabalho e do movimento sindical independente e anticorporativo no combate à ditadura e a constituição do Movimento dos Capitães;
  • O tema de 2024, por sua vez, será a Descolonização;
  • De 2025, a Democracia;
  • Por fim, em 2026 será comemorado o Desenvolvimento.

Tive a oportunidade de participar dessas comemorações em 2022 em Lisboa, e foi um movimento bastante bonito. As pessoas saem pelas ruas da capital, onde teve vez a Revolução, bradando palavras de ordem pela liberdade e pela democracia. Ainda hoje, há o costume de distribuir cravos vermelhos aos passantes.

É bastante comum, ainda, ver famílias participando dos movimentos, e pais que fazem questão de levar as crianças para comemorar a democracia.

A Câmara Municipal de Lisboa e os principais espaços de cultura da cidade desenvolvem ainda uma programação cultural temática dos ideais do 25 de abril, que dura todo o mês. São debates, exposições, shows e mostras que refletem os temas da política, da democracia e da liberdade.

Lugares históricos em Lisboa

Há muito o que fazer pela cidade (e pelo país!) no 25 de abril. Alguns lugares, no entanto, são especialmente simbólicos para a ocasião, e merecem uma atenção especial.

O Museu do Aljube, por exemplo, costuma ter a sua entrada gratuita neste dia, e conta com exposições e visitas guiadas. A construção que hoje compõe o museu era uma antiga prisão, que funcionou com fins políticos do Estado Novo entre 1928 e 1965.

Uma visita à Assembleia da República também pode ser especial. O principal órgão legislativo do Estado português costuma abrir as portas ao público no 25 de abril, e seu jardim também conta com uma programação cultural. A visita inclui o Palácio de São Bento, que fica aos fundos da assembleia e é a residência oficial do Primeiro-Ministro.

Por fim, também é possível conhecer a Guarda Nacional Republicana (GNR), onde o então presidente Marcelo Caetano se refugiou em 25 de abril de 1974. Ela fica aberta ao público durante a época, com entrada gratuita, mas é preciso marcar horário para a visita.

25 de abril em outras cidades de Portugal

Apesar da revolução ter acontecido principalmente em Lisboa, que é a capital do país, as comemorações enchem as ruas de diversas cidades portuguesas.

As Câmaras Municipais costumam oferecer programações culturais com temas políticos e também realizam marchas e cerimônias mais formais em respeito aos valores democráticos.

No Porto, por exemplo, as comemorações do 25 de abril contarão, em 2023, com uma série de apresentações musicais na Avenida dos Aliados.

A Câmara Municipal de Seixal, por sua vez, programou um desfile comemorativo do 25 de abril na Avenida da Liberdade, e apresentações musicais no dia anterior com a presença de artistas africanos. A programação do mês conta ainda com um tributo a Chico Buarque, no Auditório Municipal do Fórum Cultural do Seixal, no dia 14.

Santarém e outras cidades do centro de Portugal também conta com uma vasta programação cultural em abril.

O dia 25 de abril é feriado em Portugal?

Sim.

25 de abril é considerado um feriado nacional obrigatório, considerado no ano letivo em Portugal e, portanto, sem aulas nas escolas e universidades, e com folga em boa parte das empresas.

Viu como é importante conhecer a história e a cultura de um lugar? Esses fatos ampliam nossos conhecimentos e tornam nossa experiência ali ainda mais rica.

Saiba como funcionam outros feriados em Portugal, como a Páscoa e o Carnaval.

Mergulhe na cultura de Portugal e viva o país com ainda mais intensidade!