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Ana Paula Cardoso

Autor

Ana Paula Cardoso é jornalista, formada em filosofia e sociologia pela Université Paris 1 – Panthéon Sorbonne e mestranda em RH & Responsabilidade Social de Empresas (SER) pela IAE Paris 1 - Sorbonne Business School. Carioca da gema e parisiense de corpo e alma há 7 anos, é também cronista do site Crônicas de Paris.

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A França não é só Paris
França

A França não é só Paris e isso é a uma boa notícia!

O mundo inteiro rende-se ao charme da Cidade Luz, mas este país, do tamanho de Minas Gerais, tem muito mais a oferecer. A gente muda de país, mas alguns comportamentos nos acompanham na mala. Na minha bagagem, por exemplo, trouxe a velha mania de tirar o todo pela parte. Explico: No Brasil, nascida e criada no Rio de Janeiro, levei tempo para entender o quanto a minha cidade natal não representava 100% dos traços culturais do meu país. E apesar de maravilhosa, a cidade onde mora o Cristo Redentor não engloba todos os encantos brasileiros. Da mesma forma, aprendi aqui que a França não é só Paris. E quando falo isso não é uma figura de retórica do tipo “tem uns locais bonitinhos para visitar”. Longe disso. Quando digo que a França não se restringe à sua capital, refiro-me a regiões onde transbordam natureza exuberante, monumentos históricos e cultura para viajante algum botar defeito. O caso é tão sério que no meu blog Crônicas de Paris, criei até uma editoria chamada Além de Paris. Depois de morar na França e conhecer melhor o país, escrever crônicas somente sobre a capital seria por demais restritivo. Geografia da França Com cerca de 850 mil km2, o território francês tem um formato de hexágono e equivale aproximadamente ao estado de Minas Gerais em termos de superfície. E isso somente quando falamos da parte europeia, uma vez que existe a chamada France Outre-Mer, que nada mais é que um conglomerado de países localizados em outros continentes, mas considerados como estado da federação francesa. O paradisíaco Tahiti, na Polinésia Francesa, e a nossa vizinha Guiana Francesa são alguns exemplos. Ou seja, é mais ou menos como funcionava na época do colonialismo com a diferença que... bem, nem os franceses conseguem explicar direito a diferença, então, não vou me atrever. Vamos nos concentrar, portanto, nessa parte do país localizado na Europa. Atualmente, o mapa da França é dividido em 13 regiões: Auvergne-Rhône-Alpes; Bourgogne-Franche-Comté; Bretagne; Centre-Val de Loire; Corse; Grand Est; Hauts-de-France; Ile-de-France; Normandie; Nouvelle-Aquitaine; Occitanie; Pays de la Loire; Provence-Alpes-Côte d’Azur. Ile-de-France é onde fica a capital, mas como a França não é só Paris, ouso dar um panorama mais amplo da terra de Luís XIV. Não será possível falar de todas as regiões, mas convido você a uma pequena degustação. Confira uma lista com os mais imperdíveis mercados de pulgas em Paris. Diversidade nas paisagens Quando comparamos a França ao Brasil, a consideramos pequena. E este dado torna ainda mais surpreendente a diversidade natural e cultural das regiões. Tem praia para quem é de praia. Chapadas com maciços espetaculares, cachoeiras e fiordes. Montanhas com lagos e neve, prontas para esquiar. Fazendas e muita área rural com produção agrícola. Tem florestas, inclusive urbanas como a de Fontainebleau. A proposta da coluna não é servir de guia, pois há excelentes profissionais da área de turismo e esse não é meu caso. A ideia é despertar a sua vontade de explorar toda a parte off-Paris. E para atiçar a sua curiosidade, vamos dar umas pinceladas sobre alguns locais imperdíveis do território francês. Saiba como é a imagem do Brasil na França. De Paris não vemos o mar Vamos começar pelas praias e paisagens marítimas. Apesar dos quase 11 mil quilômetros de costa, o litoral brasileiro é banhado apenas pelo Oceano Atlântico. Já a França, com um pouco mais da metade disso (5.853 quilômetros de litoral) tem água do Canal da Mancha, do Mar do Norte, do Oceano Atlântico, do Mar Mediterrâneo e do Mar Celta - que banha a Bretanha e, nesta região, é conhecido como Mer d’Iroise. Toda essa diversidade marítima já é a prova de que a França não é só Paris. Tive a oportunidade de percorrer todos esses cantos. Tiro o chapéu para as paisagens bretãs, como a Ile d’Ouessant, o ponto mais ao oeste do país, aonde só se chega de barco e se pode ver focas e golfinhos no percurso. Mas tenho uma queda especial pela Côte du Granit Rose, também na região da Bretanha, com a sua paisagem espetacular de granito rosa e mar cor de esmeralda. Mas se a ideia é mergulhar em um mar calmo e morno, corra para a costa mediterrânea! A paisagem de fazer cair o queixo são as Calanques, pedras em meio a um azul de mar, muito bem apreciadas em um passeio de barco por Cassis, cidade ao ladinho de Marselha, por sinal a segunda maior metrópole francesa, depois de Paris. Ainda na Côte D’Azûr, destaco a praia de Palome, em Saint-Jean-Cap-Ferrat. Para a estadia, a desconhecida dos brasileiros Juan-les-Pins, com suas praias deslumbrantes e menos turística que a vizinha Antibes, outro biju mediterrâneo que fica a 20 minutos a pé de Juan-les-Pins e ainda tem um museu Picasso com vista para o Mediterrâneo, de fazer esquecer Paris. A Paris da ficção versus a Paris real: conheça a cidade Luz. Champanhe não é só de beber Na vitória, nós merecemos. Na derrota, precisamos. Este é o lema da bebida conhecida por ser chique, cara e sofisticada. Estamos falando de champanhe, bien sûr!!! Mas este tipo de vinho espumante tem esse nome por causa do departamento francês, Champagne - Ardenne, localizado na região Grand Est, onde a bebida é produzida. Os números são surpreendentes. Segundo a Câmara de Comércio e Indústria da França (CCI de France), o comércio da bebida movimenta cerca de 5 bilhões de euros por ano e a produção anual média gira em torno de 300 milhões de garrafas. Ao avaliar uma parte dos seus dados econômicos, vemos o quanto a França não é só Paris. Mas, claro, em meio a esta riqueza e belas paisagens a dica em Champagne é aproveitar as “vendanges“, que são as colheitas de uvas das quais qualquer mortal pode participar. Elas acontecem, normalmente, entre fim de agosto e começo de outubro. E acaba tornando-se um programa diferente para quem quer conhecer a mais de perto o processo de vinicultura e ainda receber uns euros pelos quilos de uva colhidos. Saiba quais as principais receitas francesas para experimentar durante a sua estadia no país. Vinhos e O Pequeno Príncipe Descendo de Champagne até a região de Bourgogne-Franche-Comté, Auvergne-Rhône-Alpes ou partindo até Aquitaine, na qual se localiza a cidade de Bordeaux, o deslumbre com as estradas envoltas de verde e os vinhedos de onde saem alguns dos melhores vinhos do planeta. Aliás, Boudeaux é uma das melhores cidades da França para morar. Na região de Auvergne-Rhône-Alpes, se encontra a terceira maior cidade francesa. Lyon, é uma grande metrópole com ares de interior, local onde nasceram grandes franceses como Paul Bocuse, célebre chef de cozinha, e Antoine de Saint-Exupéry, o pai do Pequeno Príncipe. Aos arredores de Lyon estão os produtores de vinhos espetaculares como o Côte du Rhône e o Broully , o vinho que é o cru du Beaujolais – meu preferido entre todos os vinhos franceses. Os cenários de Asterix Outra região espetacular é a Occitanie. Confesso: de todas que conheço, é minha preferida. Comer, fazer trilhas, praticar canoagem, tomar banho de cachoeira, visitar monumentos históricos da época da ocupação romana na França e até pré-históricos, datados de 5 mil anos antes de Cristo. Tudo isso ali naquele pedaço de terra que vai do meio da França até o litoral sul. Sim, tudo isso é possível na região que abrange Lozère e seu delicioso queijo Pelardon, difícil de encontrar em Paris, e Cevènnes, com o seu Parque Nacional tombado como Patrimônio da Humanidade pela Unesco. O chamado “maciço central” francês lembra as nossas chapadas, com suas montanhas rochosas e vales cortados por riachos e quedas d’água. Ali também se encontra Aubrac, Aveyron e Cantal, conhecidas respectivamente pela carne de boi mais apreciada no país, pelo aligot, um purê de batatas com um queijo tipo requeijão, o Cantal, batizado com o nome da cidade onde é produzido. Todas as iguarias são para comer agradecendo aos deuses. O que é de se esperar, já que o francês mantém uma relação de amor com a comida. Desça mais um pouco e parece que estamos entrando em uma das historinhas de Asterix: em Nîmes e Arles a cultura romana, imposta em cima dos gauleses, o povo originário da França. O aqueduto de Pont de Gard é um exemplo. Você chega de carro, paga 16 euros por pessoa e aproveita o dia inteiro entre caminhadas em locais históricos, práticas esportivas como canoagem ou simplesmente aproveitar a praia de rio deliciosa. Caso tenha passagens marcadas para a Cidade Luz, não deixe de confeir o que levar na mala para Paris. Toulouse, La Ville Rose Tem ainda Toulouse, a Cidade Rosa e os seus prédios em terracota. Linda e célebre por sua universidade empenhada em pesquisas de ciência e tecnologia. Uma das delícias de Toulouse é pegar o metrô e ouvir as informações em francês e em occitano, o segundo idioma oficial da região e ainda preservado. Ao redor de Toulouse e por toda a região – aliás por toda a França – há uma infinidade de vilas e pequenas cidades que preservam as suas características medievais. Carcassone é uma das mais famosas e belas, mas, pode apostar: qualquer arquitetura medieval já enche os olhos de beleza. Saiba quais são as cidades pequenas da França para incluir no roteiro de viagem. Praia além da Riviera E para finalizar com chave de ouro, que tal um mergulho no Mediterrâneo? Ao sul da Occitanie tem praia. Você não vai encontrar tão badaladas como as praias da Riviera Francesa, mas vai encontrar, por exemplo, a praia d’Espiguette e os seus 10 de areia fina como maisena, mar calmo e dunas com vegetação quase intocada. A praia só é acessível por carro ou bicicleta, exige caminhada de pelo menos um quilômetro para chegar nela, por isso, preserva os seus encantos. Aos adeptos do naturismo, tem um extenso pedaço para se banhar como se veio ao mundo. Mont Blanc: a Torre Eiffel dos Alpes As paisagens de montes cobertos de neve são para mim o ponto na qual a França ganha de goleada do Brasil. Ninguém acredita até ver com os próprios olhos: das praias da Côte D’Azur a gente avista os alpes franceses. E isso é algo muito fora do comum aos olhos de uma carioca. Subindo as montanhas e aproximando-se do departamento de Savoie, a gente nem vê mais o mar. Estações de ski e lagos cedem espaço à paisagem, enriquecida pela arquitetura toda em chalés de madeira. Em uma cidade como Chamonix, por exemplo, não é difícil encontrar um turista ou outro fazendo o famoso “ohhhhh” ao depararem-se com o Mont Blanc. Qualquer semelhança com a reação ao verem a Torre Eiffel não é coincidência. Conheça também algumas curiosidades da França. Fora de Paris muita coisa ficou de fora A gente faz uma coluna imensa para lembrar que a França não é só Paris e percebe o quanto ainda falta. Nem consegui chegar aos Pirineus e as cidades praianas que fazem fronteira com a Espanha basca, como Biarritz. E também nem chegamos às belezas da Catalunha Francesa, com as suas preciosidades como Perpignan e Colliure Também faltou espaço para mencionar o norte francês, com cidades fofas como Lille. E nem tocamos no departamento da Alsace e a sua Colmar, com cara de cidade de conto de fadas. Passamos pela Bretanha, sem tempo de parar na Normandia, onde fica o Monte Saint Michel, dentre tantas outras belezas e sítios históricos, como os ligados às batalhas da Segunda Guerra Mundial. Com tanta riqueza fora da capital, a França é um convite aos viajantes que apreciam o savoir vivre, traço marcante da cultura francesa. Beber, comer e aproveitar a vida é a lição de toda a França além de Paris. E, de quebra, a gente ainda encontra um povo mais acolhedor e sorridente. Um povo que “bufa” menos, e cidades com custo de vida menor do que a cidade luz.  Mas agora que você já sabe que França não é só Paris, não deixe o resto do país de fora da sua programação de viagem para a França!

Natal na França
Brasileiros na Europa França

As delícias do Natal na França

Quer saber como é a ceia de natal na França? Vem comigo que eu te conto tudo. Como se celebra o Natal na França? A França é um país de maioria católica e a maior festa cristã do planeta é celebrada com apreço por aqui. Segundo sondagem do INSEE, o instituto de estatística do país, o Natal é a festa preferida dos franceses. Como na maioria dos países ocidentais, o Natal na França começa a ser comemorado na véspera e se resume em refeições típicas da data e troca de presentes.  As reuniões em torno de mesas fartas e árvores de Natal acontecem com a presença de família e amigos íntimos. O ritual de Natal na França No dia 24 de dezembro se faz um jantar chamado de Réveillon de Noël – então, caso receba um convite para este jantar; cuidado para não confundir com a noite do 31 de dezembro, que por aqui é chamada de noite de São Silvestre. Na noite do dia 24 de dezembro os católicos costumam ir à missa. Nas igrejas mais tradicionais, como era o caso de Notre Dame de Paris antes do incêndio, a missa começa à meia-noite. Mas atualmente o Natal na França tem seguido a praticidade: na maior parte dos bairros, a missa começa às 20h e depois as famílias e amigos reúnem-se para o jantar. O dia 25 de dezembro é o dia no qual as crianças abrem os presentes deixados na árvore de Natal pelo Père Noël, o nome em francês para o nosso Papai Noel. O Natal na França, país onde a gastronomia é patrimônio, não deixaria o almoço do dia 25 de dezembro passar em branco. Diferente do Brasil, onde normalmente a festa acontece na véspera e fazemos o "enterro dos ossos" no dia seguinte, na França o Natal é comemorado com uma refeição diferente a da noite anterior. Afinal, como já contei na coluna sobre o francês e a comida, desperdício não é coisa de francês mesmo. O que não falta na mesa de Natal na França Normalmente comedidos na hora das refeições no dia a dia, os franceses permitem-se uma extravagância anual à mesa natalina. Fartura, mas também luxo e refinamento. Assim se pode definir a mesa de Natal na França. Repleta de pratos tradicionais das regiões Sul e Sudeste, como frutos do mar e o foie gras. Mas assados também fazem parte de ceia. Veja alguns exemplos que por aqui se faz o "sacrifício" de degustar na noite do dia 24 de dezembro e na tarde do dia 25. Acompanhados de vinho nacional e champanhe, bien sûr! O foie gras A comida é polêmica, é cara, mas é a iguaria luxuosa das ceias de Natal na França. O costume de comer o prato veio da região da Alsace e hoje se espalhou por todo país. Foie gras não pode faltar à mesa de Natal. O patê deve ser degustado com geleia de figo e especiarias, em um pão típico para canapé. A bebida para acompanhar o prato tradicional é o vinho branco sauternes. [caption id="attachment_120420" align="alignnone" width="750"] Foie gras no Natal da França[/caption] Para os vegetarianos, nada de pânico! As inúmeras lojas de produtos naturais vendem um patê de cogumelos com especiarias que tem um nome super divertido: “faux gras”. Um jogo de palavras que troca o vocábulo “foie”, fígado, por “faux”, falso. E, como vegetariana que sou, posso afirmar: esse patezinho vegetal é de comer rezando na Missa do Galo! As ostras Antes restritas às regiões costeiras, começaram a entrar na ceia parisiense a partir da década de 1950. Atualmente é difícil encontrar uma casa verdadeiramente local que não ofereça o prato. Deliciosas e de diversos tamanhos, são encontradas fresquíssimas nos mercados de rua ou podem ser encomendadas e entregues em casa. Além de terem baixíssima caloria. Umas 10 ostras não valem uma fatia de pernil. [caption id="attachment_120419" align="alignnone" width="750"] Ostras na ceia de Natal da França[/caption] O peru com castanhas Peixes assados ao molho de manteiga e ervas são menos populares, mas estão presentes na mesa de Natal na França, especialmente nas regiões litorâneas. Outro prato tradicionalíssimo para acompanhar a ceia é o peru assado. A particularidade francesa, no entanto, é uma espécie de “farofa” feita com castanhas (conhecida no Brasil como castanhas portuguesas) moídas ou picadas. E para sobremesa A bûche de Noël é uma torta comprida e redonda, parecida com um rocambole, imitando o formato de lenha e foi criação de uma pâtisserie francesa, inspirada nas lenhas que queimavam na lareira durante a noite de Natal, quando nem havia energia elétrica. [caption id="attachment_120371" align="alignnone" width="750"] O bûche de Noël[/caption] A sobremesa logo caiu nas graças dos cidadãos urbanos, que não tinham mais lareira e sim rede de aquecimento elétrica ou a gás. Tem de diversos sabores, mas eu adoro a mistura que fazem das frutas vermelhas com chocolate. Com essa sobremesa ninguém vai sentir saudade das rabanadas... Bon Noël e bon appétit! *As opiniões dos colunistas não refletem necessariamente a opinião do site Euro Dicas.

Imagem do Brasil na França
Brasileiros na Europa França

A imagem do Brasil na França: um ponto a nosso favor

O brasileiro sempre é reconhecido pela sua alegria, bom humor e cordialidade. Mas, como será que somos vistos quando estamos em outros países, com culturas e costumes tão diferentes dos nossos? Se você planeja visitar ou morar em terras francesas, saiba como é a imagem do Brasil na França no artigo a seguir. Qual é a imagem do Brasil na França? O Brasil e a França têm um histórico de boas relações de longo tempo. Na história, é fácil encontrar casamentos entre membros da monarquia dos dois países. Passando por Paris, dê um pulinho no Musée de La Vie Romantique para confirmar a quantidade de fotos dos antepassados do Conde D’Eu, princesa Maria Amélia e tantos outros Orleans. Será que vem dos tempos da nobreza essa boa imagem do brasileiro na França? Difícil responder. Na última vez que mensurei com o Consulado Brasileiro em Paris, moravam oficialmente na França cerca de 140 mil brasileiros. Mas, se formos contar com os que têm dupla nacionalidade e passaporte de outo país da comunidade europeia, somados aos imigrantes sem papéis em busca de uma vida melhor, a quantidade pode chegar a 400 mil. Mas estes números não chegam a representar nem 1% da população francesa. Então, como explicar essa boa imagem dos compatriotas na França? Seria por conta do futebol? Eles amam lembrar da Copa de 1998. Para os atuais campeões do mundo, ganhar do Brasil numa final do esporte é considerado um ato heroico. Ser brasileiro é ter vale tolerância Como acontece em boa parte dos países ricos, há uma parcela da população francesa intolerante com quem vem de fora. Ao mesmo tempo, racismo na França ainda é uma palavra tabu. Intimidadas pelo lema da igualdade, liberdade e fraternidade, essas manifestações nefastas contra pessoas de etnias ocorrem, em geral, de forma velada. Porém, quando o assunto é outra origem distinta da francesa, "le trou c’est trop dessous" (o buraco é mais embaixo, em tradução literal para fazer palhaçada). A chamada xenofobia está no ar. Seja em pequenos gestos, em certos olhares ou mesmo em manifestações explícitas de certos políticos. Não por acaso, é comum, quando escutam um sotaque diferente, os franceses questionarem sobre qual é a nossa origem. Isso é quase uma obsessão nacional. Mas aqui entra a parte boa dessa mania francesa: bastou responder ser do Brasil e, pronto! A fisionomia já fica mais receptiva e você vai arriscar ver o vendedor de frutas da feira ensaiar uns passinhos de samba, ou a moça da farmácia cantar os versos de alguma canção do Gil. Esses dois relatos não são licença poética, aconteceram mesmo. Precisa dizer algo mais sobre a imagem do Brasil na França? Política em crise, mas simpatia em alta Resumo da ópera: aquele Brasil dos sonhos tropicais ainda povoa o imaginário francês. No entanto, as relações diplomáticas entre os países estremeceram, especialmente após o episódio envolvendo a fala do presidente brasileiro sobre a aparência da primeira-dama francesa. Interessados que são pela cultura brasileira, não é difícil sermos questionados por franceses perplexos: "mas que raios está acontecendo no Brasil?". Em termos de política, goste você ou não, sinto muito informar: a imagem do Brasil na França foi maculada. O nome do atual ocupante do Palácio do Planalto destoa do que o francês tem como imagem do brasileiro e ainda têm sido usada como exemplo negativo do que pode acontecer nas próximas eleições presidenciais francesas, que acontecerão em maio de 2022. Vale um adendo nesta parte do texto: pouco importa qual é a sua "torcida" político-partidária. Em uma coluna sobre a imagem do Brasil na França, o tema vem à baila. Aqui, mesmo o mais conservador de direita, não vê a menor graça em mais de 600 mil mortos pela Covid-19 e muito menos no descaso em relação à preservação da Amazônia. Sorriso tipo exportação Uma vez estava eu em um supermercado, na intenção de comprar um arroz. A playlist da música entoa voz de Zeca Pagodinho, seguido de Dona Ivone Lara. Como já escrevi uma vez no meu blog Crônicas de Paris, essas coisas por vezes acontecem por aqui. O Brasil está presente, de uma forma ou outra, na França. Música. Batucada. Capoeira. Caipirinha. São alguns ícones de nossa nacionalidade que fazem os franceses sonharem. Assim como nós sonhamos com o vinho, as lantejoulas do Moulin Rouge e com as luzes da torre Eiffel. A imagem do Brasil na França é imagem dos sonhos. Alegria que abre portas Mas eu tenho uma opinião muito particular. Sem nenhum dado científico, apenas tenho a impressão de que a boa imagem do Brasil na França deve-se muito ao fato de sorriso espontâneo ser artigo escasso na França. E produto abundante na Pátria Amada. É comum, quando digo ser brasileira, os franceses perplexos, dizerem: "Como você largou aquele país maravilhoso? Meu Deus, o que você veio fazer aqui?". Eu respondo: vim ensinar os franceses a sorrirem. Eles sempre riem, e eu emendo: viu? Já começou a funcionar... *As opiniões dos colunistas não refletem necessariamente a opinião do site Euro Dicas.

o francês e a comida
Brasileiros na Europa França

O francês e a comida: conheça melhor essa relação de amor

Em 2010, a Unesco decidiu classificar a gastronomia francesa como patrimônio cultural imaterial da humanidade. Esta categoria, criada em 2003, tem como objetivo proteger práticas culturais e saberes tradicionais, da mesma forma feita com os locais e monumentos mundo afora. Para os franceses, a decisão foi apenas a oficialização de uma marca registrada do país. Mas o que sabemos nós, os forasteiros, sobre o francês e a comida? Que comem pouquinho? Que comem comidas estranhas como escargot? Entre mitos e verdades, uma coisa é certa: comer na França não é apenas uma necessidade física, mas uma via de elevação da alma. Vejamos a seguir alguns traços desse elo quase religioso entre os franceses e a comida. Minimalismo culinário Logo na fase inicial como moradora de Paris, resolvi oferecer um bacalhau com natas na república (aqui chamada de colocation) onde morei por um mês. Éramos um total de cinco pessoas para o jantar. Boa brasileira que sou, preparei logo duas travessas. O amigo francês com quem morava foi me ajudar tirando o prato do forno e levou um susto. – Mas por que fez toda essa quantidade???? Vai sobrar! Naquele momento o choque cultural se fez presente: sobrar para um brasileiro é sinal de fartura e generosidade. Para um francês, é exagero e desperdício. A lição aprendida logo nos primeiros dias foi sendo consolidada à medida da maior convivência com os locais. Pequenas porções, imensa fartura Por aqui não se desmarca um compromisso em cima da hora. E se marca jantares, almoços e afins com antecedência. Sem contar a necessidade de se dedicar um tempo para cada refeição. A confirmação e o cumprimento do compromisso são sagrados. As pessoas contam com um determinado número e compram a quantidade a ser oferecida na medida exata. Mas não se iludam: não desperdiçar comida não quer dizer condenar os comensais à fome, como nós brasileiros exagerados temos tendência de achar. O ritual gastronômico francês inclui pelo menos 5 etapas: Apèro: os aperitivos para começar que podem ser canapés, pequenos crustáceos, coquetéis, legumes com molhos, entre outros; Entrada: vai de sopa a saladas, mas crustáceos, ovos, frios ou algum queijo tradicional servido quente também entram no cardápio; Prato principal: normalmente uma proteína animal – que pode ser peixe, carne de boi, porco, carneiro ou ave (incluindo pato e peru) acompanhada de legumes, batata ou alguma massa folhada. Tudo com muitos molhos maravilhosos feitos à base de manteiga ou azeite, dependendo da região; Queijos: sim, o hábito de comer queijo antes da sobremesa ainda é sagrado em uma refeição familiar ou tradicional; Sobremesa: aí vai desde o fondant au chocolat (que no Brasil chamamos de “petit gâteau”, mas aqui não tem esse nome) até a tarte tartin (massa folhada e maçãs) com creme ou sorvete de baunilha. O crème brûllé (um creme de baunilha com açúcar queimado por cima) e o arroz-doce com calda de caramelo são minhas sobremesas preferidas. Sem contar as centenas da chamada pâtisserie française. Depois dessa maratona pela gastronomia francesa, alguém ainda tem coragem de dizer que a refeição francesa é “miserinha”? No Brasil, cabeleireiro. Na França, queijeiro Os números são controversos: ninguém sabe dizer precisamente quantos tipos de queijo se produz na França. No entanto, sabe-se que o país é o mais bem provido do alimento com o selo D.O.C (Denominação de Origem Controlada). São mais de 50 queijos com a chancela, entre mais de 300 tipos, incluindo os famosos roquefort, camembert e brie. Por definição, o delicioso alimento nada mais é do que o leite solidificado. "Cada tipo de queijo é uma espécie de usina química. No sentido de que passamos de um estado a outro, do líquido para o sólido, através de processos de fermentação", explicou-me uma vez Laurent Dubois, premiado maître fromager (queijeiro) francês e dono da rede de boutiques de queijo Dubois, em Paris. Loja da qual, por sorte, sou vizinha. O francês leva a comida tão a sério que por aqui os amigos franceses trocam entre si os endereços e contatos de queijeiros, padeiros, açougueiros como no Brasil trocamos indicações de dentista e cabeleireiros. O meu queijeiro preferido, no caso o Monsieur Dubois, também contou-me que queijos se diferenciam entre eles através de duas características importantes: o sabor e a textura. Conhecer todos os tipos de queijo na França é um verdadeiro desafio gastronômico. Provar todos é minha meta há sete anos. E depois de atingir a meta, os bons brasileiros sabem: pretendo dobrar a meta. Conheça mais detalhes curiosos sobre a cultura francesa. A baguette nossa de cada dia O pão está para o francês como o feijão com arroz está para o brasileiro. Sim, o pão está presente nas três principais refeições do dia. Aliás, as únicas refeições, pois uma característica da relação dos franceses com a comida é o fato de eles não beliscarem entre as refeições. Para meu gosto, sinto falta até hoje do lanchinho da tarde. Mas isso aqui é coisa de criança. Adultos comem a refeição com o pão. Pode ser macarrão, tem pão. Pode ter arroz, tem pão. Já servi feijoada para amigos franceses e os vi comer acompanhada de pão. E quando eu falo pão, refiro-me àquilo que no Rio de Janeiro chamamos de bisnaga. Aqui temos dois tipos: a baguette e a tradition. A primeira é mais comprida e fina, a segunda mais crocante e grossa. Ok, admito que o trecho anterior ficou meio com duplo sentido. Mas vamos passar ao lado dessa conotação erótica e nos concentrarmos em outros prazeres. Para vocês terem ideia de como o pão é uma instituição nacional, todo ano Paris faz um concurso de melhor pão da cidade. Além do prêmio em dinheiro e toda propaganda de mídia espontânea para a padaria vencedora, o ganhador ainda passa a ser o fornecedor oficial do Palácio do Eliseu – a residência oficial do Presidente da República – durante um ano. Confira uma lista com os mais imperdíveis mercados de pulgas em Paris. A gente não quer só comida Falar dos franceses e a comida é falar de amor. E merece tempo e dedicação, como uma verdadeira refeição à francesa. Mas em uma coluna de 2 mil caracteres, não dá nem para começar. Faltou falar de muitos pratos. Faltou falar dos hambúrgueres, com suas carnes moídas na hora e que, em 2015, a seção de gastronomia do jornal New York Times reconheceu como os melhores do mundo (desolée EUA!). Também faltou discorrer sobre o cuscuz marroquino, herança dos tempos da colonização dos países da África do Norte e que hoje tornou-se, junto com o guisado de vitela, um dos pratos mais consumidos na França. Nem comentei sobre o foie gras, o polêmico patê de fígado de ganso, a comida tradicional das festas de fim de ano na França. E os vegetarianos? Já tão espalhados pela França, aproveitando a cultura de incentivar produtores locais. Morangos, cerejas e amoras que fazem a festa das papilas gustativas durante o verão. Assim como os melões, a perfumarem a casa no fim da primavera. As ervas da Provence. Os vinhos para acompanhar. Tudo isso vai ficar faltando na coluna de hoje. Em compensação, uma das grandes vantagens de se morar na França é o contato com a comida típica no dia a dia. Como ainda não tenho o dom de usar palavras com sabor chantilly, só me resta fazer um convite a quem me lê: venha, tão logo for possível, fazer um passeio pelo país que inventou o croissant que, quando quentinho, gera felicidade só de se sentir o cheiro. E, garanto: quando se prova o gosto do caramelo au beurre salé a gente passa a questionar se brigadeiro está mesmo com essa bola toda... Gostou? Saiba também como é o relacionamento com os franceses, no amor e na amizade. *As opiniões dos colunistas não refletem necessariamente a opinião do site Euro Dicas.

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