Quando mergulhamos no universo do francês, logo nos deparamos com a pergunta: há diferenças entre o francês da França x francês da Bélgica e da Suíça? A resposta é um sonoro “sim”!

Três brasileiras conversando em francês
Índice Francês da França x Francês da Bélgica e da Suíça: tem diferença? Quais são as principais diferenças entre os tipos de francês? E as expressões francesas? São diferentes em cada país? E as palavras do dia-a-dia são diferentes? Existe o francês “certo”? O que é mais fácil e mais difícil para um brasileiro que quer aprender a falar francês? Minha experiência com o francês

Por trás das paisagens pitorescas e da gastronomia saborosa desses países, existem algumas nuances linguísticas que variam entre estes países. Neste artigo vamos te mostrar que diferenças são essas e se elas são tão gritantes, ou não.

Francês da França x Francês da Bélgica e da Suíça: tem diferença?

Muitos se perguntam se o francês é igual em toda parte. A verdade é que, embora compartilhem uma base linguística comum, o francês na França, na Bélgica e na Suíça tem suas próprias características distintivas.

Desde a entonação até expressões idiomáticas, cada país tem sua própria identidade linguística que reflete sua história e cultura únicas.

Para entender um pouco mais sobre essas nuances, conversamos com a professora de francês, Janete Silveira. Ela ingressou na Universidade Federal do Ceará para fazer Letras em Francês em 2003. Quando iniciou, ela não falava nada do idioma, então estudou e em 2007 teve a oportunidade de fazer um intercâmbio na França graças a uma parceria entre o governo brasileiro e francês.

Professora afirma que há diferença entre o francês da França x francês da Bélgica e da Suíça.
Janete e a amiga, dizem haver diferença no francês da França, Bélgica e Suíça. Foto: Janete Silveira

Ela passou 3 meses em 2007 trabalhando em período integral na região dos Alpes, perto de Mont Blanc e de Genebra. Em 2008, ela trabalhou por mais 3 meses na França, mas na capital, em Paris.

Esta oportunidade lhe permitiu viajar e conhecer outros países francófonos, tanto algumas cidades da Suíça, como Lausanne e Genebra, que estavam próximas de onde ela viveu. Ela também fez turismo na Bélgica e conheceu um pouco de como as pessoas vivem lá por visitar uma amiga.

Quais são as principais diferenças entre os tipos de francês?

O francês da França, por exemplo, é marcado por sua pronúncia anasalada e riqueza de expressões idiomáticas. Já na Bélgica, você pode encontrar palavras de origem holandesa misturadas ao vocabulário e uma pronúncia levemente diferente.

Na Suíça, as influências do alemão e do italiano se fazem presentes, resultando em uma variante única de francês.

Abaixo exploramos mais sobre as principais diferenças entre os tipos de francês dos três países.

Francês da França

A pronúncia parisiense é a mais famosa, e o francês da França é frequentemente considerado o “padrão” que vemos em cursos internacionais.

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Na França também as palavras que começam com a letra “W” são estrangeiras, por isso eles pronunciam como se fosse um “V”, assim como no Brasil nós lemos “Wanessa”, por exemplo.

Francês da Bélgica

Os belgas têm o seu próprio jeito de falar francês, com uma mistura fascinante de palavras de origem holandesa e expressões idiomáticas exclusivas.

A pronúncia varia um pouco, mas de maneira geral, franceses e belgas conseguem se comunicar bem, assim como um mineiro e um gaúcho conseguem conversar em português brasileiro. Ambos possuem expressões locais e sotaques diferentes, mas nada que seja um impedimento na conversa.

Na Bélgica as palavras que começam com a letra “W” são pronunciadas com um som parecido com a letra “U”, assim como no Brasil nós lemos “Wesley”, por exemplo.

Para você quer saber um pouco mais sobre as diferenças do Francês da França x Francês da Bélgica, separamos este vídeo onde o Quentin Pakiry conta sobre elas:

Francês da Suíça

Na Suíça, as influências linguísticas das regiões vizinhas se misturam para criar uma variante de francês verdadeiramente singular que sofre influência da língua alemã e italiana.

O sotaque na França e na Suíça também é um pouco diferente, sendo que de maneira geral, a entonação vem na última sílaba, enquanto na Suíça, a entonação fica na penúltima sílaba, mas nada que não seja entendível.

Se você deseja saber um pouco mais sobre as diferenças do Francês da França x Francês da Suíça, separamos este outro vídeo para você:


E as expressões francesas? São diferentes em cada país?

Com certeza! Cada país tem suas próprias expressões e gírias, mas também palavras próprias.

Expressões da França

Duas expressões comuns na França:

  • “Casser les pieds à quelqu’un”: pode ser literalmente traduzido como “quebrar os pés de alguém”, essa expressão significa irritar ou aborrecer alguém;
  • “Poser un lapin”: quando alguém “posa um coelho”, significa que a pessoa marcou um encontro, mas não apareceu.

Expressões da Bélgica

Duas expressões comuns na Bélgica:

  • “Être dans la purée”: essa expressão, que literalmente significa “estar no purê”, é usada para descrever uma situação confusa ou complicada;
  • “Faire la grasse matinée”: em vez de “dormir até tarde”, os belgas usam essa expressão para se referir a um sono prolongado pela manhã.

Expressões da Suíça

Duas expressões comuns na Suíça:

  • “En avoir ras la casquette”: essa expressão, que pode ser traduzida como “ter o suficiente do boné”, é usada para descrever alguém que está muito irritado;
  • “Faire du boucan”: em vez de “fazer barulho”, os suíços usam essa expressão para se referir a causar tumulto ou confusão.

E as palavras do dia-a-dia são diferentes?

Sim!

Algumas também diferem conforme o país que você está. Por isso criei uma tabela para mostrar como algumas palavras diferem no francês da França x francês da Bélgica e da Suíça.

Brasil França Bélgica Suíça
Café da Manhã Petit-déjeuner Déjeuner Déjeuner
Almoço Déjeuner Dîner Dîner
Jantar Dîner Souper Souper
Setenta Soixante-dix Septante Septante
Oitenta Quatre-vingt Quatre-vingt Huitante
Noventa Quatre-vingt-dix Nonante Nonante
Um celular Un portable Un GSM Un natel

Confesso que prefiro como os suíços contam os números, pois é muito mais prático falar, ou escrever huitante do que quatre-vingt, pois todas as vezes que vou falar este número parece que estou fazendo conta na minha cabeça.

Existe o francês “certo”?

Sim e não.

Segundo a Janete, apesar de ela não concordar com essa ideia de “francês certo”, ela assume que o mais reconhecido internacionalmente é o francês falado França, mais especificamente o de Paris, uma vez que existem outros sotaques dentro da França também. Este seria considerado o “francês certo” por ser o que geralmente é cobrado em exames de proficiência internacionais.

Ela diz que é o que geralmente é ensinado e mais aceito, por existir sim preconceito em algumas regiões com relação a certos sotaques, assim como vemos no Brasil. No Brasil o sotaque mais aceito é o do eixo Rio-São Paulo, com uma linguagem no estilo “sotaque da TV”.

Eu também não concordo com a ideia de um “francês certo”, pois assim como acontece com outras línguas, as variações regionais enriquecem o idioma e refletem a diversidade cultural dos países francófonos. Apreciar e entender essas diferenças é parte do encanto de aprender francês.

Porém, se eu puder te dar um conselho, é para que você foque em aprender o francês da França, pois é o sotaque que mais pessoas entendem ao redor do mundo.

Por fim, entre os países francófonos da Europa, existe pouca diferença de sotaque, a diferença mais gritante é para o francês do Canadá, também chamado de “Québécois”, este sim possui diferenças maiores, como a que encontramos entre o português de Portugal e português do Brasil.

“Eu não sinto uma rivalidade tão grande entre o Francês da França x Francês da Bélgica e da Suíça como eu vejo essa rivalidade com o Francês de Quebec”, conta Janete.

O que é mais fácil e mais difícil para um brasileiro que quer aprender a falar francês?

Janete conta que conforme a experiência que ela tem acompanhando seus alunos, é que o francês quando você vê de cara, ele parece muito difícil e você não entende praticamente nada.

“Mas com os estudos, rapidamente você já consegue reconhecer várias palavras e a leitura vem muito rápido, porque tem muito, muito, muito cognato. Então eu sinto que a compreensão leitora é muito fácil, ela vem muito rápido.”, afirma Janete.

Tanto ela como eu acreditamos que a parte da escrita é a mais difícil, pois além dos acentos, as palavras às vezes possuem várias letras e apenas dois sons. Por exemplo, a palavra “muito”, se escreve “beaucoup“, mas se pronuncia “bôcu“. Ou seja, sobra muita letra aí que não é pronunciada.

Além disso, os verbos também possuem conjugações, assim como na língua portuguesa, e isso pode confundir uma pessoa que está buscando aprender outro idioma e está acostumada com a língua inglesa, pois em inglês, os verbos praticamente não mudam de acordo com o sujeito.

Minha experiência com o francês

O meu primeiro contato com a língua francesa foi quando morei no Canadá, mesmo morando em uma região inglesa, a minha cidade estava localizada a 30 minutos da divisa com a província de Quebec. Lá pude aprender um pouco com os meus amigos, mas não me aprofundei muito no idioma.

Depois, já na faculdade, decidi fazer curso de francês para aprender o idioma. Quando viajei, utilizei o francês em Paris e no Marrocos, pois uma parte do país fala francês e árabe e eu preferia barganhar em francês do que em inglês.

Uma coisa que me ajudou muito em Paris, foi sempre perguntar primeiro por informações em francês, ou falar com um atendente em francês dizendo “olá, meu francês não é muito bom. Você fala inglês e pode me ajudar?”.

Muitos turistas reclamam que os parisienses são grossos e que não querem falar em inglês, mas ao demonstrar que eu me esforcei para falar a língua deles, sempre tive bons resultados e parisienses me ajudando com um sorriso no rosto.

Os parisienses podem ser simpáticos quando sabemos lidar com eles.
O garçom retribui a nossa simpatia e educação com um pedido de uma selfie. Foto: Marienne Pires.

Do mesmo jeito que nós brasileiros não gostamos quando um estrangeiro presume que falamos espanhol por aqui, os franceses também não gostam quando turistas querem exigir que eles falem em inglês, como se fosse uma obrigação deles. Por isso, acredito que um pouco de bom senso ajuda a ter uma experiência boa em Paris.

Fui com a minha mãe e meus amigos almoçar em um restaurante perto do museu do Louvre e o garçom que nos atendeu era parisiense e foi muito simpático. Usei a minha técnica de falar primeiro em francês e depois pedir para falar em inglês para que meus amigos pudessem me acompanhar nos pedidos.

Antes de ir embora pedimos para ele tirar uma foto nossa almoçando em Paris e depois disso ele perguntou se podia tirar uma selfie conosco, pois éramos um grupo muito “educado e divertido”. Então, sim, é possível ser bem tratado em Paris, é só lidar com eles com jeitinho.

Por fim, espero que este artigo tenha te ajudado a entender as diferenças e similaridades entre o Francês da França x Francês da Bélgica e da Suíça. Se você tiver a oportunidade de fazer um intercâmbio na Suíça, ou na Bélgica para aprender francês, não tenha medo, pois existem muito mais similaridades do que diferenças nos sotaques e nas palavras usadas em cada país.

Bon voyage!