Morei por 12 anos em Berlim, na Alemanha. Cheguei lá com 25 anos e vivi todas as fases que pude na cidade: perdida, estudante, baladeira, solteira, pesquisadora, trabalhadora, natureza e mãe. Deve ter mais com certeza. Em Berlim, aprendi muito sobre mim e sobre o mundo. Uma das coisas que descobri foi que eu posso gostar de Natal. Eu só passei mesmo a curtir o Natal em Berlim.

Em qualquer lugar do mundo as pessoas celebram o Natal do seu próprio jeitinho, então não posso generalizar muito. Cada família tem a sua tradição. Algumas coisas são da cultura do país, mas todas têm tempero daquela família. O que compartilho aqui é a experiência da minha realidade no Brasil e em Berlim com minha família e amigos em ambos lugares.

Meu Natal no Brasil

No Brasil, a família da minha mãe fazia um grande Natal onde todos estavam convidados. À meia-noite rolava quase que um parabéns para o Menino Jesus. Apagavam as luzes, começavam a cantar noite feliz e logo emergiam as crianças da cozinha carregando um Jesus bebê em procissão para o presépio.

Aí tinha discurso, todo mundo bêbado, choro e logo os presentes iam aparecendo. Um banquete de pratos principais e sobremesas. As sobras que viravam o almoço durante a semana toda.

Houve anos que passei o Natal sozinha também. Ou porque estava trabalhando ou porque era adolescente e muito descolada para Natal. Não ligava muito e tampouco apreciava os rituais da minha família. Até que, já imigrante em Berlim, descobri os mercados de Natal.

Os mercados de Natal na Alemanha

O inverno em Berlim é um horror. Não é o frio que pega tanto, mas a escuridão e o mau-humor que vem com ela. É como se a escuridão também se alastrasse dentro das pessoas. A vida passa ser uma luta para criar hormônios da felicidade e não sucumbir. Menos no Natal. Acho que por isso esta é uma época tão querida em todo o país.

O advento acontece nos quatro domingos antes do Natal e incluindo o Natal. É durante esta época, quando Berlim está no fim da ladeira rumo ao dia mais escuro, que o povo se anima. As luzinhas por todas as partes. O vinho quente e as comidinhas.

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Nas cidades grandes há mercados temáticos, mercados que mais parecem parques de diversão e até mesmo mercados exclusivos onde se paga entrada. Não me entendam mal, eu até gosto destes parques, mas os de cidades pequenas são meus favoritos. Toda a cidade se junta ali naquela praça principal e fica feliz junto.

roda gigante em mercado de natal em berlim
Os mercados de Natal acontecem em todo o país durante o mês de dezembro. Foto: Roberta Schmoi

Logo me tornei turista de mercado de Natal. Passei a viajar para conhecê-los com amigos. Nossos pés estavam congelados mesmo com botas e meias grossas, mas nossos corações ficavam quentinhos.

Outras tradições de Natal em Berlim

Do dia 1 ao 24 de dezembro, acontece a abertura dos calendários de advento. Há todo tipo de calendário industrializado. Há calendários de chá, da Lego, de livros, de tudo. Os mais famosos são os de chocolate.

Além disso, dia 6 é o dia do Nikolaus. Por isso, no dia 5 à noite, crianças em todo o país limpam seus sapatos e os deixam à espera de pequenos brinquedos e chocolates deixados por este senhor que parece o Papai Noel.

Comidas natalinas

Em toda a Alemanha há também uma forte tradição de fazer biscoitos de Natal e outras delícias natalinas como o stollen, um bolo açucarado e super denso com frutas cristalizadas.

Eu adoro esta tradição! As pessoas se juntam para testarem juntos receitas enquanto bebem vinho em casa. Os biscoitos são servidos durante todo o mês de dezembro e também são presentes muito bem recebidos por amigos e familiares.

mãos de criança decoram biscoitos de natal
Mãos do meu filho decorando alguns biscoitos de Natal em Berlim para presentearmos amigos queridos. Foto: Roberta Schmoi

O Natal para mim passou a ser a bonança antes do colapso. É depois do Ano Novo que a gente se toca que o inverno chegou mesmo e que na vida real não tem luzinhas nem vinho quente.

Passei também a admirar as tradições no Brasil. Como era divertido estar em família na casa da minha tia. As crianças caindo de sono, mas segurando a onda para carregar o Menino Jesus e ganhar presente à meia-noite. Os adultos bêbados. Os discursos. O banquete. O excesso de enfeites, de tudo.

Confira também o meu relato sobre porque deixei Berlim por Portugal.

Natal em Berlim

Casei com um berlinense e na minha família de Berlim não tem banquete. Acho que esse exagero é uma coisa muito nossa e países que viveram grandes guerras no último século tem um relacionamento muito diferente com a comida. No dia 24 tudo acontece cedo, muito cedo. Tipo à tarde mesmo.

Berlim fica na Alemanha Oriental então a relação com o excesso é ainda mais diferente que em outras partes da Europa. Não conheci nenhuma casa decorada no nível que são decoradas no Brasil, por exemplo.

É engraçado porque as ruas são super enfeitadas, mas os lares não costumam ser. Outra coisa que é diferente é a relação com o consumismo. Não existe aquela enxurrada de presentes e é muito comum fazer coisas para presentear pessoas queridas.

uma loja de natal no sul da alemanha
O Natal é uma época muito querida na Alemanha e há até lojas especializadas. Foto: Roberta Schmoi

O meu maior choque cultural de Natal em Berlim foi que este é um evento familiar super exclusivo e privado. Para começar, as famílias não se juntam e o feriado não é só no dia 25, é também no dia 26. Assim dá para fazer Natal na casa de um e na casa de outro. Se tem um amigo sozinho, ele não é incluído. Para isso existem as comemorações durante o advento.

O que fazer quando perdemos parte de nós? Leia mais na minha coluna sobre a invisibilidade do imigrante.

O que trago comigo

A primeira vez que tive que não convidar alguém para o Natal em Berlim foi também a última. Não me lembro de ter me sentido tão horrível assim antes. A partir daí, passei a fazer o Natal na minha casa, onde todos estão convidados. Não fiz um banquete como a minha família brasileira faz, mas encontrei um meio-termo onde há mais variedades.

O Natal na minha casa tem luzinhas, tem árvore (pequena) e algumas poucas decorações na mesa. Fazemos muitos biscoitos e bolos. Tenho pelo menos três livros de receitas de iguarias para esta época do ano. Cada um de nós ganha um calendário de chocolate e temos outro artesanal para atividades em família.

Gosto de fazer presentes para os amigos e adoro receber algo feito de coração. Também trouxe comigo o vinho quente, o Nikolaus e a magia natalina que os mercados de Natal em Berlim instauraram em mim.

Agora gosto do Natal.