Mudar de país é um desafio e sempre requer muita pesquisa e planejamento, mas antes de entender porque deixei Berlim por Portugal, preciso contar um pouco sobre como a capital da Alemanha mudou nos últimos anos e como eu também mudei com ela.

Como era e como está Berlim na minha visão de 12 anos na cidade

Berlim é bem diferente do resto da Alemanha. Sua história, arquitetura e sua gente fazem da capital alemã algo bem distinto do resto do país. Confuso, não é? É que em Berlim tem gente de toda a Alemanha e do mundo e há não tanto tempo, a cidade foi dividida em duas. Por muitos anos, viver por lá significava para mim poucas obrigações e muito prazer.

Pouco a pouco esta realidade foi mudando. Houve bastante incentivo para empresas de mídia e tecnologia se instalarem na cidade e assim chegaram os estrangeiros endinheirados, bem diferente dos estudantes estrangeiros ou artistas que enchiam as fábricas abandonadas em festas ilegais ou dos estrangeiros refugiados que buscavam uma vida mais segura em um novo país.

Céu e chão branco de inverno em Berlim
O inverno de Berlim pode ser bem branco e frio, o que deixa a cidade pouco acolhedora. Foto: Roberta Schmoi

E assim a cidade foi sendo derrubada, higienizada e plastificada. Não bastasse, as pessoas foram ficando bem bravas. Movimentos de ultradireita anti-imigração que antes só encontravam adeptos em poucas regiões da cidade e do país, de repente passaram a ser uma opção cada vez mais popular.

Os alemães foram ficando cada vez mais insatisfeitos de verem os tais estrangeiros endinheirados com bons empregos na Alemanha, bons apartamentos e os preços nas alturas. Enquanto muitos deles ainda estavam presos nos chamados minijobs, os quais são trabalhos mal remunerados e sem benefícios que escapam da regra do salário mínimo.

A culpa, é claro, não é dos estrangeiros endinheirados, mas esta é uma figura mais fácil de culpar. No final, qualquer estrangeiro acaba por pagar o pato.

Existe diferenças nos cuidados de beleza em Portugal e na Alemanha? Confira minhas impressões.

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Mas afinal, por que deixei Berlim por Portugal?

Antes de ser mãe, Berlim me servia muito bem. Posso até dizer que morar em Berlim me ajudou muito a crescer como pessoa e como mulher.

Liberdade do corpo, maior igualdade de gênero, ambiente multicultural, um idioma completamente novo e uma nova forma de ver o mundo foram alguns dos presentes que a estadia de 12 anos nesta cidade me deu.

A partir da maternidade, o jogo virou porque ser mãe em outra cultura é um desafio por si só, mas ser mãe brasileira em Berlim talvez seja mais ainda. Antes da maternidade, eu não me sentia muito afetada pelas grosserias típicas dos berlinenses conhecidos em todo o país pelo seu jeitinho mal-humorado.

Com filhos, a história muda. Até porque as crianças são alvos ainda mais fáceis que estrangeiros.

Em uma cidade onde todos são reconhecidamente mal-humorados e reclamões e agora, estão bravos também, quem paga a conta? Falei em outra coluna sobre a invisibilidade do imigrante e como a gente vai se apagando quando vive em outra cultura. As agressões que presenciei despertaram tudo que estava guardado, mas parecia apagado.

Uma visão de mundo diferente

Recuperei a voz. Foi um processo, mas ver seus filhos caírem e adultos pularem por cima de seus corpinhos chorosos no chão, mexe com qualquer um. Percebi também que além de mal-humorados e bravos, os berlinenses são diferentes de nós porque prezam mais a individualidade que o coletivo.

Veja bem, entendo que não está nada bom o modo como somos socializados no Brasil, onde desagradar o outro é uma terrível ofensa e devemos prezar pelo emocional alheio custe o que custar.

Porém, é claro para mim há um meio-termo e que também, não está bom prezar o indivíduo e seus desejos a qualquer custo.

Uma criança pequena é excluída de um grupo de outras crianças que brincam juntas. Cabe ao adulto presente ser um exemplo de acolhimento e fomentar um ensino social empático. Só que não é assim que funciona em Berlim. É cada um por si desde o segundo ano de vida, quando termina a licença parental e começa a creche.

Referências estrangeiras

Filhos de estrangeiros têm outra referência afetiva e pode ser bastante difícil compreender o mundo fora de casa. Com um filho sensível que foi alvo de diversos adultos, eu não aguentava mais viver ali. Passei a sair de casa pronta para usar aquela voz que encontrei no volume que fosse necessário.

Uma vez uma mulher correu para pegar o ônibus e atropelou meu filho que caiu sangrando machucado. Ela achou pertinente gritar com ele por estar em seu caminho e quando revidei, os espectadores a apoiaram. Tenho tanta história impensável, que passei a coletar também a dos outros no meu Instagram.

Portugal foi uma solução possível e acolhedora

Sabe quando temos uma ideia e uma sensação de alívio toma nosso corpo? Foi isso que senti quando pensei que poderia me mudar. Passei mais de um ano listando lugares e pensando em planos de fuga. É difícil a beça deixar a segurança de um país com uma estrutura social que você sabe que vai cuidar de você caso as coisas deem errado.

Enfim, encontramos em Portugal, uma cultura que não está lá nem cá, mas que mesmo com suas particularidades menos agradáveis, é extremamente acolhedora com crianças e isso contava muitos pontos para a nossa família.

Roberta Schmoi na praia de Portugal durante o inverno.
A vida em Portugal é mais solar e acolhedora, até mesmo durante o inverno. Foto: Roberta Schmoi

Ao decidir morar em Portugal, perdemos algumas seguranças da vida em Berlim, cidade natal do meu marido, onde tínhamos rede de apoio e um governo que cuidaria de nós, mas foi porque deixei Berlim por Portugal que ganhamos tão mais.

Ao morar em Portugal com filho, o ganho maior foi em aspectos impossíveis de quantificar, como afeto, acolhimento e cuidado. Não nego que em Portugal tem umas coisas esquisitas também que lembram a minha infância nos anos 80 e 90 no Brasil, mas para quem vem da de onde viemos, é paraíso.

A verdade é que a capacidade de um lugar ser incrível ou não depende muito mais da gente do que do lugar em si. Da nossa realidade e do nosso ponto de partida.

*As opiniões dos colunistas não refletem necessariamente a opinião do site Euro Dicas.