12 milhões de habitantes, uma cidade que nunca para (nem mesmo quando deveria). Nascer e crescer em São Paulo te ensina muita coisa. E sempre achei que se você consegue sobreviver e viver em meio a esse caos, você consegue sobreviver e viver em qualquer lugar do mundo.

Talvez eu tenha parafraseado Frank Sinatra e a sua Nova Iorque, talvez. Mas realmente: a vida nessa cidade te ensina a enfrentar um caos tão absurdo que somente quem nela morou consegue imaginar.

Troquei São Paulo por Perúgia

Agora, imaginem sair dessa cidade e ir morar em outra, bem menor, com cerca de 10% de sua população, a 10 mil km de distância. Ou melhor: trocá-la por outra cidade porque decidi morar na Itália. Pois bem… Bem-vindos em Perúgia!

Essa foi a minha escolha (ou mudança) de vida. Uma cidade nova, em um país novo, com costumes novos. Menos correria, menos trânsito, ter a possibilidade de fazer tudo (ou quase) a pé.

O que buscava?

Certamente uma vida mais tranquila, menos poluída e, provavelmente, menos perigosa e com outros desafios. Ter mais tempo para aproveitar a vida fora do trabalho ou dos compromissos de estudos. Perder menos tempo em condução.

E tudo isso em uma cidade pequena e linda! Ou melhor, bellissima!

As pessoas te reconhecem na rua

Ser reconhecida na rua foi, sem dúvida, um dos primeiros “choques” como moradora do centro histórico. Claro, em São Paulo não é algo tão impossível ser reconhecida pela vizinha ou pelo atendente da padaria, mas não causa tanto estranhamento assim. Afinal, é o seu bairro, normalmente as pessoas conhecem seus pais (até mesmo alguns parentes), pelo menos de vista.

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É, afinal, uma situação nova, e poder cumprimentar alguém na rua é uma espécie de afago no coração.

“Alguém me reconhece”.

Menos solidão para quem se encontra a mais de 10 mil km de ‘casa’. Por outro lado, ser reconhecida na rua nem sempre é bom. Principalmente nas cidades pequenas, não é mesmo? Pessoalmente, prefiro um pouco de mistério – e principalmente, privacidade. Anonimidade mesmo.

Vida universitária no centro histórico

As cidades tradicionalmente universitárias da Itália, como Perúgia, não costumam ter estruturas que englobam a vida universitária, como frequentemente acontece em algumas cidades do Brasil. Universidades tradicionais, como Bolonha, Pádua e Siena têm vários campi espalhados pelo centro histórico.

laurea magistrale em Perugia
Eu defendi o meu Mestrado (Laurea magistrale) em plena pandemia. Imagem de arquivo pessoal.

A Universidade de Perúgia é estruturada mais ou menos dessa forma. Portanto, morar no centro é uma ótima opção (a não ser se você estudar Medicina e Engenharia, por exemplo, uma vez que os campi se encontram em outros bairros da cidade).

Ir às aulas a pé

A sede da Faculdade de Ciência Política, onde fiz meu Mestrado em Comunicação, ficava próximo ao centro, na zona universitária. Isso significava sair de casa às 8h15 para estar na primeira aula, que começava às 8h30. Apenas 15 minutos de caminhada.

Perúgia e a pandemia

Morar em Perúgia durante a pandemia foi realmente uma sorte em meio a tanto caos e desgraça. Eu já morava aqui fazia três anos quando a covid-19 chegou no país. Como se sabe, a Itália foi o primeiro país ocidental a ser atingido pelo vírus, principalmente nas cidades da região da Lombardia, como em Bérgamo.

Trocar São Paulo por Perúgia e conhecer o Lago Trasimeno
Meu primeiro verão em Perúgia, 2017, Lago Trasimeno. Foto: Bruna Paroni.

Nesse sentido, estar no centro histórico de uma cidade pequena, com áreas verdes próximas e ruas desertas, sem a necessidade de ter que pegar meios de transporte, como aconteceu em São Paulo, foi um alívio e, literalmente, a minha salvação.

Cidade verde

A natureza é a moldura que acolhe Perúgia. Uma cidade medieval, no alto de um monte, cheia de verde ao redor: oliveiras, vinhedos, árvores, plantas e flores de todos os tipos, para todos os gostos.

Sem falar no visual: do centro histórico, é possível ver a cidade de Assis (cidade conhecida mundialmente por ser o berço de São Francisco de Assis), aos pés do Monte Subasio. Um espetáculo!

E é justamente essa conformação que dá a essa cidade uma qualidade de vida muito alta, aliado, claro, ao ritmo lento, comida de qualidade, entre os fatores. Toda a Úmbria é assim, não é à toa que a região é conhecida por ser o “coração verde da Itália”.

Confira meu relato sobre dar aulas na Itália.

Cidade pequena, às vezes, cansa…

Realmente, em cidades menores, o ritmo de vida é mais lento. Porém, tal ritmo se reflete também nos acontecimentos, eventos, mudanças e novidades a serem oferecidas. Digamos que Perúgia é muito viva no verão, sobretudo a partir de metade de maio, até setembro.

No inverno, por causa do clima – que é muito chuvoso e, principalmente, úmido – a cidade fica deserta! Também venta bastante, o que desencoraja qualquer tipo de vontade de sair à noite.

Morando no centro histórico, você acaba também encontrando as mesmas pessoas, indo nos mesmos barzinhos e restaurantes, tomando café no mesmo bar. Nem sempre é ruim, claro. Quando eu volto de uma viagem, tudo o que eu mais quero é tomar um drink no meu bar do coração, o Dempsey’s Perugia. Ou comer o pão perugino, tipicamente sem sal e desprezado por quase todo mundo. Até mesmo ir ver um filme no meu cinema favorito, o Postmodernissimo.

Claro, não vou negar: a vida agitada e “inédita” de São Paulo me faz muita falta!

Falta de trabalho

Isso se reflete também na falta de oportunidades de trabalho. Efetivamente, a Úmbria é uma região povoada por adultos e idosos, assim, há pouco espaço para os jovens. Tanto que muitos vêm para a região para fazer faculdade e acabam se mudando, uma vez concluído os estudos. Preferem fazer a Laurea magistrale (ou Mestrado na Itália) e trabalhar em outras regiões.

A Bruna de São Paulo vs. a Bruna de Perúgia

Não, não somos a mesma pessoa!

Digamos que a Bruna de São Paulo era mais nova, com uma visão de mundo diferente – e também em um contexto quase “familiar”. A língua era só uma – o português – e o italiano era utilizado como instrumento de trabalho ou de estudo.

A Itália era um país longe, em todos os sentidos, e visto como um lugar para ser visitado ou vivido em períodos curtos.

Por outro lado, a Bruna de Perúgia é, em parte, aquela Bruna. Porque sem a vivência de São Paulo, o olhar sobre o presente seria completamente diferente.

Morar fora é desafiador

Acredito que a Bruna de Perúgia tenha crescido mais. Morar fora é crescimento, mas principalmente, aprender a ter que lidar com as mais adversas e inéditas situações “do seu jeito” (o que pode ser, em partes, aliviador, mas também carrega em si um medo, não vou negar).

Quando cheguei, tinha muitas expectativas sobre o futuro, sobre os meus últimos anos antes de completar 30.

Amigas em Perúgia
Quando minha amiga Luisa veio, finalmente, me visitar! Imagem de arquivo pessoal.

A Bruna de São Paulo não imaginou que teria de afrontar, um dia, uma pandemia longe da família (ainda bem que teve a companhia do irmão e dos amigos, foram fundamentais). Também tinha algumas ideias muito rígidas e “claras” – e aprendeu também que nossos planos são somente planos, e não projetos concretos, que realmente irão acontecer.

A Bruna perugina ainda não tem as ideias claras – ou melhor, entendeu que dúvidas fazem parte da vida. Morar fora significa também amadurecer. E aceitar que a vida dos seus amigos que ficaram segue adiante. Fico me perguntando o que a Bruna de Perúgia vai achar da sua tão amada e distante São Paulo.

Como é fazer amizades na Itália? Veja o relato da Bruna.