Desde que escrevo para o Euro Dicas sobre como é a minha vida morando na Itália, eu nunca contei como é viver na Úmbria. Por isso, ousaria dizer que esta seja, talvez, a coluna mais pessoal que eu tenha escrito até hoje!

Para isso, vou me concentrar principalmente em Perúgia, cidade em que é onde moro desde 2017, e sobre a qual tenho bastante experiência!

Como é viver na Úmbria?

Viver na Úmbria é sinônimo de tranquilidade, qualidade de vida, boa comida e paisagens encantadoras. É uma região ideal para quem visa deixar para trás a cidade grande, o trânsito e o estresse típicos das nossas metrópoles. Além disso, a região é uma das menores da Itália: conta com menos de 1 milhão de habitantes, então adeus, muvuca!

Há brasileiros na Úmbria?

Sim, mas somos poucos por aqui. Para se ter uma ideia, eu fui a primeira brasileira do meu curso de Mestrado aqui em Perúgia!

Inclusive, durante esses seis anos em Perúgia, conheci poucos brasileiros! A maioria de nós encontra-se em Milão, Roma, Turim, Bolonha, Verona e Florença. E de fato, basta dar um pulinho nestas cidades para logo ouvir a nossa língua portuguesa.

Essa minha impressão tem embasamento estatístico. Segundos os dados do Istat, o IBGE italiano, há cerca de 48 mil brasileiros no país. Destes, somente 665 decidiram viver na Úmbria (dos quais 485 em Perúgia).

Provavelmente o número de brasileiros na região (e, consequentemente, na Itália) seja maior, pois muitos têm a cidadania italiana, resultando, consequentemente, como italianos nos registros de pessoas residentes no país.

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Por que decidi morar na Úmbria?

A resposta é: não sei!

Brincadeiras à parte, eu escolhi viver na Úmbria por alguns motivos:

Primeiramente, eu procurava uma cidade que não fosse tão pequena, mas nem muito grande, e que fosse também sede de uma universidade importante. Ah, e claro, que não fosse muito cara!

Antes de me mudar definitivamente para Perúgia, eu passei três meses na cidade. Na época, eu havia ganhado uma bolsa de estudo para a Itália do Ministero degli affari esteri e della cooperazione internazionale, o Ministério de Relações Exteriores italiano, e estudei na Università per stranieri di Perugia, onde fiz o Corso di Lingua Italiana – Livello C2, nos meses de janeiro a março.

Viver na Úmbria e conhecer a Itália medieval
O aqueduto medieval, construído no século XIII, cruza toda a cidade de Perúgia.

Hoje, posso dizer com toda a certeza do mundo que essa experiência mudou a minha vida. Não só fez com que eu mudasse de país, mas principalmente que descobrisse outras realidades, e até mesmo, novos interesses.

Menos de um ano após ter voltado ao Brasil, eu já estava de volta à Perúgia. Aqui, mudei de vida, fiz novos amigos, melhorei o meu conhecimento da língua italiana e da língua inglesa, concluí o Mestrado (“Laurea magistrale”), entrei para o mercado de trabalho.

Morar em Perúgia, cidade internacional

Perúgia é uma pequena cidade com cerca de 160 mil habitantes, fundada por volta do século XI a.C.! O seu centro histórico é testemunha de milênios de história. Atualmente, é habitado quase que exclusivamente por estudantes (italianos e estrangeiros), jovens ou peruginos amantes do centro histórico (e é justamente onde moro!).

Claro, nem tudo são flores: o centro é cheio de ladeiras! Às vezes, enfrentá-las não é simples, gera um pouco de preguiça (particularmente no inverno, onde ao desânimo se soma o vento gélido que vem diretamente do Monte Subasio, a montanha onde se encontra Assis).

Centro histórico medieval

Pessoalmente, não me vejo morando em outra zona da cidade. O centro é o bairro de Perúgia onde há mais agitação. Ainda que não haja opções de baladas (se encontram fora do centro, em bairros mais afastados), há bares, restaurantes, lanchonetes, comércio no geral.

Dá para fazer tudo a pé – e confesso, não ter que pegar meios de transporte foi um dos motivos que me motivaram a me mudar para uma cidade pequena. Ir à faculdade, fazer mercado, ir jantar fora, ou simplesmente sair sem ter um objetivo ou meta precisa: isso tudo sem ter que dirigir, procurar vaga para estacionar ou, ainda, pegar ônibus.

Sem falar nas famosas Scalette del Duomo, ou seja, as escadarias da Catedral. É justamente ali onde aproveitamos o sol primaveril, após os longos meses invernais e cinzentos. Dar uma voltinha pelo Corso Vannucci, a rua principal da cidade, e sentar-se nas escadarias com um bom gelato. Ou ainda fazer pique-nique no Tempietto ou no Sanfra.

Rua Corso Pietro Vannucci
A rua Corso Pietro Vannucci é a principal e mais movimentada de Perúgia, onde moradores e turistas se reúnem.

Isso acontece também à noite. As escadas ficam repletas de pessoas, sobretudo estudantes, até tarde! Nessas ocasiões, é fácil conhecer pessoas novas, turistas, estrangeiros, jogar conversa fora, fazer novas amizades, dançar até o sol raiar (para a alegria dos moradores…).

A coisa que mais gosto é caminhar pelo centro durante o verão, já à noitinha, sem direção. Cada vez que passeio sozinha, descubro algum detalhe impercetível, até então. Uma contínua descoberta.

Ah, também adoro saber o nome das ruas: até tenho uma coluna, em um jornal cultural local, no qual explico o nome das vielas medievais da cidade (esse ramo da linguística se chama toponímia)! Sim, uma brasileira que conta um pouco de Perúgia para seus habitantes!

Vida cultural

O mesmo ocorre durante o Umbria Jazz, festival internacional de música que ocorre no mês de julho. A cidade vira um grande palco, com músicos de estrada e showzinhos até de madrugada. É uma atmosfera única, seja para nós, que a vivemos durante o ano todo, seja para quem vem conhecer a cidade durante esse período específico.

A Úmbria, no geral, tem um rico patrimônio artístico-cultural. Só em Perúgia, na Galeria Nacional, você consegue admirar obras de artistas como Rafael, Perugino (mestre deste último), Beato Angelico, Pinturicchio, entre outros nomes.

Para os amantes da arte contemporânea, eu recomendo o Museo Civico di Palazzo della Penna. Ali, pude ver pessoalmente obras de Joseph Beuys e Gerardo Dottori, já que o museu tem uma exposição permanente sobre esses dois artistas. Mas não só isso, as mostras temporárias são igualmente ricas e interessantes.

Também tenho sorte de morar próximo a dois cinemas, cuja programação semanal rica não deixa nada a desejar! Há também iniciativas culturais organizadas por associações e grupos de jovens que procuram sempre animar a cidade.

Sem falar nas belezas arquitetônicas importantes para a história da arte e da arquitetura ocidental, como a Fontana Maggiore, aqui em Perúgia, a Catedral de Orvieto e a Basílica de São Francisco de Assis.

Aluguel barato

Outro motivo que me levou à escolha de morar na Úmbria é o aluguel. Em média, em Perúgia, com aluguel gasta-se pouco (cerca de 8€/m²) no centro histórico. Dependendo do bairro, esse valor cai para 5€/m², de preferência nas zonas mais afastadas. Acredito que o mesmo valha para as outras cidades na Úmbria.

Os preços começaram a variar um pouco em 2022, devido à inflação que aumentou após a pandemia e o início da guerra na Ucrânia.

Como digo acima, eu sempre morei no centro histórico de Perúgia, onde se concentra a vida universitária e as atrações turísticas da cidade. E é justamente onde os peruginos não moram. As queixas vão desde falta de segurança até dificuldade para achar apartamentos espaciosos e com garagem (importante lembrar que Perúgia é uma cidade medieval).

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Excelente universidade

A cidade é sede de duas universidades: a Universidade de Perúgia e a Universidade para estrangeiros de Perúgia. As sedes de ambas encontram-se no centro histórico (tirando alguns cursos, como Medicina), fazendo do centro, portanto, uma cidade universitária.

A Universidade de Perúgia foi fundada em 8 de setembro de 1308. São apenas 715 anos de história acadêmica, sendo desde então, referência em vários campos de estudo: Direito, Filologia, Medicina e Engenharia. É uma das melhores universidades do país, conforme as últimas classificações nacionais.

No começo do século XX, surgiu a Universidade para estrangeiros de Perúgia, que visava promover a língua e a cultura italianas entre os cidadãos estrangeiros. É interessante notar que desde a Idade Média, a cidade de Perúgia já era meta de estrangeiros que decidiam passar um período de estudo na cidade, um pouco como os atuais intercâmbios.

Tal tradição perugina de acolher os estrangeiros perdurou ao longo dos séculos; de fato, há muitos documentos históricos que comprovam essa presença estrangeira também em 1700 e 1800.

Qualidade de vida

A Úmbria é uma região que se encontra bem ao meio da cordilheira dos Apeninos. É uma região rural, central, cuja qualidade de vida é realmente ótima. Para se ter uma ideia, nos anos 1980, a região passou a ser meta dos milaneses que, cansados da vida da cidade grande, procuraram abrigo na Úmbria.

Buscavam tranquilidade, contato com a natureza, enfim, qualidade de vida.

Comida boa!

Outro motivo pelo qual morar na Úmbria pode ser uma boa opção é a alimentação. Posso dizer que na região é fácil comer bem, e se come bem com pouco. Especialmente se você faz compras em mercados que vendem produtos locais, como verduras, legumes, leguminosas e grãos.

Por outro lado, a região tem grande tradição na preparação de frios de carnes suínas, como o Prosciutto di Norcia, vários tipos de linguiça, além de queijo de cabra e vinhos (destacam-se o Montefalco Sagrantino Docg e o Montefalco Rosso Doc).

Os meus pratos favoritos da Úmbria são: torta al testo con salsicce (atenção ao falso cognato: não são salsichas, mas sim linguiças!), pampepato, porchetta, minestra di lenticchie, umbricelli, gnocchi al sugo d’oca, prosciutto, pecorino e capocollo.

No outuno, o pan caciato: um pãozinho com queijo de cabra, nozes e uva-passa…  Ho fame! E claro, com uma taça de Montefalco Sagrantino Docg ou outro vinho local… Impossível ficar de mau-humor!

Fontana Maggiore em Perúgia, na Úmbria
A Fontana Maggiore é um dos pontos turísticos de Perúgia e fica localizada na Piazza IV Novembre.

Próximo à Roma e à Florença

De Perúgia é possível pegar trens diretos para Roma e Florença. Há linhas de ônibus interurbanos que levam diretamente ao Aeroporto de Roma Fiumicino, que tem voos para o mundo inteiro, até para o Brasil.

Morar na Úmbria é seguro?

A Úmbria é uma região tranquila e segura. Em 2022, Perúgia ficou em 35º lugar no ranking das cidades mais violentas da Itália. Em primeiro lugar, encontra-se Milão, seguido por Rimini, Turim, Bolonha e Roma.

O centro histórico de Perúgia não goza de boa fama. No passado, a cidade foi cenário de alguns episódios de violência. Ainda que haja casos de furtos e, uma vez ou outra, roubos mais sérios, podemos dizer que se tratam de episódios isolados de criminalidade.

Por outro lado, eu sou mulher, e caminhar à noite, sozinha, não é nunca 100% tranquilo – não por minha culpa, obviamente. Não poderia afirmar com certeza absoluta que eu me sinta tranquila em Perúgia quando volto para casa de madrugada. Porém, acho que não estaria tranquila em nenhum lugar do mundo, infelizmente.

Comida na Itália é papo sério: veja o relato de uma brasileira desbravando a culinária italiana.

Nem tudo são flores…

Há o lado negativo também, como tudo na vida. Existem alguns períodos do ano em que morar na Úmbria não é suficiente. Sinto falta de algumas coisas, como a vida movimentada das cidades grandes.

Um pouco isolada

Por exemplo, a região não possui autoestradas, e devido a sua posição geográfica – se encontra no meio de uma cordilheira – não é fácil de se locomover com transporte público, como trens. Portanto, é uma região na qual muitas pessoas têm carro e preferem utilizá-lo, ainda que façam poucos quilômetros por dia.

Pouca agitação

Se você procura uma vida mais agitada, a Úmbria não é, por certo, o seu destino ideal. Não que não haja opções para se divertir na região, mas claro, não se compara com as ofertas culturais de regiões como Lombardia, Toscana e Lácio. Nesse ponto de vista, Perúgia e Foligno são as cidades mais agitadas da região.

Cidades pequenas

Outro fator que pode ser negativo para quem queria morar na Úmbria é que há poucas cidades médio-grandes na região. Tirando Perúgia e Terni, as maiores cidades da região, as outras cidades não chegam a 60 mil habitantes.

Mercado de trabalho nem sempre satisfatório

O mercado de trabalho também é um pouco desmotivador, já que a região, no terceiro trimestre do ano de 2022, conta com uma taxa de desemprego de 8,6%, quase dois pontos percentuais acima da média nacional, que corresponde a 7,8%.

Para se ter uma ideia, no Vêneto esse valor cai para 3,5%, 4,8% na Toscana e Lombardia e 5,7% na Emília-Romanha. Portanto, viver na Úmbria pode acarretar a uma instabilidade da carreira.

Centro histórico de Perúgia pode deixar a desejar

Por mais que eu ame morar no centro histórico, algumas vezes, as atividades culturais não são satisfatórias. Não pela qualidade, mas principalmente devido à quantidade. Acontece de eu sair e não ter muita coisa para se fazer. Infelizmente.

Isso acontece principalmente no meses invernais (sobretudo em janeiro) e em agosto (por mais que, depois da pandemia, a cidade até que visitada durante esse mês; coisa impensável até 2020).

Trocar São Paulo por Perúgia, na Itália, valeu a pena? Veja as impressões da Bruna.

Vale a pena morar na Úmbria?

Vale, sim!

Principalmente se você, assim como eu, estava atrás de uma vida mais calma. Faz seis anos que moro aqui, e posso afirmar que, após colocar na balança os prós e os contras, foram anos em que cresci, me integrei na comunidade italiana, aprendi aspectos da cultura do país, da região e da cidade.

Aspectos esses que talvez seriam mais difíceis de apreender se eu tivesse optado por uma região um pouco maior, ou ainda, por uma metrópole, em que, tendencialmente, tudo se uniformiza.

Morar em Perúgia também foi bom por outro motivo: durante a pandemia, raras foram as vezes em que precisei sair do centro histórico, sem a necessidade de pegar meios de transporte lotados. Também era fácil praticar atividade física, porque há pelo menos dois parques próximos ao centro. E como dito acima, a cidade é pouco povoada, então, sair de casa para ir ao mercado, por exemplo, não era tão arriscado como em Roma ou Milão.

Sendo assim, aconselho a região para quem busca as mesmas coisas que buscava quando decidi morar na Úmbria.