Não existe nenhum assunto que os italianos gostem mais de falar do que comida. Mais do que isso: é um tema que eles levam muito a sério.

Comer bem é um estilo de vida do qual os italianos não abrem mão, em absoluto. Entre todas as suas prioridades, essa é a que está no topo e é transmitida de geração para geração.

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O país das massas e dos vinhos

A Itália é mundialmente conhecida como o país da pizza, das massas, e dos vinhos maravilhosos. Sempre que se pensa no país da bota como destino, seja turístico ou como um possível lugar para se viver, a primeira coisa que vem à mente é um belo prato de macarronada, coberto de molho de tomate, acompanhado de uma taça de vinho tinto, de preferência diante de uma bela paisagem.

Tudo isso tá muito ligado também à história e ao cinema, que desempenharam um papel fundamental para popularizar a culinária italiana.

Vivendo na Itália e convivendo com os italianos, aos poucos, você começa a entender porque a culinária daqui se tornou o que é hoje. Vamos aos fatos:

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  • Tradição: a Itália é um país que mantém suas tradições, desde os rituais de sentar-se à mesa para fazer as refeições, até as porções e a escolha criteriosa dos ingredientes;
  • Os produtos são simples e acessíveis, ou seja, além de custarem pouco e de serem facilmente encontrados nas feiras e mercados, também exigem pouco esforço na hora do preparo. Isso significa que você não precisa ser nenhum expert pra preparar um belo prato;
  • São produtos de qualidade, sempre frescos, naturais e, além de extremamente saborosos, são saudáveis.

Existe democracia na cozinha italiana?

Tudo isso torna a gastronomia italiana uma das mais democráticas do mundo. Mas, peraí, se você estiver com um italiano à mesa ou frequentando a sua cozinha, não conte com essa democracia toda, pois ela terá limites muito bem estabelecidos.

Veja bem, se você ousar, por exemplo, acrescentar uma colherada inocente de creme de leite numa carbonara, isso vai gerar uma revolta sem precedentes num italiano. Ou se você tiver, digamos, a audácia de partir o espaguete antes de colocar na panela para cozinhar, você conhecerá sua fúria. E, acredite, ele estará ali para fiscalizar.

Bom, nem vamos falar do ketchup na pizza porque isso ofende mais do que xingar a mãe deles, convenhamos, com toda razão.

Roberta em frente a duas pizzas servidas à mesa
Em Turim com as pizzas da Pizzaria Napples. Foto: Marcelo Martins.

O imigrante é um eterno estrangeiro: veja meu relato sobre essa relação.

As diferenças em relação ao Brasil

Imagina um italiano chegando no Brasil e sendo levado a um rodízio de pizzas? Talvez algum dia eu faça isso como uma forma de experimento social. Imagina a cara dele diante de uma pizza de strogonoff com fritas ou de sushi?

Quando eu contei a uma amiga romana que no Brasil nós comemos pizza doce, ela fez uma expressão parecida com a de uma criança experimentando limão pela primeira vez.

Eles ficam realmente horrorizados com as misturas fora do comum que nós, brasileiros, fazemos. Mas não é só isso que gera incômodo. No Brasil, estamos habituados a frequentar restaurantes e pedir para alterar um ingrediente ou outro no prato. Aqui isso é impensável. Mexer na receita original do chef é uma ofensa. Fica a dica. Nunca, em hipótese alguma, faça isso.

Confira outras coisas que você não deve fazer na Itália de jeito nenhum.

A culinária italiana rende muitas conversas

Há muitas curiosidades em torno da culinária italiana que eu só comecei a entender melhor quando passei a viver aqui. Estar à mesa é um ritual muito importante para os italianos. E o mais interessante é que na hora das refeições, o assunto principal é, adivinhe só, a comida.

A conversa gira em torno dos sentidos proporcionados pelos alimentos que estão sendo servidos ali, de qual região eles são, como são preparados, suas origens e histórias. Quando dou por mim, estamos todos trocando receitas e dicas de onde encontrar os melhores produtos.

Isso sem falar nos vinhos. Antes de viver aqui, eu apreciava vinhos, mas não falava sobre safras, regiões. Agora, veja só, descobri que meu paladar fica todo assanhado com o Chianti, que é produzido na Toscana. E o melhor: posso ter acesso a ele pagando muito pouco.

Não deixe de conferir nosso guia com séries italianas imperdíveis para maratonar.

Gafes à mesa

Mas antes de iniciar minhas descobertas no fantástico mundo dos vinhos, eu atravessei os vales sombrios das gafes.

Lembro da primeira vez que fui convidada para a cena (jantar) na casa de amigos italianos. Como se sabe, na Itália, as refeições são servidas separadamente. Primo e secondo piatto. O primeiro prato foi uma pasta, que estava deliciosa. O segundo, uma proteína com batatas.

Havia uma travessa de salada na mesa, que eu deduzi que era o acompanhamento. Fui lá, bem faceira, e me servi. A mesa inteira olhou pra mim, mais diretamente pro meu prato. E se tem uma coisa que italiano sabe ser é direto.

“Ma… che sta facendo, ragazza?”

Foi nessa ocasião que eu aprendi que salada se come por último, só depois de todos os pratos e não junto com a comida. “Va bene, va bene, scusa!”

Foi assim, passando uma vergonha aqui e outra ali, que eu fui aprendendo os costumes do lado de cá do oceano. Mas não sem deixar de contribuir com a cultura gastronômica que eu adquiri do lado de lá do oceano também, afinal, penso que um P.F. (Prato Feito) é algo que faz qualquer pessoa – independente da nacionalidade – muito feliz e é meu dever como brasileira espalhar esse conhecimento valiosíssimo.

Leia também a coluna da Bruna, ela conta o que se come no café da manhã na Itália.

Amizade e… comida

O primeiro italiano com quem eu fiz amizade quando cheguei em Turim (cidade em que vivo, no norte da Itália) foi o Giulio, namorado da Camila, que é brasileira. Giulio está sempre disposto a nos levar a conhecer os restaurantes locais, a provar os sabores da sua terra.

A forma entusiasmada como ele fala de comida é adorável. Foi através dele que eu comecei a entender a relação dos italianos com a comida, a importância das tradições, dos rituais e a paixão pelos sentidos, provocados pelos alimentos.

Em retribuição, um dia decidimos preparar uma feijoada para o Giulio. A princípio, ele ficou confuso com aquela variedade de ingredientes no mesmo prato, sobretudo com a laranja, que o deixou intrigadíssimo, ali tão íntima do feijão. Mas Giulio é, acima de tudo, um curioso, e aceitou o desafio.

Prato de feijoada brasileiro servido para um amigo italiano
Giulio provou e repetiu a feijoada tipicamente brasileira. Foto: Roberta Simoni.

Ele comeu o que no Brasil chamamos de “prato de pedreiro” e ainda repetiu. Até hoje ele fala maravilhado da farofa, que foi a sua parte favorita do nosso prato típico, muito embora até agora não entenda o conceito.

Ah, por último, mas não menos importante: se um italiano perguntar se você já se alimentou hoje, se quiser saber o que você comeu no almoço ou no jantar, a princípio, pode parecer curiosidade ou um jeito de puxar assunto, mas é só uma forma de demonstrar afeto. Significa que ele se preocupa e gosta de você, afinal, para os italianos, existe uma ponte que liga diretamente o estômago ao coração.

E não é que eles têm razão?