“Ô abre alas que eu quero passar…” Para os que acham que canções como essa de Chiquinha Gonzaga embalam apenas o Carnaval brasileiro, dou aqui uma notícia: a festa de Momo em Portugal, e especialmente em Ovar, pequena cidade onde moro, é muito animada. Aliás, devo reconhecer que Carnaval em Ovar é coisa séria e bastante profissional.
Carnaval em Portugal tem muito samba
E como estamos praticamente “abrindo alas” para as festividades, conto um pouco a nossa experiência com o Carnaval português, especialmente o vareiro (nome dado às pessoas da região de Ovar).
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CONHECER O EBOOK→Para começar, não há como negar: a influência brasileira nas festas é bastante grande. Por outro lado, por acontecerem nas mesmas datas, uma diferença é gritante, especialmente este ano, quando a comemoração cai em fevereiro, época ainda de auge do inverno por aqui.
Enquanto desfilar com o calor do verão não causa qualquer arrepio de frio, a brincadeira acima do Equador exige realmente muita disposição para quem vai encarar as ruas de maiô com temperaturas abaixo dos dois dígitos. Mas ninguém foge do frio!
Um mês de festas
A cidade dos azulejos e do pão de ló vive o Carnaval intensamente, com uma programação de pelo menos um mês. Há oficinas e workshops com sambistas, passistas e carnavalescos, que trazem a experiência tropical para os artistas daqui e para aqueles que ficam nos bastidores, ajudando a administrar esse grande espetáculo.
Pelo centro da cidade, alto-falantes presos aos postes seguem tocando samba o dia inteiro durante praticamente todo o mês que antecede os desfiles.
A trilha sonora da cidade, ainda que mais como uma música de fundo, passa a ser interpretada por Zeca Pagodinho, Alcione, Martinho da Vila, Arlindo Cruz e outros nomes bem conhecidos nossos.
Quando chegamos para morar em Ovar, em janeiro de 2018, poucas semanas antes do nosso primeiro Carnaval português, estranhei um pouco essa “playlist” vindo de não sei onde, até perceber as caixinhas acústicas muitas vezes imperceptíveis presas no topo de postes, por trás de árvores.
A cidade literalmente vibra ao som do nosso samba. Aliás, uma das principais noites dos dias de Carnaval em Ovar é a chamada “Noite Mágica”, uma espécie de “rave”, com palcos montados em pontos diferentes da cidade e uma grande arena central, que tocam não apenas samba e que fazem as janelas dos prédios tremerem até o raiar do sol.
Algo como a nossa Virada Cultural, reunindo gente que vem de longe só pra curtir a noitada. O resultado de toda essa produção pode ser medida em retorno financeiro: os hotéis ficam normalmente com taxa de ocupação de 100% e muita gente acaba tendo que se hospedar nas cidades vizinhas. Estima-se que a economia da região “ganhe” alguns milhões de euros durante os dias de festa.
A programação do Carnaval em Ovar é intensa
Este ano, a programação completa do Carnaval de Ovar começou em 28 de janeiro e prossegue com muitas atividades diferentes até o fim de fevereiro. E para quem está acostumado a ver os desfiles no Brasil, aqui o modelo é muito parecido.
Há escolas de samba, blocos, um grande desfile e um monte de gente para fazer as coisas darem certo. Até uma “Aldeia do Carnaval” permanente foi inaugurada há poucos anos, com galpões onde cada escola e grupo pode ir criando o seu Carnaval ao longo do ano, a exemplo do que existe no Brasil.
Nas últimas edições da festança, foram mais de duas mil pessoas trabalhando diretamente. Ruas são fechadas, arquibancadas erguidas (ou, como dizem em Portugal, as bancadas) e uma operação bem estruturada monta o esquema para adequar o transito de veículos e pessoas.
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ENTRAR EM CONTATO →O “sambódromo” de Ovar, um trecho de algumas centenas de metros de uma larga avenida, com bancadas e camarotes dispostos nas laterais, reúne mais de 4 mil pessoas.
E nem o frio atrapalha
E vale lembrar que, além do frio, o inverno daqui também costuma ser muito úmido: em edições anteriores, passistas, sambistas, membros da bateria e a animada plateia curtiram o desfile debaixo de alguma chuva gelada.
E por ser uma cidade pequena, cada grupo que passa, cada escola ou bloco, é saudado pela plateia, que muitas vezes estimula aqueles que desfilam chamando-os pelos nomes.
Durante as quatro ou cinco semanas com programação, a cidade recebe cerca de 1 milhão de pessoas. Ou seja, é como se cerca de 10% da população de Portugal desse uma passadinha aqui por Ovar, município que tem algo como 50 mil habitantes.
Marcelo D2 e Diogo Nogueira embalando o Carnaval
A abertura do Carnaval em Ovar, no dia 28, teve a participação brasileiríssima de Marcelo D2 e da orquestra Bamba Social. Com eles no palco, algumas dezenas de ritmistas saídos da oficina de percussão, que também faz parte da programação.
A partir daí, é festa praticamente todos os dias: caminhada noturna, baile de máscaras, chegada do Rei e da Rainha, Megafesta na Aldeia do Carnaval, Carnaval Sênior, DJs espalhados pela cidade e muitos outros artistas e bandas brasileiras e portuguesas se apresentando nos diversos palcos montados na região central.
Para os miúdos, um lindo desfile com grupos de alunos das escolas de Ovar, todos sempre muito produzidos e fantasiados, costuma colorir as ruas da cidade. É mesmo um “mini-desfile” com pequenos carros alegóricos, muita música e animação.
Mas uma das grandes atrações é, sem dúvida, Diogo Nogueira, que este ano se apresenta na arena principal, no dia 11 de fevereiro (Em 2020, último ano em que o Carnaval aconteceu sem os efeitos da pandemia, a abertura foi com a banda Monobloco e o grande destaque foi a cantora Alcione). Os desfiles com mais de 20 escolas e grupos acontecem na noite do dia 18 e na tarde do dia seguinte.
E para praticamente marcar o fim da festa, a “Noite Mágica” é a balada esperada por muitos: praticamente todo o centro da cidade, ruas e praças ficam isolados, com música ao vivo em diversos palcos. E tudo só termina ao amanhecer.
Para quem, como nós, mora na região central, é preciso usar uma pulseira de identificação que permite a entrada na área delimitada sem ter que comprar o ingresso. Oba! Show de graça? Sim, querendo ou não, a participação é quase obrigatória: não há como não ouvir todos os ritmos, mesmo estando trancado em casa…
Uma festa quase brasileira
Apesar de toda essa pujança atual, o Carnaval de Ovar, no entanto, já viveu também seus momentos de baixa, passando por um período em que pouco ou nada acontecia na cidade. Jornais do final do século XIX já traziam artigos relatando um declínio nas festas e na empolgação dos foliões.
A animação voltou nos anos 1920 a 1930, com os bailes de máscaras em salões nobres fechados para a elite de Ovar. Com o sucesso, os salões começaram a ficar pequenos e as ruas voltaram a ganhar a energia e a vibração de Momo. Mas foi depois da guerra que a empolgação cresceu. Os diversos bairros organizavam pequenos grupos, que competiam entre si, como um embrião do que seriam as atuais escolas de samba.
A partir do início dos anos 1950 o Carnaval já fazia parte do roteiro turístico de Ovar. Mas o excesso de empolgação acabou levando a festa a ser mais uma vez questionada e até evitada por parte dos cidadãos. O clima de “vale tudo” levou grupos a cometerem exageros, pequenos delitos, muitas brigas, tornando pontos da cidade verdadeiras praças de guerra, motivo pelo qual o período ficou conhecido como “Carnaval Sujo”.
Você pode entender mais sobre o Carnaval Sujo de Ovar no vídeo abaixo que mostra imagens da época:
A alegria voltou na década de 1960, quando o Carnaval passou a receber influência de várias tendências e culturas diferentes e do grande retorno de emigrantes que haviam deixado Ovar anos e décadas antes, principalmente em direção ao Brasil.
A partir dos anos 1980, o samba já tomava conta do Carnaval de Ovar e as escolas de samba começaram a surgir. Fantasias, carros alegóricos e uma grande produção levaram o Carnaval para um outro patamar
Festas em todo o país
Mas não é só de Ovar que vive o Carnaval português. Aliás, há uma certa rixa entre cidades e regiões, mesmo que no final todos se divirtam com as festas. Para muitos foliões, porém, o Carnaval de outras cidades é mais “genuíno” e menos brasileiro.
Em Torres Vedras, cidade no distrito de Lisboa, a festa este ano irá celebrar o seu aniversário de 100 anos. O centenário do Carnaval de Torres Vedras também larga no dia 28 de janeiro, mas as festas acontecem pra valer na segunda quinzena de fevereiro. Sem o apelo dos grandes músicos e sambistas brasileiros, há quem considere o “Carnaval mais português de Portugal”.
Com ou sem sotaque brasileiro, a festa também reúne milhares de pessoas e costuma ter lindos carros alegóricos e grandes desfiles. Uma das marcas registradas do Carnaval de Torres Vedras são as “Matrafonas”, homens vestidos de mulher, com roupas e maquiagens chamativas, personagens que também estamos acostumados a ver nos blocos no Brasil, e os “Cabeçudos”, grandes bonecos e suas cabeças ainda maiores, que também vemos em alguns blocos brasileiros.
Mais ao norte de Portugal, na cidade de Macedo de Cavaleiros, no distrito de Bragança, outro Carnaval muito tradicional e típico é o Entrudo Chocalheiro, também chamado o “Carnaval mais Genuíno de Portugal” e classificado como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO. As festas são para os que querem fugir do samba e dos grandes desfiles.
No Carnaval da cidade as figuras principais são os famosos “Caretos”, personagens que saem pelas ruas com um traje inconfundível de franjas de lã amarelas, vermelhas e verdes e uma máscara de nariz pontiagudo. Os Caretos correm atrás das pessoas para dançar e brincar.
Quer mais? Tem Carnaval no Algarve, no Alentejo, nas ilhas… Assim como no Brasil, Carnaval por aqui é data importante e muito comemorada. Com samba ou sem samba, com ou sem sotaque brasileiro, com o calor do hemisfério sul ou com o frio aqui do norte de Portugal, o importante é curtir as festas.
Conheça também outra tradição portuguesa: a desfolhada em Ovar.