De onde você é? Para a maioria das pessoas é simples responder essa pergunta, mas não para quem é uma criança de terceira cultura. Nem todo mundo nasce e cresce no mesmo lugar. Alguns de nós se mudam desde cedo entre estados e até países, adquirindo novos hábitos de outras culturas.

Como será crescer e criar uma identidade no meio de tanta coisa? Será que perdemos a nossa brasilidade? Como lidar com filhos que são crianças de terceira cultura?

Saiba mais sobre o termo TCK, conheça a história de uma família multicultural em primeira mão, e veja as vantagens e desvantagens de ser um cidadão do mundo.

Quem são as crianças de terceira cultura?

Criança de terceira cultura é um termo que se refere a pessoas criadas em meio a uma ou mais culturas diferentes daquelas dos seus pais. Elas têm contato com a cultura da família e também com a cultura do lugar onde vivem. Portanto, passam a desenvolver uma cultura própria da mistura, a tal terceira cultura, única e individual.

Por exemplo, filhos de diplomatas, imigrantes, missionários e todo tipo de expatriados tornam-se crianças de terceira cultura. Até mesmo caso as mudanças ocorram num mesmo país, entre estados de culturas muito diferentes, o sentimento é parecido.

Essa expressão vem do inglês Third Culture Kid (TCK), e foi introduzida pela primeira vez nos anos 1950 pela socióloga estadunidense Ruth Hill Useem. Desde então, as TCKs são cada vez mais comuns e o assunto é cada vez mais debatido.

No mundo globalizado em que vivemos, onde cada vez mais famílias brasileiras estão se deslocando em busca de oportunidades, há cada vez mais a necessidade de saber lidar com a migração.

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Afinal, para cada nova família migrante, há uma nova criança de terceira cultura. Mas o que isso significa?

Experiência que molda a identidade

Embora passem por lugares diferentes, as crianças de terceira cultura têm muito em comum. Elas são, no fim das contas, cidadãs do mundo. Conhecem várias culturas, mas têm dificuldade em criar raízes.

Por terem vivências semelhantes, as crianças de terceira cultura tendem a desenvolver algumas características típicas, como:

  • Rápida adaptação a ambientes novos;
  • Boa comunicação interpessoal;
  • Facilidade em aprender outras línguas;
  • Maior tolerância e respeito a culturas e religiões diferentes;
  • Dificuldade em criar laços profundos com pessoas;
  • Desapego emocional e facilidade em dizer adeus.

Conheça a vivência de uma família multicultural

Passar por tantas mudanças numa fase de desenvolvimento com certeza é um desafio. É o que nos conta a brasileira Yandra Vitorio, que passou por isso na infância e hoje é mãe de duas crianças de terceira cultura. Além disso, seu marido também foi uma TCK que cresceu entre a Austrália e os Estados Unidos.

“Eu nasci em Brasília, meus pais também. Mas quando minha mãe se casou com um militar, nós nos mudávamos para partes diferentes do país. Morei em Brasília, no interior do Amazonas, no Rio de Janeiro e em Goiás”, conta Yandra.

Família multicultural de Yandra
Yandra, Caleb e os filhos Theo e Ollie formam uma família multicultural | Imagem do arquivo pessoal

Lar é um conceito relativo

O sentimento de não pertencer a lugar nenhum é muito comum entre as crianças de terceira cultura. Especialmente na infância e adolescência, as pessoas precisam se sentir seguras e parte de uma comunidade. Mas, para a maioria dessas crianças, criar raízes não é assim tão simples.

“Honestamente, eu nunca me identifiquei com lugar nenhum que eu morei. Para mim, casa era onde eu estivesse”.

Pode não parecer, mas são muitas as coisas de que precisamos abrir mão quando vamos morar fora. Especialmente durante a juventude, as pessoas precisam se sentir acolhidas para se desenvolverem bem.

Um estilo de vida

Ao crescerem nesse ambiente, as pessoas de terceira cultura acabam adotando o estilo de vida migrante na sua própria identidade. Se mudar se torna comum, e muitas vezes essas pessoas tendem a escolher continuar se mudando quando crescem.

“Quando fiz 22 anos, eu decidi ir morar em Portugal sozinha para fazer um intercâmbio. Inicialmente ia ficar 6 meses, mas acabei ficando mais tempo porque me sentia em casa. Lá eu conheci meu marido, Caleb, e foi onde começamos uma nova família.”

Porém, Portugal não foi onde eles firmaram raízes. Por conta do trabalho, a família de Yandra já viveu em lugares como Lisboa, Braga, Faro, Nashville, Orlando e Toronto.

Com uma mãe brasileira e um pai australiano-estadunidense, os meninos Theo e Ollie cresceram entre Portugal, Estados Unidos e Canadá. Já tiveram contato com português e inglês de vários sotaques e origens, e estão sempre convivendo com culturas diversas.

Sempre que podem, passam férias com avós e primos. Aprendem inglês e português com os pais, mas o contato direto com a cultura brasileira é feito pela internet e a base de saudade.

Prós e contras de ser uma criança de terceira cultura

Como tudo na vida, ser uma criança de terceira cultura tem seus lados positivos e negativos. Confira os prós e contras desse estilo de vida:

Benefícios

Uma das maiores vantagens de ter sido criada em tantos lugares diferentes, segundo Yandra, é o desenvolvimento de uma tolerância cultural grande.

Além disso, experienciar culturas diferentes trazem mais respeito a opiniões diferentes e até uma expansão de paladar.

Crianças brasileiras com vivências internacionais

“Nós vivemos agora em Toronto onde há muitas comunidades de imigrantes. Eu tento sempre ensinar meu filho a respeitar as culturas diferentes. Ele já sabe que cada pessoa vem de um lugar diferente, e é bonito e é legal você ter uma cor diferente do seu amigo e falar de um jeito único”.

Confira também as vantagens e desvantagens de morar fora do Brasil.

Desafios

Por outro lado, em alguns casos, as crianças de terceira cultura podem não se sentir à vontade para se expressar e criar conexões onde estiverem. É natural que muitas mudanças em fase de crescimento pareçam esmagadoras.

“Ir crescendo desse jeito me deu muita ansiedade. É super difícil ficar longe da família e ter que sempre deixar novos amigos para trás”, conta Yandra.

Antes de nos mudarmos, temos também que nos preparar emocionalmente para as novidades. É essencial que a transição de uma cultura para outra seja acompanhada de um momento de encerramento. Estar em paz com o que deixamos para trás faz com que o futuro seja bem recebido.

Não subestime o poder da terapia

Quando nos mudamos de país, ou mesmo no Brasil, carregamos uma enorme bagagem emocional. Sim, é uma aventura emocionante, mas depois de um tempo começamos a perceber como é importante cuidar da saúde mental, já que  morar fora não é um conto de fadas.

Um estudo sobre a saúde mental dos imigrantes brasileiros em Portugal publicado pela Universidade Nova de Lisboa em 2012 revelou dados que mostram a importância do tema. Segundo a pesquisa, 41,9% dos imigrantes brasileiros desenvolveu sintomas de ansiedade e 14,7% de depressão após a migração. Por outro lado, a discussão sobre terapia ainda é vista como tabu por muitas pessoas, o que prejudica a saúde de quem precisa.

Não se deve ter vergonha de ir a um psicólogo. Pelo contrário, o acompanhamento de profissionais da saúde mental é uma garantia de boa adaptação a sua nova cultura.

Dicas para pais de crianças de terceira cultura

Se você e sua família decidiram embarcar numa mudança grande, é bom que se preparem. Além de se adaptarem a uma nova cultura, vão ter que lidar com a saudade de casa e com a falta dos amigos. Mas é possível fazer da mudança uma experiência positiva.

A experiência da Yandra como mãe e pessoa de terceira cultura a permitiu juntar algumas boas dicas para outros pais. Dê uma olhada:

  • Mantenha contato com a família que está longe e a sua própria cultura: celebre feriados, ensine a língua, ouça música brasileira;
  • Celebre a diversidade cultural da sua família: adote também as novas culturas que vivenciam;
  • Apresente as mudanças como algo positivo: mostre o que o lugar novo terá de bom;
  • Faça com que as crianças se sintam em casa onde quer que estejam: leve os objetos pessoais favoritos na mala;
  • Acolha a identidade dos filhos de terceira cultura: celebre o sotaque, a herança familiar e aquilo que os tornam únicos;

Será que o meu filho vai se adaptar no exterior? Confira os conselhos de especialista.

Lar é onde o coração está

A realidade das crianças de terceira cultura é única. Como você viu, existem coisas maravilhosas que vêm da experiência de morar em vários lugares. Mas também outras que podem atrapalhar no desenvolvimento pessoal.

Para que as crianças se tornem adultos funcionais e parte de um mundo globalizado, os conceitos de lar e família precisam caminhar juntos.

Famílias brasileiras no exterior

A sua identidade não precisa estar ligada especificamente a um país. Afinal, ninguém é o perfeito estereótipo do Brasil, não é? Ser de muitos lugares é lindo. Cada um deles faz parte de quem você é.

Ainda assim, aquilo que nos torna únicos vem de nós mesmos. Quer estejamos em Portugal, Canadá, Alemanha, no sul ou no norte do Brasil, temos uma essência. E conhecer tantas culturas só pode enriquecer a sua própria.

Se você vive numa família multicultural, valorize cada cultura que forem conhecendo. Viajar é um privilégio, e viver em outros países é sem dúvidas uma experiência maravilhosa.

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