Se morar em outro país faz parte do sonho da sua família, é preciso bastante planejamento antes de dar o próximo passo. Fazer um plano, traçar metas e eleger um país ideal de moradia são essenciais para que sua mudança seja feita de maneira eficiente. Mas os pais ainda se questionam: será que o meu filho vai se adaptar no exterior? Para tirar suas dúvidas, consultamos uma psicóloga especialista no assunto. Confira mais no artigo que ela escreveu abaixo.

Tudo sobre a adaptação das crianças e adolescentes no exterior

Lembro que quando estava no Brasil e me perguntavam por que queria morar no exterior, logo respondia que era porque queria ter mais qualidade de vida, principalmente para as minhas filhas. Queria que elas vivessem em um país mais seguro, que não precisássemos pagar caro por um ensino de qualidade, que elas pudessem aprender outros idiomas e que tivessem mais opções profissionais no futuro.
Pensando na pirâmide de Maslow, que fala sobre a hierarquia das necessidades humanas, o que influenciou nossa decisão de mudar e também de outras famílias que tivemos contato, foi a base da pirâmide, que são as necessidades fisiológicas e as de segurança.

Pirâmide de Maslow
Imagem do site FM2S

No entanto, quando o sonho vira realidade e estamos perto do dia da mudança, começamos a ter vários outros tipos de questionamentos, sendo a maior parte deles, relacionados aos nossos filhos: Será que fizemos a escolha certa? Vamos conseguir ficar longe da família? Será que eles vão se adaptar na escola? Meu filho será feliz? Vou criar algum trauma no meu filho? Será mesmo o melhor para o futuro do meu filho?
Se analisarmos a pirâmide de Maslow novamente, percebemos que agora, as incertezas estão relacionadas às partes de cima da pirâmide, nossas necessidades sociais (relacionamentos com amigos, família e sociedade) e de estima (autoestima, respeito dos outros, reconhecimento e confiança). E como temos incertezas, não é mesmo? Então vamos falar um pouco mais sobre algumas delas?

Será que meu filho vai ser feliz morando no exterior?

O maior desejo de um pai e de uma mãe é que seus filhos sejam felizes, não é mesmo?
Inclusive, uma das razões que levam os casais com filhos a decidirem morar no exterior é proporcionar melhores condições de vida e um futuro com mais opções de escolha para os filhos.
No entanto, quando a data da viagem se aproxima, a certeza de que fizemos a melhor escolha já não é mais tão certa e começamos a nos questionar se estamos realmente fazendo o que é melhor para eles, se isso vai fazê-los felizes ou até mesmo se não estamos afastando-os da felicidade que eles já têm.

A incerteza é normal ao tomar uma decisão tão importante

Depois que já estamos no país de destino, essa incerteza pode ser agravada quando vemos uma carinha triste e precisamos consolar nossos filhos que estão com saudades da família, dos amigos e até falam que queriam voltar ao Brasil. Nessas horas, devemos nos lembrar que a felicidade não é algo externo, e sim interno.
Lazer com crianças no exterior
Segundo Tal Ben-Shahar, professor da disciplina que fala sobre felicidade na Universidade de Harvard, a felicidade depende do nosso estado mental, de onde escolhemos colocar nosso foco, se é naquilo que falta ou naquilo que já temos. Ou seja, no que deixamos no Brasil e não temos mais, ou nas oportunidades que o novo nos traz.
Para escolhermos focar nas partes boas e nos ganhos que a situação nos traz, precisamos da nossa autoconfiança e autoestima. Isso é algo que você, como mãe ou pai, pode ajudar seus filhos, em qualquer lugar do mundo.

Será mesmo melhor para o futuro do meu filho?

Outro questionamento que ronda a cabeça dos pais é sobre o futuro dos filhos. Todo mundo fala que é melhor sair do Brasil. Afinal de contas, há melhores oportunidades fora, o ensino é de qualidade e as crianças têm a possibilidade de aprender outros idiomas, não é Mas, mesmo assim, vêm os ‘serás’ e os ‘e ses’.
“Será mesmo que será melhor?”, “Será que não é melhor continuar no Brasil e depois mandar o filho para um intercâmbio?”, “E se ele não conseguir seguir uma boa carreira?”.
A questão é que, ficando no Brasil, haveriam outros questionamentos, tão angustiantes quanto, como: “Vou fazer o meu filho perder uma oportunidade dessas?”, “E se eu não conseguir dar boas condições para ele estudar e conseguir um bom emprego depois?”, “E se a economia estiver ruim e ele não conseguir um bom emprego aqui?”. Ou seja, todas as escolhas têm os seus ganhos, mas também as suas perdas e renúncias. Não tem como só ficar com os bônus das duas opções.

Pesar os prós e contras é fundamental no seu processo

Se você está indeciso se vem ou se fica, ou, se fica ou se volta, você pode fazer um exercício de perdas e ganhos. O ideal é escrever no papel para que fique mais visual. Você pode colocar quatro colunas e listar todos os ganhos de ficar no Brasil e de morar no exterior. Assim como, avaliar todas as perdas em ficar no Brasil e morar fora. Depois é só analisar e pesar todos os fatores.
Vale ressaltar que a análise não deve ser quantitativa, mas sim qualitativa. Ou seja, é possível que em uma das listas tenha menos itens que nas outras, mas o que foi colocado lá tem um impacto maior na decisão de vocês.

Comprar euro mais barato?

A melhor forma de garantir a moeda europeia é através de um cartão de débito internacional. Recomendamos o Cartão da Wise, ele é multimoeda, tem o melhor câmbio e você pode utilizá-lo para compras e transferências pelo mundo. Não perca dinheiro com taxas, economize com a Wise.

Cotar Agora →

Vou criar algum trauma no meu filho?

Se tivéssemos o poder, nossos filhos passariam ilesos a todos os tipos de frustrações e situações difíceis inerentes à vida. Junto com o desejo que eles sejam felizes, vem a vontade de protegê-los de tudo o que causa sofrimento. Mais difícil ainda é pensar que este sofrimento pode ser causado por algo feito por nós mesmos. Mas calma! O fato de você se preocupar já é um indício que a mudança de país não causará traumas nos seus filhos. Vou te explicar o porquê.
Os traumas são ocasionados por situações em que houve a exposição a um evento traumático ou estressor. No entanto, há outros fatores que interferem para que a situação vivida se transforme em um trauma. O que para algumas pessoas se transformou em um trauma, pode não ter se transformado para outras. Isso depende de como cada um dos envolvidos encarou as situações. Para que as situações adversas sejam vivenciadas sem causar danos psicológicos, é importante que a criança tenha uma boa estrutura emocional, com vínculos familiares fortes e apoio emocional dos seus cuidadores.
Mãe e filho brincando
Então, se você se preocupa com a possibilidade em causar um trauma na vida do seu filho por causa da mudança de país, é um indício de que você se preocupa com ele, tem um vínculo afetivo forte e não negligencia a relação que existe entre vocês, não é mesmo? Que tal, ao invés de se preocupar se causará traumas ou não no seu filho, aceitar que o seu filho passará por situações difíceis como qualquer outro ser humano? Essas situações fazem parte do desenvolvimento dele, para que se torne um adulto com competências como resiliência, empatia, adaptabilidade e relacionamento interpessoal.

Será que meu filho vai se adaptar na escola?

Além de toda a adaptação de uma nova vida, há ainda a preocupação com relação à adaptação dos filhos na escola, uma fase grande e importante na vida das crianças. O início em uma nova escola, mesmo no Brasil, gera uma expectativa alta, tanto nas crianças quanto nos pais. Agora, começar em uma nova escola em um novo país, pode ser muito mais desafiador, pois há a preocupação não só de adaptação à escola, mas também à convivência com amigos de outras culturas e ao ensino em um outro idioma.
Como pais, desejamos que nossos filhos se adaptem super fácil e rápido, para que não sofram e a culpa não se instaure em nós, não é? No entanto, é normal que haja desconfortos no meio do caminho e nem tudo seja flores. Assim, devemos nos preparar e apoiar nossos filhos para esse passo tão importante. Para isso, seguem algumas dicas.

Mantenha um diálogo franco

Converse com o seu filho antes das aulas começarem. Explique como será e o que ele encontrará quando as aulas começarem. Você pode falar sobre sentimentos e emoções inerentes à situação e até dar um exemplo de uma experiência sua, de quando começou em uma nova escola ou um novo trabalho.

Presente em todas as etapas

Envolva o seu filho na preparação para a entrada na nova escola. Na compra de materiais, mochila, estojo, etc. Até na preparação dos lanches para a hora do recreio!

Apoio emocional é importante para pais e filhos

Quando as aulas começarem, é normal que o seu filho se sinta inseguro. Uma forma de ajudá-lo, é deixar que ele leve algum objeto de casa ou dos pais que o faça sentir mais confiante. Minha filha mais nova chorava todos os dias quando começou a ir para a escola aqui na Espanha.  O que a ajudava era eu deixar uma marca de beijo no papel que ela usava para enxugar as lágrimas. Até hoje, ela pede para levar um papelzinho com o meu beijo para deixar em seu bolso.
Também repare-se emocionalmente para o início das aulas. Muitas vezes, os pais se sentem mais inseguros que os próprios filhos, esse sentimento pode transparecer e deixá-los inseguros também.

Atenção e empatia são fundamentais na nova rotina

Na hora de se despedir do seu filho, mostre confiança e bom humor. Sei que parte o coração ver o filho entrar na escola chorando e a vontade é de levá-lo para casa, mas é importante que ele sinta a sua segurança para se sentir seguro também. Outro fator, é que se você o levar para casa, passará a mensagem que se ele chorar, não precisará ficar na escola, e pode ser que ele passe a adotar este comportamento para fugir da escola.
Cuide da rotina. A maioria das escolas na Europa começam as aulas às 09h da manhã. É importante que o seu filho tenha uma rotina, para que acorde com calma e descansado. Além disso, as rotinas ajudam que ele se sinta mais seguro, pois há previsibilidade no dia a dia.

Veja também os conselhos para lidar com a imigração de um filho que se muda sozinho para o exterior.

Mas, afinal, o que fazer?

É normal sentirmos medo frente ao desconhecido, principalmente em se tratando de uma mudança tão grande como a mudança de país, em que outras vidas serão impactadas, como a de nossos filhos.
Mas, o medo tem uma função importante para a nossa sobrevivência, pois nos faz ficar alertas aos sinais de perigo e nos defender quando preciso. A grande questão é o efeito que ele causa em nós. Você já ouviu aquela frase: “Está com medo? Vai com medo mesmo”? Pois é! Utilize o medo para pesar, analisar e refletir nas suas opções e decidir com mais assertividade. O cuidado que devemos ter é para não paralisarmos diante do medo.
Mudança em família para o exterior
Outro ponto importante que você deve se lembrar é com relação ao que está ou não sob o seu controle. Muitas vezes queremos controlar o incontrolável e, como não conseguimos, acabamos ficando mais ansiosos do que deveríamos. Então, vale parar por alguns instantes para refletir o que está ao seu alcance e o que você pode fazer com relação à isso. Mas também pensar sobre o que foge da sua alçada, aceitar e desfrutar a caminhada, em vez de sofrer por uma chegada que você não sabe como e quando será.
E por último, mas não menos importante, cuide de si para que você possa cuidar dos seus filhos. Desfrute essa linda e inesquecível experiência!

Gostou da leitura? Então você também pode se interessar pelo artigo: Não sou mais o mesmo depois que mudei de país.