Se você adora ler sobre a cultura italiana, já deve ter se deparado com o Ferragosto, o feriado típico italiano. E claro, se você decidir morar na Itália, precisa conhecê-lo!

O primeiro Ferragosto

Depois de dois intercâmbios na Itália finalmente vivi o meu primeiro Ferragosto na Itália.

Fã de cinema, eu já tinha visto filmes como “Aquele Que Sabe Viver” (Il sorpasso, 1962), “Caro Diário” (Caro Diario, 1993), “Almoço em Agosto” (Pranzo di Ferragosto, 2008) entre outros, e sabia da importância desse feriado para os italianos. Mas só fui vivenciar na minha pele em 2017, ano em que mudei definitivamente para o país da bota.

Morar na Itália significa também conhecer e vivenciar 1001 tradições diferentes.

Eu sou fã de carteirinha do verão, e esse amor aumentou e mudou também após a minha residência aqui no hemisfério norte.

O calor na Itália é diferente: é úmido. No começo achei que fosse melhor que o calor seco e o ar poluído de São Paulo. Lembro que Teresa, a minha primeira roommate (junto com a André) me disseram:

“Você vai ver, ninguém sai de casa à tarde, o centro de Parma fica quase deserto”.

E elas tinham razão. Não conseguia acreditar. Já morava na Itália há alguns meses – meu primeiro intercâmbio foi na Emília-Romanha, uma das regiões mais industrializadas e famosa pelo território plano, dificultando a mudança e filtragem naturais do ar.

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Que calor!

O calor úmido é diretamente ligado à umidade relativa do ar: se o nível de umidade for alto, a sensação térmica aumenta. Em poucas palavras: você sente mais calor, e a sensação de abafamento e desconforto também são maiores (em relação ao calor seco).

Como eu estava dizendo, eu já tinha ideia do que era morar na Itália durante o verão. Todavia, os meus dois intercâmbios foram durante o inverno até o meio do verão na Itália (janeiro-julho, grosso modo), então eu não sabia muito bem como era o mês de agosto no país até o ano de 2017.

Verão na Praia, em Sperlonga na Itália
Ferragosto na Itália é sinônimo de ir à praia

Agosto igual férias

Não sei se você sabe disso, mas o mês de agosto para os italianos é “o” mês de férias. É um pouco como janeiro para nós, no Brasil.

Porém, há uma grande diferença: parte do comércio fecha, cidades como Roma, Milão, Turim e Bolonha ficam vazias – já que não fazem parte da meta de verão por não terem praias e serem muito quentes. E eu senti isso na pele em Turim.

Nada de praia

Em agosto de 2017 fui visitar uma querida amiga na Calábria, a Giorgia, e passei alguns dias na praia com ela. De retorno à Perugia, já tinha marcado outra viagem, mas dessa vez sozinha e “em uma grande cidade”, já que a minha alma cosmopolita fala sempre mais alto. Destino: Turim.

Sempre me falaram muito bem da cidade, não estava afim de praia, então me pareceu uma ótima ideia. Chegando lá, não havia quase ninguém na estação de trem, o que me pareceu estranho, já que Turim é muito movimentada, grande, e famosa no mundo inteiro por ser sede da FIAT.

Turim, o cenário do meu primeiro Ferragosto

Da estação de trem até o hostel, silêncio: cafés, lojas, comércio em geral, tudo fechado!

“Então é verdade”, pensei. Me senti o próprio Nanni Moretti em “Caro Diário“, mas ao invés de passear por Roma de Vespa, eu estava caminhando pela linda e deserta Piazza San Carlo.

Piazza San Carlo vazia no Ferragosto
Piazza San Carlo vazia no Ferragosto

O lado bom é que os museus estavam abertos e vazios. Visitar o Museu do Cinema estava nos meus objetivos do meu dia na cidade. Cinema e ar condicionado, eu diria que foi um bom dia.

Ah, sim, esqueci de mencionar uma coisa importante: a cidade de Turim se encontra aos pés dos Alpes, mas nem por isso é uma cidade com um clima fresco no verão.

Cidade vazia, comércio fechado…

Aproveitei também para conhecer o estádio do time de futebol Juventus. Eu estava sozinha e era a única mulher que não estava acompanhando o namorado/marido. Caminhei pela cidade ouvindo as minhas músicas preferidas, vi a cidade do alto de uma colina: linda.

Reta, planejada, aristocrática, os Alpes no Fundo. E o Rio Pó ajuda a completar esse quadro arquitetônico humano e natural que é Turim.

Lembro que o dono do hostel – outra história engraçada: era o dono de um hostel onde me hospedei em Gênova em 2014, que acabara de comprar o hostel torinese – achava interessante a minha vontade, e de outras pessoas que estavam hospedadas lá, de visitar a cidade durante o Ferragosto.

Calor e muita comida!

Ele estava “certo”. Esse não foi o típico Ferragosto italiano! Normalmente, os italianos passam o dia na praia. Se não se encontrarem por lá, partem de manhãzinha para aproveitar o máximo.

Italianos curtindo o ferragosto em Nettuno
Italianos curtindo o ferragosto na praia em Nettuno

Outros preferem ir em busca de lugares mais frescos, como montanhas. Ah, e claro, também rios e lagos!

Há que decida ficar na própria cidade e se reunir com os amigos e familiares em casa, num restaurante ou até mesmo, fazendo pique-nique!

Por mais que seja um dia quente, o cardápio não é lá muito leve. É normal encontrar receitas que tenham como base carne branca, como frango e pombos (calma, pombos limpinhos criados em cativeiro).

Na Úmbria, região onde atualmente moro, um dos pratos típicos de Ferragosto é gnocchi al sugo di papera (nhoque com molho de pato), no Lácio alguns preparam o pollo con peperoni (frango com pimentão) e na Toscana, por exemplo, é comum encontrar piccioni arrosto (pombo assado). Enfim, varia de região a região.

Origem do Ferragosto

Esse feriado nasce durante o Império Romano, mais precisamente no século XVIII a.C. Em latim se chamava feriae augusti, ou seja, as férias/as folgas de Augusto, o Imperador romano.

Era comemorada em 1º de agosto e era um período de descanso. Séculos mais tarde, a Igreja Católica adaptou esse feriado, convertendo-o no Dia da Assunção de Nossa Senhora (Assunzione di Maria).

Essa festividade é tão enraizada na cultura italiana que até mesmo o famoso Palio di Siena, competição anual que ocorre na cidade toscana em 16 de agosto, é ligado ao Ferragosto!

Adaptação à cultura

Tenho que admitir. Os outros Ferragostos foram mais “italianos”.

Já passei o feriado na praia, no lago, fazendo churrasco. Lembro com grande saudade o de 2020. A Itália tinha vivido maus bocados com a pandemia, assim como o mundo todo. Depois meses trancafiada em casa, voltei à Calábria em companhia da Stella. Fomos visitar a querida Federica (e claro, nos encontramos com a Giorgia, aquela de 2017: somos todas grandes amigas!).

Passamos o Ferragosto comendo comidas típicas de Catanzaro (a capital da região). Um almoço delicioso – e muito, mas muito abondante, exatamente como o pessoal do sul da Itália gosta.

A nonna Marinella, avó da Federica, sempre lembra de mim como um orgulho pessoal: “A Bruna comeu tudinho”. Igual ao Brasil! Já diria o provérbio, tutto il mondo è paese… Impossível negar: a Calábria lembra muito alguns bairros e famílias ítalo-brasileiras de São Paulo.

Após a grande abbuffata, fomos para a praia. Vazia! Brisa do mar. Silêncio.

Eu, que normalmente odeio dormir quando vou à praia, dormi. Tem coisa melhor do que uma sonequinha depois do almoço? Ainda mais depois de um banquete calabrês.

Eu nunca esqueci do meu primeiro Ferragosto. Me senti sozinha em uma cidade quase deserta. Uma sensação única, particular e, ao mesmo tempo, refrescante para o clima de aglomeração nas praias.