Enquanto eu organizava a minha vinda para a Itália, pensava em muitas coisas. Casa, burocracia, o que estudar, gastos, enfim, tudo o que envolve uma mudança de país. Em nenhum momento parei para pensar sobre a minha volta “como turista” para o Brasil. Nessa coluna eu conto como me sinto depois de seis anos sem voltar ao Brasil.

Sem voltar para o Brasil desde 2017

Pois bem, moro na Itália desde janeiro de 2017. Isso significa que faz seis anos que não volto para o Brasil. Muito tempo? Pouco? É relativo.

Quando conheço alguém, principalmente italiano, a primeira pergunta é:

“Você é brasileira?”, seguida de “E desde quando você não volta para lá?”.

Quando respondo, todo mundo se surpreende. “É muito tempo”. Realmente, é bastante tempo, não nego. Mas o calendário acadêmico e o preços das passagens fizeram com que eu adiasse a minha volta para o meu Brasil.

Calendário acadêmico: quando o verão é em agosto

O calendário de provas, aqui na Itália, é um pouco diferente. A primeira diferença é que as provas e defesas não são no final de semestre. Grosso modo, são realizadas em janeiro e fevereiro (sessione invernale), abril (sessione primaverile), junho e setembro (sessione estiva), outubro (sessione autunnale).

Eu tinha um objetivo claro, que impus a mim mesma antes de ser aceita na Laurea Magistrale aqui em Perúgia: defender o mestrado com nota máxima e louvor. Isso significa que eu não poderia tirar nota abaixo de 27 (as notas nas universidades italianas vão de 18 a 30 ou 30 e louvor). A nota da defesa vai até 110 e lode (com louvor).

Consegui defender o Mestrado (no meio da pandemia), respeitando a duração do curso e conseguindo o tão almejado 110 e lode. Não teve nenhum tipo de milagre. Estudei bastante, trabalhava, então o tempo que sobrava era bem pouco (e contado).

Comprar euro mais barato?

A melhor forma de garantir a moeda europeia é através de um cartão de débito internacional. Recomendamos o Cartão da Wise, ele é multimoeda, tem o melhor câmbio e você pode utilizá-lo para compras e transferências pelo mundo. Não perca dinheiro com taxas, economize com a Wise.

Cotar Agora →

E trabalhar e estudar na Itália não é uma coisa muito normal (e, muitas vezes, até mal vista pelos professores).

Preço das passagens

Ao longo dos anos, as passagens subiram e eu, uma simples aluna de Mestrado na Itália (com bolsa) não consegui fazer tudo. Ou seja, juntar o calendário das provas, aproveitar o verão da Itália, viver e ir pro Brasil. Magari!

Preferi optar pelo verão na Itália… Até porque a facilidade do cartão de crédito não é nada comum na Itália. Esqueça a facilidade que temos no Brasil para parcelar as coisas!

Família compreensiva

Por sorte, a minha família consegue se organizar e me visitar. Agora meus dois irmãos também moram na Itália, lá em Verona. Alguns amigos do Brasil também vieram me visitar (quem não quer ter uma amiga ou parente que mora na Itália?).

Brincadeiras à parte, receber a visita da família é bom, pois é uma oportunidade que temos para mostrar aos nossos entes queridos como é a nossa vida aqui, qual é a nossa rotina e realidade.

Também já falei sobre minha experiência no ano novo na Itália.

Como é ficar tanto tempo longe e sem voltar ao Brasil?

Estranho! É inegável que a internet é o principal aliado de quem mora no exterior. Não só pelas chamadas de vídeo, sobretudo porque você consegue acompanhar muita coisa que acontece do outro lado do Atlântico, através das redes sociais.

Chamada de vídeo para matar a saudade de anos sem voltar ao Brasil
As chamadas de vídeo são uma ótima ajuda para matar a saudade dos amigos e da família no Brasil.

Isso faz com que eu me sinta, muitas vezes, num limbo. Eu estou aqui, e com a cabeça lá. Ou, então, que acompanho pouco, e acabo perdendo muita coisa. Mas qual é a minha realidade? Essa? Aquela? A sensação que tenho é de que não vivendo mais no Brasil, acompanhar tudo vira uma missão quase impossível.

Voltando ou não, vida que segue

Passar tanto tempo fora de São Paulo fez com que a visão da cidade (lugares, lembranças, familiaridade) se mantivesse intacta. O que lembro da minha cidade natal ficou parado lá em 2017. Os bares novos, os lugares perigosos, arquitetura, caminhos. Sei que quando voltar, algumas coisas estarão diferentes, outras, simplesmente não existirão.

Eu me sinto muito ligada ao contexto italiano, ao dia a dia daqui. Portanto, a vida lá continua acontecendo sem a minha presença. Entender isso foi importante para que eu conseguisse viver com a cabeça aqui e levar adiante a minha escolha. Mas claro, se informar sobre o que acontece no Brasil é a primeira que faço quando acordo!

E voltar para o Brasil não vai fazer com que essas coisas voltem. E nem com que eu me acostume de novo. O tempo passou.

Saudades: sim ou com certeza

Falando em saudades, as coisas que mais sinto falta são a família e os amigos, os lugares do coração, como o Sesc Pompeia, comidinhas, como mandioca frita, aquela sensação de familiaridade, de pertencimento que só um ambiente familiar é capaz de propiciar. São coisas imateriais, subjetivas.

É inegável que morar tanto tempo longe sem voltar para a outra casa – o Brasil – aumente exponencialmente a saudade. E ainda bem que temos essa palavra maravilhosa para poder explicar tudo aquele turbilhão de sentimentos que sentimos morando longe de casa.

Trocar São Paulo por Perúgia, na Itália, valeu a pena? Veja o relato da Bruna.

Itália ou Brasil: onde me sinto em casa

Os dois! Eu considero a Itália a minha casa desde o meu primeiro intercâmbio, quando ainda era aluna de Letras na USP. Foi amor à primeira vista. A minha vida é aqui, a língua que eu mais uso é a italiana – o português virou língua de trabalho e de comunicação afetiva, com amigos brasileiros e minha família.

A língua ainda é a minha, por mais que eu a use pouco. A literatura brasileira ainda é a minha literatura, nela encontro refúgio e, mais do que isso, uma familiaridade acolhedora. Quando alguém fala que esteve no Brasil ou que vai para lá, não tem jeito, o meu coração aperta de saudades.

Um dia, eu volto!

Voltar para o Brasil nunca foi parte dos meus planos… Até a pandemia. Como todo mundo, eu entendi que todas as certezas que tinha, até então, eram ilusões. Daí, então, o desejo de voltar para ver como estavam as coisas e pessoas que deixei intactas anos antes foi aumentando.

Hoje, quando me perguntam se eu voltaria a morar no Brasil, respondo sempre o mesmo. “Não sei. Talvez, depende de tantas coisas”. Como também não sei mais se vou morar na Itália para sempre. Não me vejo morando em nenhum outro país, porém quem é que sabe o que irá fazer daqui a 2, 3 anos, não é mesmo?