É sempre complicado falar sobre como é ser uma imigrante negra na Europa.
Ao abordar esse assunto, assim como quando falamos de adaptação, geralmente falamos de acordo com as nossas experiências pessoais.
Infelizmente, não ter contato com o racismo é, sobretudo, uma questão de sorte. A minha ideia ao compartilhar a experiência de como é ser uma imigrante negra na Europa é informar e ajudar homens e mulheres negras que têm o sonho de imigrar, mas sentem medo devido ao racismo.
Meu nome é Carolina Candido e eu sou nascida e criada em São Paulo, cidade na qual morei até o ano de 2012, quando me mudei para a Itália para estudar.

ser uma imigrante negra em Genova

Eu acho sempre essencial ressaltar que, ainda que nos preocupemos com o racismo em outros países, é preciso ter plena consciência de que o Brasil também é um país racista.
Pensamos uma série de coisas sobre outros países, mas, por vezes, nos esquecemos de analisar e refletir sobre o nosso. Sabemos que a história do nosso país tem, em seu desenvolvimento, o fantasma da escravidão.
Esse fantasma se perpetua até hoje em práticas que contribuem para a marginalização do negro em nossa sociedade, acentuando o racismo presente.

Como é ser uma imigrante negra na Itália

Eu nunca tive exatamente muito medo de ser vítima de racismo fora do Brasil porque já o sofri inúmeras vezes em meu país.
Como estudei a língua italiana na faculdade, me mudei um ano para o país para concluir os estudos e adquirir proficiência no idioma.
Essa foi uma experiência única na minha vida e guardo a Itália com carinho em meu coração.
No entanto, ela também foi parte fundamental do meu entendimento de como é ser uma imigrante negra na Europa. Morar e estudar na Itália foi muito importante para ampliar meus horizontes e realmente me apaixonei pelo país. Mas também foi lá que sofri os casos mais sérios de racismo.

O racismo implícito e o racismo explícito

É importante ressaltar que existem diversos aspectos do racismo, e, ainda que nossa tendência seja a de pensar em uma violência extremamente explícita, ele também se faz presente nas nuances.
Pensar em como é ser uma imigrante negra na Europa envolve entender tanto o racismo explícito quanto essas nuances.
De olhares a pequenos insultos racistas que ouvia. O fato de ser sempre “aleatoriamente” escolhida para perguntas mais incisivas em aeroportos italianos, ainda que, em toda minha vida, eu nunca tenha entrado ou saído ilegalmente de um país.
De forma geral, a sociedade italiana é muito amigável e muito plural. O país é marcado por diferenças culturais que geram um preconceito dentre seus próprios cidadãos.

Imigração negra na Itália

Muitos de nós já ouvimos falar histórias de contendas entre italianos do norte e italianos do sul. A imigração negra de forma geral é algo mais recente no país.
Entender isso também é importante para saber compreender a relação com o racismo no país, visto que países de imigração mais recente tendem a ser menos miscigenados.
Quando a ideia de um negro italiano, por exemplo, parece mais distante e causa estranhamento, é mais comum que o racismo se manifeste.
Foi na Itália que sofri o caso mais violento de racismo de minha vida, quando um rapaz cuspiu-me no rosto e usou a palavra italiana para macaco, “scimmia”.
Mas, apesar desses casos, considero minha experiência na Itália positiva e não tive problemas para, por exemplo, alugar apartamento ou registrar-me na faculdade.

Como é ser uma imigrante negra na Irlanda

No ano de 2014 me mudei para a Irlanda.
Ainda que Dublin agora seja uma cidade cada vez mais procurada por brasileiros, quando me mudei o número de conterrâneos era bem menor.
Isso significava que os irlandeses eram menos acostumados com brasileiros e, em alguns casos, com pessoas negras. No entanto, foram poucos os casos de racismo que sofri no país.
De certa forma, as interações que abordavam meu tom de pele tinham mais curiosidade do que preconceito.

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A falta de conhecimento

Muitos dos irlandeses com os quais conversei não sabiam que houve escravidão no Brasil, por exemplo. E não sabiam que existiam negros brasileiros além do Pelé.
ser uma imigrante negra em Dublin
Quando me mudei do país, quatro anos depois, o cenário estava mudando um pouco, e foi quando sofri um caso de racismo mais aberto e violento.
Estava andando de mãos dadas com meu namorado quando um senhor irlandês desconhecido começou a gritar que ele deveria estar com uma menina branca e não com uma negra.
De forma geral, entender como é ser uma imigrante negra na Europa passa por percepções de diferentes países.
A Irlanda tem forte imigração de países do leste europeu, sobretudo poloneses, eslovacos e croatas. Ainda que a pluralidade cultural seja extremamente benéfica para o crescimento, ela pode trazer experiências não tão boas.
Em alguns casos, sentia que a combinação de ser negra e brasileira gerava uma hiperssexualização das mulheres. Etnias não devem ser reduzidas a comportamentos sexuais.

Como é ser uma imigrante negra em Portugal

No ano de 2018 me mudei para Lisboa, capital de Portugal, cidade em que moro até hoje.
Temos consciência de que Portugal é um país que tem, em sua história, a mancha da escravidão.
O país foi o responsável por levar um grande número de negros de diferentes partes da África para serem escravizados. Sempre que falamos de países que tem passado escravocrata, é importante ressaltar a reverberação desse passado na história atual do país.
Isso quer dizer que, de forma geral, os problemas relatados por negros residentes em Portugal são semelhantes àqueles de negros brasileiros, que sofrem de discriminação racial e, muitas vezes, percebem a tendência geral a renegar o passado escravista.
Os casos de racismo que sofri em Portugal são, sobretudo, ligados à polícia portuguesa, que parece, por vezes, agir com dois pesos e duas medidas.
O tratamento para pessoas negras é sempre diferente, mais violento e mais hostil. Alguma semelhança com outro país que conhecemos?
ser uma imigrante negra em Lisboa

A representatividade

A forte presença de negros em Lisboa me agrada, pois gera maior representatividade.
Essa representatividade é ainda mais interessante e plural na capital portuguesa devido às diferentes nacionalidades com as quais tenho a oportunidade de entrar em contato.
Ainda que esteja longe de ser o ideal, vejo uma tentativa maior de integração dos negros na sociedade, ainda que essa seja menos presente em ambientes corporativos.

As diferentes facetas do racismo

Considero importante também relatar as formas como o racismo pode se manifestar:

  • É comum ouvir relatos de pessoas negras que foram seguidas em lojas ou supermercados pelo segurança;
  • Que percebem alguém atravessar a rua para não passar perto delas, ou veem alguém segurar a bolsa mais apertado por achar que vai ser roubado;
  • Que entram em locais mais chiques e percebem os olhares que parecem dizer que a pessoa não pertence àquele ambiente;
  • Que passam pela imigração e são sempre escolhidos para uma revista mais profunda.

Esses itens fazem parte do entendimento de como é ser uma imigrante negra na Europa. E como é ser negra em qualquer lugar.

A minha experiência como imigrante negra na Europa

A Europa é um continente muito plural. Formada por 50 países, ela é representada por um multiculturalismo e pela variedade de línguas.
Por isso, é complexo dizer como é ser uma imigrante negra na Europa de forma geral, já que cada país é único e cada povo lida de forma diferente com a diversidade étnica.
O que posso dizer é que fui muito feliz nos três países que morei, Itália, Irlanda e Portugal. Minhas experiências foram sempre mais positivas do que negativas.

Meu conselho

Entendo o quanto é preocupante pensar em se mudar para um país e ser vítima de algo tão sério quanto o racismo, mas não acredito que esse deva ser um fator impeditivo para que você viva seu sonho.
O meu conselho é pesquisar sempre como é ser uma imigrante negra na Europa, procurando por relatos referentes ao país e cidade para o qual você pretende mudar. Assim, fica mais fácil fazer a escolha de lugar para morar.
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