Sorte ou azar? Diversão, vício ou perda de dinheiro? As opiniões variam. De toda forma, assim como em muitos países da Europa, os jogos de azar na Espanha são legalizados e bem regulamentados. Além disso, são também muito populares. Sem falar das curiosidades desse mercado, das tragaperras em bares à loteria beneficente.
Quer saber mais sobre o tema? Vem comigo que eu vou colocar todas as cartas na mesa.
100 euros em fichas de pôquer?
Antes de vir morar na Espanha, eu tive um namorado que era um grande jogador de pôquer. Foi com ele que visitei pela primeira vez um cassino, em uma viagem pela Alemanha.
– Vou para a mesa de pôquer. Peguei umas fichas para você. Toma! — disse ele, me oferecendo as fichas
– Quanto vale isso? — perguntei
– Cem euros — foi a resposta.
Fiquei um tempo parada olhando aquelas fichas na minha mão e percebi que aquilo não fazia nenhum sentido para mim. Eu preferia mil vezes ter aquele dinheiro em espécie para gastar como quisesse do que me arriscar a perdê-lo.
Para mim, a expressão “jogos de azar” já diz tudo. Pode me chamar de conservadora ou mão-de-vaca, mas sou dessas pessoas que não gostam de se arriscar quando o assunto é dinheiro.
Resultado: troquei as fichas novamente por dinheiro e fui para o bar do cassino esperar o namorado jogador.
A palavra “azar” em espanhol
Quando digo que, para mim, a expressão “jogos de azar” faz todo o sentido, eu digo em português, pensando no significado negativo que a palavra tem em nossa língua. Só que em espanhol não é bem assim.
Na língua de Cervantes, o azar pode ser uma simples casualidade. Esta é, aliás, a primeira acepção trazida pelo dicionário da Real Academia Espanhola (RAE). Um bom exemplo dessa interpretação é a expressão “no deja nada al azar” que pode ser traduzida como “não deixa nada ao acaso”.
Ao mesmo tempo, segundo a RAE, a palavra também pode significar uma desgraça imprevista. Mas no caso dos jogos de azar, especificamente, a instituição explica que se trata daqueles que não dependem da habilidade dos jogadores, mas simplesmente da sorte, equiparando-a, portanto, ao azar.
Cassinos e outros jogos de azar na Espanha
Apesar da diversão, o dinheiro vai embora com os jogos de azar na Espanha.
– Feliz aniversário atrasado, amigo. Como foi a celebração?
– Nem te conto. Fizemos uma noite de gala. Fomos ao Casino Barcelona. Basicamente, perdemos dinheiro, claro. Mas foi divertido — me contou um amigo catalão.
A Espanha não é nenhuma Las Vegas, mas também não é como o Brasil. Segundo a Direção-Geral de Ordenamento do Jogo, atualmente, existem em todo o país 47 cassinos. Só que o mercado de jogos de azar na Espanha não se limita a essas instituições.
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Cotar Agora →Na verdade, é bem maior o número de salões de jogos — são 3.783 no total. Além disso, há mais de 900 salões de apostas, mais de 300 bingos e também 3 hipódromos. Sem contar a loteria, que já existe por aqui há mais de 200 anos.
Das origens à atualidade
A cultura dos jogos de azar na Europa é bem antiga. Dizem que os pioneiros foram os romanos que apostavam para ganhar ouro e terras.
Na Espanha, a legalização de jogos mais modernos, como o Pôquer e o Blackjack, começou em 1977. Quatro anos depois se legalizaram também as máquinas caça-níqueis e outros jogos.
Hoje em dia, o Casino Gran Madrid Torrelodones é o mais visitado de todo o país, afinal, fica em Madrid, a capital espanhola. Além deste e do já citado Casino de Barcelona, outros bem famosos são o Casino Marbella, o Cassino Ibiza e o Gran Casino Costa Brava.
Jogos mais que populares
Dizer que os jogos de azar são populares na Espanha é pouco. Você imagina qual é a porcentagem de espanhóis que jogam? Algum chute? Alguma aposta?
Segundo a edição 2023 da pesquisa Jogo e Sociedade, feita pelo Conselho Empresarial do Jogo (CeJuego), 83,9% dos espanhóis disseram ter participado de algum jogo de azar durante 2022. Mas calma lá porque, na verdade, 66% são jogadores da loteria e somente 17,9% admitiram ser adeptos de outros tipos de jogos e apostas.
Eu sempre jogo na loteria. Vai que eu ganho — me confirmou uma amiga espanhola.
É este o jogo de azar mais popular da Espanha. Em seguida, por ordem de popularidade, vem: os bingos, os salões de jogos, os cassinos e as apostas esportivas.
Os jogos movimentam a economia espanhola
Os jogos de azar constituem um potente setor empresarial da economia da Espanha, incluindo entes públicos, empresas privadas, médias e grandes, além de multinacionais. Todas com um elevado know-how tecnológico.
Vale observar que este mercado emprega diretamente mais de 80 mil trabalhadores. Além disso, entre impostos e taxas especiais, rende aos cofres públicos cerca de 2 bilhões de euros ao ano.
Vendo a situação desde essa perspectiva, não parece tão ruim a ideia de legalizar os jogos de azar, não é mesmo?
Uma curiosidade: as tragaperras
Você está sentado em um bar e, de repente, começa a ouvir um repetitivo som de videogame. Um fliperama? Uma criança jogando no tablet? Nada disso. Se tratam das máquinas tragaperras.
Na América Latina, elas são conhecidas como tragamonedas e, no Brasil, como máquinas caça-níqueis. A origem da palavra usada na Espanha, isso sim, é tão antiga quanto a da versão brasileira. Perras é como se chamavam coloquialmente as moedas espanholas antigas, de 5 ou 10 pesetas.
A questão é que, atualmente, as tragaperras estão por todo lado, principalmente nos bares. Pelas contas da Direção-Geral, há mais de 140 mil máquinas do tipo espalhadas por bares de todas as regiões da Espanha. Isso sem incluir os caça-níqueis de cassinos, salões de jogos, bingos e hipódromos.
Uma loteria beneficente
Outra curiosidade interessante sobre o mercado de jogos de azar na Espanha é que existe por aqui uma espécie de loteria beneficente. São os jogos comercializados pela Organización Nacional de Ciegos Españoles (ONCE).
A ONCE e a Sociedad Estatal de Loterías y Apuestas del Estado (SELAE) são os únicos operadores autorizados a comercializar jogos de loteria na Espanha. Ambos vendem seus jogos em lojinhas de revistas e jornais, estações de serviços, quiosques e tabacarias, além de contar com vendedores de rua.
A diferença é que os jogos oferecidos pela ONCE ajudam a financiar os serviços sociais oferecidos pela entidade para pessoas com deficiência visual.
Jogos online ainda não são preferência
Um tema que tem sido cada vez mais discutido em toda a Europa (e também aqui na Espanha) são os jogos de azar online. Em terras espanholas, esse tipo de jogos estão regulamentados desde 2011.
Mas pelo que diz a Direção-Geral de Ordenamento do Jogo (DGOJ), não é tão grande assim a quantidade de jogadores online. Do total de pessoas que participam de jogos de azar, só uns 3,5% costumam jogar online.
A maioria se conecta para apostar. Mas o gasto médio também não é muito alto, segundo a DGOJ. Cada jogador gasta uns 40€ por mês em jogos de azar online.
Claro que, para mim — que me limito aos jogos online de paciência —, isso é todo um desperdício (e lá se vão 500€ ao ano no custo de vida na Espanha). Mas para quem curte, esse é o preço a pagar por alguns momentos de diversão.
Problemas e polêmicas
Se é para colocar todas as cartas na mesa, não dá para falar de jogos de azar sem mencionar os problemas e polêmicas que envolvem o setor. Um dos principais é o jogo patológico ou ludomania, reconhecido pela OMS como um transtorno mental.
Os dados oficiais mostram que cerca de 140 mil espanhóis são jogadores compulsivos. Apesar de parecer muito, isso representa aproximadamente 0,3% da população do país.
Entre as diversas estratégias para combater esse problema estão as listas de autoproibição de jogar. A pessoa que considera ter riscos de compulsão pode se inscrever por iniciativa própria nessas listas e os controladores estatais e municipais restringem seu acesso a jogos presenciais e/ou online. O que pode ser mais surpreendente é que mais de 60 mil pessoas já se inscreveram em listas assim.
Restrições e ilegalidade
Preocupados com a ludomania e com a opinião pública, já faz alguns anos que as autoridades estaduais espanholas tentam restringir a atuação do mercado de jogos de azar. Como? Com novas leis e limitações às licenças concedidas a cassinos, salões de jogos e de apostas.
Enquanto isso, o setor alega que as restrições ao jogo regulamentado contribuem para o aumento da ilegalidade. Segundo a CeJuego, o confinamento durante a pandemia de Covid-19 provou isso, já que aumentou, nessa época, o número de jogadores ilegais. Em compensação, com a reabertura dos espaços em 2022, a participação em jogos ilegais decaiu.
Na minha opinião, a legalização ajuda, ao menos, a organizar o setor, com regras claras, impostos e as restrições necessárias. E afinal, legal mesmo é se divertir, cada um à sua maneira, mas sempre com consciência. Para mim, essa é a melhor jogada!
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