Uma vez, um amigo me disse que, sempre que ele viaja, um dos lugares que ele mais gosta de visitar é o mercado. Seja qual for o destino, é nesses espaços tão cotidianos quanto imprescindíveis que começa a revelar-se a cultura local: as cores, os sabores, os produtos típicos. Foi pensando nisso que decidi te contar um pouco sobre a minha experiência de fazer compras nos supermercados espanhóis.

Quer saber quais as diferenças na hora de fazer as compras da semana ou do mês? Quer saber o que tem e não tem e o que pode mudar nos seus hábitos alimentares? Vem comigo que nesta coluna mostro minhas preferências e outras curiosidades!

Tipos de supermercados da Espanha

Mercados de bairro, supermercados, minimercados, hortifruti e mercados a granel. São esses os principais tipos de supermercados na Espanha.

Quando falo em mercados de bairro, estou me referindo àqueles que reúnem, sobretudo, os produtores locais de hortifrutigranjeiros. Desde os mercados centrais (como o famoso La Boquería de Barcelona) até os de bairro mesmo. Apesar de alguns serem mais turísticos, há outros que são mais frequentados por moradores da vizinhança.

Os demais tipos são autoexplicativos. Vale dizer que, entre os supermercados espanhóis, os mais comuns e frequentados são Mercadona, Carrefour e Lidl. A estes se somam Eroski, Alcampo, Dia, Aldi, Hiper Usera, Ahorramás, El Jamón, Covirán, Consum, Bonpreu, Gadis, etc.

Mercado de Sant Antoni em Barcelona.
Mercado de Sant Antoni em Barcelona, um mercado de bairro bem conhecido na cidade. Foto: Tátylla Mendes

Assim como quase 30% dos espanhóis, eu sou cliente habitual do Mercadona. Mas também já comprei algum presente para viagem no mercado central, já fiz compras de emergência em minimercados, provei uma vez ir ao mercado a granel e vou ocasionalmente ao hortifruti mais próximo.

Produtos tipicamente espanhóis

A culinária espanhola é muito rica, mas uma das estrelas da sua gastronomia é o presunto. Diferente do presunto brasileiro, que é cozido, o presunto espanhol (jamón serrano) é cru e curado. É um produto que não falta nos supermercados da Espanha.

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Outros produtos tipicamente espanhóis muito comuns nesses estabelecimentos (que se encontram, inclusive, já prontos para consumir) são: gazpacho e salmorejo, batatas bravas, sangria e tinto de verão.

Entre as carnes, além do frango, da carne de gado e de porco, também são muito comuns o coelho, o cordeiro e os embutidos, incluindo a morcilla. Outra diferença é que por aqui se come peru o ano inteiro (não apenas nas festas de fim de ano) e não apenas fatiado. Estão disponíveis os mais diferentes cortes: peito, costelinha, coxa e sobrecoxa, etc.

Entre as verduras, uma das primeiras coisas que me chamou atenção é que o que os espanhóis chamam limón é o que conhecemos como limão-siciliano. O limão verde por aqui se chama lima e vem importado do Brasil.

Vale destacar também a variedade de tomates que se encontra nos hortifrutis e ao fazer compras nos supermercados da Espanha. Tomate canário, valenciano, kumato, negro, pera, cereja, de rama e de salada são alguns deles.

Bebidas

Para mim, uma das alegrias de viver na Europa é poder comprar bons vinhos no supermercado por menos de 5€. Entre as bebidas alcoólicas, além da sangria e do tinto de verão, também são muito comuns por aqui o vermute, o licor de anis e o orujo, uma aguardente de bagaço de uva.

Entre as cervejas, além da Estrella Galicia (popular em toda a Espanha), aqui em Valência é muito famosa a Turia. Outras cervejas nacionais são: Estrella Damm e Voll-Damm, Cruzcampo, San Miguel, Mahou, Alhambra, Aguila e Moritz. Minhas preferidas: Voll-Damm e Aguila Sin Filtrar.

Em relação aos refrigerantes, uma diferença que vale comentar é que por aqui não existe Fanta Uva. Em compensação, a Fanta Limão é muito popular.

Produtos brasileiros e de outras nacionalidades

Para a alegria de muitos brasileiros na Espanha e hispano-americanos, o feijão é um alimento que se encontra facilmente ao fazer compras nos supermercados da Espanha. Somado ao fato de que o arroz é bem comum na gastronomia espanhola, já temos uma das paixões nacionais brasileiras garantidas.

Há também nos supermercados espanhóis alguns produtos que vêm diretamente do Brasil, entre eles: limão verde (lima), manga e mamão. São fáceis de encontrar, só que, como são importados, podem sair um pouco mais caro.

É possível encontrar alguns produtos brasileiros ao fazer compras nos supermercados da Espanha.
É assim que milho e beterraba são vendidos em um supermercado da Espanha. Foto: Tátylla Mendes

Em compensação, no caso de outros produtos, a disponibilidade é pouca e não se encontram em todos os mercados. A beterraba é possível encontrar fresca em alguns poucos hortifruti. No Mercadona, eu encontrei um pacotinho com duas já cozidas e descascadas. O mesmo vale para o milho, vendido por unidade já cozido ou em conserva em latinhas (mas tem que procurar bem para achar).

Já encontrei também Guaraná Antárctica e rapadura (procure por panela, em castelhano).

Produtos brasileiros que não se encontram nos supermercados espanhóis

Outro dia estive gripada e minha mãe recomendou:

“Toma suco de acerola”. Respondi: “Não tem acerola aqui, mãe”.

“Então, come caju. Também tem muita vitamina C”. Respondi: “Também não tem caju aqui, mãe”.

Outras coisas que ainda não encontrei nos supermercados daqui: goiaba e maracujá (já comprei os sucos concentrados, mas as frutas não), pitanga, cajá, ata (araticum ou fruta-do-conde), carambola, entre outras frutas, além de couve manteiga e linguiça calabresa.

Prateleira de sucos nos supermercados espanhós.
Da goiaba e do maracujá, até hoje só encontrei os sucos nas prateleiras do Mercadona. Foto: Tátylla Mendes

Em compensação, há produtos que não se encontram, mas dá para substituir. Dá para trocar a goiabada pelo membrillo (doce de marmelo), o cuscuz de milho pelo de trigo e o requeijão por cream cheese ou (se você encontrar) por “Puck”.

Mercadinhos brasileiros e outros países

Farofa, polvilho, canjica, fubá, azeite de dendê, além de produtos de marcas brasileiras (desde alimentos a cosméticos e utilidades). Para encontrar artigos assim por aqui só mesmo visitando os mercadinhos brasileiros.

Nas maiores e melhores cidades da Espanha sempre há algum. Sem contar a loja online que entrega em toda a Espanha, a Kibom (não confundir com a marca de picolés, que aqui se chama Frigo).

Há também outros mercadinhos nacionais especializados, como os latino-americanos, os japoneses e os árabes. O “Puck” (substituto perfeito do requeijão) encontro no mercado árabe, assim como quibe congelado ou trigo para quibe (bulgur fino), pão sírio e charutos de uva/repolho, além de outras delícias árabes.

Marcas próprias dos mercados

Assim como os supermercados brasileiros, muitos dos espanhóis também comercializam produtos de marcas brancas (próprias de cada mercado). Uma das diferenças é que grandes cadeias como Mercadona e Lidl priorizam as suas marcas em seus estabelecimentos.

Eles têm sua própria versão de praticamente tudo, da Coca-Cola à Nutella, do cosmético ao produto de limpeza, sem esquecer da ração dos pets. Além disso, os produtos são de alta qualidade (já provei e aprovei muitos deles) e costumam ser mais baratos.

Marcas brancas são comuns em território espanhol.
Sorvetes de marca própria do supermercado espanhol que frequento. Foto: Tátylla Mendes

Resultado: em toda a Espanha, os produtos de marcas brancas representam quase 50% das compras em supermercados. Aqui em casa, então, chegam a quase 100%.

Atenção aos horários

No Brasil, eu tinha o hábito de aproveitar o sábado para descansar e me divertir. Deixava para o domingo a faxina e as compras da semana. Mas desde que cheguei à Espanha isso mudou, já que a maioria dos supermercados espanhóis não abre no domingo — um dos hábitos espanhóis com o qual pode ser difícil de se acostumar.

Digo a maioria porque há alguns minimercados que abrem. Só que neste caso a variedade de produtos é menor e, às vezes, o preço é maior. Aqui em Valência há um hipermercado do Carrefour que também abre domingo, mas fica longe da minha casa e, por isso, não é tão prático.

Quando morava em Barcelona eu também tive alguns contratempos com o supermercado que frequentava porque costumava fechar na hora da siesta. Supermercados 24 horas, então, nem se fala. Eu ainda não encontrei nenhum.

Carrinhos e sacolas

Por lei, a União Europeia restringe o uso de sacolas plásticas finas. Em dezenas de países elas são proibidas e em muitos outros é preciso pagar por elas, como acontece aqui na Espanha. Ou seja, quando você vai fazer compras nos supermercados da Espanha (e em outros estabelecimentos), se você quiser sacolas plásticas para embalar suas compras, você precisa comprá-las.

Como exceção, na parte de hortifruti da maioria dos supermercados espanhóis, costumam haver sacolas biodegradáveis para embalar frutas e verduras.

Carrinho de compras em um mercado
Um carrinho facilita a sua vida ao fazer compras nos supermercados da Espanha. Foto: Tátylla Mendes

Como resultado, os carrinhos de compras fazem muito sucesso por aqui. Outra opção são as sacolas grandes feitas de plástico resistente e reutilizáveis. Nós (eu e meu marido), que ainda não temos um carrinho, costumamos levar 4 dessas ao supermercado, para dividir o peso das compras entre os dois.

Um pouco mais de consciência?

Há alguns pontos que me fazem pensar que existem por aqui um pouco mais de estímulos à alimentação saudável e à consciência socioambiental. A restrição no uso de sacolas plásticas (e outros itens como canudos) é um deles.

Outro caso que me chama a atenção é o do código gravado na casca dos ovos. A cifra indica se as galinhas são criadas enjauladas, no chão, livres no campo ou se a produção é ecológica. Também informa o país, a província, o município e até a granja de onde o produto é proveniente.

Além disso, noto que tem aumentado a quantidade de supermercados a granel. Aqui perto de casa há dois. Em Valência também faz muito sucesso o Consum, uma cooperativa de consumo que tem grandes supermercados por toda a cidade. E existem ainda várias ofertas de assinatura para comprar hortifruti diretamente dos produtores com entrega semanal ou mensal.

E, para completar, me parece que alguns produtos como leites vegetais, carnes vegetais e castanhas têm preços relativamente mais baixos do que no Brasil.

Agora, se vocês me dão licença, eu vou ao supermercado. Porque escrever essa coluna acabou me deixando com fome.