A Espanha é um grande set de filmagens. Faz uns dias, estavam gravando aqui em Valência algumas cenas de Star Wars para a série Andor. O país também apareceu em filmes de Steven Spielberg, Ridley Scott, Woody Allen e outros diretores famosos. E em algumas dessas produções, além de contemplar os cenários espanhóis, também é possível conhecer mais sobre a cultura espanhola. Foi através desses filmes e séries sobre a Espanha que eu comecei a desvendar o país antes de vir morar aqui.
Agora, se você quer saber o que tem de real na Espanha dos filmes, confira esta lista.
A Espanha de ‘Vicky, Cristina, Barcelona’
“Por qué tanto perderse, tanto buscarse, sin encontrarse”
Esses versos da música-tema do filme descrevem bem a trama que envolve Rebecca Hall (Vicky), Scarlett Johansson (Cristina), Javier Bardem e Penélope Cruz. É através dos triângulos amorosos que se cosem (e descosem) entre os quatro personagens que Woody Allen mostra sua visão sobre Barcelona.
Uma visão compreensivelmente turística que não hesita em mostrar pontos como o Parque Güell, a Sagrada Família, La Pedrera e o Parque da Ciudadela. De todo modo, como Barcelona é mesmo muito turística, a Espanha do filme ‘Vicky, Cristina, Barcelona’ não deixa de ser real. Ainda que seja apenas uma parte da realidade.
Mas o personagem vivido por Javier Bardem (o pintor Juan Antonio) é, na minha opinião, o que melhor representa o espírito de Barcelona. Uma cidade artística e carismática, capaz de despertar sentimentos diversos, desde a paixão até a loucura.
Trilha sonora
A trilha sonora de ‘Vicky, Cristina, Barcelona’ (Woody Allen, 2008) também traz interessantes revelações sobre a cultura espanhola. Para começar, a música tema (‘Barcelona’, Giulia y los Tellarini) define a capital catalã como um labirinto extrovertido cheio de caras de gente estrangeira. Uma grande verdade.
Além disso, a produção inclui alguns trechos de composições clássicas, como a típica canção de Natal catalã ‘El noi de la mare’ e a rumba ‘Entre dos aguas’ de Paco de Lucía. Você pode ver o trailer de Vicky, Cristina, Barcelona aqui.
A Espanha de ‘Albergue Espanhol’
O filme ‘Albergue Espanhol‘ (Cédric Klapisch, 2002) está bem longe do glamour hollywoodiano de ‘Vicky, Cristina, Barcelona’. Ainda assim, é possível que muitas pessoas (assim como eu) se identifiquem mais com a produção de Klapisch. Um longa que conta a história de Xavier (Romain Duris), um jovem francês que vai fazer intercâmbio em Barcelona.
O albergue do título é, na verdade, um apartamento compartilhado (algo muito comum por aqui, como comentei na coluna Compartilhar apartamento na Espanha). Não é por acaso que, em espanhol, o nome do filme muda para ‘Una casa de locos’ (Espanha) ou ‘Piso compartido’ (América Latina). E nada mais natural do que compartilhar apartamento e/ou conviver diariamente com pessoas de distintas nacionalidades.
Sobre isso eu já falei na coluna Por que morar na Europa transformou minha visão de mundo.
Em suma, a Espanha do filme ‘Albergue Espanhol’, ou melhor, a Barcelona do filme é menos idealizada e mais real. É possível ver alguns pontos turísticos da cidade, mas também se mostram as ruas sujas, os processos burocráticos e o choque de culturas. Tudo contado de forma inspiracional e com um toque bem humorado.
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Cotar Agora →Veja o trailer do filme abaixo:
A Espanha de ‘Ocho apellidos vascos’
Este é o filme nacional mais visto de toda a história do cinema espanhol. Afinal, quem não gosta de rir de si mesmo e dos costumes dos seus compatriotas? ‘Ocho apellidos vascos’ (Oito sobrenomes bascos – Emilio Martínez-Lázaro, 2014) é uma comédia sobre as diferenças culturais entre andaluzes e bascos, cheia de piadas regionais.
Confesso que a primeira vez que vi o filme, antes de vir morar aqui, eu acabei perdendo uma ou outra piada interna, o que não me impediu de me divertir à beça. E olha que eu nem sou muito de comédias.
Mas gostei tanto que assisti pela segunda vez, já morando na Espanha. E foi então que reconheci melhor os estereótipos retratados no filme. Sim, são estereótipos – baseados em generalizações sobre costumes regionais – mas não deixam de expressar uma parte da realidade.
É bem verdade, por exemplo, que há muitos bascos separatistas, que muitos (incluindo não separatistas) preferem falar em basco (idioma co-oficial na região) e que as comidas e bebidas típicas em cada região são diferentes, assim como podem ser também os estilos pessoais. Diferenças com potencial tanto para distanciar quanto para atrair; que o digam os protagonistas, Rafa e Amaia.
Você pode ver o trailer de ‘Ocho apellidos vascos’ aqui.
Ocho apellidos catalanes
É o filme que dá sequência a ‘Ocho apellidos vascos‘. Os protagonistas são os mesmos, somando alguns nomes mais, já que, neste caso, também está envolvida uma família catalã. Outra vez, o tema principal são as diferenças culturais entre os espanhóis de distintas regiões, tratadas de forma estereotipada e cômica.
Como eu assisti ‘Ocho apellidos catalanes’ (Emilio Martínez-Lázaro, 2015) quando já estava morando na Catalunha, me pareceu uma visão extremamente caricaturizada dos catalães. Resultado: não gostei tanto como do primeiro, mas não deixei de dar umas risadas.
Veja o trailer de ‘Ocho apellidos catalanes‘ aqui.
A Espanha de ‘Volver’
Esta lista não poderia ficar completa sem um filme do aclamado diretor espanhol Pedro Almodóvar. Entre todos os que assisti, acredito que ‘Volver‘ (2006) é um dos que melhor representa a cultura espanhola.
Principalmente, se falamos de cidadãos comuns e de pessoas de cidades pequenas, em especial, dos castellano manchegos. Ou melhor, das castellano manchegas, já que ‘Volver‘ é um filme voltado ao universo feminino, que trata das relações entre mães, filhas, irmãs e vizinhas.
Ao mesmo tempo, ‘Volver‘ é também um filme sobre a morte. Como disse o próprio Almodóvar:
“‘Volver‘ não é uma comédia surrealista, ainda que em algumas ocasiões assim parece. […] É um filme sobre a cultura da morte em minha Castilla-La Mancha natal. Meus conterrâneos vivem a morte com uma naturalidade admirável”.
Vale notar também que o filme traz várias referências à gastronomia espanhola, desde os pratos cozinhados por Penélope Cruz (Raimunda) aos tupperwares enviados pela tia Paula.
Se não viu o filme, acompanhe o trailer abaixo:
A Espanha de ‘A casa de papel’
Além dos filmes sobre a Espanha, há também diversas séries em que é possível descobrir mais sobre o país. E ao falar em séries espanholas, é impossível não mencionar ‘A casa de papel’ (Álex Piña, 2017-2021). A série de fala não inglesa mais vista da história (pelo menos, até agora).
A Espanha de ‘A casa de papel’ é a Espanha madrilenha da atualidade. A série foi, de fato, gravada em Madri, entre o Conselho Superior de Investigações Científicas (Fábrica da Moeda) e os Novos Ministérios (Banco de Espanha). O linguajar dos personagens também deixa isso claro. Aliás, foi uma das séries que mais me ajudou a aprender o castelhano informal, do dia a dia, falado pelos espanhóis.
A diversidade étnica, cultural e sexual dos atores e personagens da série é também muito representativa da Espanha. A atriz Alba Flores (Nairobi), por exemplo, é de uma famosa família de ciganos. Darko Perić (Helsinki) é realmente sérvio. Luka Peroš (Marsella) é croata. Enquanto Belén Cuesta dá vida a Manila, uma personagem transgênero.
Você pode ver o trailer de A Casa de Papel aqui.
A Espanha de ‘Merlí’
Como já comentei em outras colunas, na Espanha não se fala só espanhol. Portanto, para mostrar o que tem de real na Espanha dos filmes e das séries, esta lista não poderia deixar de contemplar uma produção em um idioma co-oficial. Uma boa pedida é a série catalã ‘Merlí‘ (Héctor Lozano, 2015-2018) e sua sequência ‘Merlí: sapere aude’ (Héctor Lozano, 2018-2021).
As revelações sobre a Espanha começam ao saber a temática da série, que conta a história de um professor de filosofia de Ensino Médio e de seus alunos. Sim, filosofia é uma matéria obrigatória no Ensino Médio espanhol, o bachillerato. E muitas Comunidades Autônomas também oferecem a disciplina como optativa nos últimos anos do Ensino Fundamental.
Apesar da semelhança temática com o filme ‘Sociedade dos poetas mortos’ (Peter Weir, 1989), a série ‘Merlí’ tem personalidade própria. E essa personalidade é marcadamente catalã. É uma boa recomendação, aliás, para quem está pensando em morar em Barcelona e quer aprender um pouco do idioma catalão. De quebra, ainda se pode aprender sobre conceitos clássicos de filosofia contextualizados pelos dilemas vividos pelos jovens personagens.
Se não conhece a série Merlí, veja o trailer abaixo:
A Espanha de ‘A garota na fita’
Depois de passar por Barcelona, País Basco, Castilla-La Mancha e Madri, fechamos esta lista com uma série rodada em Málaga. ‘A garota na fita’ (David Ulloa e Laura Alvea, 2023) é um suspense de investigação criminal baseado no livro ‘La chica de nieve’ de Javier Castillo.
Já na primeira cena, um clássico espanhol: a Cavalgada dos Reis Magos, uma festa pública que se celebra em toda a Espanha no dia 5 de janeiro. Aliás, aqui na Espanha, são os reis magos que trazem os melhores presentes de Natal para a criançada.
No dia seguinte (Dia de Reis), as crianças acordam alvoroçadas para conferir os presentes e comer o tradicional roscón de reyes. Ainda que, no caso de Amaya – a garota referida no título – não foi bem assim.
Com Amaya desaparecida, quem protagoniza a série são os jornalistas que investigam o caso, além da própria província de Málaga. Aparecem desde pontos turísticos como La Malagueta, o Pompidou e o Centro de Arte Contemporânea (CAC) até espaços menos conhecidos como o bairro El Palo e a Playa de la Araña. Veja o trailer de A Garota na Fita aqui.
Gostou da coluna? Não deixe de conferir também Com que hábitos espanhóis pode ser difícil de se acostumar.