Como está o mercado de trabalho na Espanha? Essa é uma das perguntas mais repetidas por brasileiros e outros estrangeiros que estão pensando em se mudar para terras ibéricas. A questão é que a resposta para essa dúvida está longe de ser única ou exata.
Eu conheço gente que conseguiu emprego depois de apenas alguns meses no país e outros que passaram anos tentando até desistir. Alguns que já vieram com um contrato e outros que decidiram montar seu próprio negócio. Então, eu começaria respondendo à questão inicial com uma única palavra: “depende…” Quer saber de quê? Confira a seguir.
Em primeiro lugar, tudo depende da sua experiência
Dei sorte. Encontrei um emprego no meu terceiro mês por aqui.
O que o Vitor chamou de “sorte” eu diria que foi, na verdade, uma mistura de talento, experiência profissional, contexto favorável e, sim, quem sabe, um pouco de sorte. Não concordo com a meritocracia, mas acho que o que Picasso dizia sobre a inspiração também se aplica à sorte. Ela existe, mas precisa te encontrar trabalhando para fazê-la acontecer.
O talento do Vitor para assuntos relacionados à arte eu já conhecia desde os idos tempos da UnB, quando cursamos Comunicação. Na aula de Desenho, eu lembro que quase morri de vergonha dos meus rabiscos quando ele apresentou o portfólio que criou ao longo do curso.
Depois, nos cruzamos ainda algumas vezes no pequeno mundo do mercado publicitário brasiliense.
Para completar, ele somou ao talento e a essas experiências a fluência em espanhol e inglês, além do básico de francês. Quando cheguei à Espanha, ele já estava morando no país há uns dois anos e levava quase o mesmo tempo trabalhando como diretor cultural de um instituto de arte e cultura barcelonês.
A proatividade e a sorte
Para conseguir um emprego, o Vitor conta que, desde que chegou ao país, começou a frequentar os centros de arte que lhe interessavam. Assim foi como começou a fazer contatos e informar-se sobre os eventos da área.
Em uma dessas oportunidades, tirou fotos do filho do dono de uma galeria e comprometeu-se a enviá-las por e-mail. Foi na resposta desse e-mail que recebeu a proposta de trabalhar como diretor cultural.
Oportunidades e expectativas
Outra prova de que talento e experiência fazem toda a diferença para conseguir uma oportunidade no mercado de trabalho espanhol é a história da Raquel. Paulista, formada em jornalismo pelo Mackenzie, ela começou a trabalhar de forma autônoma como jornalista de viagens em 2017, antes mesmo de se formar.
Trabalhou também como produtora de conteúdo e diretora editorial, além de fazer alguns voluntariados de viagem e cursos de especialização na sua área. Agregou a tudo isso, a fluência em inglês e espanhol e o francês básico.
No início de 2022, ela veio para a Espanha para fazer o mestrado em Jornalismo de Viagens (o mesmo que cursei anos antes). Alguns meses depois, já havia começado a trabalhar como estagiária na revista National Geographic.
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Cotar Agora →Provavelmente, muitas das pessoas que já contam com anos de experiência não aceitariam trabalhar como estagiários. Só que, neste caso, tratava-se de um estágio em uma empresa mundialmente reconhecida.
Além disso, ao tentar inserir-se no mercado de trabalho sendo estrangeiro, ajustar um pouco nossas expectativas pode acabar sendo uma estratégia muito útil, como mostra a história a seguir.
Ter a mente aberta pode abrir portas
A Gi acordava cedo, limpava os quartos do hostel e arrumava as camas. Depois, estudava um pouco ou saía para fazer alguma reportagem antes de ir para a aula do mestrado. Alguns dias, ainda saía da aula e ia direto para o bar onde fazia bicos como garçonete.
Para muita gente pode parecer um absurdo ir para o exterior para fazer trabalhos assim. Mas em alguns casos, como o da Gi, trata-se de uma escolha pessoal. Jornalista e influencer, com uma larga experiência como repórter e produtora de conteúdo, ela já estava acostumada a fazer trabalhos como freelancer. Além disso, ela precisava trabalhar para se manter por aqui enquanto estudava.
Porém, ao tentar combinar as aulas e os freelas de jornalismo, não lhe sobrava tempo para um trabalho formal, ainda que fosse de meia jornada. Para ela, o voluntariado de viagem somado aos bicos como garçonete ou baby-sitter foram a solução ideal. Além disso, foram o pontapé para ela se inserir no mercado de trabalho da Espanha e fazer alguns contatos-chave para futuros projetos.
Nem sempre o contexto ajuda
Experiência, talento e cabeça aberta contam muitos pontos para entrar no mercado de trabalho na Espanha (assim como em qualquer outro país). Mas também é preciso contar com um contexto favorável, tanto em nível nacional e regional quanto na sua própria área de atuação.
Infelizmente, no caso da Carla não foi bem assim. Eu a conheci no mestrado. Chilena, jornalista, com experiência de três anos na área, ela decidiu (assim como eu) não buscar estágio durante o curso para se concentrar nos estudos. Só que, apenas alguns meses depois de recebermos o diploma, começou a pandemia. O contexto socioeconômico era desesperador. Mas restava, ao menos, a esperança da vacina, da recuperação e da retomada.
Porém, havia ainda outro desafio, este muito mais perene: o panorama do mercado jornalístico espanhol. Como há muitos profissionais especializados na área e poucas vagas de emprego fixo, a alternativa mais usual é trabalhar como autônomo.
A volta para casa
Para a Carla, ser autônoma não parecia uma boa opção. Ela preferia a segurança financeira de um salário mensal. Por isso, ela buscou emprego dentro e fora do jornalismo.
Tentou, tentou, tentou, até que finalmente encontrou uma boa oportunidade: uma vaga como produtora de conteúdo em uma empresa chilena. Começou trabalhando remotamente e, em agosto do ano passado, voltou à sua terra natal.
Começar do zero ou quase
Minha história tem muito em comum com a da Carla. Fizemos o mestrado juntas, não buscamos estágios e fomos surpreendidas pela pandemia logo que acabou o curso. Uma das principais diferenças entre nós é que eu vim para a Espanha com o objetivo de mudar de profissão.
Após quase 15 anos trabalhando como redatora publicitária, eu decidi tomar o rumo do jornalismo. Minha ideia era continuar escrevendo, mas com outros objetivos e em outra língua. O espanhol eu comecei a estudar 2 anos antes de me mudar para cá. Fiz o mestrado e alguns cursos de especialização.
Mas até agora não consegui inserir-me plenamente no mercado de trabalho na Espanha. É verdade que eu já consegui publicar mais de uma dezena de artigos em castelhano em meios europeus e latinoamericanos. Também sou co-autora de 3 livros na língua de Cervantes. Só que muitas dessas colaborações não foram pagas e são raras as que pagam realmente bem.
Por isso, para me manter, eu continuo trabalhando como freelancer para diversas empresas brasileiras. O problema, neste caso, é a perda de dinheiro ao converter em euros o que ganho em reais.
Visto de trabalho vs. Permissão para trabalhar
Outro dia meu marido me contou sobre um brasileiro recém-contratado na empresa dele. O Renato veio para a Espanha com um visto de trabalho. Entrar no país assim, já com uma garantia de entrada no mercado de trabalho na Espanha, é a situação ideal. Mas não é para todo mundo.
Para conseguir um visto de trabalho para a Espanha não basta apenas encontrar uma boa oferta e ser selecionado pela empresa. É preciso que a categoria de trabalho oferecida esteja na lista de escassez de ocupação.
Outra possibilidade é que não seja possível encontrar espanhóis ou outros cidadãos da UE que aceitem o posto (já que eles têm preferência). Além disso, é preciso contar com a boa vontade da empresa, que é quem dá a entrada no processo do visto.
Trabalho por conta própria ou por conta alheia
Situação distinta é a da permissão para trabalhar, que pode ocorrer em diferentes casos. Os estudantes de curso superior, por exemplo, têm permissão para trabalhar na sua área de formação por um período de meia jornada.
Há também casos como o meu, que após firmar a união estável com meu marido, consegui a autorização de residência por longo prazo e a permissão para trabalhar por conta própria (como autônoma) ou por conta alheia (com carteira assinada), como se diz por aqui.
Uma amiga de Floripa me contou que o que aconteceu com a mãe dela foi similar. Ela conseguiu a autorização de residência e a permissão para trabalhar. Especializada em beleza e estética, ela optou por ser autônoma e abrir seu próprio negócio: um salão de beleza.
Resumindo: como está o mercado de trabalho na Espanha?
Durante 2022, a economia e o mercado de trabalho espanhol mostraram bons sinais de recuperação pós-pandemia. As contratações aumentaram e o desemprego começou a reduzir-se. As previsões para 2023, porém, são mais comedidas. Muitos especialistas acreditam que a atividade econômica e o mercado laboral devem ter um crescimento mais sutil do que no ano anterior.
De toda forma, é válido reforçar que, além do contexto geral, é preciso também levar em conta o contexto local e outros fatores. O mercado de trabalho em grandes cidades como Madri, Barcelona, Valência e Bilbao costuma ser muito mais agitado do que em cidades menores. Além disso, a situação também pode variar segundo sua área de atuação e conforme sua experiência.
Algumas dicas para entrar no mercado de trabalho na Espanha
- Atenção aos idiomas. O castelhano é essencial, mas também é vantajoso saber inglês e, em muitos casos, o idioma co-oficial, além de outras línguas;
- Se vier estudar, não desconsidere a possibilidade de fazer um estágio;
- Faça cursos de especialização e de aperfeiçoamento e, se possível, aproveite para fazer bons contatos;
- Você também pode contar com agências de emprego locais, como Barcelona Activa, Labora Valência, etc.
Confira a minha opinião sobre duas cidades espanholas em que morei na coluna Barcelona ou Valência: onde é melhor viver.