Viver longe da família não é necessariamente uma experiência ruim. Claro que existem algumas pessoas mais apegadas e outras menos. E na verdade eu sempre acreditei que fazia parte desse segundo grupo. Prova disso é que, antes de vir morar na Europa, eu deixei minha família em Brasília e passei 10 anos vivendo em Floripa. Só que, uma vez ao ano, se eu não ia visitá-los, eles iam à ilha.

Agora, a situação mudou. O pior é que a distância e os preços das passagens não são os únicos obstáculos. Quer saber mais? Confira a seguir.

Como ir visitar sem a certeza de poder voltar?

Quando você vem nos visitar, filha? Agora suas aulas já acabaram, né?!

Quando minha mãe me veio com essa pergunta, eu estava na Espanha, longe da família, já fazia um ano. Gaguejei, dei voltas e não soube o que responder. O problema é que meu visto de estudos durava exatamente isso, um ano. Então, se eu fosse ao Brasil naquele momento, como poderia entrar na Europa novamente depois?

Para estender minha estadia no velho mundo, minhas primeiras tentativas foram solicitar uma prorrogação de estudos e uma autorização para buscar emprego. Na coluna O que fazer após o vencimento do visto eu conto mais sobre todo esse processo.

Tátylla com sua mãe e irmã
A foto mais recente que tenho com minha mãe e minha irmã é esta de 2018. Foto de Tátylla Mendes

A questão é que eu não sabia qual seria a resolução daquelas solicitações. Não estava segura de que ia conseguir estender meu visto ou ter uma autorização de residência. Ir ao Brasil e voltar à Europa como turista também não me parecia uma boa opção. Porque depois seria ainda mais difícil conseguir regularizar minha estadia por aqui.

Paciência, mãe. Assim que conseguir colocar em dia minha documentação por aqui, eu vejo quando posso ir visitar.

A história se repete

Eu não sou a única que passou por situações assim. Na verdade, deixar de visitar a família em outro país por não saber se será possível entrar na Europa depois é relativamente comum.

Tenho uma amiga chilena que faz doutorado em Barcelona. Ela tem uma bolsa de estudos e precisa renovar sua autorização de residência a cada 6 meses. Por conta disso, ela já ficou mais de 3 anos longe da família, sem ir ao Chile.

Comprar euro mais barato?

A melhor forma de garantir a moeda europeia é através de um cartão de débito internacional. Recomendamos o Cartão da Wise, ele é multimoeda, tem o melhor câmbio e você pode utilizá-lo para compras e transferências pelo mundo. Não perca dinheiro com taxas, economize com a Wise.

Cotar Agora →

Outra amiga mexicana passou quase 5 anos por aqui sem papéis, ou seja, sem uma documentação oficial. Nesse caso, a situação era ainda pior. Porque ela não só não conseguia voltar à Europa se saísse, também teria que pagar uma multa e não poderia voltar aqui por anos. Sem contar as dificuldades para alugar um imóvel, encontrar trabalho, etc.

A pandemia e outros imprevistos

Eu tinha acabado o meu mestrado e estava buscando alternativas para seguir morando na Espanha de forma oficial quando decretaram o isolamento social total. Entre março e junho de 2020, em Barcelona, a gente só podia sair na rua para ir ao mercado, ao médico/farmácia ou para levar o pet para passear. Sair do país, então, era impensável.

Esse foi o período extremo da quarentena por aqui, mas ainda houve outros até o final de 2020, quando começou a vacinação massiva. Ainda assim, muitos países seguiam com as fronteiras fechadas e não era recomendável viajar.

Fila para vacina em Barcelona
Fila para apresentar documentos antes de tomar a vacina contra a Covid-19, em Barcelona. Foto de Tátylla Mendes

Mesmo depois de tomar a segunda dose da vacina, em julho de 2021, eu ainda não me sentia segura de viajar ao Brasil, já que ainda havia muitos casos no país. Resultado: mais dois anos seguidos que passei longe da família.

Muito além da pandemia

A pandemia de coronavírus foi um acontecimento que afetou em maior ou menor grau a todo o mundo. Eu não gosto nem de imaginar que pode acontecer outro incidente assim, em nível global, com consequências tão desastrosas.

Mas isso não quer dizer que estamos livres de imprevistos que possam acabar impedindo-nos de viajar. Pode ser um problema no trabalho, uma mudança de emprego, um acidente, entre outras possibilidades.

Levando em conta essas possibilidades e sabendo da antecedência necessária para planejar uma visita ao Brasil, só aumenta a importância de contar com um seguro viagem que inclua garantias em caso de anulação da viagem. Isso nos leva a considerar ainda outra questão: o custo da viagem.

Do outro lado do oceano, o preço de viver longe da família é maior

O trajeto entre a Europa e o Brasil (ou vice-versa) dura, em média, umas 24 horas (em alguns casos, pode passar de 30h). É preciso cruzar o oceano e, normalmente, realizar uma série de escalas ou conexões. Não é de se estranhar, portanto, que os preços das passagens ascendam aos milhares de reais ou às centenas de euros.

Além disso, se você demora um dia inteiro só para chegar ao destino (e outro para voltar), não dá para passar apenas uma semaninha visitando. É preciso pensar em umas férias um pouco mais longas. Só que, geralmente, a duração da viagem também tem influência nos gastos.

Somando tudo, a visita ao Brasil pode acabar pesando no bolso. E esse é outro dos obstáculos comuns para quem vive na Europa longe da família no Brasil.

Confira como a visão de mundo de expatriados pode mudar na Europa.

Tirar férias ou garantir o pão de cada dia?

No início de 2022, eu já tinha regularizado minha situação por aqui há algum tempo e a pior fase da pandemia já havia passado. Nas vídeo chamadas semanais, minha mãe me fazia sempre a mesma pergunta:

E aí, filha, quando vocês vêm visitar?

Nesse momento, o maridão, claro, já havia sido incluído nos planos de viagem. Só que foi justamente nesse momento que ele recebeu uma nova proposta de trabalho de uma empresa em Valência. A mudança de emprego implicou também em uma mudança de cidade.

Sala de apartamento em Valência
Sala do nosso novo apartamento ainda com caixas da mudança. Foto de Tátylla Mendes

O problema é que os gastos envolvidos no processo de mudança não eram muito compatíveis com a ideia de visitar o Brasil. Além disso, devido ao pouco tempo na empresa, meu marido ainda não tinha direito a férias. Resultado: outro ano longe da família.

Férias remuneradas?

Os trabalhadores de carteira assinada (como meu marido) nem sempre podem escolher quando tirar férias. Por outro lado, os autônomos (como eu) têm um pouco mais de flexibilidade para fazer essa escolha. Só que, diferente do que acontece com empregados formais, nós, autônomos, não temos direito a férias remuneradas. Quando não trabalhamos, não recebemos.

E aí entra novamente a questão: tirar férias ou garantir o pão de cada dia? Já vi muita gente aqui nessa situação. A pessoa está morrendo de saudades da família e de vontade de ir visitar. Mas se decidir tirar férias, não tem como garantir a sobrevivência no mês seguinte. Então, acaba adiando os planos de viagem e tendo que aguentar um pouco mais a ideia de ficar longe da família.

O outro lado da moeda: os novos laços

Ficar longe da família e dos amigos que vivem no Brasil (ou em outro país) por um longo período é algo comum para muitos estrangeiros que moram na Europa. Por outro lado, há pessoas que já se mudam para cá trazendo toda a família ou grande parte dela.

E há também pessoas como eu, que mesmo sem esperar (e talvez por isso mesmo) encontram um amor e começam a construir uma nova família. Em todo caso, ao passar a viver em um novo lugar, é muito comum (e saudável) ir conhecendo novas pessoas, criando novos laços, fazendo novas amizades.

Recebendo o diploma do mestrado
Com amigos e professores do mestrado após receber o diploma do mestrado. Foto de Tátylla Mendes

É claro que os novos amigos não substituem os antigos, assim como construir uma nova família não apaga a saudade dos familiares brasileiros. Mas os novos companheiros e amigos podem ajudar a tornar mais leve e agradável a convivência longe da família e dos amigos brasileiros.

Conclusão

Em dezembro do ano passado eu completei 4 anos de Espanha. Para quem veio ao país estudar, mas já com a intenção de seguir vivendo aqui, esse é um grande motivo de celebração. Mas as oportunidades da vida sempre vão de mãos dadas com os desafios. No meu caso, um desses desafios tem sido viver longe da família, bem longe, por um longo período.

Antes de mudar para a Europa, eu já sabia da distância, do preço das passagens e que podia haver eventuais dificuldades para visitar o Brasil. Mas só depois de chegar aqui é que comecei a ter verdadeira noção do impacto de tudo isso e não apenas na minha vida. Já vi uma mãe que não pode estar junto da sua filha quando ela se tornou mãe. Já vi uma neta que perdeu os avós e só pode acompanhar de longe a dor de sua família. Já vi amizades que não sobreviveram à distância; entre outros casos.

De toda forma, pessoalmente, ainda não acredito que viver longe da família e dos amigos (às vezes, por longos períodos) seja um motivo para deixar de lado o sonho de morar na Europa. Em todo caso, acho que é uma das questões que devem ser levadas em consideração, principalmente, por quem é mais apegado aos seus.

Uma boa notícia

Felizmente, minha espera está quase acabando. Em março, nós vamos finalmente visitar o Brasil. Então, quando você estiver lendo este artigo, eu provavelmente estarei em terras tupiniquins, matando a saudade e recarregando as baterias. Porque vai saber quanto tempo mais eu terei que passar longe da família depois dessa temporada.