Se já costuma ser complicado organizar a mala para uma viagem mais longa, como fazer a mala para morar fora do país? Eu tive essa dúvida. Para ser mais específica, minha dúvida era: como fazer a mala para mudar para a Espanha? Pode até parecer um detalhe, mas determinar o destino faz toda a diferença na hora de responder a essa pergunta. Afinal, de acordo com o clima, a cultura e as exigências e restrições do lugar, algumas coisas podem entrar ou sair da bagagem.

Só que o meu primeiro desafio não foi escolher o que colocar na mala, mas sim desfazer-me do que eu não queria levar. Na verdade, eu tive que me desfazer da minha casa inteira praticamente. No artigo, conto mais sobre essa e outras histórias. E também comento sobre produtos brasileiros que fazem falta e o que realmente é preciso (ou não) colocar na mala para mudar para a Espanha.

Dá para encaixar a casa na mala?

Sabe essas pessoas que estão arrumando a mala e, de repente, encontram um unicórnio pela casa e pensam:

“Ah, vou levar, vai que precisa”?

Eu não sou assim. Geralmente, eu faço uma listinha antes e me limito ao que é realmente necessário. Só que, na hora de fazer minha mala para mudar para a Espanha, a situação mudou.

A questão é que eu não ia voltar para casa depois e encontrar tudo que não coloquei na bagagem. Eu ia mudar de casa. Ou melhor, mudar de país. Para complicar ainda mais, eu tinha uma casa inteira, montada, com todos os eletros, utensílios, acessórios e um pouco mais.

Quem já fez uma mudança sabe quantas coisas a gente consegue acumular em uma casa sem nem perceber. Como reduzir tudo isso a uma bagagem de no máximo 32 quilos?

Muito cuidado com os excessos

Foi em 2013 que eu descobri que, em alguns casos, mesmo que você se disponha a pagar pelo excesso de bagagem, não adianta. Eu estava voltando de uma viagem de motorhome de três meses pela Europa e acabei juntando muitas lembrancinhas em todo esse tempo.

Resultado: uma das minhas malas tinha mais de 32 quilos e a companhia aérea se recusava a embarcá-la.

Quarto com mala em processo de organização
O processo de organização da mala para mudar para Espanha não costuma ser muito fácil. Essa foto é da minha mala.

Comprar outra mala, distribuir o peso e pagar pelo excesso de bagagem seria uma opção. Mas como o portão de embarque estava prestes a fechar, ou eu abandonava minha mala gigante ou não podia viajar. A explicação: por norma, os trabalhadores que colocam as malas no avião não podem levantar mais de 32 quilos.

Além de ficar chocada, eu tive que passar mais três dias em Frankfurt e comprar outra passagem com um dinheiro que eu já não tinha. Depois dessa experiência, eu passei a prestar muito mais atenção no peso da minha bagagem.

Por isso, na hora de arrumar a mala para mudar para a Espanha, eu preferi seguir a recomendação da maioria das companhias aéreas internacionais. Uma mala de até 23 quilos e uma bolsa de mão de até 10 quilos.

Quando cheguei a Barcelona, percebi que foi a decisão mais acertada

Primeiro, porque economizei no táxi e consegui levar no metrô toda a minha bagagem sozinha, sem precisar de ajuda. Segundo porque, mesmo com rodinhas, nem sempre o piso ou asfalto ajuda na locomoção. E para completar, o prédio do Airbnb que eu aluguei para passar os primeiros dias não tinha elevador. (O que é muito comum em alguns prédios mais antigos aqui da Espanha).

“Ufa, ainda bem que eu trouxe pouco peso”, foi o que eu pensei ao chegar ao 8º andar. Quer saber como eu me livrei dos “excessos”? Conto mais a seguir.

Morar em Barcelona é morar na Espanha? Entenda essa questão na minha coluna.

Vender tudo é a melhor solução?

Para mim, não foi.

Eu tinha muitas coisas, sim. E podia ganhar um dinheirinho extra se conseguisse vender tudo. O que eu não tinha era tempo. Primeiro, porque eu morava em Floripa e precisava me despedir da minha família, que mora em Brasília. Além disso, os consulados espanhóis mais próximos da capital catarinense ficam em Curitiba ou em Porto Alegre.

Então, para fazer os trâmites do visto, eu tive que viajar duas vezes para Porto Alegre, onde tinha amigos e hospedagem grátis. Sem falar que, é só depois de conseguir o visto é que a viagem está realmente garantida. E foi aí que eu comecei a pensar na mala, quando faltava cerca de um mês para a mudança.

Vender tudo assim, correndo, não me parecia uma boa opção. Ainda mais porque eu morava sozinha e ia precisar de muitas das coisas que eu tinha até os últimos momentos. Fora que era mais uma preocupação para lidar (tirar fotos, receber interessados, etc). No final das contas, resolvi doar quase tudo.

Doei o microondas para um amigo e a cama para outro. Dei minha cafeteira de estimação para uma amiga e, para outra, o meu computador de mesa e o meu carrinho de livros.

Juntei metade do meu guarda-roupas e todos os utensílios de casa e levei a uma instituição filantrópica que costuma fazer um bazar para arrecadar recursos. Os documentos que não ia precisar e os objetos aos que tinha mais apego, eu levei para a casa da minha mãe, em Brasília.

Por sorte, nessa época, eu alugava um apartamento mobiliado e a maioria dos móveis não eram meus. Mesmo assim, depois de organizar e pesar a mala, ainda ficaram de fora algumas roupas e sapatos, que eu deixei para outra amiga doar.

Veja também como fazer uma mala para 30 dias na Europa.

O que eu trouxe e não precisava ter trazido

Para mim, uma das coisas mais difíceis foi me separar dos meus livros. Eu tinha um carrinho de supermercado cheio deles (técnica para enfrentar a umidade florianopolitana) e queria trazer todos. No final, acabei trazendo apenas cinco. Mas, na verdade, eu não precisava ter trazido nenhum. Desde que cheguei, já comprei outros tantos.

Outra coisa que entrou na minha mala na última hora foi o meu travesseiro. Neste caso, eu não me arrependi. Porque eu já babo nele há anos e não queria doá-lo. Mas é bem verdade que também não precisava ter trazido, já que, desde que cheguei só aluguei espaços já mobiliados, que já tinham travesseiros.

Como eu reduzi ao máximo o peso e as medidas da minha bagagem, esses foram meus únicos “excessos”. Mas acho que vale a pena comentar também sobre outras coisas que não vale a pena trazer na mala para mudar para a Espanha.

Fique atento e diminua sua bagagem

Por exemplo, não vale a pena trazer todos os seus equipamentos eletrônicos. Em primeiro lugar, a maioria dos eletrônicos precisam ser levados na bagagem de mão. Além dessa bolsa ter limite de 10 quilos, ela pode conter, no máximo, 15 objetos do tipo. E ainda há outras coisas que é preciso colocar nela, como eu vou comentar mais adiante.

Além disso, é bom saber que a tensão elétrica na Espanha é de 220V. Então, se você decidir trazer algum objeto com voltagem de 110V, certamente vai precisar de um transformador. Também não vale a pena trazer:

  • Todos os seus casacos (porque você provavelmente vai acabar comprando outros por aqui, mais preparados para o frio local);
  • Roupas velhas ou que não servem mais;
  • Utensílios de casa (porque são fáceis de repor);
  • Objetos de decoração pesados aos que você não tem apego.

Confira nosso guia com dicas para viajar com equipamentos eletrônicos.

O que é realmente proibido, mas eu queria trazer

Quando eu viajei pela primeira vez para a Europa, em 2011, foi que descobri que o requeijão (incluindo o catupiry) é um produto tipicamente brasileiro. Então, na hora de fazer a minha mala para mudar para a Espanha, essa era uma das coisas que eu queria porque queria trazer. Até que descobri que é proibido. Carne de sol e linguiça calabresa eram outras das iguarias brasileiras que eu queria ter trazido na bagagem. Mas essas também estão proibidas.

Na verdade, quem viaja para qualquer país da União Europeia, desde qualquer país que não faça parte desse bloco, não pode trazer nem carne nem produtos lácteos. A pessoa que é descoberta com esses tipos de produtos na mala, além de receber uma multa, também pode sofrer uma ação penal.

Cachaça, patrimônio brasileiro

“Ok, ok, esquece o requeijão, a carne de sol e a calabresa. Mas uma cachacinha boa eu posso levar?’

No Brasil, eu tomava cachaça como quem toma whisky. Não estou falando de caipirinha. Aqui tem caipirinha em todo lugar. Mas uma cachaça boa de verdade, para tomar pura, devagarinho, apreciando a bebida, é muito difícil encontrar.

A cachaça, por ser um líquido inflamável, também não é recomendável trazer. Não que seja totalmente proibido. Você pode até colocar uma garrafa na mala despachada. Mas você já viu como os trabalhadores do aeroporto tratam as malas? Já pensou se essa garrafa quebra?

Bem, até aí chegou minha lista de desejos proibidos. Mas para conhecimento geral, também é bom comentar que não é permitido entrar na Espanha com os seguintes itens: produtos piratas (livros, vídeos, programas de computador, etc.), artigos obscenos ou pornográficos, animais selvagens, drogas e materiais biológicos.

Vale a pena fazer um plano para mudar para a Europa no curto, médio ou longo prazo? Confira minha experiência.

Produtos brasileiros que deixam saudades

“Para quem já está morando em Barcelona, se você fosse fazer sua mala hoje, o que levaria do Brasil que sente falta aí?”

Esse foi um dos posts do grupo Brasileiros em Barcelona mais populares que eu já vi até hoje. Tem mais de 300 comentários e a maioria deles é sobre – tcharam – comida.

Sim, a culinária espanhola tem muitas delícias. Mas não tem como não sentir falta da nossa comidinha brasileira. Ainda assim, em cidades maiores, é relativamente fácil encontrar restaurantes e mercadinhos brasileiros para matar a saudade de alguns produtos.

Momento de preparação da feijoada
Na minha pseudo feijoada também não entrou couve manteiga, que é bem difícil encontrar aqui.

E existem também alguns alimentos que a gente pensa que não vai encontrar e são bem fáceis de achar. Exemplos: feijão, açaí, Guaraná Antártica e erva-mate. Eu já fiz até uma pseudo feijoada por aqui. Pseudo porque a carne de sol eu realmente ainda não encontrei.

O que é realmente difícil de achar: goiaba, maracujá, acerola, carne de sol, linguiça calabresa, farinha de mandioca, fubá, pamonha, entre outros. Fora os alimentos, tem muita gente que também diz sentir falta de:

  • Sabonete em barra (o líquido é bem mais comum aqui);
  • Biquínis e calcinhas brasileiros (já que os modelos europeus costumam ser maiores na parte de trás);
  • Sapatilhas femininas (que não têm uma variedade de modelos tão grande quanto no Brasil);
  • Rodo de limpar a casa (o comum por aqui é o esfregão);
  • Alguns tipos de medicamentos (porque algumas marcas são diferentes das brasileiras).

A essa lista eu ainda somaria as Havaianas e a panela de pressão. Não porque não existam por aqui. Mas pela variedade de modelos difíceis de encontrar, no primeiro caso, e pelo preço de cada um desses itens.

Só um aviso: se você decidir colocar a sua panela de pressão na mala para mudar para a Espanha, coloque-a aberta. Ou ela pode explodir no avião.

O que é realmente essencial

Quando eu vim turistar pela primeira vez por terras europeias, eu imaginei que, como eu não precisava de visto, ter o passaporte em dia era suficiente. Ledo engano. Quase me mandam de volta ao Brasil.

Foi assim que eu aprendi que, mesmo como turista, para entrar em qualquer país da União Europeia é necessário apresentar: passagem de ida e volta, comprovante de hospedagem ou carta-convite, seguro de saúde e renda suficiente pelo tempo de estadia.

Além disso, para quem vem para morar, também é solicitado um visto válido (de estudos, trabalho ou outro) e um certificado de saúde. Isso é o que é realmente imprescindível colocar na mala para mudar para a Espanha. Ou melhor, na bolsa de mão.

Aliás, é bom estar prevenido para o caso de sua bagagem despachada se perder no caminho. Comigo, já aconteceu duas vezes. Em ambos os casos, eu consegui recuperá-la, mas só depois de longos dias.

Atenção aos itens da bagagem de mão

Por isso, também é aconselhável trazer na bolsa de mão, pelo menos, uma muda de roupa, incluindo roupas íntimas. Pasta e escova de dentes, óculos e eletrônicos essenciais (como celular, notebook e carregadores) também devem ser incluídos nessa bolsa.

Agora, após quase quatro anos morando na Espanha, se você me perguntasse o que realmente é essencial trazer na mala, eu diria: Simples, nada mais do que você levaria para uma viagem de aproximadamente 15 dias. Algumas roupas de inverno, verão e meia estação, alguns calçados, acessórios essenciais, uma toalha e alguns itens de higiene pessoal para os primeiros dias.

Ok, ok, para facilitar sua adaptação e se sentir em casa, você também pode trazer alguns objetos que tenham valor pessoal. Mas sem exageros. Se serve como exemplo, eu trouxe um mini globo terrestre e uma caneca. Em compensação, minhas coleções favoritas eu deixei com minha mãe.

Ah, e antes de começar a fazer a mala, é importante se atentar ao que não pode levar na bagagem de mão e despachada.

Máscaras de Veneza em cima de mesa branca
Minha coleção de máscaras de Veneza ficaram em Brasília, não vieram na mala para Espanha.

Quer aprofundar o conteúdo? Saiba o essencial de o que levar na mala para Espanha.

O principal não cabe na mala

“Eu vou contigo. Seguro sua mão no avião e te ajudo a encontrar uma casa por lá”.

Eu tive essa sorte. Uma das minhas melhores amigas me acompanhou na mudança para a Espanha e me ajudou a encarar os primeiros dias por aqui.

Mas nem sempre isso é possível. Se fosse, eu tinha encaixado na minha mala para mudar para a Espanha (com todo jeitinho) a minha mãe e uns dez amigos mais. Mas não, o principal – aquilo que você mais vai sentir saudade – não cabe na mala. Em compensação, tem algumas coisas que é possível, sim, trazer na bagagem. Ainda que não seja na bagagem física, mas sim na bagagem cultural e na consciência.

Eu diria, por exemplo, que é bom trazer muita coragem para enfrentar os novos desafios que você vai encontrar por aqui. Cabeça aberta para entender que muitos europeus são mais frios também pode ser essencial. Assim como a cabeça fria para lidar com toda a burocracia local.

Além disso, também é importante colocar na bagagem muita vontade de aprender e de se adaptar. Por mais que você já conheça a Espanha, já saiba espanhol ou já tenha visitado a Europa muitas vezes, morar é sempre uma experiência diferente. Aliás, todas essas experiências devem acabar entrando também na sua bagagem cultural. E, no final das contas, você pode até perceber que esses são os seus pertences mais importantes.

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