Você sabia que aqui na Espanha as universidades públicas são pagas? Sabia que, sem uma carteirinha da saúde pública, em alguns casos, também é preciso pagar? E essas são apenas algumas das diferenças dos serviços públicos da Espanha.

Quer saber como é a qualidade desses serviços e como nós, estrangeiros, podemos ter acesso a eles? Então, siga lendo. Porque nesta coluna eu vou te contar algumas das minhas experiências com os serviços públicos da Espanha.

O que ninguém te conta sobre morar na Espanha: a burocracia

Uma das coisas que mais me surpreendeu quando cheguei em terras ibéricas foi a burocracia dos serviços públicos da Espanha. Antes de sair do Brasil, o Consulado já te informa que o visto não é suficiente para morar aqui.

Ao chegar, é preciso registrar seu endereço na prefeitura (fazer o “empadronamiento”) e depois fazer a TIE – “Tarjeta” (cartão) de Identificação de Estrangeiro.

Os primeiros passos

O primeiro passo, portanto, é conseguir alugar um apê ou um quarto em que você possa se “empadronar”, com a permissão do proprietário do imóvel.

Feito isso, é preciso juntar uma série de documentos e, então, conseguir uma “cita” para ser atendido no “Ayuntamiento”. Ou seja, conseguir um horário para ser atendido na prefeitura. Normalmente, você já sai de lá com o endereço registrado. Missão 1 cumprida.

Em seguida, é preciso pagar a taxa da TIE e juntar mais um calhamaço de documentos. Próximo passo: conseguir uma “cita” na “Extranjería” para a “toma de huellas”, isto é, para registrar suas impressões digitais. Você leva os documentos, registra as digitais e – tcharam – precisa conseguir outra “cita” para voltar outro dia e buscar a TIE.

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“Cita” para tudo

Como já deu para ver, quase todos os serviços públicos da Espanha exigem “cita”. Normalmente, é possível fazer isso online. Você entra na página do órgão, preenche seus dados e escolhe um horário para ser atendido.

O problema está na disponibilidade de “citas”, ou melhor, na falta de disponibilidade de horários. Em cidades como Barcelona – que tem muitos estrangeiros – é muito difícil conseguir agendar atendimento para o “empadronamiento” e para a “toma de huellas”.

Tem gente que passa meses tentando conseguir uma “cita”. Outros só conseguem o agendamento para muitos meses depois. Sabendo desse problema, há inclusive pessoas que vendem “citas” ilegalmente.

Para completar, vale dizer que, mesmo com toda essa dificuldade para agendar um horário, nem sempre te atendem na hora marcada. Em alguns casos, sim; outras vezes, é necessário esperar. Ainda assim, é preciso ser pontual para não perder a “cita”.

Educação pública na Espanha

O sistema de educação espanhol tem várias diferenças em relação ao brasileiro. A primeira é a divisão de etapas, que é feita assim: educação infantil, dos 0 aos 6 anos; educação básica, dos 6 aos 16; bacharelado (que não é ensino superior, mas sim uma etapa preparatória), dos 16 aos 18 anos.

Outra diferença é que o ano letivo costuma começar em setembro. E os horários das escolas podem variar de 9h às 14h (sem pausa) ou de 9h às 16h com pausa para o almoço na própria escola.

E é bom saber que, além das escolas públicas e privadas, há também as “concertadas”, administradas por instituições privadas com financiamento público.

Escola pública em Valência
Uma das escolas públicas municipais de Valência. Foto de Tátylla Mendes

As escolas públicas não cobram matrícula nem mensalidades, mas podem cobrar pelo almoço, pelas atividades extras e por livros e outros materiais. De todo modo, entre os serviços públicos da Espanha, o educativo é considerado um dos melhores.

Universidade pública

Estava no trem, quando vi duas amigas comentando que a Universidade Autônoma de Barcelona (UAB) – onde estudávamos – é uma universidade pública. Surpresa, interrompi a conversa das duas para perguntar:

– Como assim é pública, se a gente tem que pagar?
– Ué, mas o transporte também é público e a gente paga, não é mesmo?!

Antes da UAB, eu tinha estudado na UnB, a Universidade de Brasília, e não paguei nada por isso. Na de Barcelona, pelo contrário, o preço total não era nada baixo. Mas a resposta da minha colega de mestrado foi tão lógica que eu fiquei sem saber o que dizer.

Foi só então que eu descobri que as universidades públicas da Espanha também são pagas. Aliás, a Catalunha é a Comunidade Autônoma onde é mais caro cursar o Ensino Superior. E a Galícia é onde é mais barato.

Diploma oficial x próprio

Outra diferença do Ensino Superior espanhol (que eu só descobri depois de terminar meu curso) é que na Espanha existem cursos oficiais e cursos próprios.

A principal diferença entre eles é que somente com o diploma de um curso oficial é possível ter acesso ao seguinte nível educativo (de um mestrado para um doutorado, por exemplo) ou a um cargo público.

Saúde pública na Espanha

A Espanha tem a quinta maior expectativa de vida da Europa, 83,06 anos (acima inclusive de países como Reino Unido, França e Alemanha). A mortalidade, por sua vez, é a sétima menor do continente.

Além disso, a saúde pública da Espanha é considerada pelos estrangeiros como a terceira melhor do mundo, de acordo com a Expat Insider.

Hospital que faz parte dos serviços públicos da Espanha
Um dos hospitais públicos de Valência. Foto de Tátylla Mendes

A questão é que a qualidade dos serviços de saúde varia, já que cada Comunidade Autônoma é responsável pela administração dos serviços públicos locais. Na coluna Barcelona ou Valência: onde é melhor viver? eu já comentei, inclusive, sobre algumas diferenças da saúde pública nessas duas cidades.

Acesso à saúde pública

– Bom dia. Gostaria de fazer minha carteirinha. Aqui está minha TIE e meu “empadronamiento”.
– De onde você é?
– Do Brasil.
– Você trabalha?
– Formalmente, ainda não.
– Você está registrada na Seguridade Social?
– Não.
– Então, não pode fazer a carteirinha. Se quiser ser atendida, precisa pagar.

Foi assim o meu primeiro contato com o serviço de saúde pública aqui em Valência. Quando vivi em Barcelona, bastou dizer a primeira frase para ter o documento. Aqui, meu marido precisou me registrar como dependente dele na Seguridade Social para eu poder finalmente ter acesso.

“Citas” e mais “citas”

Outro dia, tentei marcar uma “cita” com a ginecologista. Não pude. Primeiro, eu tinha que pedir uma “cita” com minha médica de cabeceira. Era ela quem podia me indicar a uma consulta com a ginecologista.

Segui essa orientação. Cheguei à consulta com a médica e ela nem me olhou. Perguntou o que eu queria e falou que eu ia receber uma mensagem indicando quando seria a “cita” com a ginecologista.

Não digo que a saúde ou outros serviços públicos da Espanha sejam ruins. Na verdade, a ginecologista foi bem mais atenciosa do que minha médica de cabeceira e a consulta, bem mais completa.

Só que a realidade nem sempre coincide com as estatísticas. E se você vem com a expectativa de encontrar menos burocracia do que no Brasil, pode acabar se decepcionando.

Segurança pública na Espanha

Nas cidades brasileiras onde vivi – Brasília e Floripa – eu raramente me senti insegura ao andar pelas ruas. Ao passear por São Paulo e Porto Alegre, me preveniram para ter mais cuidado. Mas nunca me aconteceu nada. De todo modo, muitos brasileiros se mudam para a Europa com a expectativa de ter mais segurança.

Nesse caso, novamente, como nos outros serviços públicos da Espanha, a administração local é feita por cada Comunidade Autônoma. Com isso, a atenção à segurança (e a sensação de segurança) podem variar, o que se deve também à concentração populacional de cada lugar.

Eu já ouvi dizer, por exemplo, que se nunca roubaram seu celular em Barcelona, é porque você ainda não faz parte da cidade. Mas nos três anos que vivi por lá, nunca me roubaram nada. Apesar de que, em alguns bairros específicos, pela noite, a sensação de segurança pode ser um pouco menor.

De todo modo, minha percepção geral é de que há menos violência por aqui, menos crimes graves e uma sensação de segurança maior ao andar pelas ruas.

Transporte público na Espanha

Na minha opinião, o transporte é um dos melhores serviços públicos da Espanha. É verdade que, dentro de cada Comunidade Autônoma, a administração desse serviço é local (como nos demais casos), por isso, a qualidade e os preços podem variar.

Ainda assim, de forma geral, há diversos tipos de transporte (metrô, ônibus, trem, etc.), as frotas são novas, os bilhetes integrados e há boa disponibilidade. Além de Barcelona e Valência, eu já usei o transporte público em Madri, Sevilha, Córdoba e Granada, e não tenho do que reclamar.

Isso sem falar na Renfe, a empresa pública de transporte ferroviário de passageiros e mercadorias que é líder no setor.

Renfe

Seja para viajar dentro da própria Comunidade Autônoma ou para cruzar o país de um lado ao outro, normalmente, é possível ir de trem. A Renfe possui trens de curta, média e longa distância, além de trens turísticos de luxo e trens de alta velocidade. A disponibilidade de linhas e horários é ampla.

Pessoalmente, eu prefiro viajar de trem do que de ônibus, porque é mais espaçoso e eu consigo ler ou, se necessário, trabalhar. Apesar de que as passagens de trem costumam ser mais caras do que as de ônibus.

Trem da Renfe no litoral da Espanha
Trem da Renfe passando pelo litoral. O transporte é um dos melhores serviços públicos da Espanha. Foto de Tátylla Mendes

Aliás, vale dizer que, apesar dos trens da Renfe fazerem parte da rede de transporte público da Espanha, não são os mais baratos. Mas também não são a única opção. Há empresas privadas de trens que podem oferecer preços mais competitivos.

Impressão geral sobre os serviços públicos da Espanha

De maneira geral, os serviços públicos da Espanha me parecem de boa qualidade. A questão das “citas” pode parecer um pouco incômoda no começo, mas a gente acaba percebendo que assim fica mais organizado.

É claro que pode haver alguns contratempos: um funcionário mal humorado ou preconceituoso, uma “cita” que atrasa… Mas acredito que esses tipos de situações podem ocorrer em qualquer lugar do mundo.

Por fim, se tivesse que comparar, eu diria que os serviços públicos da Espanha, em geral, são melhores do que os brasileiros. Apesar de que, no Brasil, a qualidade desses serviços também varia conforme o lugar. E não ter que pagar por uma universidade pública, com certeza, conta pontos para o nosso país.