Muitas vezes, ao longo dos últimos anos, ouvi a pergunta: pretende ficar aqui ou vai voltar pro Brasil? Esse questionamento é super legítimo e a resposta para essa pergunta também muda com o passar do tempo.

Assim que chegamos desistir parece ser uma palavra riscada do vocabulário. Porém, com o decorrer dos anos, começamos a fazer contas sobre o que também perdemos vivendo fora do nosso país natal.

Pretende ficar aqui ou vai voltar pro Brasil?

Essa pergunta tão singela esconde ainda uma terceira hipótese: e se a resposta não for ficar em Portugal ou voltar para casa e, sim, tentar a sorte em um terceiro país?

Refletir sobre essa dúvida clássica pode ser um exercício bem interessante e foi o que tentei fazer ao longo dos parágrafos abaixo.

Quando chegamos a um país novo, em geral, levamos uma bagagem repleta de esperanças e desejos. Tudo é desconhecido: os cheiros, os sabores, os amigos que vamos fazer, as relações de trabalho que estabeleceremos, a paisagem que descobriremos aos poucos.

Essas borboletas no estômago, que tão poucas vezes sentimos na vida adulta, dão a impressão de que estamos experimentando um sonho. Mas, e depois da fase da lua-de-mel? O que acontece? O que vem a seguir ao entusiasmo e quando tudo entra em uma rotina?

Tenho um amigo que diz que é preciso doze meses vivendo em uma cidade para se sentir verdadeiramente um local. Não tenho tanta certeza sobre esse número exato, mas, sem dúvida, são precisos alguns meses para descobrir qual é o melhor prato do restaurante da vizinhança ou que horário as frutas no mercado são as mais frescas.

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Ao contrário dos primeiros tempos, e assim como nos relacionamentos amorosos, os defeitos acabam vindo à tona depois do período de encantamento. Portugal não é o destino perfeito – ao contrário do que acreditávamos – e é possível que uma série de problemas acabe te afastando de tentar a vida aqui. Por outro lado, passada essa turbulência inicial, também é possível que você sinta que encontrou o seu novo lar para sempre.

Por que voltar para o Brasil?

Nem sempre a vida real acontece como planejamos e é natural que, depois de fazer um exercício de reflexão, perceba que o melhor para você seja voltar para o ninho.

Mas vale lembrar que voltar não significa retomar a vida exatamente como era antes dessa sua experiência fora do país. Aqueles que regressaram para o Brasil, ainda que de férias ou por um curto período, provavelmente sentiram uma sensação estranha, de ser estrangeiro na sua própria terra.

As lojas que conhecia na paisagem possivelmente mudaram, os seus amigos tomaram rumos diferentes, as notícias que pintam no rádio ou na televisão já parecerem esquisitas. A impressão de ser um estranho no ninho é extremamente familiar para quem decide voltar. E não são poucos os motivos que podem fazer pesar a balança e responder à pergunta “pretende ficar aqui ou vai voltar pro Brasil?” com um pretendo voltar.

A dificuldade de se relacionar

Brasileiros e portugueses são parecidos, sem dúvida, mas também podem ser muito diferentes. Com uma cultura mais fechada que a nossa, em geral, é difícil essa primeira integração com os locais em Portugal. Especialmente quem imigra já na vida adulta, quando se perde os momentos da vida nos quais costumamos construir mais laços afetivos como o período que passamos na escola e na universidade.

É mais complicado fazer amigos durante a vida adulta, quando as pessoas costumam manter uma rotina mais baseada na casa, na família e no trabalho.

Generalizando a partir das experiências que senti na pele, e também com base nas vivências que assisti com outros brasileiros, chegamos em Portugal habituados a um estilo de vida mais despojado, extrovertido e expansivo. E encontramos do outro lado pessoas mais reservadas, que preferem conhecer aos poucos antes de convidarem para um jantar em casa, por exemplo.

Culturalmente há diferenças entre Brasil e Portugal que podem causar alguns desconfortos como o fato dos portugueses serem mais diretos e frontais enquanto nós damos voltas enormes para conseguir dizer um “não”. Esses detalhes que dificultam a adaptação podem ser duros, especialmente no princípio.

O desafio de se adaptar ao clima

Outro problema que afasta muita gente são as baixas temperaturas. Quem vem do Brasil sofre um pouco até se habituar ao clima português – ainda que o inverno de Portugal não seja dos mais rigorosos da Europa.

Eu venho do Rio de Janeiro, onde vinte graus no termômetro da rua já é motivo suficiente para tirar as botas e os cachecóis do armário – agora imagine o que é resistir a um inverno onde temperaturas de um dígito são uma constante durante meses.

Alergias, rinites, sinusites e todas as maleitas do inverno fazem parte da adaptação em Portugal e despertam a nossa curiosidade no primeiro inverno, mas nos anos seguintes, começam a chatear.

por que voltar para o Brasil

Muitos imigrantes brasileiros têm enorme dificuldade com o clima e essa pode ser a gota d’água que faz muita gente escolher voltar para casa.

A minha sugestão é, antes de pensar em fazer as malas e voltar para o quentinho, estudar estratégias para melhor lidar com o frio. Pequenas mudanças podem fazer toda a diferença como comprar roupas mais adequadas, equipar a casa com aquecedores (tome cuidado apenas com a conta da luz) e adquirir alguns sacos de água quente, que é daquelas técnicas baratas e boas para se manter aquecido e sem estourar a carteira durante os meses mais gelados.

O problema da xenofobia

Apesar de Portugal ter muitos brasileiros – em 2020 já somos mais de 150 mil vivendo aqui – a verdade é que há uma xenofobia crescente que, muitas vezes, acaba minando a vontade de permanecer no país.

Para ter uma ideia, em termos de evolução das denúncias, em 2014 foram registrados pela Comissão para a Igualdade e contra a Discriminação Racial (CICDR) 60 queixas. Em 2019, esse número saltou para 436 denúncias.

A Instituição Casa do Brasil de Lisboa lançou um relatório chamado Experiências de Discriminação na Imigração em Portugal, em dezembro de 2020, que mostrou que 86% dos imigrantes em Portugal já foram vítimas de discriminação.

Especialmente as mulheres brasileiras costumam ter que lidar com o preconceito de uma forma bastante dura. A conta do Instagram Brasileiras não se calam reúne os testemunhos de diversas mulheres que passaram por situações constrangedoras no transporte público, no trabalho, nos centros comerciais entre tantos outros lugares.

Nos primeiros tempos de mudança, essa sensação de não ser bem-vindo chega a passar despercebida. No entanto, com o decorrer dos meses o imigrante pode efetivamente colocar em causa a sua permanência fora do Brasil.

As saudades dos amigos e da família

Outro aspecto que costuma piorar com o tempo é a saudade crescente dos amigos e da família. Quanto mais meses e anos são ultrapassados no calendário, mais nascimentos, casamentos e aniversários acabam sendo acompanhados a partir da tela do computador ou do celular. Isso sem contar com os períodos de doença e, especialmente, de morte. Sejamos francos: a sensação de estar longe é devastadora.

Por mais que você tenha tido a sorte de se integrar com um grupo de amigos nativos em Portugal, é natural que, muitas vezes, você se sinta isolado e só queira a companhia daqueles que te conhecem desde sempre.

A luta pela legalização

Se você tiver cidadania portuguesa, provavelmente não vai se dar conta das dificuldades que os imigrantes passam para se regularizarem por aqui. A burocracia é alta e o SEF – Serviço de Estrangeiros e Fronteiras – em geral demora para atender e atribuir as autorizações de residência.

Não estar regularizado em Portugal pode dificultar a sua vida em uma série de aspectos: conseguir um contrato de trabalho é mais complicado e encontrar uma casa acaba sendo uma tarefa mais árdua. Frustrados por não conseguirem se legalizar, muitos brasileiros acabam fazendo as malas e voltando para casa.

Os salários baixos

Outro problema crônico do país são as remunerações. Os salários em Portugal costumam ser bem mais baixos do que no resto da Europa. Para ter uma ideia, o salário mínimo em Portugal, em 2021, é de 665€ e quase um quarto da população trabalhadora recebe um salário mínimo.

Especialmente se estiver vivendo em grandes cidades como Porto e Lisboa, você terá dificuldades de arcar com os custos de habitação altos se receber salários baixos. A minguada remuneração e o relativo alto custo de vida são dois dos principais motivos que fazem uma série de brasileiros fazerem as malas.

O que fazer quando perdemos parte de nós? Leia mais na coluna sobre a invisibilidade do imigrante.

Por que ficar em Portugal?

Apesar da solução mais fácil – voltar para casa rapidamente – parecer tentadora, vale a pena lembrar o que ir embora significa.

Partir quer dizer deixar para trás uma série de regalias inestimáveis que temos aqui como a segurança, o estilo de vida mais pacato e a proximidade com outros destinos da Europa. Também não faltam motivos para responder à pergunta “pretende ficar aqui ou vai voltar pro Brasil” com pretendo ficar!

Um ritmo de vida mais tranquilo

Sabe aquelas horas que perdia no trajeto casa-trabalho? Dê adeus a elas, em Portugal esse tempo perdido será drasticamente reduzido. Não só as cidades são menores como os transportes públicos são mais eficientes. Há muitas estações de metrô, trem, além da possibilidade de se locomover através de bicicletas pelas ciclovias.

por que ficar em Portugal?

Como o país é pequeno, as distâncias são mais curtas e perde-se muito menos tempo nas deslocações. Isso se traduz em uma melhora impressionante na qualidade de vida.

Por falar em qualidade de vida, há muitos espaços públicos urbanos disponíveis! É bastante frequente passear no jardim e aproveitar um piquenique com os amigos. Em Portugal o ritmo de vida mais tranquilo se reflete em um dia a dia menos estressante.

Segurança não tem preço

Portugal foi eleito, em 2020, o quarto país mais seguro do mundo. No ano anterior, também estava no mesmo pódio como uma referência de segurança ocupando o terceiro país mais seguro do planeta.

Fazer parte desse ranking nos deixa mal-acostumados e, rapidamente, descobrimos que não há qualquer problema em andar na rua mexendo no celular, por exemplo.

Já perdi as contas de quantas vezes esqueci a porta de casa destrancada ou com as chaves penduradas para o lado de fora – e, todas as vezes, um vizinho simpático veio avisar sobre o ocorrido. Nunca aconteceu nada.

Dormir sem preocupações e não precisar andar sempre atento são descansos que Portugal te proporciona e que provavelmente acabará por perder se optar por voltar para a sua região de origem.

Cheirinho de casa: Portugal e Brasil possuem culturas parecidas

Se há a turma dos aventureiros que decide experimentar viver em outros países, há também quem se adapte rapidamente com a cultura portuguesa e logo se sinta em casa. Uma série de amigos, quando me visitam, dizem que Lisboa tem cara de casa de avó. Afinal como não ter a memória afetiva despertada pelos azulejos, pelos galos de Barcelos ou pelo cheiro do azeite?

Brasileiros e portugueses partilham não só a mesma língua, ainda que tenha suas diferenças. São diversos hábitos comuns em relação à comida, à arquitetura… e não é fácil encontrar esse acolhimento estando em outros países.

Portugal tem um dos custos de vida mais baixos do velho continente

Outro grande ponto a favor de permanecer em Portugal é que, apesar da moradia ser cara nas grandes cidades, o custo de vida ainda é relativamente baixo. Especialmente se comparado com outras metrópoles europeias.

O fato de todos os cidadãos terem acesso à saúde pública de qualidade é um enorme descanso. As boas escolas públicas também são enormes atrativos especialmente para as famílias estabelecerem, de fato, um ninho permanente por aqui.

E se desistir de Portugal, mas resolver ir viver em outros países?

É duro deixar para trás o nosso país, mas uma vez fora de casa, já não é assim tão difícil mais cogitar experimentar viver em outros lugares.

Conheço uma série de pessoas que optaram por deixar Portugal, mas não retornar para o Brasil. Tenho amigos que se mudam para a Espanha, para a França, para a Alemanha, para a Inglaterra… Portugal acabou sendo um primeiro pouso, mas não o definitivo, na Europa.

Mala pretende ficar aqui ou vai voltar pro Brasil

Quem faz de Portugal esse primeiro porto de abrigo em geral decide tentar a sorte em outro destino em busca de salários melhores. Ou mesmo uma maior possibilidade de progressão na carreira. Áreas relacionadas com TI, por exemplo, costumam ter remunerações melhores em outras capitais da Europa. A dificuldade de desenvolver uma carreira em Portugal, especialmente em cargos mais especializados, acaba empurrando uma parcela significativa de brasileiros para outros países.

Vale lembrar que os destinos na Europa são relativamente próximos e há uma série de meios de transportes baratos. Por isso é fácil continuar fazendo visitas regulares a quem ficou em Portugal para matar as saudades. Então responder a pergunta “pretende ficar aqui ou vai voltar pro Brasil?”, como já dissemos, pode ter ainda a possibilidade de dizer: nem lá nem cá.

Como se preparar para morar em Portugal?

Uma das dicas que eu costumo dar para quem pensa em trocar de país é se informar muito antes de embarcar.

Se planejar é uma parte essencial desse processo de transição radical. O ideal é que faça isso algum tempo antes de, realmente, fazer as malas. Pensando em ajudar em todas as etapas da sua mudança, nós preparamos o Programa Morar em Portugal, um guia com vídeos que explica passo a passo o essencial sobre o processo de imigração e adaptação no país.

*As opiniões dos colunistas não refletem necessariamente a opinião do site Euro Dicas.