No auge da minha vida laboral no Brasil, eu sonhava em me aposentar em Búzios ou em Bariloche. Caminhando ao sol de quarenta graus da Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio de Janeiro, com a gravata apertando o gogó, eu me via esticado numa toalha ao sol na praia de Geribá, tomando caipirinha e beliscando peixe frito e camarões ao alho e óleo. Minha única preocupação seria decidir se me jogaria de novo na água fria da arrebentação para espantar a quentura, ou ficar ali, inerte, fazendo planos de um passeio à noite na rua das Pedras tomando sorvete de maracujá.

Em Bariloche, os prazeres seriam de inverno. Após o nascer do sol, sair para tomar um chocolate quente com churros e espraiar a vista sobre a imensidão branca de lagos e montanhas congelados. Acender a lareira à noite, ouvir o estalar da madeira seca reagindo ao fogo, inalar o odor da floresta, bebericando um Malbec enquanto a neve cai lá fora sobre o chão, as árvores e as casas.

O sonho de uma vida nova

Sonhos… tudo não passou de sonhos. A vida deu voltas e há mais de vinte anos me trouxe para Miami, onde me americanizei parcialmente e me aposentei. Quando cheguei ao país, ainda era fácil obter o Green Card. Aqui gozei modestamente das benesses do mundo capitalista: boa moradia, bom carro, saídas para jantar, teatro, praia, piscina, viagens ao Brasil e à Europa.

Para o Oriente, fui até à Turquia andar de balão na Capadócia, comer os kebabs e as baklavas famosos, visitar a magnífica Haja Sofia. Para o outro lado, cheguei ao Havaí das danças exóticas dos povos do Pacífico, com seus ponches no abacaxi e vulcões fumegantes.

Mas, como diz o poeta, tudo passa. Agora chegou a época de planejar a aposentadoria. Onde e como viver estes anos de lazer, os chamados anos dourados? Continuar em Miami, voltar para o Brasil ou ir para outro lugar?

Escolher onde viver a aposentadoria

Eu não conseguiria mais viver no Brasil porque fiquei mal-acostumado com a vida sem estresse em Miami. Em primeiro lugar, pela segurança, já que sofri um assalto feio na Barra da Tijuca e fiquei traumatizado. Ainda por cima, o ar é limpo, é fácil estacionar o carro, as ruas e estradas não têm buracos. Também há pouca burocracia, o crédito é fácil, quase tudo pode ser comprado pela Internet.

Os assuntos do dia a dia brasileiro já não me interessam. Minhas prioridades mudaram. Amo de verdade o nosso país, mas somente para visitar. O Brasil está fora das minhas preferências de vida aposentada. Continuar em Miami? Já disse que gosto de Miami.

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E há mais razões ainda para gostar: o clima subtropical com invernos amenos e verões menos quentes do que os cariocas, as águas mornas das praias, a biblioteca pública que tem quase todos os livros que quero ler, o ar-condicionado central nas casas e lojas.

A vida em Miami
O bairro de Brickell visto desde o shopping mall Brickell City Center. Foto: Cesar Barroso

É um prazer ir a um supermercado limpo. A oferta de produtos de todo o mundo, desde as frutas do México até a mandioca limpinha pronta para fritar, os queijos e frios europeus.  Saindo de Miami, sentirei saudades. Pensava nisto ao passar ontem pela Coral Way, um dos mais belos bulevares do mundo pelas suas figueiras frondosas de troncos enormes.

Todo lugar tem seus prós e contras

O problema é que Miami virou metrópole durante os dez últimos anos. Sendo a capital da América Latina, sua população cresce sem parar com as oscilações políticas do continente. Ultimamente, chegaram os venezuelanos ricos.

Durante a pandemia, as construções continuaram aceleradas para acolher a gente de Nova York e de outras partes dos Estados Unidos, atraída pelas vantagens do trabalho à distância num clima benigno.

Os preços dos imóveis para compra e aluguel cresceram na proporção da procura, e também de seu luxo e beleza. Novas vias expressas foram criadas e as antigas foram ampliadas. Porém, os engarrafamentos aumentam a olhos vistos. Para mim, Miami ficou demais. Metrópoles são para jovens que estão com ganas de lutar pelo dinheiro e consumir o que ele pode comprar. Para eles, as oportunidades são imensas. No entanto, a minha juventude já passou.

O aposentado americano está saindo das metrópoles e procurando lugares mais baratos para viver dentro dos Estados Unidos, ou mesmo no México, Costa Rica e Europa. Faço parte deste grupo. Em outro lugar dos Estados Unidos eu não tenho interesse de viver. México e Costa Rica são interessantes, mas me cansariam depois de algum tempo. Concluí que a melhor opção é a Europa.

Morar na Europa como aposentado

Em minhas viagens de férias, visitei repetidas vezes Portugal e Espanha. São dois países encantadores por sua geografia, cultura, culinária, clima e custo de vida mais barato do que em Miami.

Portugal fala a nossa língua, com pequenas diferenças de vocabulário. A Espanha fala uma língua parecida à nossa. Portugal e Espanha são, portanto, uma escolha natural para emigrar e passar a aposentadoria. Então, decidi que irei para um destes dois países.

Vista do Porto
O Porto visto desde Vila Nova de Gaia, com o rio Douro. Foto: Cesar Barroso.

A decisão causa uma euforia inicial, mas logo vem o choque de realidade ao pensar que férias são diferentes de morar. Nas férias, só vemos as vantagens, e não nos atentamos para os detalhes. Se em férias de verão, o tempo muda e sopra um vento frio, a gente se encolhe, coloca uma toalha nas costas e pensa que o tempo amanhã irá melhorar, ou daqui a dois dias iremos para outro lugar.

Espanha ou Portugal?

Mas, já morando, se descobrimos no inverno que a casa que compramos ou alugamos não tem a calefação adequada, como aguentar passar frio por semanas ou meses seguidos? Aliás, calefação ruim é uma reclamação frequente dos ingleses que vão morar em Portugal e Espanha. Portanto, muito cuidado na hora de comprar e alugar em Portugal ou na Espanha. É preciso verificar se a casa está preparada para o frio (e também para o calor), mas principalmente para o frio.

O clima é um fator importante a ser considerado

Venho há dois anos acompanhando pelo meu telefone celular as temperaturas em uma dúzia de cidades de Portugal e Espanha onde eu gostaria de morar. A primeira conclusão foi que no litoral faz menos frio e menos calor do que no interior.

As variações de temperaturas nas quatro estações são menores junto ao mar. Por exemplo: o vale do Douro, no interior, é muito mais quente no verão e mais frio no inverno do que a cidade do Porto, que fica na foz do rio e junto ao oceano.

Ainda sobre o frio, as regiões montanhosas obviamente têm invernos mais rigorosos, como a Serra da Estrela em Portugal, os Pirineus, Picos de Europa, Serra de Grazalema e Serra Nevada, na Espanha. Cádiz, cidade espanhola à beira do Atlântico, tem variações de temperaturas bastante menores do que Sevilha e que todo o interior da Andaluzia.

A temperatura no verão

No verão, a temperatura em Sevilha costuma ser 10ºC mais alta do que em Cádiz, que está apenas a uma hora de carro. Fica o aviso de que, no verão, as temperaturas no interior da Andaluzia, assim como no Alentejo português, são insuportáveis.

Vista de Barcelona
Vista de Barcelona do topo do shopping center Arenas de Barcelona. Foto: Cesar Barroso

Em meados deste junho de 2021, a temperatura na encantadora Córdoba roçou os 40ºC. Évora, no Alentejo, é um horror de quente no verão. É impossível se andar ao sol durante a maior parte do dia nestas cidades. Em suma, os litorais dos dois países são superiores para residir, sob o ponto de vista climático.

A temperatura no inverno

Entre as cidades maiores com temperaturas gélidas, neve e umidade sobressaem León, Madrid e Salamanca, na Espanha, e Viseu, Covilhã e Guarda, em Portugal.

As cidades do litoral norte da Espanha não sofrem frio intenso, mas são muito chuvosas. A quadra chuvosa acontece não apenas no inverno, mas durante todo o ano.

San Sebastian, Bilbao, Santander e Gijón e A Coruña são lindas e desenvolvidas, mas não recomendadas para quem é dado à depressão, pelo tempo cinzento e a chuva.

Comparando as duas cidades mais importantes de Portugal, Lisboa é ligeiramente mais quente no verão e menos fria no inverno do que o Porto.

A umidade também é relevante

Um inimigo que não se deve descuidar é a umidade (que em Portugal se escreve “humidade”), tanto no litoral quanto no interior. Ela é a responsável por aquele “frio nos ossos” que nos imobiliza. A utilização de desumidificadores é um imperativo.

Confira se com a cidadania portuguesa é permitido morar nos EUA.

Pese os pontos positivos e negativos e faça sua escolha

Fica aí um trabalho de casa para quem quer emigrar para um desses dois países: fazer uma lista das cidades que lhes interessa e pesquisar suas condições climáticas durante todo o ano, com a ajuda do telefone celular e do Google. Os mais precavidos têm a opção de alugar ou comprar um motor-home, ou ainda usar o Airbnb para passar temporadas curtas nas cidades ou áreas de sua preferência, antes de alugar ou comprar um imóvel.

Ali, puxar conversa com os moradores portugueses e com os imigrantes, em busca de informações sobre o tempo nas diferentes estações do ano, a tarifa de luz, o preço da madeira para a lareira, os melhores aparelhos de ar condicionado, aquecedores e desumidificadores.

Quando estiver procurando imóvel, lembre-se: janelas viradas para o sul ajudam na insolação das casas no inverno do hemisfério norte. Ao procurar o Sul, lembrará que aquele sol invernal fraquinho estará, naquele exato momento, queimando com força os brasileiros estirados nas areias das praias e certamente baterá a saudade.

Mas saudade é assunto para o próximo artigo.

*Todas as imagens do artigo são do autor Cesar Barroso e não podem ser reproduzidas. As opiniões dos colunistas não refletem necessariamente a opinião do site Euro Dicas.