Recentemente a Revista Veja publicou uma reportagem que acabou gerando um certo pânico nas pessoas que pensam em se mudar para Portugal. A revista aponta, como ela mesma diz, as desilusões e o drama de experiências frustradas pela mudança de vida dos brasileiros voltando de Portugal.
Claro que existem pessoas que resolvem voltar para o Brasil por não terem experiências muito boas em Portugal, mas não podemos generalizar. A publicação da revista faz referência a uma pequena parcela da população brasileira residente em Portugal insatisfeita com a mudança e não apresenta de maneira clara ao leitor alguns dados sobre os brasileiros voltando de Portugal que precisam ser avaliados. Digo pequena parcela porque é necessário entender e fazer uma comparação bem básica: taxa de ida e taxa de retorno. Acompanhe abaixo.

Dados importantes sobre o número de brasileiros voltando de Portugal

O SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras), órgão português responsável pela imigração no país, disponibiliza em seu site oficial, relatórios com dados importantes. No relatório anual mais recente, que se refere ao ano de 2018, podemos avaliar que a população estrangeira residente no país aumentou 13,9% em relação ao ano anterior, 2017. Isso, totaliza 480.300 cidadãos estrangeiros e titulares de autorização de residência. E segundo o SEF, este é o número mais elevado desde 1976.
Destes 480.300 cidadãos estrangeiros e titulares de autorização de residência, 21,9% são cidadãos brasileiros, o que equivale a 105.423 brasileiros residindo no país. Conforme o gráfico do relatório oficial do SEF.

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Dados sobre a origem dos imigrantes em Portugal, dados do Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo/ SEF 2018

Tomando por base apenas as novas autorizações de residência, em 2018, foi registrado um aumento de 51,7%, ou seja, um total de 93.154 novos residentes em Portugal. Destes, 30% (28.210) são cidadãos brasileiros.
Os números acima mostram a dimensão da comunidade brasileira e de imigrantes em geral vivendo em Portugal, certo?
Agora vamos aos dados da OIM – Organização Internacional de Imigração disponibilizado pelo programa Arvore – Apoio do Retorno Voluntário e a Reintegração para analisar a taxa retorno dos imigrantes ao país de origem.
Segundo o relatório oficial, de setembro de 2016 a dezembro de 2018, eles receberam 1241 inscrições, das quais 707 retornam ao país de origem. Destes, 638 são brasileiros, e considerando apenas os dados do ano 2018, temos 352 cidadãos que retornaram ao Brasil com o apoio da OIM.

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Destino dos imigrantes repatriados voluntariamente, dados do Relatório ARVORE 201

Viu como a conta não fecha e porque disse ali em cima que apenas uma parcela pequena quando o assunto é brasileiros voltando de Portugal? É necessário fazer sim essa comparação.

Brasileiros que voltam por conta própria

Vale destacar que muitos brasileiros que acabam voltando por conta própria ou com a ajuda de familiares e amigos. E infelizmente esses números não são contabilizados e divulgados pelos órgãos responsáveis. Isso porque muitos brasileiros vêm como turistas, resolvem ficar e tentar a vida em Portugal e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras não os contabiliza como residentes.

Por que há brasileiros voltando de Portugal? Os principais motivos

Não é por que Portugal abriu suas fronteiras para receber imigrantes que você vai optar por ele por uma questão de praticidade ou facilidade. Apesar do Brasil ter sido colonizado por portugueses e nossa língua ser a mesma, as culturas são completamente diferentes. E isso acaba chocando algumas pessoas.
Quando você muda de país, você precisa estar aberto a novas experiências e é você que precisa se adaptar ao país, ao povo e a cultura. Não são eles que precisam se adaptar a você. Então, não é por que no Brasil funciona assim ou assado que aqui vai ser igual. Não é igual. E você precisa ter esse entendimento muito claro na sua cabeça antes de decidir emigrar.
Vou citar três fatores neste texto que fazem com que muitas pessoas acabem desgostando de Portugal e retornando para o Brasil:

1. Dificuldades com documentos

Quando digo que o planejamento é algo indispensável é porque ele é mesmo. O visto para residir legalmente em Portugal deve ser solicitado ainda no Brasil. Não venha para Portugal no risco, achando que pode entrar no país como turistas e que as coisas serão fáceis porque não é assim.
Se quem se muda legalmente com o visto enfrenta uma grande burocracia para a obtenção de toda documentação necessária, tais como o NISS, NIF, Autorização de Residência e claro, um emprego, imagina só quem arrisca chegar sem o visto? As dificuldades já começam aí.
A reportagem publicada pela revista Veja fala de pessoas que trabalharam o mês inteiro e simplesmente não receberam no final do mês. Essa situação infelizmente acontece com quem está ilegal e acaba trabalhando sem contrato. E quando isso acontece, essas pessoas não têm nem o direito de reclamar com a polícia ou qualquer outro órgão responsável pela fiscalização. Afinal, não tem nenhum documento que permita residir e nem trabalhar por aqui.
Agora se você está em para Portugal com o visto, solicita a Autorização de Residência conforme é previsto, a chance disso acontecer é baixa.

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2. Salários baixos e aluguéis caros

Portugal é um país “barato” para se viver quando comparado a outros países. Isso é verdade. Mas o salário mínimo em 2020 é de 635€ e por conta do boom imigratório e turístico dos últimos anos, os aluguéis estão extremamente altos. Geralmente, o salário mínimo não cobre o aluguel e as contas nas principais cidades.
Então, muitas vezes recorremos a outras alternativas, como os aluguéis de quartos em casas de família ou em residências/repúblicas. Essa é uma alternativa viável para quem está chegando sozinho.
Mas se está vindo com toda a família, alugar um quarto acaba não sendo a melhor opção. Nesse caso será necessário alugar uma casa ou apartamento, e as imobiliárias geralmente cobram um caução e 1 a 3 meses de aluguel adiantado.
Portanto, planejamento financeiro se faz ainda mais essencial.

3. Dificuldade de adaptação com o povo

Ali em cima já havia falado, mas vou repetir. É você que precisa se adaptar ao país e não ao contrário.
Como brasileira, continuo afirmando que o nosso povo brasileiro é um dos mais incríveis que conheço e admiro. A nossa alegria, a receptividade e hospitalidade não tem igual. O Europeu de modo em geral é mais frio e seco na relação diária. Isso para nós é extremamente estranho.
Os portugueses têm uma maneira que para nós parece meio ríspida de dizer as coisas, mas não é porque estão sendo mal-educados. Esse é apenas um jeito prático e direto. Confesso que eu demorei para me acostumar, mas hoje já acho isso normal. Para quem está chegando essa adaptação pode acabar sendo difícil.

4. Dificuldade de adaptação com o clima

Apesar de Portugal ter um clima mais ameno, enfrentar 6 meses de inverno e chuva não é tão legal assim. Eu mesma vivia dizendo no Brasil que amava o inverno e detestava o verão. Hoje, morando em Portugal, já penso o contrário.
O inverno dura um período muito longo do ano em Portugal. As baixas temperaturas, a chuva constante e até mesmo a neve – em algumas cidades – torna a adaptação muito difícil. Quem não gosta de frio e chuva tende a se sentir deprimido e descobre quanta falta faz o sol.

5. Custo de vida e alta do euro

O custo de vida em Portugal aumentou e isso é notável. Os preços dos alimentos já não são os mesmos e os aluguéis dobraram de valor. Agora multiplique isso por 5. A cotação do euro está alta e quem precisa mandar dinheiro do Brasil para Portugal está sentindo no bolso.
Muitos aposentados brasileiros que moram em Portugal estão voltando para o Brasil por conta do alto custo de vida no país europeu ou então fazendo trabalhos esporádicos, sem contrato.

6. Dificuldade de adaptação à cultura

Muitas pessoas que vem morar em Portugal reclamam da dificuldade de adaptação e da dificuldade em fazer amigos portugueses.
Você estará em um país novo, em uma cidade diferente. Terá que achar casa para morar, terá que mobiliar o apartamento, arrumar um médico de família, precisará descobrir onde pega o ônibus, onde precisa fazer seus documentos (e são muitos). Precisará transferir sua carteira de motorista, aprender as leis do país.
Precisará aprender a pedir uma carne no açougue, tudo será diferente. Tudo. Por isso, é preciso estar com a cabeça no lugar e com alguém que esteja disposto a passar por tudo isso com você (e sem reclamar, de preferência).

7. Falta de emprego ou trabalho precário

Se você vier para Portugal com a ideia de fazer e guardar dinheiro estará escolhendo o país errado. Portugal possui um dos salários mínimos mais baixos da Europa e com o custo de vida mais alto a cada dia fica complicado economizar.
O mercado de trabalho também é muito diferente do Brasil. Por exemplo, se você for trabalhar em um lugar sem ser registrado a culpa não é só do empregador, é sua também que aceitou essas condições de trabalho. Portanto os processos trabalhistas não isentam os empregados como no Brasil.
Em Portugal, muitas empresas não pagam horas extras e a relação patrão X funcionário muitas vezes é complicada e até desrespeitosa. Talvez por conta da crise, muitos portugueses ainda aceitem e se submetam a condições de trabalho exploratórias.
Nós brasileiros somos diferentes e temos uma tendência de falar e debater o que está errado. O que eu vejo, é muita submissão por conta dos trabalhadores em Portugal.

Planejamento é essencial

Não basta apenas ter o sonho de morar fora do Brasil. Você precisa pesquisar bastante sobre o país que pretende emigrar e procurar saber como é o clima, como é a cultura, o custo de vida, o modo de vida da população e muito mais. Mudança de país requer muito planejamento, seja para morar em Portugal ou para qualquer outro país. E quando digo planejamento, é tanto financeiro quanto emocional.
Ficar longe da família e dos amigos não é uma tarefa fácil.  A saudade bate forte e é preciso ter uma boa estrutura para isso. Muitas vezes você vai se sentir sozinho e acredite, isso é normal.
Planejamento financeiro é o mais importante. Sempre que me perguntam sobre quanto juntar para começar a vida em Portugal, eu digo que isso é bem difícil de responder. Cada um tem um modo de vida diferente, consequentemente, o custo de vida pode variar bastante.
O que sempre aconselho, é colocar na ponta do lápis todo o custo de vida mensal e ter uma reserva para viver por pelo menos seis meses no país. Isso, porque você vai precisar de tempo para se adaptar à Portugal. Vai precisar de tempo para tirar todos os documentos necessários na sua chegada, procurar emprego, etc.
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Não me adaptei no exterior, e agora? Confira o relato de brasileiros que decidiram regressar opós não se adaptarem.

Ajuda para o seu planejamento

Por isso é necessário muito planejamento. Tenha cuidado com informações soltas e duvidosas. Procure fazer pesquisas e perguntas com quem realmente tem propriedade para falar do assunto. Pesquise por dados concretos e de órgãos oficiais.
Procure tirar o visto ainda no Brasil. E se precisar de ajuda, aconselho a leitura do nosso eBook Como Morar em Portugal. Nele você vai encontrar todas as informações, tais como, tipos de visto, documentos necessários, como contratar o seguro viagem obrigatório, como alugar casa, educação básica e superior, transporte e muito mais.

Conheça histórias de brasileiros que tiveram sua imigração frustrada.

Depoimentos de quem voltou para o Brasil

Conversamos com alguns brasileiros voltando de Portugal para entender as motivações e principais dificuldades enfrentadas na adaptação.

Fernanda Grelo: dificuldade de adaptação

Os primeiros meses da adaptação em Portugal são os mais difíceis e nem todo mundo consegue atravessar essa fase complicada. Os primeiros meses são de descobertas, burocracias, dificuldade de adaptação no emprego novo (ou na universidade), cultura diferente e de saudade de quem ficou no Brasil.
Fernanda Rocha Grelo, psicóloga clínica e jurídica de Belém do Pará, se mudou para Portugal em setembro de 2015 para fazer Mestrado na Universidade do Porto e não teve uma experiência feliz no país luso.
Mesmo com um planejamento de 3 anos, Fernanda se viu completamente triste ao ver seu filho de 7 anos chorando, sem se adaptar já na chegada ao país europeu. “Sem dúvida, o mais difícil de tudo, foi a não adaptação do meu filho. Porque isso nos rendeu uma série de sofrimentos e desgastes”, contou.
Segundo Fernanda o processo de adaptação em Portugal tinha tudo para correr da melhor forma, pois eles tinham parentes e amigos espalhados por todo o país. Mas não foi assim que aconteceu.
“Desde a descida do avião em Lisboa, meu filho entrou numa angústia e dor imensas…. Parece que quando o avião pousou, foi que de fato, caiu a ficha dele. Ele não parava de chorar, nem por um minuto. O que me deixou completamente desesperada”, explicou.
“Depois, com o passar dos dias, a dificuldade de adaptação minha, se dava mais pela não adaptação do meu filho. Quanto mais o tempo passava, mais ele piorava…”. Fernanda e o filho ficaram 5 meses em Portugal e motivos para voltar ao Brasil não faltaram.
“As carnes vermelhas não têm os mesmos nomes, nem o sabor… Os transportes públicos não param muito como no Brasil, então, você desce e anda muito para chegar ao local. O clima que, da tarde para noite, muda repentinamente, caindo bastante a temperatura e pega você de surpresa, se não souber disso. O jeito das pessoas também, me dificultou muito, pois são muito sérias, não são muito hospitaleiras, de pouco papo”, afirmou Fernanda.
Para a psicóloga, voltar para o Brasil foi a decisão mais correta e aconteceu quando ela foi chamada pela direção da escola do seu filho. A equipe de saúde, que estava acompanhando o caso dele, afirmou que ele precisava de um psiquiatra e que estava com depressão, talvez até precisasse ficar internado alguns dias.
Nesse momento, sem o marido ao lado e com o filho triste e deprimido, Fernanda decidiu largar tudo e voltar imediatamente para o Brasil.
Para Fernanda, milhões de imprevistos na sua mudança para Portugal poderiam acontecer, mas nunca imaginou que seria a não adaptação de seu filho, o principal motivo para voltar ao Brasil.
A psicóloga deixa um conselho para quem pensa em mudar de país com filhos: “inclua no seu planejamento a possibilidade de não haver uma adaptação sua ou de quem for junto”.
Além disso “se prepare para não ter a mesma condição financeira e conforto que possui no Brasil (e isso inclui não ter empregada)”. Para a brasileira, é preciso ir para Portugal com os pés no chão, sabendo que será difícil e que poderá enfrentar muitos desafios.
Veja também como foi a adaptação a Portugal de uma brasileira que hoje mora na Bélgica.

Geysa Macarin Rodrigues: “Faltou paciência”

Já para a esteticista brasileira Geysa Macarin Rodrigues o que lhe faltou foi paciência para recomeçar a vida em Portugal e esperar tudo dar certo.
Ela ficou 6 meses na Itália no ano de 2017 fazendo o seu processo de cidadania e veio para Portugal no final do mesmo ano.
Ela morou 6 meses em Portugal com o filho de 7 anos e o marido na cidade do Porto. Mas a adaptação também não foi como ela esperava. “Portugal é maravilhoso, mas me faltou paciência”, contou Geysa, natural da cidade de São Paulo.
O clima foi um dos fatores determinantes para a volta, assim como a burocracia e o valor das despesas da casa. “O clima foi o mais difícil, muito frio, o que me causou muita tristeza”, afirmou.
Além disso, ver o seu filho triste e não adaptado ao país, lhe causou muita dor. “Hoje, meu filho está muito mais feliz aqui no Brasil”, explicou.
Veja a lista com as 10 coisas que nenhum brasileiro gosta em Portugal.

Minha opinião

Eu, sendo brasileira e morando em Portugal há 4 anos, posso afirmar que entendo os motivos de quem volta e afirmo que não podemos julgar. Se adaptar não é fácil, ainda mais com filhos pequenos.
Nem todo lugar será maravilhoso, as pessoas têm perfis diferentes. Meu conceito de felicidade, com certeza não é o seu. Eu amo o frio, por exemplo, e adoro ver neve. Porém, eu sei que a maioria dos brasileiros prefere o calor e a praia. São gostos e estilos diferentes. Eu sou do sul do Brasil, por isso, o frio e a chuva não são problemas na minha vida.
Quando me mudei para Portugal vim com minhas duas cachorrinhas e com meu marido (que veio 40 dias antes de mim). Nós não tínhamos a nossa filha ainda e topávamos muita coisa. Viemos para Portugal com a cabeça e o coração abertos, dispostos a recomeçar nossa vida do zero (e largar tudo que já havíamos conquistado em nossa cidade: amigos, carreira, reconhecimento).
Hoje, nós temos nossa filha nascida em Portugal e sabemos que a decisão seria completamente diferente. Com certeza, a felicidade dela está em primeiro lugar.
Muitas crianças têm dificuldade em ficar longe dos familiares, dos avós, padrinhos, tios, amiguinhos da escola. Por isso, tomar a decisão de mudar de país com filhos pequenos, não é fácil, muito menos simples.
Agora que você já viu que o número de brasileiros voltando de Portugal é pequeno e que na maioria das vezes é por falta de adaptação e planejamento, utilize de toda a informação que escrevi aqui em cima para perceber se essa mudança é ou não ideal para você. E boa sorte!