Os brasileiros na Itália são muitos. É bem provável que você encontre vários de nós durante a sua estadia ou mudança definitiva para o país. Mas de onde será que veio essa vontade de se mudar para o país? E onde moram? Será que aprenderam a falar bem a língua italiana?

Confira essas e outras informações neste artigo. Buona lettura!

Quem são os brasileiros na Itália?

Se você nasceu no sul ou sudeste do Brasil, há grande chance de que você tenha ascendência italiana. Não é para menos, tais regiões brasileiras foram meta dos imigrantes desde o final do século XIX até metade do século XX.

Muitas são as famílias que compartilham ligações culturais com a Itália têm parentes no país da bota ou simplesmente se sentem ligados ao país por um motivo ou outro, como a cultura, a língua, a culinária, a música, etc.

Muitos dos brasileiros na Itália, portanto, tem uma ligação familiar.

Os brasileiros na Itália se mudam para o país, normalmente, porque têm interesse em obter a cidadania italiana. Outros porque desejam buscar uma vida melhor. Claro, há ainda quem se casa por amor, quem opta por estudar e acaba ficando porque a carreira decola.

Quantos são os brasileiros na Itália?

Segundo dados do Istat – Istituto Nazionale di Statistica, o IBGE italiano, em 1º de janeiro de 2021, o número de brasileiros na Itália era de 51.790, dos quais 16.279 homens e 35.511 mulheres. A região com maior número de brasileiros é a Lombardia, no norte do país, que abriga cerca de 15 mil brasileiros.

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Região Localização Número de brasileiros
Lombardia norte 14.392
Lazio centro 6.172
Veneto norte 5.720
Piemonte norte 4.829
Toscana centro 3.988
Emilia Romagna norte 3.910
Campania sul 2.368
Puglia sul 1.420
>Liguria norte 1.281
Marche centro 1.207
Sicilia sul 1.204
Calabria sul 1.141
Abruzzo sul 1.004
Trentino Alto Adige norte 716
Umbria centro 679
Friuli Venezia Giulia norte 641
Sardegna sul 637
Basilicata sul 202
Molise sul 180
Valle D’Aosta norte 99
Itália 51.790

Os dados não incluem os brasileiros com dupla cidadania. Provavelmente, tais números sejam um pouco maiores. Acreditamos, porém, que se mantenha a preferência pelas regiões acima descritas.

Lombardia e Lazio, cujas capitais são Milão e Roma, respectivamente, são as regiões que mais abrigam brasileiros na Itália, seguidas das regiões Vêneto, Piemonte e Toscana. A escolha por essas regiões se baseia na oferta de trabalho que existem por lá.

Morar em Trevisto, Vêneto

Perfil dos brasileiros que vivem na Itália

Estima-se que 70% dos brasileiros trabalha no comércio e quase 25% no setor industrial. O restante provavelmente faz bicos ou é desempregado. Mais da metade dos imigrantes brasileiros é composto por mulheres, cerca de 65-70%. Boa parte delas trabalha no âmbito doméstico, como babá, cuidadora de idosos e empregada doméstica ou diarista.

A média de brasileiros empreendedores é baixa, não chegando a 300 cidadãos em toda a Itália. E boa parte das empresas cujos donos são brasileiros são do setor da construção.

Por outro lado, os brasileiros não trabalhadores são, em sua grande maioria, pessoas menores de idade, como estudantes do ensino básico – crianças que se mudaram para o país com os pais – e universitários, ou ainda, estudantes de intercâmbio.

Estudantes brasileiros na Itália

O que atrai os brasileiros a irem estudar na Itália é, sem dúvidas, a oportunidade de viver em um país bonito e rodeado por cultura. Muitas vezes, tal escolha nasce de um contato anterior com a Itália, seja em casa ou durante a vida adulta. Como antecipado na introdução deste artigo, muitos brasileiros do sul e do sudeste do país têm ascendência italiana e tal curiosidade é o que faz com que muitos deixem os seus lares para morar na Itália.

Entrevistamos alguns brasileiros que moram na Itália. Conhecemos um pouco mais da história de cada um, pessoas que deixaram a cidade natal e se mudaram para o bel paese.

Como foi o caso da carioca Elisa, 30 anos, recentemente formada em Medicina Veterinária pela Universidade de Perúgia. Ela conta que a primeira vez em que esteve em Florença foi o suficiente para saber que aquela era a sua “cidade no mundo”. Cidade pequena, mas rica do ponto de vista cultural, Elisa optou morar em Florença também pelo ar internacional da cidade toscana. Depois de um período por lá, passou no vestibular de Veterinária e, entre as opções disponíveis, se mudou para Perugia, onde, anos mais tarde, se formou.

“São duas cidades bem diferentes, sem dúvidas prefiro Florença”, comenta Elisa. “Perúgia também é uma cidade internacional, mas infelizmente eram poucos os alunos de intercâmbio na Itália ou estrangeiros no meu curso. E apesar de ser linda, é menos viva do que Florença”, acrescentou a brasileira.

Atualmente, Elisa está morando no norte da Itália, próximo a Milão, e recentemente completou o seu estágio pós-formatura (chamado de “stage post laurea”, não confundir com “pós-graduação”) em Lisboa.

Trabalhadores brasileiros na Itália

Para quem se muda para o país, os desafios tendem a ser um pouquinho maiores. Eloísa, paulistana de 31 anos, nos conta que já dominava o idioma antes de tomar essa decisão.

“Eu mudei para Itália para trabalhar porque já dominava o idioma e tinha o sonho de vir fazer a minha cidadania, experimentar 1 ano de trabalho e adquirir a experiência de morar e trabalhar fora do país”.

Ela narra que para poder se estabelecer de maneira fixa e legal na Itália, decidiu mudar de carreira. “É bem difícil fazer com que reconheçam os nossos diplomas, então ficamos limitados às áreas de turismo, vendas e atendimento ao público”, conta Eloísa, formada em Letras no Brasil e há quase dois anos na Itália. A escolha de Eloísa é bastante comum entre os brasileiros na Itália.

Trabalhadores brasileiros na Itália

Rodrigo, paulistano de 27 anos, por outro lado, formado em Medicina no Brasil, conseguiu validar o diploma na Itália. Segundo ele, é imprescindível fazer o concurso para a validação final, que deverá ser feito pelo Ministério da Saúde italiano.

“Tive que fazer duas provas, uma escrita e outra oral. As provas são bem difíceis. Muitos dos participantes do concurso eram italianos que se formaram no exterior ou estrangeiros com a dupla cidadania”, revela Rodrigo.

Em relação ao ambiente de trabalho no país europeu, a paulista Eloísa dá uma importante dica: “As leis trabalhistas são um pouco diferentes, e conhecê-las é um ponto-chave para que você não seja passado para trás”, declara.

Em relação a isso, Amanda*, ex-estudante de mestrado na Itália, atualmente trabalha no mesmo setor em que se formou, se lamenta sobre a precariedade dos contratos de trabalho na Itália.

“Já faz alguns anos que trabalho no meu campo, mas não tenho nenhuma estabilidade. Todo final de ano é sempre o mesmo drama”, desabafa.

Em relação ao salário e ao poder aquisitivo, Eloísa afirma que trabalhar na Itália lhe permite ter acesso a bens de consumos de qualidade diversa daquela brasileira, e na sua opinião, isso seria um ponto positivo para a Itália. “Por exemplo, com um salário italiano, consigo comprar certos itens, que com o salário brasileiro teria que parcelar em muitas vezes para conseguir ter”, explica.

Aposentados brasileiros na Itália

Outra opção muito almejada pelos brasileiros é aquela de morar na Itália como aposentado. Porém, essa escolha pode ser um pouquinho mais difícil. Aqui, entram em jogo outras questões, além da burocrática, como a financeira: o tão temido câmbio. Com o real desvalorizado, muitas aposentadorias brasileiras perdem o poder aquisitivo ao realizar a conversão de moedas.

Neste caso, é preciso ter um plano certo e seguro, entram em jogo a idade, a necessidade de uma estabilidade. Para não citar outra problemática não indiferente: a questão fiscal. De acordo com a experiência de Sergio, viver com a aposentadoria brasileira na Itália é muito difícil, por causa do câmbio – como citado acima – e principalmente, do valor que se paga no Imposto de renda italiano, que é superior ao brasileiro. De fato, a taxação sobre a aposentadoria “estrangeira” na Itália pode variar de 23% (renda familiar abaixo de 15.000€) podendo chegar a 41% (caso a sua renda ultrapasse os 55.000€).

Aposentados brasileiros na Itália

Existem acordos para evitar a dupla tributação e a evasão fiscal. O Decreto Legislativo nº 77/1979, assinado por ambos os países e em seguida alterado pela Portaria MF nº 226/1984, estabelece a alíquota de tributação na fonte sobre dividendos e lucros a partir de 1º de janeiro de 1985: 15%.

Descubra como fazer e se vale a pena receber aposentadoria na Itália.

Estudar e trabalhar na Itália é possível?

Pertencente às categorias “Estudante” e “Trabalhadora”, Bruna, 30 anos, revela o quanto tenha amadurecido morando na Itália.

“É desafiador estudar aqui e constatar o peso e a profundidade com os quais são tratadas as disciplinas. Integrar-se a um sistema institucional não é fácil, compreender as burocracias que cada instituição traz, a desorganização e falta de pessoas a quem se dirigir para caso de dúvidas acaba sendo um problema.”

Assim como Eloísa, Bruna também já dominava a língua antes de decidir se mudar para a Itália e acredita que parte de sua integração “fácil” à sociedade italiana dependa do conhecimento do idioma italiano.

Sobre a escolha do país, Bruna explica:

“escolhi a Itália porque tenho origem italiana e havia estudado italiano na faculdade. O que mais me chamou atenção é que mesmo tendo uma formação universitária e falando o idioma, enfrentei inúmeras dificuldades para achar vagas de emprego na Itália. Tive que me submeter a trabalhos que talvez não faria no Brasil, mas no final de contas, foi importante passar por tudo isso”, conclui a estudante de Música.

Interessante a trajetória de Vivian, matogrossense de 30 anos.

“Eu não fiz a escolha de me mudar para cá; estando aqui, eu resolvi ficar. Eu sempre quis enfrentar o processo da cidadania italiana, gostava da ideia de, um dia, morar na Europa”, confessa a ‘ex-arquiteta’.

O que motivou a ida “indefinida” de Vívian? Insatisfação com a vida profissional. “A minha carreira estava exigido muito sacrifício pessoal, e ao mesmo tempo, pouca gratificação profissional. Não estava 100% segura que queria ser arquiteta pelo resto da minha vida, acredito que entro em um ponto comum com muitos jovens que emigram, a crise de identidade profissional)”, conta a estudante de Moda em Roma.

Vívian, que também trabalha no país, explica que, na sua opinião, se um brasileiro decidir começar a estudar aqui sem ter organizado um intercâmbio, por exemplo, encontrará bastante dificuldade. E lembra que estudar sem bolsas de estudo na Itália não é fácil e nem barato. “Não existem universidades gratuitas. Mesmo as públicas têm taxas anuais, baseadas no imposto de renda de cada núcleo familiar”, salienta.

Assim como Bruna, Vívian também concorda que sair do Brasil e continuar trabalhando na mesma área é difícil:

“é importante ser resiliente, e de preferência, ter uma boa reserva de dinheiro, já que o ingresso no mercado de trabalho, como imigrante e sem ter uma rede de contatos formada, é complicado”, adverte Vívian.

Como os italianos veem os brasileiros que vivem no país?

Se tem uma coisa que une os entrevistados é a visão que os italianos têm sobre o Brasil.

Segundo Bruna, “existe desde o italiano que acredita que o Brasil é o país só do samba e do carnaval, até aquele conhece a nossa cultura, é apaixonado pela nossa música”. Elisa acrescenta: “muitos não têm ideia do quão grande e rico culturalmente é o nosso país”.

Os brasileiros na Itália que foram entrevistados notaram que pode até rolar um ar de superioridade, típico do comportamento eurocêntrico. De forma geral, como nos disse Vívian, o desconhecimento do europeu com o Brasil, e com a América Latina em geral, “faz com que eles se agarrem ao que eles conhecem e fiquem por ali mesmo: bossa nova, futebol, natureza e mulher bonita. Para eles o Brasil é isso. Ah! E favelas”, acrescenta.

A propósito, como é ser mulher brasileira na Itália? Segundo Vívian, “as mulheres brasileiras sofrem muito com o estereótipo de gênero, eles acham que a gente é ‘fácil’, que é só chegar e pronto. Rola muito assédio, e no começo eu até evitava falar de onde eu era”, relata a matogrossense.

Entenda como enviar uma encomenda do Brasil para a Itália.

Afinal, a Itália é um bom país para os brasileiros viverem?

Grosso modo, podemos dizer que a Itália é um país bom para morar, mas muito burocrático.

E aqui mais uma vez, todos os entrevistados concordam: é importante saber falar italiano. “Cada tarefa cotidiana se torna muito difícil pelos fatores burocracia e língua: declarar os seus impostos, abrir uma conta no banco, consultar um médico ou ter acesso à saúde pública na Itália, etc”, menciona Vívian. Enfim, realizar coisas que uma pessoal “normal” faria no Brasil: isso tudo faz parte da experiência de morar fora.

Para Eloisa, morar na Itália é algo que recomendaria, sim, a outros brasileiros e brasileiras, mas com algumas ressalvas, tais quais: dominar o idioma, conhecer um pouco das leis e morar em uma cidade grande. De acordo com ela, esse combo tornaria a experiência muito mais agradável e fácil.

E se mudar para a Itália como aposentado? Para Sergio, “é um projeto de vida que nasce dentro de cada um ou não nasce. Se alguém decidir vir porque eu estou feliz aqui, poderá se decepcionar, porque há muitas variantes a serem consideradas”, conclui.

Independentemente das opiniões e experiências relatadas pelos brasileiros na Itália, o ideal é seguir o seu coração e ir atrás dos seus sonhos, tendo em mente o seu objetivo final, mas tendo em mente que morar fora não é um conto de fadas.

Veja nesse artigo 10 coisas que todo brasileiro pensa ao chegar na Itália.

Histórico da imigração brasileira na Itália

O Vêneto, além de ser uma região rica e economicamente importante, é a região que mais viu os seus habitantes se mudarem para o Brasil. Foram mais de 365 mil vênetos que escolheram o Brasil como meta para a nova vida em continente americano, entre os anos 1876 e 1920. Em segundo lugar estão os calabreses, que juntos superam os 165 mil.

Claro, é importante lembrar que a escolha pelo Brasil não foi inocente. A partir de uma escolha bastante questionável, o governo brasileiro, após a Lei Áurea (1888), incentivou a imigração “branca” com o intuito de clarear a população. Além disso, os grandes fazendeiros preferiam contratar imigrantes europeus a cidadãos brasileiros negros, recém-libertos.

A inversão da rota: do Brasil para a Itália

Depois de quase um século de imigração da Itália para o Brasil, no final do século XX, a rota se inverteu. A imigração brasileira teria começado nos anos 1980. Naquela época, o Brasil viva em plena ditadura militar, enquanto a Itália vivia o assim chamado “boom econômico”. Este foi, sem dúvidas, um grande chamativo para quem estava procurando novas formas de recomeçar a vida.

Os anos 1990 marcam a grande imigração brasileira em direção à Europa, após a queda do regime militar e a abertura do país às novas formas político-econômicas. Ao pensarmos no início desta década, nos recordamos como um período marcado por grande incerteza econômica, e a grande prova foi a dura inflação que acompanhou o Brasil durante os primeiros anos da década de 1990.

Dados estimam que, naquele período, o número de imigrantes brasileiros na Itália era de cerca 11 mil, sendo considerado o “primeiro” povo migrante na Itália, após os peruanos e outros cidadãos do leste europeu, como romenos e albaneses.

Por mais que a Itália não seja a primeira meta escolhida pelos brasileiros quando decidem ir morar no exterior. Antes do país da bota temos os Estados Unidos, Japão, Portugal, Espanha e Inglaterra.

Segundo os dados do Ministério de Relações Exteriores e órgãos italianos, como MAECI (Ministero degli affari esteri e della cooperazione internazionale), INPS (Instituto de Previência Social), ISTAT (Instituto de Estatística) e INAIL (Instituto Nacional de Saúde no Trabalho), em 1996, o número de cidadãos brasileiros no exterior era de cerca 1.500.000. Destes, 15.505 eram titulares do Permesso di soggiorno. Para se ter uma ideia, 600.000 eram os brasileiros nos Estados Unidos.

Portanto, o Brasil, apesar de ter sido pioneiro na imigração italiana, não foi o país mais expressivo.

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