Conciliar faculdade e trabalho é uma realidade no Brasil, mas será que dá para estudar e trabalhar em Portugal? Neste artigo, explico tudo sobre o assunto trazendo a minha experiência e de outras duas brasileiras que desempenham essa dupla rotina em terras lusitanas.

É possível estudar e trabalhar em Portugal?

Sim.

É possível estudar e trabalhar em Portugal desde que a carga horária de trabalho não interfira nos estudos.

Contudo, em Portugal é menos comum do que no Brasil que os estudantes tenham a dupla jornada de estudo-trabalho. Os portugueses costumam finalizar os estudos antes de ingressar no mercado de trabalho, exceto quando precisam fazer estágios obrigatórios.

Quais os trabalhos mais comuns para quem está estudando em Portugal?

Isso é muito relativo, pois varia muito. No início do meu mestrado em Portugal, eu fazia freelas na minha área (comunicação) e depois acabei conseguindo um contrato de trabalho e assim foi durante o último ano de curso.

A pedagoga carioca Helena Maria, que faz mestrado em Ciências da Educação, trabalha como educadora em uma comunidade de aprendizagem na cidade de Fafe, próximo a Guimarães. Além disso, tem um contrato de trabalho com carga horária de 40 horas semanais, de segunda a sexta-feira.

Fafe, Portugal
A pedagoga Helena dá aula em Fafe e faz mestrado na Universidade do Porto.

Já a pedagoga paulista Kátia Castro, vive uma realidade da maioria das pessoas que precisam estudar e trabalhar em Portugal: ocupações que no Brasil são considerados subempregos, mas que no país luso não há essa definição: limpeza, atendente de mesa (garçom), cozinheiro, estafeta (entregador), motorista de Uber, etc.

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Aliás, Kátia não tem uma rotina dupla, mas sim, tripla: são dois empregos e o mestrado em Ciências da Educação para conciliar. Ela trabalha com limpeza e dá aulas de reforço em um Centro de Estudos em Rio Tinto, nos arredores do Porto e em ambos, com contrato de prestação de serviços, conhecido como recibo verde.

Estudar e trabalhar em Portugal pode ser um desafio
Kátia em exercício no Centro de Estudos onde trabalha em Rio Tinto.

Com visto de estudante pode trabalhar em Portugal?

Sim, com o visto de estudante pode trabalhar em Portugal. Porém, há algumas coisas que devem ser feitas.

Primeiro, quando solicita o visto de estudante, ao chegar no país, você deve realizar um agendamento no SEF – Serviço de Estrangeiros e Fronteiras – para obter a Autorização de Residência em Portugal (AR).

Se até o dia de comparecimento no SEF já estiver com um contrato de trabalho ou recibo verde e NISS em mãos, você pode levar os documentos para solicitar a AR como Estudante com permissão de trabalho. Porém, se ainda não estiver trabalhando, a sua AR vai sair apenas como estudante, o que é o caso da maior parte dos estudantes estrangeiros recém-chegados.

O que precisa para comunicar o SEF?

Com a AR de estudante em mãos, caso consiga um emprego com contrato de trabalho em Portugal ou até mesmo como trabalhador independente, você deve comunicar o SEF imediatamente.

A comunicação é realizada por telefone ou por e-mail para a regional que atende a sua região. Nessa comunicação, deve apresentar os documentos que comprove o trabalho e no qual precisa estar indicado os seus horários, bem como os documentos da faculdade que comprove que você está frequentando as aulas e os horários da mesma.

Esses documentos são para comprovar que o trabalho não vai interferir no estudo, uma vez que estudar é o seu foco principal e para o qual tem autorização de residência no país. Após análise, o SEF vai agendar um horário para que você faça a troca da AR de estudante sem permissão de trabalho para a AR de estudante com permissão de trabalho.

Minha experiência: eu nunca recebi um retorno do SEF com esse agendamento, mas quando ela expirou e eu precisei renovar a autorização de residência, a atendente verificou no sistema a indicação de que estava trabalhando. Então, apesar de não ter recebido um retorno sobre o meu comunicado, eles incluíram a informação no sistema interno.

Pode alterar o título de residência de estudo para trabalho?

Não. Eu tentei fazer isso na época em que fui renovar a minha AR de estudante.

Segundo a atendente do SEF, o que me fez obter a autorização de residência foi o motivo de estar estudando em uma instituição portuguesa e, só poderia fazer a troca para a de trabalho após comprovar a conclusão do meu ciclo de estudos. E assim foi: só após concluir o mestrado consegui realizar a troca e um dos vários documentos que tive que apresentar foi o diploma de conclusão do curso.

Observação: quem se conclui os estudos, mas ainda não tem um emprego em Portugal, pode renovar a autorização por mais 1 ano para procurar um trabalho na área em que se formou, segundo a própria legislação – Artigo 122º,nº1,al p).

Na prática, é possível trabalhar e estudar em Portugal?

Assim como no Brasil é possível, mas vai depender de você conseguir conciliar a carga horária do trabalho e com a da faculdade. Existem muitos trabalhos part-time de 4 horas e facilitam essa conciliação, mas trabalhar full-time (8 horas) pode ser mais complicado e muito mais cansativo.

Cabe ressaltar que em Portugal existe o estatuto de estudante-trabalhador no qual a legislação apresenta alguns benefícios para a organização do tempo. Além disso, para obter o estatuto, o estudante precisa comprovar o aproveitamento a cada ano letivo. Com ele, os professores não podem reprovar o aluno por falta,

Para mim, estudar e trabalhar em Portugal foi muito tranquilo, mas isso pode variar conforme o curso. Para a Helena e Kátia, ambas no mestrado de Ciências da Educação e com o estatuto de estudante-trabalhador na Universidade do Porto, conciliar os dois tem sido um desafio, pois os professores não são compreensivos quanto a essa dupla rotina.

 “Os professores entendem mais ou menos. Eles não podem me reprovar por falta (por conta do estatuto), mas exigem uma dedicação que eu não tenho como dar. Alguns são muitos compreensivos, mas outros acham que eu preciso viver para estudar”, explica Helena.

Kátia também aponta a mesma crítica e diz que independente do estatuto, o tratamento com os alunos é igual.

“Acredito que os professores são informados, mas compreender mesmo, não. Por exemplo, uma pessoa que trabalha precisa entregar artigos de 10-15 páginas no mesmo prazo que as pessoas que só estudam. Isso não pode ser algo compreensivo”, comenta.

Compatibilidade com os horários de aulas

Como expliquei acima, para estudar e trabalhar em Portugal precisa mostrar ao SEF a compatibilidade com os horários, pois o trabalho não deve e nem pode interferir nas aulas.

O horário da aula também vai ser importante para definir se será possível trabalhar ou não. Assim como no Brasil, em Portugal existem muitos cursos de graduação em caráter integral, o que significa ter aula de manhã e a tarde. Isso pode complicar bastante para quem deseja estudar e trabalhar em Portugal.

Já o mestrado é possível conciliar, apesar de ser difícil dependendo do curso, como aponta Kátia. Inclusive é bom ressaltar que esse ciclo de estudo em Portugal não é voltado para quem deseja seguir carreira acadêmica, mas sim a carreira profissional. Isso significa que você não vai produzir artigos científicos em larga escala durante o mestrado, mas sim, trabalhos individuais e em grupos, assim como fazer provas.

Na compatibilidade com os horários de aulas, Katia e Helena possuem visões um pouco diferentes. Para Helena, é possível conciliar, apesar de ser cansativo. Ela trabalha de 9h às 16h em uma outra cidade (cerca de 1h do Porto) e às 18h já precisa estar na Universidade.

“Saio do trabalho, volto para o Porto, vou direto para a faculdade, fazia um lanchinho e ficava até as 21h. Voltava para a casa, dormia e no dia seguinte já vou trabalhar. Não sobra muito tempo. É um dia muito preenchido e só é conciliável porque as minhas aulas são a noite”, explica.

Para a Kátia, conciliar a jornada tripla é mais desafiante e hoje, ela sente que há incompatibilidade com os horários. Segundo ela, o mestrado deveria ter uma bolsa de estudo (muito comum no Brasil) ou um prazo maior para a conclusão, ou ainda, um prazo maior na entrega dos trabalhos acadêmicos.

No doutorado em Portugal, estudar e trabalhar é bem puxado, mas há quem o faça. Nesse caso, o nível de estudo é o mesmo do Brasil e extremamente voltado à pesquisa e a academia. Trabalhar 8 horas por dia e ainda desenvolver pesquisas e escrever artigos científicos vão exigir bastante da força física e, principalmente, mental.

Os estágios não são comuns durante a faculdade

Essa é uma surpresa dos brasileiros que vem estudar em Portugal. No Brasil, apesar de o estágio ser obrigatório apenas nos últimos períodos, é bem comum iniciar esse ciclo bem antes.

Na minha época de graduação, logo no primeiro período já estava procurando por estágios e durante a faculdade passei por várias áreas da Comunicação como estagiária: produção, jornal impresso, jornal online, assessoria de imprensa, fotojornalismo e social media. Isso me abriu os olhos para ver o que gostava e o que não gostava dentro da minha futura profissão.

Em Portugal, é muito mais comum a busca por estágios quando eles são obrigatórios e ainda assim, há cursos que não fazem essa obrigatoriedade. Muitos estágios se tornam obrigatórios apenas no ciclo do mestrado para conclusão do curso ao invés de entregar uma dissertação.

Por isso, é comum que os jovens saiam da Universidade formados na teoria e sem domínio da prática. E dependendo da área, a teoria e a prática podem ser bem diferentes e realidade até “dolorosa”. Eu mesma desisti de dois cursos anteriores ao Jornalismo após iniciar o estágio e entender que não era aquilo que desejava para minha vida.

Dificuldades de estudar e trabalhar em Portugal

Para a Helena, o tempo é a principal dificuldade, pois o aluno precisa se concentrar e dar conta da carga de textos exigidos pelos professores. Porém, durante o trabalho não pode estudar, a noite está na aula e depois o cansaço chega. Os finais de semana e feriados acabam servindo para colocar o estudo em dia, mas ainda assim é difícil.

“Eu posso dizer que se eu der conta de 50% da leitura dos textos, eu estou feliz, mas a verdade é que dou conta de cerca de 30%”, comenta.

Estudante fazendo trabalho acadêmico
Administrar o tempo é uma das principais dificuldades de estudar e trabalhar em Portugal.

Kátia também ressalta que a dificuldade é lidar com o tempo e lutar contra o cansaço e o sono, ainda mais por passar o dia correndo de um lado para o outro para conciliar os empregos que vão pagar as contas no fim do mês e a rotina de estudo. Segundo ela ressalta, “não é fácil!”.

Dicas para quem pretende estudar e trabalhar em Portugal

Já sabe que dá para estudar e trabalhar em Portugal e que essa é uma realidade de grande parte dos imigrantes brasileiros que estão nas universidades portuguesas. Então, vai algumas dicas para você que está pensando em viver essa dupla rotina.

Aproveite o verão para trabalhos temporários

O ano letivo em Portugal iniciar em setembro e termina em junho. O auge do verão europeu é também o momento de férias para os estudantes. Várias vagas em bares, restaurantes e hotelaria surgem exatamente nessa época para atender o enorme fluxo de turistas.

Aproveita esse momento para encontrar um trabalho temporário e fazer um dinheiro extra. Vale muito a pena!

Freelas podem ser uma opção para conseguir se manter

Eu sou a prova disso. Logo que me mudei para Portugal fazia alguns freelas na minha área. Na época não pagava todas as minhas contas, mas pagava a parte mais cara: o aluguel do quarto em Portugal. E eu ia conciliando com outros trabalhos e também tinha feito um bom planejamento financeiro para a mudança.

Existem muitas pessoas que vivem de freelas e conseguem tirar um bom valor no final do mês. Cadastre nos sites específicos como, por exemplo:

Muitas pessoas trabalham para empresas brasileiras e moram em Portugal. Dependendo da sua área e do seu domínio em outros idiomas, você pode encontrar freelas não só nos dois países, mas em qualquer lugar do mundo.

Regime parcial para estudar

Algumas universidades oferecem o ciclo de estudo em regime parcial. No mestrado, por exemplo, ao invés de concluir em 2 anos, você conclui em 3 anos. Para Helena, essa é uma possibilidade de fazer as matérias com mais calma para quem precisa estudar e trabalhar em Portugal, pois dessa forma, você consegue diminuir a sua carga horária do semestre e fica mais fácil conciliar ambas as ocupações.

Faça um bom planejamento financeiro antes da mudança

Sim. Não pense você que vai chegar em Portugal para estudar e vai conseguir um emprego logo na primeira semana. Claro que existem exceções, mas nada é tão fácil assim.

Tenha em mente o seu custo de vida em Portugal: alimentação, aluguel de apartamento ou quarto, contas de casa, celular, transporte, mensalidade da faculdade, material escolar (curso de arquitetura, por exemplo, tem gastos bem altos com materiais para montar maquetes, etc.) e lazer.

A minha recomendação é que tenha dinheiro suficiente para cobrir o seu custo de vida por pelo menos 6 meses até conseguir um trabalho e se manter direitinho. Para te ajudar no planejamento da mudança, recomendo o ebook Estudar em Portugal, desenvolvido pela equipe do Euro Dicas que vivenciou essa experiência e sabe muito bem os passos para não enfrentar dificuldade.

Kátia também destaca a importância de um bom planejamento financeiro antes da mudança.

“No decorrer do curso podem acontecer imprevistos da vida e totalmente inesperados. A universidade não fará nada para te ajudar, pois eles seguem regulamentos, (estatutos, regras, normas) que não são alteradas ou flexibilizadas por eventuais problemas que os estudantes possam ter”, explica.

Confira 6 dicas para não passar aperto financeiro ao morar no exterior.

Após o término dos estudos é possível apenas trabalhar em Portugal?

Sim. Após terminar os estudos é possível trabalhar em Portugal. A legislação permite que você faça a troca da sua autorização de estudo para uma autorização especial para buscar um emprego na sua área de formação. Essa autorização especial tem 1 ano de validade.

Caso você já esteja com a AR de estudante com permissão de trabalho, pode realizar a troca para a AR de trabalho, contanto que na renovação apresente comprovantes de que exerce uma função profissional: contrato de trabalho, recibo verde e NISS.

Boa sorte nessa jornada dupla de estudar e trabalhar em Portugal. É difícil? É, assim como no Brasil, mas o tempo passa rápido e quando o diploma chega, você tem a certeza de que o seu esforço valeu a pena!